terça-feira, março 21, 2006

Hino Acadêmico

Bittencourt Sampaio
Segundo contam, Carlos Gomes em sua juventude morou em uma república na proximidade da Faculdade, convivendo com estudantes de Direito. A seu pedido, compôs o hino, com letra de Bittencourt Sampaio, que foi adotado como o Hino da Faculdade de Direito.

Hino Acadêmico - Carlos Gomes e letra de Bittencourt Sampaio - Interpretação: Coral da Faculdade de Direito da USP XI de Agosto:


"Sois da Pátria a esperança fagueira, / Branca nuvem de um róseo porvir;
Do futuro levais a bandeira, / Hasteada na frente a sorrir.
Mocidade, eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé;
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

0 Brasil quer a luz da verdade, / E uma c'roa de louros também,
Só as leis que nos dêem liberdade, / Ao gigante das selvas convém!
Vossa estrela reluz radiante, / Oh! erguei-a vós todos, com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

É nas letras que a Pátria querida / Há de um dia, fulgente, se erguer,
Velha Europa, curvada e abatida, / Lá de longe que inveja há de ter!
Nós iremos marchando adiante, /Acenando o futuro com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

Orgulhoso o bretão lá dos mares / Respeitar-nos então há de vir,
São direitos sagrados os lares, / Nunca mais ousarão nos ferir.
Auriverde pendão fulgurante / Hasteai-o, mancebos, com fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!

São imensos os rios que temos, / Nossos campos quão vastos que são!
As montanhas tão altas, que vemos, / De um futuro bem alto serão.
0 futuro não vai mui distante, / Já podeis acená-lo com fé,
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!

Nossos pais nos legaram guerreiros, / Honra a glória, virtude e saber;
Nós os filhos de pais brasileiros, / Pela Pátria devemos morrer!
Mocidade eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!"

Quem sabe?

Carlos Gomes
Carlos Gomes ficou reconhecido internacionalmente como compositor de óperas. O que pouca gente sabe é que ele compôs a partir de um universo bastante diversificado, bem próprio de seu estilo, influências e contexto histórico. No seu repertório encontramos música sacra, modinhas, cantatas e operetas. Quando ouvimos suas modinhas nos lembramos de sua origem interiorana, das festas de salões em volta do piano, dos saraus lítero-musicais tão freqüentes no Rio e São Paulo do século XIX.

Nas modinhas e canções de Carlos Gomes encontramos um pouco do lirismo francês e muito dos tons humorísticos das canções italianas, sobretudo a forte presença do estilo verdiano, tão em voga no ensino musical da época. Da sua primeira fase, ainda como estudante de música, destacamos os títulos mais famosos: Hino acadêmico e Quem Sabe? ambas de 1859. A grande parte dos textos musicados por Carlos Gomes eram de caráter romântico, realçando o estilo melodramático, típico das árias de salão.

Quem sabe? (modinha, 1859) - Antônio Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio - Interpretação: Francisco Petrônio

LP Uma Voz E Um Violão Em Serenata - Vol. 4 - Francisco Petrônio e Dilermando Reis / Título da música: Quem Sabe / Antônio Carlos Gomes (Compositor) / F. L. Bittencourt Sampaio (Compositor) / Francisco Petrônio (Intérprete) / Dilermando Reis (Intérprete) / Gravadora: Grand Prix/Continental / Nº do Álbum: GPLP 70.004 / Ano: 1970 / Gênero musical: Modinha



---------C -------------------------------------------------------G7
Tão longe de mim distante / Onde irá, onde irá teu pensamento
-----------------------------------------------------------------C
Tão longe de mim distante / Onde irá, onde irá teu pensamento
-----E7-------------- Am------ G7----------- C
Quisera, saber agora / Quisera, saber agora
--------------F-------------- C---------- G7--------------- C
Se esqueceste, se esqueceste / Se esqueceste o juramento.
-----------G--------------- D7-------------------------------- G
Quem sabe se és constante / Se ainda é meu teu pensamento
-----------G7----------- C------------- D7---------------------------- G G7
Minh’alma toda devora / Dá a saudade dá a saudade agro tormento
---------C------------------------------------------------------- G7
Tão longe de mim distante / Onde irá onde irá teu pensamento
-----------------------------------------------------------------C
Quisera saber agora / Se esqueceste se esqueceste o juramento.

Vem cá mulata

Os Geraldos: Geraldo Magalhães e Nina Teixeira (circa 1908)

Embora existindo desde 1902, "Vem Cá Mulata" só ficou famosa em 1906 quando se destacou como sucesso carnavalesco. Aliás, sucesso duradouro, uma vez que continuou alegrando mais dois ou três carnavais, tornando-se uma das músicas mais populares da década. O motivo por que caiu no gosto dos foliões está em seu caráter bastante animado - o que não é de se admirar tendo como um dos autores Arquimedes de Oliveira, carnavalesco adepto do Clube dos Democráticos.

A classificação de "Vem Cá Mulata" ora como tango-chula, ora como polca-chula, merece uma observação: muitas das classificações que aparecem em discos e partituras do começo do século carecem de precisão. Geralmente são meros rótulos dados por funcionários subalternos das editoras. Isso numa fase de nossa música em que alguns gêneros ainda não estavam definidos.

Vem cá Mulata (tango-chula, 1906) - Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre - Interpretação: Os Geraldos

Disco selo: Odeon Record / Título da música: Vem cá mulata / Arquimedes de Oliveira (Compositor) / Bastos Tigre (Compositor) / Geraldos (Intérprete) / Nº do Álbum: 108290 / Nº da Matriz: xR-850 / Lançamento: 1909 / Gênero musical: Duetto / Coleção de fontes: Nirez



C-------------- G7-----------------C
Vem cá, mulata / Não vou lá, não
-----------------G7---------------C
Vem cá, mulata / Não vou lá, não
----------------G7---------------C
Sou Democrata / Sou Democrata
---------------G7-----------C
Sou Democrata / De coração

-------------Am-------------E7----------------------------Am

O Democráticos, gente jovial / Somos fanáticos do carnaval
------------------------------E7-------------------------------Am
Do povo, vivas nós recolhemos / De nós cativas almas fazemos
------------------------------E7-------------------------Am
Ao povo damos sempre alegria / E batalhamos pela folia
----------------------------E7---------------------------Am
Não receamos nos sair mal / E letra damos no carnaval



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Subindo ao céu

Chegando ao Brasil com a família real portuguesa, no início do século XIX, a valsa de salão popularizou-se, passando a ser um gênero de execução obrigatória em bailes, confeitarias e retretas. Na virada do século, adotada pelos conjuntos de choro, tornou-se seresteira, influenciando a tradicional modinha, que tomou ritmo ternário.

Um bom exemplo de valsa de nossa belle époque é a elegante "Subindo ao Céu", obra prima do pianista Aristides Manuel Borges (1884-1946), que resiste ao tempo permanecendo no repertório de nossos instrumentistas.

Uma prova disso é a sua discografia que, além de pianistas como Arthur Moreira Lima, Antônio Adolfo e Mário de Azevedo, inclui flautistas (Altamiro Carrilho, Dante Santoro), acordeonistas (Luiz Gonzaga), bandolinistas (Jacó) e violonistas (Dilermando Reis, Édson José Alves). Composta no formato A-B-A-C-A, "Subindo ao Céu" proporciona certa liberdade rítmica de interpretação, o que lhe acrescenta um especial encanto.

Algumas gravações deste tema:

Disco 78 rpm / Título da música: Subindo ao céu / Aristides Borges, 1884-1946 (Compositor) / Dante Santoro [Flauta] (Intérprete) / Pereira Filho, Luiz Bittencourt e Luperce Miranda (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 33968-a / Nº da Matriz: 79950-1 / Gravação: 1/Julho/1935 / Lançamento: Agosto/1935 / Gênero musical: Valsa



Interpretação de Luiz Gonzaga em 1944:

Disco 78 rpm / Título da música: Subindo ao céu / Aristides Borges, Aristides, 1884-1946 (Compositor) / Luiz Gonzaga [Acordeon] (Intérprete) / Conjunto (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº Álbum 80-0171-a / Nº da Matriz: S-052924-1 / Gravação: 14/Fevereiro/1944 / Lançamento: Abril/1944 / Gênero musical: Valsa




Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Odeon

Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacó do Bandolim.

O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon". Obra-prima no gênero, este tango é apenas mais uma das inúmeras peças de Nazareth em que "melodia, harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão", como opina o pianista-musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.

"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chics cinematógraphos do Rio de Janeiro".

Disco selo: Odeon Record / Título da música: Odeon / Ernesto Nazareth (Compositor) / Pedro de Alcântara (Intérprete) / Ernesto Nazareth (piano) / Pedro de Alcântara (flauta) / Nº do Álbum: 108791 / Nº da Matriz: xR1464 / Lançamento: 1913 / Gênero musical: Tango-choro



Em 1968, a pedido de Nara Leão, Vinícius de Moraes fez uma letra para "Odeon":

LP Nara Leão / Título da música: Odeon / Ernesto Nazareth (Compositor) / Vinícius de Moraes (Adaptação / Letra) / Gravadora: Philips / Álbum: R 765.051 L / Ano: 1968 / Tracklist: B2 / Gênero musical: Chorinho



Ai, quem me dera / O meu chorinho / Tanto tempo abandonado / E a melancolia que eu sentia / Quando ouvia / Ele fazer tanto chorar / Ai, nem me lembro / Há tanto, tanto / Todo o encanto / De um passado / Que era lindo / Era triste, era bom / Igualzinho a um chorinho/ Chamado Odeon.

Terçando flauta e cavaquinho / Meu chorinho se desata / Tira da canção do violão / Esse bordão / Que me dá vida / Que me mata / É só carinho / O meu chorinho / Quando pega e chega / Assim devagarzinho / Meia-luz, meia-voz, meio tom / Meu chorinho chamado Odeon

Ah, vem depressa / Chorinho querido, vem / Mostrar a graça / Que o choro sentido tem / Quanto tempo passou / Quanta coisa mudou / Já ninguém chora mais por ninguém / Ah, quem diria que um dia / Chorinho meu, você viria / Com a graça que o amor lhe deu / Pra dizer "não faz mal / Tanto faz, tanto fez / Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho / Teu chorinho de saudade / Diz ao bandolim pra não tocar / Tão lindo assim / Porque parece até maldade / Ai, meu chorinho / Eu só queria / Transformar em realidade / A poesia / Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom / De um chorinho chamado Odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo / Eu até hoje ainda percebo essa ilusão / Essa saudade que vai comigo / E até parece aquela prece / Que sai só do coração / Se eu pudesse recordar / E ser criança / Se eu pudesse renovar / Minha esperança / Se eu pudesse me lembrar / Como se dança / Esse chorinho / Que hoje em dia Ninguém sabe mais.


Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Apanhei-te cavaquinho

Ernesto Nazareth

A polca "Apanhei-te Cavaquinho" é a segunda composição mais gravada de Ernesto Nazareth, perdendo apenas para "Odeon". De andamento rápido (o autor recomendava semínima = 100 para as polcas e semínima = 80 para os tangos) é muitas vezes executada em velocidade vertiginosa por músicos exibicionistas, que presumem assim mostrar habilidade virtuosística.

Composta em 1915 e gravada no mesmo ano pelo grupo O Passos no Choro, "Apanhei-Te Cavaquinho" foi dedicada a Mário Cavaquinho (Mário Álvares da Conceição), um exímio cavaquinista, amigo de Nazareth (segundo Ary Vasconcelos, ele inventou o cavaquinho de cinco cordas e a bandurra de 14 cordas).

Em 1930 o autor gravou esta composição em disco de grande valor documental, que passou a servir de referência para novas execuções. Já classificado como choro, ganhou letra de Darci de Oliveira, em 1943, para ser gravado por Ademilde Fonseca:

Disco 78 rpm / Título da música: Apanhei-te Cavaquinho / Ernesto Nazareth (Compositor) / Darci de Oliveira (Compositor) / Ademilde Fonseca (Intérprete) / Benedito Lacerda (Acomp.) / Benedito Lacerda e Seu Conjunto (Acomp.) / Gravadora: Columbia / Nº do Álbum: 55432-a / Nº da Matriz: 630-2-M / Gravação: 20/Abril/1943 / Lançamento: Maio/1943 / Gênero musical: Choro / Coleção de Origem: Nirez, Humberto Franceschi


Ainda me lembro, / Do meu tempo de criança, / Quando entrava numa dança, / Toda cheia de esperança, / De chinelinho e de trança, / Com Mané e o Zé da França, / Nunca tive na lembrança, / De rever esse chorinho.

E hoje ouvindo, / Neste choro a voz do pinho, / Relembrando o bom tempinho, / Da mamãe e do maninho, / Hoje sou ave sem ninho, / Sem família, sem carinho, / Mas sou bem feliz ouvindo, / O "Apanhei-te Cavaquinho"!

Hoje cantando o "Apanhei-te Cavaquinho", / Fico louca, fico quente, / Fico como um passarinho, / Sinto vontade de cantar a vida inteira, / Esta vida, eu levo de qualquer maneira, / Ouvindo a flauta, o cavaquinho e o violão, / Eu sinto que o meu coração, / Tem a cadência de um pandeiro, / Esqueço tudo e vou cantando com jeitinho, / Este chorinho, / Que é muito Brasileiro !

Hoje cantando o "Apanhei-te Cavaquinho", / Fico louca, fico quente, /Fico como um passarinho, / Sinto vontade de cantar a vida inteira, / Esta vida, eu levo de qualquer maneira, / Ouvindo a flauta, o cavaquinho e o violão, / Eu sinto que o meu coração, / Tem a cadência de um pandeiro, / Esqueço tudo e vou cantando com jeitinho, / Este chorinho, / Que é muito Brasileiro !...


Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Saudades de Matão

Raul Torres
Até 1920, quando Saudades de Matão já se tornara bem conhecida, pouco se sabia sobre sua autoria, sendo por alguns considerada tema popular. Então, através da revista A Lua, de São Paulo, Jorge Galati foi identificado como autor da composição (na foto: Raul Torres que fez a letra da valsa).

Nascido na província de Catanzaro (Itália) cm 1885, ele chegou ao Brasil cinco anos depois, quando a família transferiu-se da Europa para São Carlos do Pinhal (SP). Daí em diante, até sua morte em 1969, viveria em diversas cidades paulistas sempre levado por suas atividades musicais.

Assim, após estudar música em São José do Rio Pardo, já exercia com apenas 19 anos a função de mestre da Banda Ítalo-Brasileira de Araraquara. Foi aí, em 1904, que compôs a celebre valsa, originalmente intitulada Francana e que depois, à sua revelia, passou a chamar-se Saudades de Matão. A troca do título aconteceu por volta de 1912, sendo responsável pela mudança Pedro Perches de Aguiar, na época músico em Taquaritinga.

Em 1949, quando Saudades de Matão transformada em sucesso nacional já rendia bons dividendos artísticos e pecuniários, o mesmo Perches resolveu reivindicar sua autoria, estabelecendo-se grande polêmica na imprensa e no rádio.

O assunto mereceu de Almirante rigorosa pesquisa, havendo em seu arquivo variada documentação a favor de Jorge Galati. Há, por exemplo, uma declaração, registrada em cartório, do Sr. Pio Corrêa de Almeida Morais, prefeito de Araraquara em 1904, que afirma ter ouvido muitas vezes naquele ano Galati interpretar a valsa Francana.

Mas, segundo Galati, apareceram ainda no decorrer do tempo outros pretendentes à autoria da valsa, como Antonio Carreri, José Carlos Piedade, Protásio Tomás de Carvalho, José Stabile e Antenógenes Silva, sendo que este último registrou um arranjo sobre o tema popularizada como peça instrumental, Saudades de Matão recebeu letra de Raul Torres em 1938.

Saudades de Matão (valsa, 1904) - Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres - Interpretação: Carlos Galhardo

Disco 78 rpm / Título da música: Saudade de Matão / Jorge Galati (Compositor) / Raul Torres (Compositor) / Carlos Galhardo (Intérprete) / Orquestra (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 34732-a / Nº da Matriz: 52127 / Gravação: 14/Fevereiro/1941 / Lançamento: Abril/1941 / Gênero musical: Valsa



-------------G--------------- D7--------------------------G
Neste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim
--------------------------D7------------------------------- G
Ninguém conhece a razão / Porque eu choro tanto assim
-------------------------D7-------------------- G
Quando lá no céu surgir / Uma peregrina flor
G7-------------------- C--------------------- D7---------------------- G
Pois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor
---------D7--------- G---------- D7----------------------- G
Lá no céu junto a Deus / Em silêncio minh’alma descansa
--------D7------------- G
E na terra, todos cantam
---------C----------------- D7---------------------G ----- G7
Eu lamento minha desventura nesta grande dor
C---- G7------- C------------------------ G7
Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim
------------------------------------------C------------------ C7
Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer
---------------------------------F
Vou partir prá bem longe daqui
------------------------C----- G7------- C
Já que a sorte não quis / Me fazer feliz.



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Rosa

Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de lançar "Rosa" porque rejeitaram Carinhoso, destinado ao lado "A" do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral. Segundo Pixinguinha, "Rosa" é de 1917 e chamou-se originalmente "Evocação", só recebendo letra muito mais tarde. "O autor dessa letra" - esclarece ainda Pixinguinha - "é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro (bairro carioca) muito inteligente e que morreu novo". Sobre a gravação original, há um erro de concordância de Orlando, que canta "sândalos dolente".

Aliás, o cantor abandonou esta música após a morte de sua mãe, dona Balbina, em 1968. Era sua canção favorita, e o sensível Orlando jamais conseguiu voltar a cantá-la sem chorar. "Rosa" é uma linda valsa "de breque", mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego.

Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época: "Tu és divina e graciosa, estátua majestosa / do amor, por Deus esculturada e formada com o ardor / da alma da mais linda flor, de mais ativo olor / que na vida é preferida pelo beija-flor... '. O desafio de regravar "Rosa" foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado o obtido por Marisa Monte; em 1990, com pequenas alterações melódicas.

Rosa (valsa, 1917) - Pixinguinha

Disco 78 rpm - Título: Rosa - Autoria: Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), 1897-1973 (Compositor) - Silva, Orlando (Intérprete) - Regional RCA Victor (Acompanhante) - Imprenta [S.l.]: Victor, 1937 - Álbum 34181 - Gênero musical: Valsa


D7--G----------------D7----------------------------G
Tu és / Divina e graciosa / Estátua majestosa /Do amor
------------------D7---- B7
Por Deus esculturada / E tomada com ardor / Da alma
---------------Em ----------------- E7----------- Am
Da mais linda flor / De mais ativo olor / Que na vida
---------- A7---------- D7/4 ----- D7
É preferida pelo beija-flor
------- G ------------------- D7----------------------------- G7
Se Deus / Me fora tão clemente / Aqui neste ambiente / De luz
------------------ C--------------------Cm7 ------------------------G
Formada numa tela deslumbrante e bela /O teu coração junto ao meu
------- E7-------- Am--------- D7 --------------------- G
Lanceado, pregado e crucificado / Sobre a rósea cruz / Do arfante peito teu
B7 Em Em7----------Gb7 -------------- Gbm7/-5--------- B7
Tu és / A forma ideal / Estátua magistral / Ò alma perenal
------------------- Em --------------E7--------------------------Am
Do meu primeiro amor/ Sublime amor /Tu és de Deus a soberana
------------ Gb7 -----------------B7
Flor / Tu és / De Deus a criação que em todo o coração
---------------Em ---Em7 --------Gb7------------------ Gbm7/-5
Sepultas o amor / O riso, a fé e a dor / Em sândalos olentes
-------------- B7---------------------E7
Cheios de sabor / Em vozes tão dolentes como um sonho flor
Am ---------------------Em --------------- B7
É láctea estrela / És mãe da realeza / És tudo enfim que tem de
------------------------ Em
belo / Em todo o resplendor / Da santa natureza
D7 -- G --------------- D7
Perdão / Se ouso confessar / Que hei de sempre amar-te
-------- G-------------------- D7-------------------------B7
Oh, flor / Meu peito não resiste / Oh, meu Deus como é triste
------------------Em ------------------------- Em7--------- Am
A incerteza de um amor / Que mais me faz penar / Em esperar
------------- A7-------------------- D7/4 D7-- G
Em conduzir-te um dia ao pé do altar / Jurar/ Aos pés do Oni-
----- D7 ---------------------------- G7------------------C
potente / Em prece comovente / De dor / E receber a unção da
----------Cm7 -------------------- G ----------- E7-------- Am
gratidão / Depois de remir meus desejos / Em nuvens de beijos
--------------- D7------------------ G
Hei de te envolver / Até meu padecer / De todo fenecer . . .



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34

Lamentos

Pixinguinha
Lamentos (choro, 1928) - Música de Pixinguinha e letra de Vinícius de Moraes - Interpretação: MPB-4

Primeira gravação com o título "Lamento" em 1928, ainda sem a letra de Vinícius de Moraes, em disco selo Parlophon:

Disco 78 rpm / Título da música: Lamento / Pixinguinha (Compositor) / Orquestra Típica Pixinguinha - Donga (Intérprete) / Gravadora: Parlophon / Nº do Álbum: 12867-a / Nº da Matriz: 2046 / Gravação: Outubro/1928 / Lançamento: Novembro/1928 / Gênero musical: Choro / Coleção: José Ramos Tinhorão



MPB-4 interpretando "Lamentos" em 1977 (do programa "Arquivo N" da Globo News sobre Pixinguinha):



Introdução:G G7 C C#º G/D A7 D7 G D7

G---------------
Morena tem pena
--------G7+--------- G#º-- E7/9-
Mas ouve o meu lamen...to
Am7--------------F#m7/5- B7
Tento em vão
-------Em------------- C#m7/5- F#7
Te esquecer
--------B7+-------- G#m7 --C#m7 F#7


Mas olha, o meu tormento
----B7 ----------E7 --------Am7
É tanto, que eu vivo em pranto,
--------D7----- G7
Sou todo infeliz
Dm7------ G7--------- C ----Cm6---- G
Não há coisa mais triste, meu benzinho,
Em7--------- Am7----- D7---- G--- B7
Que este chorinho que eu te fiz


Em Em/D# Em/D Em/C# E7/9- Am Am/G# Am/G Am/F# B7 F#m7/5- B7 Em Em7 C7+ C7 F#m B7 Am7 C7 B7 Em/B Eb/Bb Am7/11 D7

G------------
Sozinho, morena
-----G7+------------G#º E7/9-
Você nem tem mais pe...na
Am7-------------F#m7/5- B7
Ai, meu bem
-----Em-------C#m7/5- F#7
Fiquei tão só
-------B7+ -----G#m7 C#m7 F#7
Tem dó, tem dó de mim
------ B7--------E7------ Am7
Porque estou triste assim
------ D7-------- G7
Por amor de você
Dm7-------- G7 -------- C -------Cm6 G
Não há coisa mais linda neste mundo
Em7----------- Am7----- D7 -- G
Que o meu carinho por você
--------- G7 ------ C
Meu amor, tem dó
-------- C#º------ G/D A7 D7 G
Meu amor, tem dó

Ingênuo

Ingênuo (choro, 1947) - Pixinguinha e Benedito Lacerda - Intérprete: Elizeth Cardoso no álbum "Uma Rosa para Pixinguinha"

Tom: G
       G           Em              Gb7
Eu fui ingênuo quando acreditei no amor
F            Dm                 E7
Mas, pelo menos, jamais me entreguei à dor ...
Am                     Bb°
Chorei o meu choro primeiro
      G                        E7
Eu chorei por inteiro pra não mais chorar
                         A7
O meu coração permaneceu sereno
              D7              Bb7
Expulsando o veneno pelo meu olhar...
Bb        Gm                   A7
...Eu procurei me manter como Deus mandou
  D7                               G7
Sem me vingar que a vingança não tem valor
            Cm       Db°        G
E depois também perdoar a quem erra
       E7         Am                  Cm
É ser perdoado na terra, sem ter que pedir
       G     C
Perdão no céu.
                 E7                  A7
Eu não quis resolver/   Eu não quis recusar
                                 Dm
Mas do amor em ruína, uma força termina
            A7        Dm      Eb°
Por nos dominar  e depois proteger
    C          E7        Am
Dos abismos que a vida traçar
                          D7
Quando o tempo virar o único mal
  G7                    Eb7
E a solidão começa a ser fatal ...
                 D7                            C7
Eu não quis refletir, não /  Eu não quis recusar, não
                  E7
Eu não quis reprimir , não    / Eu não quis recear...
   F            Gb°      C     Bb7     A7         D7
Porque contra o bem nada fiz  / Eu só quero algum dia
       G7                 C
Ser feliz como eu sou infeliz...

Fala baixinho

Hermínio B. de Carvalho
Fala baixinho (choro, 1964) - Música de Pixinguinha e letra de Hermínio Bello de Carvalho) - Intérprete: Elizeth Cardoso - Álbum: "Elizeth Cardoso - Uma Rosa para Pixinguinha"


Fala baixinho só pra eu ouvir
Porque ninguém vai mesmo compreender
Que o nosso amor é bem maior
Que tudo aquilo que eles sentem

Eu acho até que eles nem sentem, não
Espalham coisas só pra disfarçar
Daí então porque se dar
Ouvidos a quem nem sabe gostar

Olha só, meu bem, quando estamos sós
O mundo até parece que foi feito pra nós dois
Tanto amor assim que é melhor guardar
Pois que os invejosos vão querer roubar

A sinceridade é que vale mais
Pode a humanidade se roer de desamor
Vamos só nós dois / Sem olhar pra trás
Sem termos que ligar pra mais ninguém



Gavião calçudo


Autor principalmente de música instrumental, Pixinguinha deixou poucos sambas, dentre os quais se destaca "Gavião Calçudo". Com muito espírito e alguma malícia, a letra - atribuída a Cícero de Almeida - trata de um "gavião marvado", que rouba a mulher do protagonista.

Para completar, critica a liberalidade de alguns maridos descuidados: "Os culpado disso tudo / são os marido d'agora / as mulhé anda na rua / com as canela de fora / o gavião toma cheiro / vem descendo sem demora / garra ela pelo bico / bate asa e vão-se embora...". O samba foi sucesso na voz de Patrício Teixeira, que o gravou duas vezes em 1929.

Gavião Calçudo (samba, 1929) - Pixinguinha e Cícero de Almeida - Intérprete: Patrício Teixeira

Disco 78 rpm / Título da música: Gavião calçudo / Alfredo da Rocha Vianna Filho "Pixinguinha", 1897-1973 (Compositor) / Cícero de Almeida "Baiano" (Compositor) / Patrício Teixeira (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Violões (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Nº do Álbum: 10436-a / Nº da Matriz: 2685 / Gravação: 26/07/1929 / Lançamento: Agosto/1929 / Gênero musical: Samba / Coleções: IMS, Nirez



---- A-D----E7----A
Chorei, porque
F#m--Bm-------E7-D/F#--E/G#--A--A7--D
Fi....quei sem meu a.....mor
-------D/F# -Dm/F-A/E
O gavião mal.....vado
--A----F#7/A#----B7
Bateu asa foi com ela,
-----E7----A
E me deixou
--------A------C#7/G#---F#m
Quem tiver mulher bonita
A7M/E-----D-----F#7/C#----Bm
Escon.....da do ga.........vião
----E/G#-----D/F# --E7
Ele tem unha comprida
--D--------E7--------A
Deixa os marido na mão
-------A------C#7/G#---F#7
Mas viva quem é solteiro!
--------D -----F#7/C#---Bm
Não tem amor nem paixão
---------D------D#º----A/E
Mas vocês que são casado
F#7----Bm----E7----A
Cuidado com o gavião



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.