quinta-feira, outubro 26, 2006

Paraguassu

Paraguassu (Roque Ricciardi) nasceu em 25/5/1894 na cidade de São Paulo/SP e faleceu em 5/1/1976 na mesma cidade. Seus pais, italianos tinham seis filhos. Ele seria o terceiro da escadinha e o primeiro a nascer no Brasil.

O falecimento de seu pai, dono de armazém e ferraria, abalaria a tranqüila vida familiar e eis o menino Roque encaminhado ao trabalho, como tipógrafo, por pouco tempo, e como seleiro, por muitos anos, chegando a mestre no ofício. Desde criança empolgava-se ele com a música e, ainda imberbe, após o trabalho, já se apresentava em cafés-cantantes, em serestas e nas rodas boêmias, de violão em punho.

Na virada do século, São Paulo era "uma cidade italiana", mas ele, mesmo falando perfeitamente o italiano e conhecendo as canções da terra de seus pais, só cantava modinhas brasileiras. Em 1908, o grande Eduardo das Neves, em temporada paulistana, teve a oportunidade de ouvi-lo no Café Donato e o convidou para participar do espetáculo que daria. Foi uma data inesquecível para o menino de 14 anos.

Contava Paraguassu que, em 1912, fez suas primeiras gravações, para o selo Phoenix, em São Paulo, mas esses discos, entretanto não têm sido localizados por nenhum colecionador. Comprovadamente, gravou na Casa Edison, em 1926/27, um total de sete discos com 14 músicas, ainda no sistema acústico ou mecânico.

Em 1923, inaugurada a Radio Educadora Paulista, foi o primeiro artista contratado da emissora. Três anos mais tarde, acusado de plagiar a valsa A pequenina cruz do teu rosário (1), de Fetinga e Fernando Weyne, submeteu-se a uma ação judicial que repercutiu por todo o país, comprovando-se o plágio que havia sido por ele gravado como Cruz do rosário, na Odeon.

Tinha por companheiros Alberto Marino e Canhoto, o qual conhecera "em plena rua, numa seresta". Em 1927, grava dois discos com duas músicas na Odeon, no início do processo elétrico de gravações. Em 1929, é convidado para formar no elenco da novel Colúmbia, São Paulo, sob a direção artística do maestro Gaó, um rapaz de 20 anos.

Paraguassu, embora na casa dos 34 anos, já representava a "velha guarda". Até esse momento, tinha aparecido nos seus discos como Roque Ricciardi. Cansado de ser chamado de Italianinho do Brás, escolhe ser "o Paraguassu", fazendo questão sempre dos dois "ss": "Aos poucos notei que aquele Italianinho do Brás ganhara um sentido pejorativo e resolvi adotar um nome brasileiro. Recordando nossos episódios históricos, lembrei-me dos índios Caramuru e Paraguassu e escolhi este último, que aliás não era índio, era índia".

Paraguassu, após os citados discos na Odeon, permaneceria na Colúmbia de 1929 a 1937, tendo nesse período gravado 77 discos com 146 músicas. Foi a sua fase áurea. Suas gravações, em seguida, iriam se espaçar cada vez mais: na R.C.A. Victor (1938), Odeon (1938), Colúmbia (1939 e 1942), Continental (1945 a 1949). Todamérica (1953) e Chantecler (1960), numa soma geral, de 101 discos com 192 músicas, em 78 rpm. Gravaria ainda Lps. comemorativos, em 1958 e 1969.

Músicas no site





Fonte: Revivendo Músicas - Biografias.

Roberto Paiva

Através de sua voz encorpada, os sambistas Geraldo Pereira e Nelson Cavaquinho estrearam em disco. Ele foi o primeiro a gravar a trilha da peça Orfeu do Carnaval de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, além de interpretar um dos grandes sucessos do carnaval de todos os tempos, o samba de protesto O trem atrasou (Paquito/Estanislau Silva/Villarinho), depois regravado por Nara Leão.

Pelo nome da identidade - Helim Silveira Neves, carioca da Vila Isabel, nascido em 1921 - ninguém o conhece. Mas Roberto Paiva, o cantor, entrou para a história da MPB por todas essas e várias outras façanhas.

Começou como calouro na era do rádio (Club Fluminense, em Niterói). Depois, Ciro Monteiro o levou para a Mayrink Veiga. Aí conheceu o pianista Nonô e o violonista Laurindo de Almeida, que o apresentaram na gravadora Odeon, onde ele estreou em disco, aos 17 anos, em 1938. Elogiado pelo rei da voz Francisco Alves, no primeiro disco cantou composições dos padrinhos, Jardim de flores raras (Nonô/Francisco Mattoso) e Último Samba (Laurindo).

O início de carreira foi difícil, com o pseudônimo usado para burlar a resistência familiar (o pai queria que ele terminasse os estudos) e a conciliação do tiro-de-guerra (o serviço militar da época) com o contrato de cinco discos (78 rotações) por ano. Gravou Se Você Sair Chorando, a primeira de Geraldo Pereira, em cuja pauta Pixinguinha anotou elogios, e estourou no carnaval de 41 com O Trem Atrasou.

Também emplacou uma versão (de Paulo Roberto) que virou hino estadual, Vienne sul mare ("Ó Minas Gerais"). "Foi a maior praga da minha vida. Nunca fui a uma cidade, por menor que fosse, que não me pedissem para cantá-la", confessou numa entrevista em 1979, ao Jornal do Brasil.

Guiando-se sempre pela intuição na escolha das músicas dos mais variados estilos, ele também lançou Nelson Cavaquinho ("o nome não aparece nos discos porque ele vendia os sambas") e Luís Vieira (Alguém que Não Vem, um samba-canção, e depois o estouro, O menino de Braçanã). Emplacou ainda sucessos como Tagarela (1946), do xará Roberto Martins, o compositor que mais gravou (16 músicas), ao lado de Paquito (o do Trem e de outro sucesso, A Marcha do Conselho, de 1957), com 10, e Geraldo Pereira (8).

Em 1957, na era de transição do 78 para o LP, ele gravou um 10 polegadas com as músicas (de Tom Jobim) da peça (de Vinícius) Orfeu da Conceição, incluindo a estréia do samba-canção sinfônico Se todos fossem iguais a você.

Em mais um lance de pioneirismo, participou (com Francisco Egídio), em 1953, da primeira gravação em disco da polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista, refeita 11 anos depois em outra gravadora, com o caricaturista do samba, Jorge Veiga.

Com sua onipresença de sensibilidade interpretativa e bom gosto na escolha do repertório, o cantor Roberto Paiva marcou a história da MPB.


Tarik de Souza - ENSAIO - 5/6/1974.

João do Vale

João do Vale dizia que no Maranhão, de onde veio, "o cara é Batista ou Ribamar". Ele era Batista, João Batista do Vale, nascido em Pedreiras no dia 11 de outubro de 1934, quinto numa família de oito irmãos. Até os 12 anos, vendia na rua os bolos que a mãe fazia. Aos 13, foi vender laranjas na feira de Praia Grande, em São Luís.

Chegou ao Rio como ajudante de caminhão, em 1950. Compunha desde menino, para o bumba-meu-boi de sua terra. Conseguiu gravar com o sanfoneiro Zé Gonzaga (Cesário Pinto) e com a cantora Marlene (Estrela Miúda).

A convite do compositor Zé Keti, cantou no Zicartola, o restaurante musical que Cartola manteve no Centro do Rio, de 1963 a 1965.

O teatrólogo Oduvaldo Vianna Filho convidou-o a participar, ao lado de Zé Keti e da cantora Nara Leão, do show Opinião. Nara Leão adoeceu e foi substituída por Maria Bethânia, trazida da Bahia. A interpretação vigorosa que a jovem e desconhecida cantora deu a Carcará, de João do Vale, consagrou imediatamente a intérprete e o autor.

João do Vale, apresentou-se na Europa, nos EUA, em Cuba e Angola. Mas jamais pôde mudar-se de Rosa dos Ventos, bairro pobre de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Em 1986, sofreu um derrame. Numa cadeira de rodas, voltou para Pedreiras. No dia 6 de dezembro de 1996, morreu num hospital de São Luís, após sofrer novo derrame.

Algumas obras







Fonte: Moacyr Andrade - MPB ESPECIAL - 11/12/1974.

Nuno Roland

Reinold Correia de Oliveira, o Nuno Roland (1/03/1913 – 20/12/1975) foi um dos grandes cantores da época de ouro do rádio brasileiro. Natural de Joinville, SC, começou a cantar profissionalmente em 1931 num cassino de Passo Fundo, RS e depois em Porto Alegre. Durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul conheceu Lupicínio Rodrigues, de quem se tornou amigo.

Em 1934, seguiu para São Paulo onde fez grande sucesso se apresentado inicialmente na Rádio Record e depois na Rádio Educadora Paulista. Foi em São Paulo que adotou o nome artístico de Nuno Roland.

Em 24 de agosto de 1934, gravou na Odeon seu primeiro disco com as canções Pensemos num lindo futuro e Cantigas de quem te vê, de Ulisses Lelot Filho. Atuando principalmente como crooner de orquestras, passou a cantar vários gêneros musicais, inclusive estrangeiros.

Em 1936 mudou-se para o Rio de Janeiro onde assinou contrato com a Rádio Nacional, estreando na inauguração dessa emissora em 12 de setembro daquele ano.

Apesar de sua presença constante no rádio e no disco, só alcançou o sucesso em 1947, com a marcha carnavalesca Pirata da perna de pau, de João de Barro, gravada na Continental. Nessa gravadora, viveu a melhor fase de sua carreira, em que lançou os sucessos Fim de semana em Paquetá, Tem gato na tuba (ambas de João de Barro e Alberto Ribeiro), Tem marujo no samba (João de Barro), em dueto com Emilinha Borba, Lancha nova (João de Barro e Antônio Almeida) e os hinos dos clubes cariocas Botafogo e Olaria, da série composta por Lamartine Babo.

A partir dos anos de 1960, declinou sua atividade profissional, gravando esporadicamente.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Copinha


Aquela antológica abertura, em solo de flauta, de Chega de saudade, que, ao lado do violão de João Gilberto, lançou a bossa nova em 1957, foi feita pelo engenheiro paulista Nicolino Cópia, mestre do instrumento (e de todos os de sopro) desde os tempos em que tocava acompanhando filmes no cinema mudo.

Genial, eclético, atualizado, Copinha foi acima de tudo um músico. Seu som está em centenas - milhares, sem exageros - de gravações de cantores e cantoras brasileiros, de todos os gêneros e estilos, ao longo de seus mais de cinqüenta anos de carreira (nasceu em 3/3/1910 e morreu em 4/3/1984, um dia depois de completar 74 anos).

"Engenheirou" poucos meses em São Paulo e foi ser músico na vida. Trabalhando com outros maestros ou liderando suas próprias orquestras, apresentou-se nos mais variados cenários e cidades. Teve como companheiros gênios a sua altura, como Garoto, Aimoré, Armandinho, Spartaco Rossi, Gaó, Tom Jobim, Dom Salvador, Chico Batera e, no apagar das luzes de tão exuberante carreira, um trabalho majestoso ao lado de Paulinho da Viola.

Desde o início dos anos 30, Copinha teve lugar de destaque em São Paulo, no Rio de Janeiro e no mundo. Na música feita nas rádios, nos cassinos, nos shows, nas gravações de discos, foi figura obrigatória. Em 1931, tocava na Alemanha, em 32, na Companhia de Revistas de Margarida Max, no Rio.

Nos anos seguintes, na Orquestra Columbia e ao lado de Pixinguinha na noite carioca. Tocou no Copacabana Palace com Simon Boutman e Carlos Machado, até formar a própria orquestra. Passou pela TV Rio, Rádio Nacional, TV Globo. Apresentou-se com sua orquestra no cassino de Monte Carlo, em Dallas, Miami, Minneapolis. Gravou três discos solo e acompanhou três gerações de cantores brasileiros.

Morreu no Carnaval. Em seu velório, Paulinho da Viola e mais quatro ou cinco pessoas. Nas ruas, o Rio de Janeiro brincava.Concedeu esta entrevista ao programa MPB Especial, da TV Cultura de São Paulo, em 1974, aos 64 anos.

Arley Pereira - MPB ESPECIAL- 2/10/1974

"Essa música (Abismo de Rosas) é de um senhor, para mim um senhor exímio violonista, chamado Giacomino, apelido de Canhoto. Eu conheci o Canhoto em 1918, 1919, que foi a época em que ele fez essa valsa, e eu adorava esse homem tocando violão. Aliás, fazíamos serenatas, eu, um garotinho, só "sapeava", eu tocava uma coisinha ou outra. Meus irmãos mais velhos é que tocavam com ele, João, Vicente, Joaquim e Alexandre.

Eu nasci na rua Santa Efigênia, antigamente bairro Santa Efigênia. Hoje é Centro. Atravessava a ponte (1), era o bairro Santa Efigênia. Hoje atravessa a ponte e é cidade mesmo. São Paulo cresceu de uma maneira... São Paulo nesse tempo era um Estado formidável de se viver. Poluição não existia. Eram aqueles bondinhos, eram bondes. Eu não alcancei bonde de burro, não, eu não alcancei isso, porque também não sou tão velho. Mas eram aqueles bondes caradura. Tinha o bonde condutor na frente, todo fechado, pintado de verde, da esperança, que levava o reboque atrás, feito uma jardineira, tudo aberto, chovia dentro. Esse caradura era um tostão. Tomei muito bonde caradura.

No bairro de Santa Efigênia a coisa mais importante era a igreja. Sem contar a ponte. A ponte foi um acontecimento, os dois viadutos: Santa Efigênia e viaduto do Chá. Tinha casas baixinhas. Naquele tempo, São Paulo todo devia ter um milhão e duzentos mil habitantes. O Rio de Janeiro era mais habitado do que São Paulo, tinha mais população. São Paulo era um lugar formidável. Nasci aqui, gostava muito, né? Hoje não, hoje São Paulo está difícil, está fogo. O Rio de Janeiro está mais devagar, está mais calmo.

Eu comecei a estudar com 7 anos de idade, em 1917. Mas estudava direito, estudava música primeiro. Hoje a gurizada pega um instrumento e vai tocar de ouvido. Estudei música, solfejo, depois mais tarde harmonias, essa coisa toda. Com 9 anos é que eu peguei a flauta. Com nove anos eu já fazia serenata com o Canhoto. Toquei muitas vezes. Ele gostava e dizia: "Esse garoto é bom". Fiz muitas serenatas e valsas. Aliás, muita gente está enganada com serenata, dizem que serenata é só música dolente. Não é não. Eu tinha uma "pequena" que gostava de tango e fiz serenata com tango. Tinha uma garota que gostava de um choro (não me lembro o nome).

Eu tocava choro para ela na serenata. E daí todo muito pensa que serenata é só valsa, dolente. Não é nada disso, não. Tudo que você gostava, eu ia tocar para você, e acabou-se, gostasse do que gostasse".(1) Refere-se ao Viaduto Santa Efigênia.

Cornélio Pires

Cornélio Pires nasceu no dia 13 de julho de 1884, na cidade paulista de Tietê, e morreu de câncer na laringe no dia 17 de novembro de 1958, na capital de São Paulo. Muito cedo, com 14, 15 anos, Cornélio deixou a tranqüilidade do lar e partiu para ganhar a vida, primeiro como biscateiro e aprendiz de tipógrafo, depois como jornalista, poeta, contista e folclorista.

Publicou 23 livros, o primeiro em 1910. Fora isso, criou uma companhia de teatro e realizou quatro filmes sobre o dia-a-dia da gente caipira, que tão bem entendia. Em 1929, através do selo Columbia, representado no Brasil de então por Byington & Company – depois Continental e agora Warner Continental – conseguiu realizar o seu grande sonho, que era gravar em disco as diversas manifestações culturais e artísticas do povo.

Cornélio Pires foi o primeiro artista a gravar de forma independente no país, já que teve de bancar, ele próprio, a sua famosa série de discos.

Obra

Adeus, campina da serra (c/ Raul Torres), Bonde camarão (c/ Mariano da Silva), Cantando o aboio (c/ Angelino Oliveira), Dindo lelê (c/ Raul Torres), Moda da revolução (Rebelião paulista de 1924) (c/ Arlindo Santana), Numa escola sertaneja, Oh, vida minha, Oi, dele-lê, Os bailes de agora (c/ Raul Torres), Quem quiser saber meu nome (c/ Raul Torres), Simplicidade, Toada de mutirão (c/ Angelino de Oliveira).

O bandeirante da Música Caipira

"Nascido de um escorregão em hora imprópria da mãe dona Nicota e batizado por engano do padre surdo com o nome de Cornélio, ao invés de Rogério, esse paulista de Tietê tem em sua própria história muito da vida rústica da "civilização cabocla". Civilização que, ao retratar em inúmeras outras comunidades pelo Brasil a fora, tornou-o conhecido e reverenciado nas décadas de 1920 e 1930.

Mistura de poeta, escritor, contador de casos, conferencista e humorista, Cornélio Pires foi uma espécie de showman da cultura caipira. Para o pesquisador e escritor Macedo Dantas, que lhe dedica uma obra a vasculhar minuciosa e bibliograficamente a existência, "ele é o pai do folclore paulista, notável observador da linguagem, dos costumes, da paisagem humana e física do mato".

Tendo convivido na infância com os escritos e as apresentações de Cornélio, no sul de Minas Gerais, onde morou, o historiador Antônio Cândido, ao prefaciar o livro de Dantas, sintetiza: "Meio escritor, meio ator, meio animador; generoso, combativo, empreendedor, simpático – a sua maior obra foi a ação nos palcos nas palestras na literatura falada que perde bastante quando é lida. Como os oradores, como certo tipo de poetas, como os repentistas e os velhos glosadores de mote, a dele foi uma literatura de ação e comunhão direta, eletrizante, com o público".

Os caipiras deste mato
Não anda de quatro pé
Não são, Montêro Lobato
Como tu, feição de gato,
Qis pintá nos Urupé.

A característica mais importante a se recuperar no universo caipira, como enfatiza o professor e editorialista do jornal O Estado de São Paulo, Hélio Damante, é a forma de fala que tem o poder de captar o espírito do caboclo. Transformar em representação gráfica esses fonemas, possibilitando fidelidade aquela realidade, era algo que não havia sido explorado até Cornélio Pires".

Essa dificuldade técnica era ainda agravada no caso de Cornélio por seus primeiros escritos terem surgido quando a moda literária era a erudição gramatical.

Desprovido de preparação intelectual, pois nunca se dedicara aos estudos embora dispusesse de condições financeiras para tal. Cornélio vivia, na capital, no meio jornalístico e buscava aceitação de sua roda social, dividindo entre cultivar as suas raízes caipiras ou bancar o intelectual que jamais seria.

Essa contradição se refletirá em toda a sua obra, repleta de altos e baixos no que diz respeito à aceitação crítica já que como conta Dantas: "Há um Cornélio dialetal, folclórico, costumista, desenhista notável de coisas sertanejas psicológico sutil da alma cabocla, cheio de ternura, pitoresco e simpático para com a gente do mato. Há o Cornélio metido a literato de tom acadêmico ignorante da literatura universal e de língua culta, da música dos movimentos nacionais e mundiais, das leis e da ficção e da estilística. O primeiro merece respeito, o segundo já estaria fora da literatura se não fosse o outro".

O momento certo para impulsionar Cornélio a publicar seus primeiros escritos se dará em 1910, quando se revaloriza a vida sertaneja principalmente em decorrência do sucesso de Euclides da Cunha com o livro Os Sertões. Nessa época ele lança sua primeira coletânea de poesias, a mais conhecida até hoje Musa Caipira, que consagra o soneto Ideal caboclo:

Ai, seu moço, eu só quiria
P’ra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Porva espingarda e cutia
Um facão fala verdade,
E u’a viola de harmonia
P’ra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mángua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
P’ra compretá meu desejo,
Cavalo bão – e muié...

O sucesso conquistado serviu de estímulo, fazendo com que passasse a dedicar maior empenho à divulgação desse universo que conhecia tão bem, já que vivera boa parte de sua juventude entre os matutos. Mas isso não fez com que ele abandonasse de vez suas pretensões literárias, tanto que anos mais tarde em 1921, persiste nesse caminho e, ao lançar uma coletânea de versos, é devidamente bombardeado pelo escritor e crítico Tristão de Athayde:

"Procure despojar-se o senhor Cornélio de toda essa escória de falsa literatice, cultive cada vez mais esse delicioso impressionismo regionalista em que já é mestre, acentue o sentimento interior de sua poesia um pouco descritiva demais e será como Catulo (Catulo da Paixão Cearense) ainda que sem sua prodigiosa riqueza de inspiração e emoção, um poeta à parte, o nosso poeta caipira."

A falta de método, entretanto, será uma tônica inseparável de Cornélio em todas as sua ações, a começar por seu curriculum que se estende do poeta e contista a conferencista e humorista; de jornalista e editor, a professor de educação física e empresário; de cineasta a realizador de gravações em disco de músicas sertanejas.

Quanto a esse seu perfil, Macedo Dantas pondera que "é preferível ele ter sido como foi, com todos os defeitos apontados, com sua indiferença pelo estudo, mas com essa criatividade notável, com esse poder de observação raro. Preferível ter sido um ignorante criativo, a um medalhão impotente."

Graças a esses traços de sua personalidade, Cornélio se transformou num contador de "causos" que lotava as salas de espetáculos por onde se apresentava.

Sempre entrando em cena de fraque ou casaca, ele divulgou intensamente a figura do caipira, incentivando a fixação da imagem do matuto irônico e debochado, contrastando com a figura frágil do caboclo ingênuo.

Uma de suas anedotas, registrada em livro, conta que "um granfino, a passeio pelo interior, alugou um cavalo e saiu percorrendo os arredores da cidade, indo parar na casa do caipira. Bem acolhido, entrou e começou a examinar a sala. Ao notar que na parede havia numerosas fotografias, perguntou ao dono da casa:

-De quem é esse retrato?
-É retrato de mea mãe...
-E aquele outro?
-Aquele é de meu pai...

Finalmente, vendo a fotografia de um burro bem escanelado com sete palmos de altura, arreio prateado, rédea bambeada, peitoral enfeitado, perguntou:

- Esse também é da família?

- Nhor, não. Mercê tá enganado. Esse num é retrato.

- Quem é então?

- É espêio...

Com toda essa flexibilidade e dinâmica Cornélio merece no mínimo ser lembrado como um grande ativista cultural de seu tempo. E é em defesa dessa memória que alguns estudiosos e folcloristas que se definem cornelianos, estão procurando através de delicados trabalhos de recuperação bibliográfica preservar a sua imagem.

No caso da sua discografia , apesar de se especular em torno de 108 discos gravados, até hoje só se consegui recuperar 48 gravações. Num país onde inexiste o hábito de se arquivarem informações para o futuro, muitos dos discos gravados por ele deve ter virado brinquedo na mão de crianças.

Em relação aos filmes realizados, há notícias de quatro, (Brasil pitoresco, Vamos passear, Sertão em festa), teve grande êxito, como registram informações veiculadas na época, porém localizar qualquer um deles é tarefa para super-herói, pois ninguém dispõe de cópias.

A obra escrita, por sua vez, além de ser uma das responsáveis pelo desaparecimento do autor do conhecimento público é literalmente um caso jurídico. Boêmio incorrigível, Cornélio sofreu a vida toda de grandes e graves problemas financeiros.

Numa de suas eternas crises de falta de fundos vendeu os direitos autorais de seus livros.

"No tempo de dante, aqui prás berada do riu era tudo mataria virge. Anta aqui era cardume. Era ciso (...) Pegô o burro véio em vez da besta? Nhor não. Muito pó. Peguei u’a anta... tava amuntada numa anta mantiúda..."

Macedo Dantas relata que "nenhum dos proprietários das obras de Cornélio se interessou em editá-las ou ceder os respectivos direitos". E, mais adiante Dantas considera ainda que "não é fácil, por vários motivos, lançar com êxito, qualquer obra de Cornélio, hoje esquecido do grande público e das novas gerações". Com essa perspectiva a reedição de Cornélio é tarefa para orgãos públicos pois sem verba oficial dificilmente seus trabalhos voltarão às prateleiras das livrarias. Atualmente qualquer exposição sobre Cornélio é realizada graças à concessão de colecionadores já que o que restou de Cornélio são os estudos sobre seus trabalhos feitos por folcloristas e amigos.

Dentre os que mereciam ser reeditados na opinião dos conhecedores da obra do poeta caipira estão as famosas Aventuras de Joaquim Bentinho (O queima-campo). Quando foi lançado em 1924, Joaquim Bentinho tornou-se personagem famoso tendo até um rival, o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.

(Quando o caipira piava à vontade...)
- Ói a cartola dele
- Suba ! Senta ...senta
- Ói o pala!
- Ói o andá de corvo!
- Ô purguento! Guardanapo de tropêro!
- Sapicuá de lazarento!
- Baú de sordada!
- Barba de bugiu!
- Tição!
- Treze de maio!

Em certa ocasião, referindo-se a Cornélio Pires Monteiro Lobato disse que "o caboclo do Cornélio é uma bonita estilização sentimental, poética ultra-romântica fulgurante de piadas e rendosa. O Cornélio vive e passa bem, ganha dinheiro gordo com sua exibições que faz do seu caboclo. Dá caboclo em conferência a cinco mil réis a cadeira e ao público mija de tanto rir".

Essa declaração pouco amistosa de Lobato é atribuida pelos biógrafos de Lobato a um momento de ciumeira entre dois concorrentes, já que os personagens que ambos criaram disputavam o mesmo público. Mas aí, então é inevitável a pergunta – porque Lobato ficou e Cornélio não?

Hélio Damante arrisca uma opinião ao salientar que "Lobato teve um editor e soube investir na sua própria obra, no seu futuro. Já Cornélio, além de não ter se organizado enquanto autor, tem suas obras fora do alcance do leitor desde 1950".

Damante acredita que mesmo Lobato está com seu espaço se restringindo apesar de muito conhecido e cultuado no meio educacional. "A criança - diz ele - aprecia mais o superman do que o visconde de Sabugosa já que o primeiro está mais próximo do mundo em que ele vive. Isso é inevitável em relação às crianças referentes ao universo caboclo embora alguns traços dessa cultura tenham se tornado definitivos já que foram incorporados ao cotidiano . Um exemplo? É muito comum ouvir repórteres de conceituados canais de televisão carregarem da expressão às direitas, muito familiar ao matuto do interior de São Paulo".

Para Damante, é inegável o impacto da cultura de massa que, na sua opinião já atingiu em cheio a música sertaneja, "hoje descaracterizada em relação a sua raiz. A urbanização é um dado contra o qual nada se pode fazer. Além do mais novas realidades surgem realimentado velhos costumes e atribuindo-lhes outra dinâmica".

A miscigenação nordestina, tão presente no interior paulista mistura seus hábitos e costumes aos da terra, promovendo uma nova mobilidade naquele universo produzindo outros traços culturais. Partindo dessa análise, Damante lembra ainda que: "se Cornélio Pires fosse vivo, na certa transportaria essas mudanças para seus relatos, como fez na sua época com as vivências dos italianos, habitantes do interior e muitas vezes personagens de seus livros".

Fontes: Assis Angelo, texto no encarte do CD Cornélio Pires - Som da Terra; Defesa da Cultura Nacional, nº 3, 1984)

Nora Ney


Bastaram menos de dois anos, quase vinte meses, para que a carreira de contadora fosse esquecida e a carioca (de 23 de março de 1922) Iracema de Souza Ferreira fosse coroada Rainha do Rádio, com direito a faixa, trono, fã-clube e toda a liturgia que criava o mito radiofônico no início da década de 50.


Em fins de 1951, Iracema ainda frequentadora do Sinatra-Farney Fã-Clube, onde cantava nas tardes de domingo acompanhada pelo acordeom de João Donato e o piano de Johnny Alf, dois garotinhos imberbes, foi levada para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Aí já sob o nome de Nora May (o Ney viria depois), estreou cantando em inglês com seu grave vozeirão.

Em 1953 já era ídolo nacional, cantando samba-canção, naturalmente em português. Contratada pela Rádio Nacional, era ouvida pelo Brasil inteiro todas as noites no famoso programa Ritmos da Panair, transmitido diretamente da boate Midnight, do Copacabana Palace Hotel. Foi aí que conheceu o cantor Jorge Goulart, seu companheiro na vida e carreira a partir de então.

Gravou Ninguém me ama (de Antônio Maria e Fernando Lobo), Menino grande (só do Maria), De cigarro em cigarro (Luiz Bonfá), com imenso sucesso e, nesse mesmo ano, foi eleita Rainha do Rádio.

Cada gravação de Nora Ney era sucesso garantido e ela foi em sequencia: Preconceito (Antônio Maria e Fernando Lobo); É tão gostoso, seu moço (Mário Lago e Chocolate); Aves daninhas (Lupicínio Rodrigues); Se eu morresse amanhã (Antônio Maria); Só louco (Dorival Caymmi); Vai Mesmo (Ataulfo Alves).

Em companhia de Jorge Goulart e outros artistas brasileiros, excursiona longamente pela Europa, Américas, África, Oriente Médio e Ásia, com amplo sucesso, transformando-se na maior divulgadora da música popular brasileira em países até então jamais visitados por artistas nacionais.

Passa por período de preconceito profissional em virtude de posições políticas, mas acaba por retomar sua carreira, cantando com o brilhantismo e calor habituais. Em 1989, faz parte do simpaticíssimo grupo As Eternas Cantoras do Rádio, dividindo o palco e emoções com as companheiras de microfones da fase áurea da radiofonia, Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti, Zezé Gonzaga, Rosita Gonzales e Ellen de Lima.

Em 1992, depois de 39 anos de vida em comum, casou com Jorge Goulart. Concedeu esta entrevista ao programa MPB Especial, da TV Cultura de São Paulo, em 1973, aos 50 anos:

Arley Pereira - MPB ESPECIAL - 5/2/1973

"Antônio Maria começou comigo, começamos juntos, ele como compositor e eu como cantora. A primeira música que eu gravei de Antônio Maria foi Menino Grande. Ele fez para ele mesmo e queria que alguém cantasse para ele essa música, Menino Grande. Ele era muito gordo, muito simpático, uma figura engraçada.

Uma vez, eu estava trabalhando no Copacabana Palace e ele foi lá me levar uma música, Onde Anda Você?, e foi de pijama mesmo. Uma delícia, ele foi de pijama, entrou no Copacabana Palace pela entrada dos artistas. Os músicos tinham uma entrada separada. Eu era crooner. E ele foi de pijama mesmo e levou Onde Anda Você?.

O que mais posso falar de Antônio Maria? Amou muito, viveu muito, sofreu muito. Era um sátiro também, maravilhoso e era um grande amigo, o bom Maria, como o chamavam. Vou cantar um outro número do Maria, de parceria com Fernando Lobo. Aliás, Ninguém Me Ama também é parceria com Fernando Lobo".

Nora Ney faleceu em 27/10/2003. Aos 81 anos de idade, a carioca Iracema de Souza Ferreira morreu de falência múltipla dos órgãos (em decorrência de um enfisema pulmonar), no Hospital Samaritano, no mesmo Rio de Janeiro onde nasceu em 1922.


Fontes: Autores e Intérpretes - SESC-SP; Clique Music - Acontecendo.

Flávio Cavalcanti

Flávio Cavalcanti (Flávio Antônio Barbosa Nogueira Cavalcanti), nasceu no Rio de Janeiro a 15 de janeiro de 1923. Começou, aos 22 anos, a trabalhar no Banco do Brasil. Mas ao mesmo tempo, estreou como repórter no jornal carioca A Manhã.

Posteriormente foi funcionário da Alfândega do Rio de Janeiro, onde ficou até 1964. Seu pendor maior era pelo jornalismo e fez entrevistas memoráveis com o político fluminense Tenório Cavalcanti, o “Homem da Capa Preta”. Esteve ainda nos Estados Unidos e entrevistou o presidente Kennedy, na casa Branca.

Entrou para a televisão e tinha estilo tão marcante que registrou época, pois entre outras coisas criou o primeiro júri da televisão brasileira. Começou também a compor e influenciou muito nas tendências musicais. Artistas, que se tornaram consagrados, começaram com Flávio Cavalcanti. Seu estilo era contundente. Letras medíocres, músicas iam para o lixo. Literalmente. Ele quebrava discos e jogava fora. Criou gestos marcantes, como a mão direita estendida para o alto, ao pedir o intervalo. O “tira bota” dos óculos também foi marcante.

Seu primeiro programa foi Discos Impossíveis. Em 1951 compôs Mancha de Baton, que foi gravada pelo conjunto Os Cariocas. Em 1952, na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, seu programa fazia sucesso. Dolores Duran gravou sua música Manias. Essa música, além de outras, Flávio fez em parceria com o irmão Celso.

Em 1955, com Jacinto de Thormes, estreou o programa: Nós os Gatos. Em 1957, na TV Tupi, estreou seu programa definitivo: Um Instante Maestro. Em 1965 lançou na TV Tupi Excelsior o Júri, que muito marcou.

Em 1966 reeditou o mesmo programa e lançou mais dois: A Grande Chance e Sua Majestade é a Lei. Em 1968 realizou o programa: A Grande Chance em Portugal. Em 1970 lançou: Programa Flávio Cavalcanti na TV Tupi do Rio. Seu programa foi suspenso pela censura militar.

Em 1976 reeditou Um Instante, Maestro, na TVS do Rio. Em 1977 esteve na Rádio Mulher em São Paulo, com um programa diário. Em 1978 novamente fez : Programa Flávio Cavalcanti na TV Tupi carioca. Em 1982 foi para a TV Bandeirantes de São Paulo, fazendo o programa Boa Noite, Brasil. Em 1983, no SBT de São Paulo fez o Programa Flávio Cavalcanti.

Por seus programas passaram nomes consagrados, como: Oswaldo Sargentelli, Marisa Urban, Erlon Chaves, Márcia de Windsor, entre outros. Inteligente, brilhante, inquieto, como bem mostra sua biografia, o carioca Flávio Cavalcanti, porém, teve uma vida familiar tranqüila. Casou se com dona Belinha e teve três filhos, sendo o filho que levava seu nome, um executivo de telecomunicações.

Flávio Cavalcanti faleceu de enfarte, aos 16 de maio de 1986, após apresentar o programa Flávio Cavalcanti, em São Paulo. Nome inesquecível na memória de todo o Brasil ele é.


Fonte: http://www.museudatv.com.br/biografia/flavio-cavalcanti/

Nhá Zefa

Nhá Zefa (Maria Di Léo), cantora, era filha de italianos. Era considerada a caipira preferida de Cornélio Pires, embora não fosse exatamente uma caipira, pois nasceu na capital paulista. Fez bastante sucesso nos anos 1930.

No início dos anos 1930, atuou no programa de rádio "Cascatinha do Genaro", apresentado por Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado, primeiramente na Rádio Cruzeiro e, posteriormente, na Rádio São Paulo.

Em 1935, gravou com Laureano a moda de viola Itália e Abissínia, que falava de modo satírico da invasão italiana na Abissínia, e que seria posteriormente gravada por Alvarenga e Ranchinho.

Apresentou o programa "Saudades do sertão", primeiramente na Rádio Bandeirantes e, posteriormente, na Rádio Bandeirantes. Em 1937, gravou com Raul Torres o desafio Desafio nº 1. No mesmo ano, gravou em dueto com o cantor Paraguaçu as batucadas Baiana dengosa, de motivo popular com arranjo de Paraguaçu, e Olá, seu Barnabé, de Paraguaçu.

Nos anos 1940, fez sucesso com a mazurca Me leva contigo. Em 1940, gravou com Capitão Furtado e Juca Matia a moda de viola Casá? Só anssim, de sua autoria e Capitão Barduíno. No mesmo ano, lançou a toada Nunca mais a gente esquece, de Tirso Pires e Laureano, e a moda de viola Num tenho medo de home, dela e Ariovaldo Pires, ambas em dueto com Nhô Pai. Ainda em 1940, gravou em dueto com Serrinha a moda de viola A coisa mió do mundo e a toada Coração dos meus penares, ambas de Serrinha.

Em 1941, gravou com Nhô Pai e Ariovaldo Pires o cateretê Agricultura hoje tem seu lugar. Durante a década de 1940 realizou diversas gravações em parceria com Nhô Pai, entre as quais as modas de viola Moda da fila, Viaje a Parmitá, dela e Sereno, o rasqueado Coisas do Paraguai, de Nhô Pai, a contradança Um pé de laranja doce, de Nhá Zefa e Irmãos Cachoeira, e o cateretê Caboclo lindo, de Nhá Zefa.

Em 1943, gravou o quadro musicado A voz da saudade, de Ariovaldo Pires e José Nicolini, com a participação da Embaixada de Nhá Zefa e Morais Neto no canto. Um de seus principais parceiros foi Ariovaldo Pires, com quem compôs as modas de viola Pobre cego, Outro drama da vida e Tenho visto, e a mazurca Me leva contigo, gravada em 1978 pela dupla Cambuí e Cambuzinho, e, posteriormente, pelo Duo Ciriema.


Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.

Capitão Barduíno

Capitão Barduíno (Pedro Astenori Marigliani), compositor e radialista, nasceu em Socorro/SP em 13/11/1904 e faleceu em São Paulo em 1/8/1967. Filho de italianos, desde criança pretendeu trabalhar em rádio.

Em 1937, levado pelo Capitão Furtado à gravadora Odeon, estreou como compositor, quando Nhá Zefa e Juca Matias lançaram a moda-de-viola Casá!? só ansim, com musica de Nhá Zefa (Maria de Leo).

Dedicou-se esporadicamente à composição, destacando-se A enxada e a caneta (com Teddy Vieira), lançado por Zico e Zeca, na Columbia.

Em 1939, na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, foi contratado por Otávio Gabus Mendes, então diretor artístico da emissora e responsável pelo nome por que ficou conhecido.

Como redator e apresentador de programas de rádio, destacou-se com A Câmara dos Despeitados, sátira política que marcou época.

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Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Teddy Vieira

Teddy Vieira (Teddy Vieira de Azevedo), compositor, nasceu em Itapetininga/SP em 23/12/1922 e faleceu em 16/12/1965. Fez o curso primário em Itapetininga e em seguida transferiu-se para São Paulo, onde concluiu o secundário.

Aos 18 anos já escrevia versos de inspiração sertaneja. Serviu o Exército em 1946 e, dois anos depois, teve suas primeiras músicas gravadas, pela dupla Mineiro e Manduzinho, que lançou, em etiqueta particular, Preto de alma branca (com Lauripe Pedroso) e João de barro (com Muibo Cury), esta com várias regravações de sucesso, entre as quais a de Sérgio Reis, em 1974, na RCA.

Entre 1948 e 1949 Palmeira e Biá lançaram, pela Victor, Couro de boi (com Palmeira), número incluído no repertório de diversas duplas de violeiros. O cururu O menino da porteira (com Luisinho), lançado em 1955 por Luisinho, Limeira e Zezinha, na Victor, consagrou-o como compositor e é considerado um clássico da música regional brasileira. Essa composição conta com inúmeras regravações, entre as quais a de Tião Carreiro na Chantecler, em 1968, e a de Sérgio Reis, em 1973, na RCA.

Em 1956, passou a ser diretor sertanejo da Columbia, criando a dupla Tião Carreiro e Pardinho, que obteve sucesso com Cavaleiros do Bom Jesus (com João Alves e Nhô Silva). Nesse mesmo ano foi gravado na Columbia, por Moreno e Moreninho, o cururu Treze de Maio (com Riachão e Riachinho), regravado em 1968 por Moreninho e Minuano, na Chantecler.

Ainda na Columbia, por 1956-1957, lançou em disco a dupla Zico e Zeca, com composições que marcaram época, como a Enxada e a caneta (com o Capitão Barduino), que também foi seu parceiro, junto com Serrinha, na moda-de-viola Besta bailarina e Força do destino. Essa mesma dupla gravou, tambem na Columbia, na mesma época, Namoro no portão, que teve grande sucesso.

Tião Carreiro e Pardinho lançaram em 1957, ainda na Columbia, Boiadeiro punho de aço (com Pereira), regravada com sucesso por Pedro Bento e Zé da Estrada, em 1963, na Chantecler. Em 1958, foi para a Chantecler, onde ficou como assessor do Palmeira, diretor artístico da gravadora. Nesse mesmo ano, Liu e Léu gravaram Rei do café. Essa composição conta inúmeras regravações, entre as quais a de Tião Carreiro, em 1961, na Chantecler, e a de Inesita Barroso, em 1972, na Copacabana.

Em 1960 compôs, em parceria com Lourival dos Santos, Pagode em Brasília, e com Nelson Gomes O mineiro e o italiano, gravadas por Tião Carreiro e Pardinho na Chantecler, sucesso até hoje. Nesse mesmo ano, Vieira e Vieirinha lançaram, pela Chantecler, a composição em parceria com Alceu Maynard Araújo, Rio Preto.

A dupla Sulino e Marrueiro, em 1961, lançou pela Chantecler Morena de olhos pretos (com Ado Benatti), além de outras composições suas. Em 1962, após a saída de Palmeira da Chantecler, continuou como assistente artístico da direção.

Bandeireiro do Divino (com Alves Lima), gravado por Tonico e Tinoco, em 1964, foi um dos maiores sucessos da Chantecler nesse ano. Em 1965, Alberto Calçada gravou a valsa Mariazinha (com Palmeira).

Em 1965 Nísio e Nestor fizeram sucesso com Cigana (com Salvador dos Santos Dias). Pedro Bento e Zé da Estrada, no mesmo ano e nessa gravadora, lançaram com sucesso Meu Amigo (com Nísio). Até hoje tem mais de 200 composições gravadas.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.