sexta-feira, junho 28, 2013

O internacional Russo do Pandeiro

Foi assim que ele se celebrizou no exterior: seu
pandeiro e malabarismo o levaram à Hollywood

Começou a tocar o instrumento que lhe deu fama na Festa da Penha — Estreou como profissional no regional de Benedito Lacerda — Excursionará brevemente aos principais países da América do Sul e à Europa.


Pouca gente há de saber tão bem contar sua história como Antônio Cardoso Martins, o popular Russo do Pandeiro que, depois de viajar pela Europa e pelas Américas, está hoje com seu futuro assegurado graças aos seus malabarismos e à sua capacidade rítmica. 

Russo está no Rio, depois de quase oito anos de ausência, interrompida, há dois anos atrás, com uma rápida viagem ao Rio a fim de contratar um orquestrador. Chegou à cidade na segunda-feira de carnaval e ficou na Urca onde pode matar um pouco das saudades acumuladas por tantos e tantos anos.

Foi lá na casa de seus pais, Rua Cândido Gaffré, que fomos encontrá-lo, e, entre um cafezinho servido na varanda, as anedotas e os "casos" ocorridos em Nova York com brasileiros que visitavam a América, Russo nos contou sua vida. A primeira pergunta do repórter, sobre como ele aprendera a tocar pandeiro, recebeu a mais surpreendente de todas as respostas:

- Por acaso!

- Por acaso?! Repetimos estranhando.

- Sim, meu velho. Nasci em São Paulo e fui criado no Estácio. Meu pai me colocou na Light para aprender o ofício de mecânico. Um dia, porém, quando eu me encontrava debaixo de um ônibus ajeitando a caixa de mudanças, tive um sono terrível e adormeci. O chefe da oficina me pegou dormindo e eu saí do emprego.

- Mas, que tem isso com pandeiro?!

- Espere um pouco e você verá! Chegando em casa tive uma discussão com papai e fui morar na Praia das Virtudes, dormindo debaixo das canoas, na falta de um abrigo melhor...

- E o pandeiro? Interrogamos novamente.

- Calma, irmão! Uma tarde, depois de muitos dias de fome, eu estava na Praça Tiradentes vendo se arrumava qualquer coisa quando apareceu um rapaz conhecido apelidado de Rollo, que me convidou para ir vender medalhinhas, na Festa da Penha.

- E você aceitou?

- Claro. De imediato pedi uns níqueis e, com dois cruzeiros no bolso, procurei um restaurante chinês, onde almocei por oitenta centavos, comprei duzentos réis de cigarros e fiquei na cidade até o instante de ir para a Penha me encontrar com o rapaz. Cheguei à Penha às 5 horas da manhã e fiquei esperando Rollo; mas as horas passaram e não consegui ver meu quase patrão. Às 10 horas, cansado e morto de fome, me encostei perto de uma árvore e fiquei observando um conjunto composto de piston, saxofone, trombone, banjo e bateria que tocava na Penha. Horas e horas fiquei ali até que despertei a atenção do baterista, meu amigo Newton e ele, talvez vendo meu aspecto de fome, e meu interesse pela música, me chamou para seu lado e me encarregou de servir o “chopp” e os sanduíches aos músicos.

- Seu primeiro contato com a música foi pela bomba de "chopp", não foi?

- Justamente. Servi os "chopps", comi e bebi também e, lá para as tantas, eu, que nunca tinha visto um pandeiro, comecei a bater no couro de um que o Newton tinha na bateria.

- Ficou músico numa festa da Penha?

- Sim, de Nossa Senhora da Penha, minha padroeira e madrinha.

- E depois dessa estréia, como foi que você se consolidou como pandeirista?

- Fiz as pazes com papai e voltei para casa. Nesse tempo Benedito Lacerda era músico do Exército e, volta e meia, gravava com um conjunto que formava no momento. Eu comprara um pandeiro de um polícia que morava na Rua Maia Lacerda, numa casa de cômodos, ou por outra: trocara o pandeiro por uma cerveja de mil e duzentos! Benedito me viu batucando no pandeiro e convidou-me para gravar na Bruswick. Ao terminar a gravação eu já me considerava músico profissional!

- E daí?

- Fiquei com Benedito longo tempo. Atuei na Tupi, Guanabara, Transmissora, e Philips. Excursionei à Argentina e Uruguai com Chico Alves e Alzirinha Camargo. Fui à França com Josefine Backer, a quem ensinei a tocar pandeiro. Atuei na Urca, no Icaraí, em Petrópolis e organizei uma orquestra com Carlos Machado que me levou aos Estados Unidos.

— E na América do Norte?

— Fui contratado para atuar duas semanas no Copacabana Night Club de Nova York e acabei ficando nove meses seguidos! Do Copacabana, para a Broadway, tomei parte no show de George Jessel, onde fiquei quatro semanas e do palco da Broadway segui para Hollywood. Comecei no filme “Copacabana”, terminando com “A Bela do Velho México”, filme que está agora sendo exibido em Nova York.

— Você pretende voltar, Russo?

— Agora pretendo descansar um pouco. Depois irei a Buenos Aires, Montevidéu, Europa e novamente, Estados Unidos.

Dizendo isso, mostra-nos um álbum onde figuram várias fotos de artistas da América, com dedicatórias expressivas, terminando com uma fotografia de sua casa em Hollywood, casa que pertenceu a Rodolfo Valentino e que ele comprou por 600 mil dólares!

Orson Wells, Russo do Pandeiro e Frank Sinatra num night club de Hollywood (R. da Semana/1947)


(Reportagem da Revista do Rádio, em abril de 1951)

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Fontes: Revista do Rádio, de 13/04/1951; Revista da Semana, de 18/11/1947.

Como canta o pequenino!


Gilberto Milfont (João Milfont Rodrigues), como cantor, obteve vários sucessos. Entre suas composições de maior êxito estão o samba Reverso (com Marino Pinto), de 1950; Tudo acabou de 1951, e, em 1952, o samba-canção Você vai (ambos com Milton de Oliveira). Outras músicas de sua autoria que tiveram sucesso foram Fui tolo, o samba-canção Talvez (com Marino Pinto) e Desfeito (com Mary Monteiro).

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 Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira; Charge da "Revista do Rádio" de 28/07/1953.

Carlos Machado

Carlos Machado - 1953
Carlos Machado (José Carlos Penafiel Machado), produtor, dançarino e mestre de  cerimônia, nasceu em Porto Alegre, RS, em 16/03/1908, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 05/01/1992. Nascido em família rica, fez o curso primário em colégio de freiras e o secundário em escola jesuíta. Ficou órfão de mãe com apenas um ano de idade sendo então criado pela avó. Desde cedo começou a levar uma intensa vida boêmia ficando conhecido como o "Machadinho de Porto Alegre".

Acabou involuntariamente participando da Revolução de 1930, quando remava no rio Guaíba e deu-se início ao conflito na cidade de Porto Alegre. Quando passava em frente ao quartel general do exército lá localizado foi chamado pelo tenente João Alberto que o aconselhou a lá se abrigar, o que acabou por transformá-lo em voluntário das forças rebeldes. Por conta disso seguiu para o Rio de Janeiro como amanuense. Na então capital federal passou a se envolver em intensa vida boêmia. Em 1931, ganhou a fortuna de 30 contos de réis na roleta e decidiu então viajar para Paris.

Chegou em Paris em 1932, e inicialmente passou a levar a vida boêmia a que já estava acostumado. Dois anos depois, como era bom dançarino, acabou convidado pelo cubano Orefiche diretor da Lena Cuban Boys a se apresentar dançando rumba. Iniciava-se aí sua carreira de dançarino.

Em 1935, foi contratado para atuar no cassino de Paris dançando num espetáculo do qual participava o cantor francês Maurice Chevalier. Em 1936, foi convidado pela cantora e dançarina Mistinguette, a maior figura do music-hall francês, para atuar com ela no musical Refrains de Paris. No mesmo ano, atuou no filme francês Jeune-Fille d'Occasion.

Em 1938, atuou no espetáculo Féerie de Paris que se constituiu em um grande sucesso. Por essa época além de dançarino passou a ser também diretor de produção da companhia de Mistinguette.

Em 1939, retornou ao Brasil de passagem para Buenos Aires onde se apresentou com a companhia de Mistinguette. Voltou novamente ao Brasil quando descobriu que se encontrava com tuberculose o que interrompeu sua carreira de dançarino. Ainda em 1939, convidou o pianista argentino Roberto Cesari e o pandeirista brasileiro Russo do Pandeiro para formar uma nova orquestra na qual o pianista Roberto Cesari seria o diretor artístico e ele o animador, diretor artístico e relações públicas. Como nunca havia estudado música e nem era, portanto, um maestro, ia aos ensaios no Dancing El Dorado e decorava os arranjos e orquestrações para então "dirigir" o conjunto auxiliado pelo seu ritmo de bailarino.

Em dezembro de 1939, estreou no Tênis Clube de Petrópolis a Orquestra de Carlos Machado e seus Brazilian Serenaders que incluiu entre seus participantes alguns dos mais importantes músicos brasileiros como Russo do Pandeiro, Fafá Lemos, Laurindo de Almeida, Dick Farney, Nicolino Cópia, o Copinha, e outros. Com sua orquestra apresentou-se nos principais cassinos brasileiros da época como o Cassino da Urca, Icaraí e outros. Nesses espetáculos sua orquestra lançou sucessos como Ai, que saudades da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago; Atire a primeira pedra, de Ataulfo Alves; Praça Onze, de Herivelto Martins e Grande Otelo; Nega do cabelo duro; O cordão dos puxa-sacos; Maria Candelária, e outros.

Em 1942, foi a primeira orquestra brasileira a tocar o hoje clássico natalino White Christmas. Com sua orquestra, em especial em espetáculos no Cassino da Urca, acompanhou artistas como Grande Otelo, Marlene, Emilinha Borba, Virginia Lane, Loudinha Bittencourt, Linda Batitsa, Dircinha Batista e Heleninha Costa.

Em 1946, com a decretação do fechamento dos cassinos pelo presidente Dutra sua orquestra chegou ao fim. No mesmo ano foi convidado a trabalhar como diretor artístico no Restaurante e Boate da Praia Vermelha. Contratou então o pianista Benê Nunes e a cantora Marlene para lá se apresentarem.

Em 1947, assumiu o cargo de diretor artístico da boate Night and Day situada na Cinelânida, centro do Rio de Janeiro, que marcou época na noite carioca lá tendo se apresentado, entre outros, astros internacionais como Xavier Cugat e sua orquestra; Tommy Dorsey; Carmen Cavalaro; Amália Rodrigues, Josephine Baker; Charles Trenet; Pedro Vargas; Jean Sablon e outros. No ano seguinte, inaugurou a boate Monte Carlo. Com ele trabalharam na Boate Monte Carlo nomes como Jean D'Arco; Chiquinho do Acordeom; Chuca Chuca; Djalma Ferreira; Helena de Lima; Dick Farney e Fafá Lemos.

Em 1953, inaugurou na Praia Vermelha a boate Casablanca, cujo primeiro espetáculo foi Clarins em fá - Uma homenagem do carnaval carioca aos ídolos que o consagraram e dele fizeram parte Linda Batista e Ataulfo Alves e suas pastoras, sendo a direção musical e artística de Britinho e Paulo Soledade. Nesse ano, montou o espetáculo Esta vida é um carnaval que pela primeira vez colocou no palco de uma boate integrantes de uma escola de samba, no caso, passistas da Escola de Samba Império Serrano.

Carlos Machado - 1957
Em 1955, com o fechamento das boates Casablanca e Vogue passou a atuar no Night and Day. No mesmo ano foi escolhido pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais como o melhor produtor do ano. No ano seguinte montou um dos maiores espetáculos de sua carreira, Banzo-aiê, título sugerido por Ary Barroso. No mesmo ano, levou mais de trinta artistas brasileiros, entre os quais a cantora Marlene e o cantor Roberto Audi, para apresentações no Knickbocker's Ball no Star-Light do Waldorf Astoria de Nova York.

Em 1958, homenageou o compositor Ary Barroso com o espetáculo Mister Samba que apresentou cerca de 40 composições de Ary Barroso, entre as quais É luxo só, feita especialmente para aquele espetáculo, do qual participaram o meaestro Guio de Moraes, Jean D'Arco, Elizeth Cardoso, Aurora Miranda e Grande Otelo.

Em 1960, montou no Night and Day o espetáculo Festival escrito especialmente para a atriz Bibi Ferreira. No mesmo ano, estreou na famosa casa de espetáculos de Nova York Radio City Music Hall, o espetáculo Brasil,  que contou com as presenças de Russo do Pandeiro, Conjunto Farroupilha e Nelson Gonçalves. No ano seguinte, adquiriu a boate Fred's e no mesmo ano lá montou o espetáculo Rio Boa-Pinta escrito por Luiz Peixoto e Chianca de Garcia, e cujos nomes principais foram Grande Otelo e Elza Soares.

Em 1963, na mesma boate montou o espetáculo Chica da Silva 63. No mesmo ano, apresentou no Goldem Room do Copacabana Palace aquele que seria um de seus maiores espetáculos, O teu cabelo não nega, uma homenagem ao compositor Lamartine Babo. Em 1964, apresentou no México os espetáculos Samba, carnaval y mujer e Rio, ciudad Maravillosa, que foram apresentados nas boates Señorial, Teatro Blanquita, Teatro Playa de Hornos e na televisão mexicana.

Em homenagem ao quarto centenário de fundação da cidade do Rio de Janeiro apresentou, em 1965, o show Rio de 400 janeiros com arranjos e regência do maestro Lindolpho Gaya. A trilha sonora desse show foi lançada em LP pelo selo Elenco.

Em 1966, montou aquele que seria o maior sucesso da boate Fred's, o espetáculo As Pussy Pussy Cats, no qual o conjunto Os Originais do Samba lançou o Samba do crioulo doido, de Sérgio Porto. Pouco depois lá foi apresentado o espetáculo Otelo é grande uma homenagem ao ator Grande Otelo.

Após alguns anos afastado dos espetáculos, voltou em 1973, e montou aquele que seria um des seus shows de maior sucesso, Hip! Hip! Rio!, que bateu todos os records de público na boate Night and Day sendo assistido por mais de 26 mil pessoas num local que tinha capacidade para apenas 250 assistentes.

Em 1976, produziu e dirigiu aquele que seria seu último grande espetáculo, o show O Rio amanheceu cantando, uma homenagem ao compositor Carlos Alberto Ferreira Braga o Braguinha, e dele particparam Elizeth Cardoso, MPB 4, Quarteto erm Cy e o cantor Sidney Magal, lançado nesse espetáculo.

Em 1978, lançou seu livro de memórias Carlos Machado apresenta - Memórias sem maquiagem. Por seus inúmeros shows, sempre de grande sucesso ficou conhecido como "O Rei da Noite". Faleceu em 1992, com 84 anos de idade.

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Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; Museu da TV; Revista do Rádio.