sábado, junho 15, 2013

Reis da sanfona no rádio

Dilu Melo, uma discípula de Antenógenes que faz honra ao mestre. Ela está hoje na Rádio Nacional

Antenógenes Silva figura de primeiro plano — “Saudades do Matão”, êxito do esposo de Lea Silva — Luís Gonzaga e o “Cortando o pano” — Dilu Melo aprendeu acordeom em duas horas — Sua preferência pelo gênero clássico — Pedro Raimundo, o gaúcho de Santa Catarina tocando de ouvido desde os oito anos.


Se o violão ocupa lugar de destaque no broadcasting nacional, nada lhe fica a dever a sanfona, granfinamente chamada de acordeon. Trata-se de um instrumento musical composto de linguetas metálicas que são postas em vibração por um fole. É uma espécie de harmônico portátil, segundo definição do mestre Antenor Nascentes, no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.

Sua introdução no rádio precedeu os chamados programas caipiras, hoje em desuso. Isto, porém, não impediram os acordeonistas de conquistarem a posição definitiva nas emissoras cariocas, como nos casos de Dilu Melo, Luís Gonzaga e Pedro Raimundo, considerados os “reis da sanfona”.

É que atraindo a atenção do grande público para suas execuções e arranjos musicais, quebraram o tabu existente em torno do violão. Este passou a ficar para trás, uma vez que são raríssimos os violonistas que se apresentam isolados. A maioria integra os conjuntos nacionais, o que não acontece com os acordeonistas, que se exibem sem a interferência de outros instrumentos.

O mestre Antenógenes
Em se falando de tocadores de sanfona, o nome de Antenógenes Silva figura em primeiro plano, apesar de ultimamente ele se achar afastado do rádio. Exímio acordeonista, cedo se popularizou no meio radiofônico brasileiro, passando seu nome a figurar com destaque na lista de nossas fábricas de gravações, uma vez que todos os seus números agradavam em cheio.

Não é de hoje o sucesso de Saudades de Matão, belíssima composição e que Antenógenes Silva soube realçar no seu instrumento, tornando-a um dos números mais ouvidos e reclamados em todo o Brasil. Outras melodias típicas do riquíssimo folclore nacional ganharam na execução do esposo de Lea Silva muito de sua beleza, tal o sentimento com que este as executa.

Um dos primeiros acordeonistas com que contou o broadcasting carioca, procurou sempre ser sincero na sua arte, estudando os números com que se apresentava ao microfone das emissoras cariocas, em audições que se tornaram memoráveis. Mesmo assim, Antenógenes jamais se deixou influenciar pela vaidade, chegando ao incentivo dos que o procuravam, como ainda procuram, desejosos de lições e conselhos. Sanfoneiro rasgado, no dizer dos entendidos, ele hoje vive absorvido com o comércio, embora nos momentos de folga pegue o acordeom para reviver velhos sucessos.

Como seus rivais na sanfona, é ainda autor de um punhado de melodias de enorme aceitação, algumas das quais gravadas por si próprio, como Saudades de Matão, que ele indiscutivelmente o maior êxito de sua carreira. E, se como compositor ele é respeitado, como sanfoneiro não há que lhe negar o título de um dos "reis" desse instrumento.

Luís Gonzaga cortando o pano


Luís Gonzaga deve grande parte de sua fama à sanfona. Perito na execução de seus próprios números, pois como é sabido, o artista pernambucano é autor de muitas composições de sucesso, ele firmou-se na constelação radiofônica, como sanfoneiro de mérito indiscutível. Ouvir-lhe os programas é constatar seu predomínio sobre o instrumento que os sertanejos chamam de harmônica.

Professor de si mesmo, Luís Gonzaga começou a tocar em Pernambuco, vindo mais tarde a se tornar um nome conhecido de quantos acompanham o desenvolvimento do broadcasting nacional.

Aqui no Rio, abrilhantou várias audições da Rádio Clube do Brasil, ao tempo em que Renato Murce apresentava cuidadoso programa sertanejo. Foi nessa estação que seu cartaz começou a subir, a ponto de a Rádio Nacional oferecer-lhe vantajoso contrato, logo por ele firmado.

Ao acordeom, o exclusivo da PRE-8 tem criado os maiores êxitos musicais de sua carreira artística, sendo de destacar a rancheIra Cortando pano, em que ele tem como parceiro J. Portela. O número em apreço marcou autêntico sucesso, sendo bisado na maioria das audições de nosso focalizado, além de bater extraordinário recorde de venda em discos. Isto, por se tratar de uma composição adequada para a sanfona, tal o pitoresco de que se reveste.

Executante de mérito, Luís Gonzaga constitui autêntica atração dos programas de estúdio da PRE-8, inclusive "Tancredo e Trancado", em que se apresenta tocando interessantes paródias, tão do estilo humorístico de nossos sertanejos e nas quais ele se sente à vontade para mostrar suas qualidades do primeiro time.

Dilu Melo é do clássico


Dilu Melo nasceu no Maranhão. Viveu a vida dos campos, ouvindo a toada triste do boiadeiro e o lamento dos cegos que cantam e tocam para viver. Sua existência ficou presa à sanfona, instrumento que prefere ao violão. Tal como Luís Gonzaga, Antenógenes Silva e Pedro Raimundo, a folclorista patrícia faz malabarismos no mesmo, executando de preferência composições clássicas de Liszt, Brahms, Chopin e outros grandes mestres. Aliás, Dilu Melo pretende abandonar o gênero popular para se dedicar exclusivamente ao gênero sério, embora deva àquele um dos seus maiores êxitos, qual seja o conquistado com Fiz a cama na varanda, de sua própria autoria e Ovídio Chaves cuja venda se estende por alguns milhares de discos.

Também “Coisas do Rio Grande”, polca muito movimentada é outro número em que a temos demonstrando suas qualidades de maioral da sanfona. Dilu Melo, ao contrário do que muitos pensam, não teve mestre. Unicamente foi incentivada por Antenógenes Silva que, por sinal, lhe vendeu por dois mil cruzeiros um acordeom pequeno, no qual ela começou a se exercitar. Logo no primeiro dia, levou duas horas seguidas, subindo e descendo uma escada de dezessete degraus, com o instrumento ao ombro, num treino persistente. Findo este, começou a executar um número do seu repertório e dois dias depois, comparecia ao programa de Lea Silva, esposa de Antenógenes para tocar a valsa “Serenô”, de Antonio de Almeida.

Hoje, com enorme prejeção no cenário radiofônico, Dilu Melo continua fiel à sanfona, possuindo o que de mais moderno existe no gênerqueso. Sua execução perfeita acaba de entusiasmar os norte-americanos, que, ouvindo uma de suas gravações, solicitaram dados e fotografias, sendo de esperar vantajosa proposta. O interesse dos ianques por Dilu Melo é antigo. Data de quando a querida artista visitou as bases do nordeste, executando foxes e swings na sanfona. Houve até certo empresário que procurou entrar em negociações com a exclusiva da Nacional, porém sérios compromissos não permitiram seu afastamento do Brasil. Nome conhecido em todo o continente sul-americano, Dilu Melo é, indiscutivelmente, uma das melhores acordeonistas com quem conta o nosso broadcasting.

Um gaúcho de Santa Catarina


Pedro Raimundo, esse "gaúcho rasgado" (nota do blogueiro: gaúcho largado!) nascido na cidade de Imaruí no Estado de Santa Catarina, é outro rei da sanfona. Começando a tocar em gaita de Boca, cedo se viu entusiasmado pela harmônica, passando a treinar num instrumento de um carreiro. E ao completar oito anos de idade, já então na cidade de Laguna, ele animava os bailes, executando números variados do folclore sulino.

Tocando de ouvido, uma vez que desconhece música, isto não o impediu de triunfar entre quantos tocam acordeom, a ponto de ser chamado ao Rio Grande do Sul, onde passou a tomar parte em reuniões familiares. A seguir, por insistentes pedidos dos catarinenses, ele recebeu convite para se apresentar ao microfone da Rádio Farroupilha, onde assinou um contrato por sessenta dias. Nessa ocasião, organizou o "Quarteto de Tauras", o qual deu larga expansão ao folclore rio-grandense. Eis quando a Rádio Sociedade Gaúcha o contratou para uma temporada, que se prolongou pelo curto espaço de quatro anos.

Entusiasmado pela execução de Pedro Raimundo, os rio-grandenses organizaram um livro de ouro, destinado a custear a sua viagem ao Rio, com o fim de ele gravar as composições típicas do cancioneiro gaúcho.

Desse modo, ele veio parar na Cidade Maravilhosa, tendo de enfrentar as maiores dificuldades para vencer aqui. Aliás, deve-se a Oduvaldo Cozzi seu ingresso no cast da Rádio Mayrink Veiga, onde ele passou a tomar parte num programa de Muraro. Aí se manteve por um mês, quando se transferiu para a Tupi, a convite de Teófilo de Barros, estação em que permaneceu por três meses. Findos estes, após uma viagem ao Sul, ele ingressou no cast da Rádio Nacional, por intermédio de Almirante, que o considerou elemento de primeira ordem. Nessa emissora, Pedro Raimundo se mantém até hoje, absorvendo a atenção dos ouvintes para números de acordeom.

Dentre as composições de invulgar sucesso do gaúcho de Santa Catarina, estão Adeus Mariana, Tico-tico no terreiro, Saudade de Laguna, Escadaria, Gaúcho largado, Lamentos, todas de autoria de Pedro Raimundo e gravadas em discos Continental. Tal como os artistas anteriores a que nos referimos, o exclusivo da PRE-8, integra a corte dos maiorais da sanfona. É ele um dos reis do acordeom, apesar de tocar de ouvido.

Outros acordeonistas existem pelo broadcasting carioca, porém de menor projeção no cenário radiofônico, razão de não os incluirmos entre os "reis" da sanfona".

(Reportagem de Armando Migueis)
___________________________________________________________________
Fonte: A Cena Muda, de 5 de Agosto de 1947.

Airton Barbosa

Airton Barbosa (Airton Lima Barbosa), instrumentista, compositor e professor, nasceu em Bom Jardim, PE, em 20/09/1942, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 31/05/1980. Iniciou seus estudos musicais aos 14 anos de idade, em sua cidade natal, onde, pouco tempo depois, começou a tocar saxofone na banda local.

Selecionado para o projeto "Jovens Talentos", iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1960, onde passou a estudar fagote com o francês Noel Devos, integrante da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Em 1962, fundou Quinteto Villa-Lobos, com o qual atuou até o final da vida e lançou os seguintes LPs: Quinteto Villa-Lobos (1966), Reencontro (1966), este gravado ao vivo no Teatro Santa Rosa (RJ) ao lado de Sylvia Telles, Edu Lobo e Tamba Trio, Vanguarda (1972), ao lado de Luís Eça, Quinteto Villa-Lobos interpreta (1977) e Mário Tavares, Radamés Gnattali e Ernest Widmer (1979).

Ainda nos anos 1960, foi aprovado em concurso para integrar o naipe de fagotes das orquestras do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e da Sinfônica Nacional da Rádio MEC.

Na década de 1970, começou a se dedicar também à composição de trilhas sonoras para cinema, com destaque para os seguintes filmes: Ajuricaba, o rebelde da Amazônia (1975), de Osvaldo Caldeira; Morte e Vida Severina (1977), de Zelito Viana - sobre poema de João Cabral de Melo Neto musicado por Chico Buarque de Hollanda -, para o qual compôs a música incidental, lançada em disco pela gravadora Marcus Pereira; e O Grande Palhaço (1979), também lançada em disco.

Ainda em 1977, fundou, em parceria com Mario de Aratanha, a gravadora Kuarup. Foi também o fundador da Cooperativa dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro.

Seu último trabalho foi a produção do LP Saudades de um clarinete, homenagem a K-Ximbinho. O disco contou com a  participação do Quinteto Villa-Lobos e de outros instrumentistas brasileiros e só veio a ser lançado em 1981, após seu falecimento.

Ao longo de sua carreira, participou de gravações com vários outros artistas, como Edu Lobo, João Donato, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Flora Purim, Francisco Mário e Luiz Eça, entre outros.

Obra


As ciganas (c/ João Cabral de Melo Neto), Báscula, Chegada ao Recife (c/ João Cabral de Melo Neto), De sua formosura (c/ João Cabral de Melo Neto), Despedida do agreste (c/ João Cabral de Melo Neto), Encontro com o Canavial (c/ João Cabral de Melo Neto), Fala do Mestre Carpina (c/ João Cabral de Melo Neto), Homens de pedra (c/ João Cabral de Melo Neto), Marcha final, Mulher na corda, Mulher na janela (c/ Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto), Notícias do alto sertão (c/ João Cabral de Melo Neto), O mágico, O outro Recife (c/ João Cabral de Melo Neto), O rio (c/ João Cabral de Melo Neto), Severino (c/ João Cabral de Melo Neto), Todo o Céu e a Terra (c/ João Cabral de Melo Neto), Toureiros, Trapézio da morte.

Discografia


1966 Quinteto Villa-Lobos (Quinteto Villa-Lobos) • Forma • LP; 1966 Reencontro (Silvinha Telles, Edu Lobo, Tamba Trio e Quinteto Villa-Lobos) • Elenco; 1966 Morte e Vida Severina - Trilha sonora do filme (autoral) • Marcus Pereira • LP; 1972 Vanguarda (Quinteto Villa-Lobos e Luizinho Eça) • Odeon; 1977 Quinteto Villa-Lobos interpreta (Quinteto Villa-Lobos) • Marcus Pereira; 1979 Mário Tavares, Radamés Gnattali e Ernest Widmer (Quinteto Villa-Lobos) • Funarte • LP; 1979 O grande palhaço - Trilha sonora do filme (autoral) • Coomusa.

______________________________________________________________________
Fonte: Enciclopédia do Nordeste; Bibliografia Crítica: TAUBKIN, Miriam (org). Um Sopro de Brasil. Projeto Memória Brasileira, 2006.

Ailton Rios

Ailton Rios nasceu em 15/11/1962 na cidade de São Paulo, SP. É músico (gaita, flauta doce, viola caipira, violão canto) e professor de música (teoria, harmonia e percepção musical).

Começou seus estudos em Gaita no início dos anos 1990, e em 1994/95, integrou a Orquestra Paulista de Gaitas. Na mesma época, fundou a banda de blues acústico Guiriô Blues, que durou de 1996 a 1999.

Em 1999, iniciou-se em flauta doce e, dois anos depois, em viola caipira, tendo se formado no atual Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, em São Paulo (SP).

Ainda em 1999, participou, tocando gaita, da gravação de três CDs: Luz Além, de Guru Martins; Sem Perder a Ternura Jamais, de Tede Silva; e no CD Tributo a Júnior Wells.

Em 2001, integrou-se à Orquestra Paulistana de Viola Caipira, com a qual gravou três CDs (em 2002, 2008 e 2009), e dois DVDs (em 2005 e 2009). Entre 2001 e 2002, produziu e participou do "Interação Gaita-Expo Harmônica Show" com a Hering Harmônicas.

Em 2002, fundou a banda "Balaio Urbano", que unia viola caipira ao blues. Com o grupo, percorreu a capital e o interior do estado de São Paulo, tendo feito apresentações em teatros, clubes, bares e escolas.

Em 2006, 2008 e 2009, produziu e participou dos, respectivamente, I, II e III "Gaita Fest" (Encontro de Gaitistas).

Dedica-se ao ensino de música desde 1994, em conservatórios e escolas de música, e organiza Workshops e aulas abertas de gaita, flauta doce e viola caipira, além de desenvolver projetos relacionados à música, junto à órgãos governamentais, como Ministério da Educação, Ministério da Cultura e Secretarias Estadual e Municipal de Cultura de São Paulo, além de trabalhos  junto à instituições privadas, como SESC/SP, Faculdade de Belas Artes, Faculdade Maria Montessori, e Faculdades Ipiranga.

Como professor e músico mantêm intensa atuação em promover a música brasileira.

______________________________________________________________________
Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; Violeiros do Brasil - Release: Ailton Rios.

Aguinaldo

Aguinaldo (Aguinaldo Batista), compositor, ator e comediante, nasceu em Palmares, PE, em 03/03/1930, e faleceu em Recife, PE, em 23/8/1990. Ainda pequeno, mudou-se para viver na capital, onde cresceu no bairro de São José, historicamente, o berço do carnaval de rua do Recife.

Antes de encarar o brilho do mundo artístico, foi bicheiro, barbeiro, caixa de loja e vendedor de títulos de capitalização.

Na década de 1950 ingressou na Rádio Tamandaré no Recife e atuou como comediante ao lado de um elenco de prestígio, já famoso na época, como Aldemar Paiva, Rosa Maria, Djalma Torres, Luiz Queiroga, Mercedes Del Prado, Cezar Brasil, entre alguns outros.

Procurando não se intimidar entre os colegas famosos, criou um personagem que se popularizou por todo o Estado, o "Azarildo", que o colocou de imediato, na categoria dos bons comediantes.

No início da década de 60 foi contratado pela TV Rádio Clube e, algum tempo depois, veio o convite para atuar na TV Jornal do Commercio, como ator e produtor, participando, nessas emissoras, de suas grandes promoções, nos programas, os mais populares.

Paralelamente a esta atividade, foi letrista e compositor de diversas criações carnavalescas, algumas de sucesso.

Nessa atividade, teve como parceiros, nomes como o de Luiz Gonzaga e Genival Lacerda.

Trabalhou ainda, no sul do País, nas TVs Tupy, Record e Excelsior e atuou como ator em vários filmes, como Terra sem Deus, A Compadecida, da obra de Ariano Suassuna; A Vingança dos 12, O Cangaceiro do Vale da Morte, A Pele do Bicho, entre outros.

Veio a falecer no Recife, no dia 23 de agosto de 1990.

Algumas de suas obras musicais


Tadinha da Maroca, polca, 1963; Eu sou de você, frevo-canção, 1963; Títulos matrimoniais, frevo-canção, 1964; Tela de saudade no. 2, frevo-canção, 1974; Calorzinho de lascar, frevo-canção, 1980; Frevo do beijoqueiro, frevo-canção e Xote ecológico, 1989.
_______________________________________________________________
Fonte: Enciclopédia do Nordeste.

Agnelo França

Agnelo França (Agnelo Gonçalves Viana França), compositor, pianista, regente e professor, nasceu em Valença, RJ, em 14/12/1875, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 12/07/1964. Músico autodidata, com 19 anos tornou-se diretor da banda do Colégio Cruzeiro, em sua cidade natal, onde fazia o curso secundário.

Escreveu em junho de 1895 um hino em homenagem a Santo Antônio que se tornou popular. Ainda em Valença dirigiu a pequena orquestra do Teatro Glória e em 1896 foi nomeado mestre-de-banda da Corporação Sete de Setembro.

Transferiu-se em 1897 para o Rio de Janeiro, onde passou a ganhar a vida como arranjador e instrumentador de banda (foi mestre-de-banda da Sociedade Recreio do Engenho Novo). Matriculou-se então no I.N.M., tendo estudado com Frederico Nascimento (harmonia), Alberto Nepomuceno (composição e órgão) e Francisco Braga (contraponto e fuga).

Em 1903 graduou em primeiro lugar no curso de harmonia superior, tendo sido nomeado a 11 de abril de 1904 professor catedrático daquela matéria no I.N.M., depois E.N.M.U.B.; exerceu a função durante meio século e teve como alunos Heitor Villa-Lobos, Walter Burle Marx, Radamés Gnattali, Assis Republicano, Frutuoso Viana, Helza Cameu e José Guerra Vicente.

Notabilizou-se como um dos melhores teóricos de ensino musical no Brasil, sendo defensor intransigente do método Durand. Publicou um tratado de harmonia, Arte Modular. A polifonia na arte moderna, Rio de Janeiro, 1940.

Em 1965 sua ópera de costumes brasileiros em um ato, As parasitas (com libreto de Alberto Guimarães), foi montada no Rio de Janeiro na atual E.M.U.F.R.J.

Obras


Música dramática: Kismé, opereta, s.d.; As parasitas, ópera, s.d.
Música orquestral: Cupido no convento, abertura, s.d.; Suíte, p/cordas, s.d.
Música instrumental: Suíte infantil, p/piano, s.d.
Música sacra: Ave Maria, s.d.; Ecce Sacerdos, s.d.; Missa a Nossa Senhora da Glória, s.d.

______________________________________________________________________
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Publifolha e Art Editora - 2a. Edição - 1998

Afonso Teixeira

Afonso Teixeira, compositor, nasceu no Rio de Janeiro, RJ (Circa 1920) e começou a ter músicas gravadas no começo da década de 1940. Suas composições foram principalmente sambas e marchas.

Em 1941, o samba Última lágrima, com Peterpan e M. Roberto, foi gravado por Nena Robledo (irmã de Emilinha Borba) com o conjunto Milton de Oliveira e sua Turma, e a marcha Mulher bonita, com Antenor Borges e Djalma Esteves, foi lançada por Nicodemos Rezende, as duas na Odeon.

Em 1942, a valsa Último sonho, com Ari Monteiro, e a marcha Quem é o tal?, com Ubirajara Nesdan, foram gravadas por João Petra de Barros na Victor. A marcha Bonde de ceroulas, com Cristóvão de Alencar, foi gravada por Lauro Borges no mesmo ano, na Victor, visando o carnaval do ano posterior.

Em 1943, obteve sucesso com o samba Tirrim...tirrim..., com Peterpan, gravado pelos Quatro Ases e um Coringa. Ainda nesse ano, Odete Amaral lançou a marcha O curió, com Ubirajara Nesdan, e Araci de Almeida o samba Quem disse que eu não caso?, com Peterpan, ambas na Odeon.

Em 1944, o grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa gravou na Odeon o samba Lenda do morro, com Peterpan, e a marcha Seu Balzac, com Jorge de Castro, enquanto Carlos Galhardo registrou na Victor o samba Depois que ela me fez, com Germano Augusto. No mesmo ano, Elvira Pagã registrou na Continental o samba Arrastando o pé, com Peterpan.

Em 1945, Dircinha Batista lançou na Continental a dança-brasileira Tuma-tumba, com Peterpan. Também na Continental Emilinha Borba registrou os sambas Se eu tivesse com que..., e Como eu sambei, e João Petra de Barros a marcha Moça bonita, todas com Peterpan.

Araci de Almeida registrou em 1946, na Odeon, o samba Pretensão e vaidade, com  Carvalhinho e Humberto de Carvalho, e Alcides Gerardi, também na Odeon, o samba Dedo de luva, com Humberto de Carvalho, enquanto Gilberto Alves na Victor gravou a canção Em cada sonho...um amor, com Humberto Carvalho e Carvalhinho, e Flora Matos na Continental registrou o samba Liberdade tem limite, com José Batista. Ainda nesse ano, fez grande sucesso com a marcha O periquito da madame, parceria com Nestor de Holanda e Carvalhinho, lançada pelos Quatro Ases e Um Coringa.

Em 1947, outro de seus sambas foi gravado por Araci de Almeida na Odeon; Resignação, com Peterpan, enquanto Ruy Rey na Continental lançou o samba Não escapa ninguém, com Peterpan.

Obteve grande sucesso em 1949, com o samba Chico Brito, com Wilson Batista, lançado na Odeon por Dircinha Batista. No mesmo ano, pela Victor, os Anjos do Inferno registraram o samba Nega, com Valdemar Gomes, e Moreira da Silva gravou na Continental o samba Mulher que eu gosto, com A. F. Marques. No ano seguinte, Carlos Galhardo gravou pela Victor o samba Quando não estás, com Ari Monteiro, e Ruy Rey lançou pela Continental a marcha Negócio da China, com Peterpan. Ainda em 1950, a marcha Tourada sem espada, com Jorge de Castro, foi gravada por Orlando Correa na Todamérica.

Para o carnaval de 1951, o grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa gravou com sucesso na Victor a marcha Marcha do caracol, com Peterpan, registrando ainda a marcha Apanhador de papel, também com Peterpan. No mesmo ano, os Anjos do Inferno lançaram o samba Saudade de Helena, com Valdemar Gomes.

Fez com Roberto Martins, em 1952, o samba Dona do meu coração, gravado na Victor por Gilberto Alves. Também desse ano, o samba Garota dos discos, com Wilson Batista, foi gravado por Quatro Ases e Um Coringa, enquanto a marcha Camponesa, com Peterpan, foi gravada para o carnaval por Emilinha Borba na Continental.

Em 1953, o grupo Quatro Ases e Um Coringa gravou na RCA Victor a marcha Polonesa, com Peterpan, e os Vocalistas Tropicais lançaram pela Continental a marcha Cabelo grisalho, com Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti.

Em 1955, Emilinha Borba gravou na Continental a marcha Chega de índio, com Cristóvão de Alencar. A marcha S O S, com Dunga, foi gravada por Orlando Correia no LP Carnaval RCA Victor - Vol. 1, de 1958.

Em 1965, o samba Liberdade tem limite, com José Batista, foi gravado na Polydor por Germano Mathias. Em 1970, seu samba Tirrim, tirrim, tirrim, parceria com Peterpan foi gravado por Noite Ilustrada em LP Continental.

Seu maior parceiro foi Peterpan com quem assinou as marchas Apanhador de papel e Marcha do caracol, também fez sucesso com o samba Chico Brito, com Wilson Batista e com a marcha O periquito de madame, com Nestor de Holanda e Carvalhinho.

Obras


Apanhador de papel (c/ Peterpan), Arrastando o pé (c/ Peterpan), Bonde de ceroulas (c/ Cristóvão de Alencar), Cabelo grisalho (c/ Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti), Camponesa (c/ Peterpan), Chega de índio (c/ Cristóvão de Alencar), Chico Brito (c/ Wilson Batista), Como eu sambei (c/ Peterpan), Dedo de luva (c/ Humberto de Carvalho), Depois que ela me fez (c/ Germano Augusto), Dona do meu coração (c/ Roberto Martins), Em cada sonho...um amor (c/ Humberto Carvalho e Carvalhinho), Garota dos discos (c/ Wilson Batista), Lenda do morro (c/ Peterpan), Liberdade tem limite (c/ José Batista), Marcha do caracol (c/ Peterpan), Moça bonita (c/ Peterpan), Mulher bonita (c/ Antenor Borges e Djalma Esteves), Mulher que eu gosto (c/ A. F. Marques), Não escapa ninguém (c/ Peterpan), Nega (c/ Valdemar Gomes), Negócio da China (c/ Peterpan), O curió (c/ Ubirajara Nesdan), O periquito da madame (c/ Nestor de Holanda Cavalcanti e Carvalhinho), Polonesa (c/ Peterpan), Pretensão e vaidade (c/ Carvalhinho e Humberto de Carvalho), Quando não estás (c/ Ari Monteiro), Quem disse que eu não caso? (c/ Peterpan), Quem é o tal? (c/ Ubirajara Nesdan), Resignação (c/ Peterpan), S O S (c/ Dunga), Saudade de Helena (c/ Valdemar Gomes), Se eu tivesse com que... (c/ Peterpan), Seu Balzac (c/ Jorge de Castro), Tirrim...tirrim... (c/ Peterpan), Tourada sem espada (c/ Jorge de Castro), Tuma-tumba (c/ Peterpan), Última esperança (c/ Peterpan), Última lágrima (c/ Peterpan e M. Roberto), Último sonho (c/ Ari Monteiro).

____________________________________________
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.