quinta-feira, outubro 19, 2006

Joel e Gaúcho


Joel e Gaúcho - Dupla vocal formada em 1930, no Rio de Janeiro, que teve sua fase principal até 1947, composta pelo cantor Joel de Almeida, nascido no Rio de Janeiro em 1913 e falecido em São Paulo em 1993 e o violonista e cantor Francisco de Paula Brandão Rangel, o Gaúcho nascido na cidade de Cruz Alta no Rio Grande do Sul em 1911 e falecido no Rio de Janeiro em 1971.


Em 1932 Joel trabalhava na Casa Edison, de Fred Figner, e da janela costumava ver compositores subirem a escada de um prédio próximo, a fim de que o pianista Freitinhas fizesse a escrita de suas músicas. Um dia resolveu apresentar suas composições a ele. Para sua surpresa Freitas marcou uma gravação na Odeon. Seu parceiro na ocasião foi Breno Bonifácio e nesse disco gravaram em dueto dois sambas, Eu quero é viver e Meu prazer, de autoria de ambos.

Ao chegar do Rio Grande do Sul Gaúcho conheceu Joel em 1933, nas rodas boêmias do bairro carioca da Tijuca, e logo começaram a se apresentar em festas e serenatas. No ano seguinte Renato Murce levou-os para seu programa Horas do Outro Mundo, na Rádio Phillips. Contratados pela emissora passaram a cantar no Programa Casé, com Gaúcho acompanhando ao violão e Joel batucando no chapéu de palha. Foram chamados de os irmãos Gêmeos da Voz por Alziro Zarzur, embora Cesar Ladeira tenha sido creditado com a invenção do apelido.

Em 1935 a dupla obteve seu primeiro destaque em disco com Estão batendo (Gadé e Valfrido Silva) gravado na Columbia. Em 1936, pela Victor, lançaram Pierrô apaixonado (Heitor dos Prazeres e Noel Rosa) marcha de grande sucesso no Carnaval, que marcou o início de uma série de êxitos carnavalescos. No mesmo ano a dupla participou do filme Alô, alô Carnaval passando também a se apresentar nos cassinos da Urca e Atlântico além do Copacabana Palace Hotel.

No Carnaval de 1940 a dupla obteve outro grande sucesso com “ Cai, cai (Roberto Martins) lançando no mesmo ano a marcha Maria Caxuxa (Antônio Almeida e Saint-Clair Sena) e, no carnaval de 1941, Aurora (Roberto Roberti e Mário Lago) com enorme êxito. No ano seguinte a dupla gravou o sucesso A mulher do padeiro (J. Piedade, Germano Augusto e Bruni) e em 1943 a marcha O Danúbio...azulou (Nássara e Eratóstenes Frazão).

Outro grande êxito da dupla foi o Boogie-woogie do rato (Denis Brean) lançado em 1947, ano em que também excursionou por Buenos Aires, Argentina, apresentando-se na boate Embassy e na Rádio El Mundo. Na capital argentina a dupla se desfez, tendo Joel lá permanecido como cantor e Gaúcho retornado ao Brasil.

De volta ao país em 1952, Joel tornou a formar dupla com Gaúcho, mas somente por breve período, pois no mesmo ano, após algumas apresentações, Gaúcho abandonou o rádio e foi morar em Itacuruça, Rio de Janeiro. Joel prosseguiu carreira sozinho, como cantor e compositor, principalmente carnavalesco, tendo obtido grande sucesso em 1956, com sua gravação de Quem sabe, sabe (com Carvalhinho).

Dois anos depois, outro destaque, com Madureira chorou (Carvalhinho e Júlio Monteiro) época em que também trabalhou como diretor artístico da gravadora Polydor durante um ano e meio. Nessa função resolveu lançar um cantor jovem para concorrer com João Gilberto: assim, 1959, produziu o primeiro disco de Roberto Carlos.

Em 1962 Joel e Gaúcho se encontraram novamente para gravar o LP Joel e Gaúcho, na RCA Victor, relançando antigos sucessos como Aurora, Cai, cai e Pierrô apaixonado, entre outras, com orquestração de José Meneses. Depois da morte de Gaúcho, Joel , conhecido como o Magrinho Elétrico, continuou sua carreira sozinho, como cantor compositor e radialista, apresentando programas noturnos na Rádio Tupi, de São Paulo.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Joel de Almeida

Joel de Almeida, cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 05 de novembro de 1913 e faleceu em São Paulo/SP em 01 de abril de 1993. Fez com o cantor Gaúcho uma dupla de sucesso principalmente nos anos 1940.

Em 1946 fazendo dupla com Gaúcho, gravou em disco solo, os sambas Promessa (de Jaime de Carvalho) e Trabalhar, eu não (de Aníbal de Almeida). Nessa época, em excursão à Argentina, a dupla com Gaúcho se desfez e Joel permaneceu como cantor em Buenos Aires.

Em 1951 gravou de sua autoria o samba Hoje a coisa é diferente, e de sua autoria e Dom Roy o baião Ai! Que bom. Depois de um breve retorno, a dupla com Gaúcho desfez-se definitivamente e Joel prosseguiu sua carreira solo.

Em 1955 já com a dupla desfeita, gravou pout-pourri intitulado Reminiscências de Joel e Gaúcho, pela Odeon. No mesmo ano gravou outro pout-pourri Sucessos da velha-guarda, com músicas de Noel Rosa, Ismael Silva e outros compositores. Gravou ainda o fox Canção para inglês ver, de Lamartine Babo.

Em 1956 gravou a marcha Quem sabe, sabe, de sua autoria e que veio a ser uma das mais executadas em todo o Brasil naquele ano, e o fox Loura ou morena (Vinícius de Moraes e Haroldo Tapajós) composta em 1932.

Em 1957 gravou de sua autoria o samba Não quero mais amor, a marcha Isso não se faz. No mesmo ano regravou o grande sucesso do carnaval de 1927, o maxixe Cristo nasceu na Bahia (de Sebastião Cirino e Duque).

Em 1958 gravou a marcha Campeão do mundo e o samba Leonor. No mesmo ano gravou com a cantora Araci de Almeida as marchas Vai ver que é, de Carvalhinho, e A mulata é que é mulher. Ainda em 1958 obteve grande sucesso com o samba Madureira chorou, que homenageava a vedete do teatro de revista Zaquia Jorge, moradora de Madureira e mulher de Júlio Monteiro, o Júlio Leiloeiro.

Nesse período, começou a trabalhar como diretor artístico da gravadora Polydor, função na qual atuou por cerca de um ano e meio, tempo no qual lançou o jovem cantor Roberto Carlos, a princípio para concorrer com João Gilberto.

Em 1959 gravou a marcha Linda brincadeira (Jair Amorim e Nássara), e o samba Fita os olhos meus (de Antônio Almeida). Em 1961 gravou a marcha Pé de cana e o samba Eu gostava tanto dela. Em 1963 gravou as marchas Elza e Pau no burro. Atuou ainda como radialista, apresentando programas noturnos na Rádio Tupi de São Paulo.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

João Dias

João Dias (João Dias Rodrigues Filho), cantor, nasceu em Campinas/SP em 12/10/1927 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 27/11/1996. Iniciou carreira em 1948 na Rádio São Paulo, para onde foi levado por Cardoso Silva.

No ano seguinte, estava na Rádio Bandeirantes e, em 1950, foi descoberto por Francisco Alves, quando se apresentava na boate Cairo, em São Paulo SP, sendo levado para o Rio de Janeiro, onde gravou seu primeiro disco na Odeon, com Guacyra (Hekel Tavares e Joraci Camargo) e Canta, Maria (Ary Barroso).

No ano seguinte alcançou grande sucesso com a gravação de Sinos de Belém (Jingle Bells, versão de Evaldo Rui) e Fim de ano (Francisco Alves e David Nasser), que a partir desse ano são regravados pela Odeon na época do Natal.

Em 1952 gravou na Odeon seu primeiro grande sucesso carnavalesco, Grande Caruso (Denis Brean e Osvaldo Guilherme), e em novembro do mesmo ano estreou na Rádio e TV Tupi, do Rio de Janeiro, com o programa semanal Audição João Dias, que ficou no ar por um ano.

Transferiu-se em 1953 para a Rádio Nacional, com um programa aos domingos, passando em seguida a apresentar-se em várias emissoras de televisão por todo o país. Conquistando grande popularidade, em 1955 seu programa da Rádio Nacional passou a ser apresentado no horário antes ocupado pelo de Francisco Alves, que ficara no ar por vários anos.

Mudou para a gravadora Copacabana, gravando em 1956, com Ângela Maria, o sucesso Mamãe (Herivelto Martins e Davi Nasser). Três anos depois estava na CBS, lançando Milagre da volta (Fernando César e Diva Correia), com muito êxito.

Em 1961 voltou para a Odeon, onde gravou um LP de tangos, de grande sucesso e vendagem, tendo ainda lançado em disco versões de músicas já consagradas. Viajou com Dalva de Oliveira por todo o país, depois de regravar o sucesso Brasil (Benedito Lacerda e Aldo Cabral).

Foi o idealizador e responsável pela Lei de Direito Conexo, que, tendo sido aprovada e regulamentada em 1968, garante ao intérprete receber direitos pela execução posterior de suas gravações, o que anteriormente era restrito aos autores.

Em 1975, lançou pela Odeon o LP comemorativo de seus 25 anos de carreira, com músicas de compositores atuais. Ao todo, lançou pela Odeon seis LPs e um pela Copacabana, além de lançar em média dois a três discos por ano. Considerado o “herdeiro de Francisco Alves”, de quem foi grande amigo, ficou conhecido também com o slogan de Príncipe da Voz.

Entre seus maiores sucessos, destacam-se, além dos já citados, a marcha do Carnaval de 1966 É o pau, e o pau (Jujuba e Rodrigues Pinto), Quando eu era pequenino (Davi Nasser, Francisco Alves e Felisberto Martins), Canção dos velhinhos (René Bittencourt) e Silêncio do cantor (Joubert de Carvalho e David Nasser).

Em 1975 lançou um LP comemorativo de seus 25 anos de carreira. No ano em que faleceu 1996, dirigia a Socimpro, Sociedade Brasileira de Intérpretes e Produtores Fonográficos. Com 45 anos de carreira, gravou cerca de 320 músicas em 78 rpm, LPs e CDs.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - Publifolha

Jesy Barbosa

Jesy Barbosa (Jesy de Oliveira Barbosa), cantora, violonista, jornalista e poetisa, nasceu em Campos/RJ em 15/11/1902, e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 30/12/1987. Filha de um jornalista e mãe musicista, tocava violão e teve aulas de canto.

Iniciou carreira profissional em 1928, na Rádio Sociedade, no Rio de Janeiro a convite de Roquete Pinto. Pioneira da gravadora Victor, em 1928 lançou seu primeiro disco, com as canções Olhos pálidos, de Josué de Barros, e Medroso de amor, de Zizinha Bessa, nas quais colocou os versos.

De 1929 a 1933 lançou 26 discos, quase todos na Victor, interpretando composições de Marcelo Tupinambá, Joubert de Carvalho, Cândido das Neves, Gastão Lamounier, Henrique Vogeler, entre outros.

Seus maiores sucessos foram as canções Minha viola e Sabiá cantador (ambas de Randoval Montenegro), a canção-toada Volta (1930, de M. Lopes de Castro), o tango Queixas (1932, de Zelita Vilar e Rhea Cibele), e o fox-canção Saudades do arranha-céu (1933, de J. Tomás e Orestes Barbosa), pela Columbia.

Foi eleita Rainha da Canção Brasileira em 1930, em concurso promovido pelo Diário Carioca. No ano seguinte, foi elogiada pelo príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VIII da Inglaterra, que visitava o Rio de Janeiro; em sua homenagem, gravou o tango Príncipe de Gales (Gastão Lamounier e M. Lopes de Castro).

Além da carreira de cantora, desenvolveu intensa e variada atividade intelectual: foi contista, teatróloga, conferencista e poetisa, tendo publicado Cantigas de quem perdoa, Livraria Freitas Bastos, São Paulo, 1963.

Trabalhou em várias revistas e jornais, e na Rádio Globo foi redatora durante nove anos, além de radioatriz, novelista e apresentadora. Segundo Orestes Barbosa no livro "Samba", de 1933, sua especialidade eram "as canções de emoção e pensamento".


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Jaime Vogeler

Jaime Vogeler (Jaime da Rocha Vogeler) nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 11 de maio de 1906 e herdou de sua família o gosto pela música. Muitos dos Vogeler foram talentosos artistas, como o famoso compositor Henrique Vogeler, seu tio-avô, e o grande desenhista, Jorge Vogeler, seu pai, além do produtor e autor Dalton Vogeler, seu sobrinho.

Em 1929, gravou seu primeiro disco, pela Parlophon com a valsa O pagão (Canção de amor), de N. H. Brown e o fox canção Minha Tônia, de Brown, De Sylva e Henderson.

Em 1930, transferiu-se para a Victor e lançou o samba Loiras e morenas, de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano. No mesmo ano, gravou as canções Canção dos namorados, de J. B. Cavalcânti e Devaneios, de C. Rodrigues e Lamartine Babo.

Em 1931, gravou mais dois discos pela Parlophon com a canção Abismo de amor e o tango Infeliz amor, de Cândido das Neves e a valsa Teu nome, de Glauco Viana e o samba Tu foste má, de Mário Lopes de Castro. No mesmo ano, transferiu-se para a Odeon e lançou dois discos. No primeiro, gravou a marcha Bonde errado, de Lamartine Babo e o samba Olha a crioula, de Almirante e João de Barro e no segundo, a marcha Não dou, de Djalma Guimarães e o samba Encurta a saia, de Júlio Casado, Almirante e João de Barro. Estas composições foram premiadas respectivamente do primeiro ao quarto lugar no concurso para escolher as melhores músicas para o carnaval daquele ano.

Ainda no mesmo ano, gravou com acompanhamento da Orquestra Copacabana a canção Meu amorzinho foi-se embora, de André Filho, o fox trot Como é gostoso amar, de Glauco Viana e Lamartine Babo e a marcha rancho Gegê, de Eduardo Souto e Getúlio Marinho.

Em 1932, gravou, também com acompanhamento da Orquestra Copacabana, o cateretê Lá no sertão, de Eduardo Souto e Eustórgio Vanderley e a reza de malandro Samba nosso, de Eduardo Souto e Benoit Certain. No mesmo ano, gravou a primeira composição de sua autoria, o samba De você tenho saudade, parceria com Américo de Carvalho.

Em 1933, gravou duas composições de Assis Valente: a marcha Felismina e o samba Acabei a paciência com acompanhamento da Orquestra Copacabana. Gravou também as marchas A verdade é essa, de Freitinhas e Vai haver o diabo, de Benedito Lacerda e Gastão Viana e os sambas Não sei o que vou fazer, de Heitor dos Prazeres e Até dormindo sorriste, de Getúlio Marinho e Valdemar da Silva.

Em 1934, lançou mais três composições de sua autoria, os sambas Triste despertar, parceria com Kid Pepe e Não sei porque e a valsa Suprema agonia. No mesmo ano, gravou o samba Promessa, parceria com Max Bulhões e a marcha Olha pro céu, de Ciro de Souza.

No ano seguinte, gravou a marcha Tão boa, de Nonô e Francisco Matoso e os sambas Quero evitar, de Max Bulhões e Wilson Batista e Vem rompendo a madrugada, de Cristóvão de Alencar e Sílvio Pinto. Ainda no mesmo ano, gravou a valsa Lela, de Benedito Lacerda e Jorge Faraj e o samba Cãozinho sem dono, de Benedito Lacerda com acompanhamento da Orquestra Copacabana.

Ainda em 1935, gravou um único disco pela Columbia com a marcha Deixa essa gente falá e o samba Meu amor nunca foi da cidade, da dupla Saint Clair Sena e Ronaldo Lupo. Em 1936, gravou a marcha Onde você mora?, de Valfrido Silva e Bonfiglio de Oliveira e o samba Escola do amor, de Valfrido Silva e Osvaldo Santiago. Ainda no mesmo ano, gravou com acompanhamento de Antenógenes Silva ao acordeom a valsa A minha alucinação o tango Léa e a marcha Mulata sem sê-lo, todas de Antenógenes Silva e Ernâni Campos.

Em 1937, lançou para o carnaval a marcha Cuidado com essa morena, de Nássara e Cristóvão de Alencar e o samba Amar é muito bom, de Zé Pretinho e Manoel Ferreira. No mesmo ano, gravou os sambas Não fiz nada, de Zé Pretinho e Roberto Martins, Você precisa amar, de Zé Pretinho e Valdemar Silva e Eu fui fiel, de Zé Pretinho e Manoel Ferreira.

Em 1938, gravou seu último disco com a marcha Você faz tudo, de Antônio Almeida e o samba Bem feito, de Antônio Almeida e Léo Cardoso. Por essa época, começou a se afastar da carreira artística devido a problemas na garganta. Gravou 40 discos, sendo algumas composições suas, com 82 músicas ao todo, muitas das quais foram incluídas em seleções comemorativas do selo Revivendo, em LPs e CDs, a partir dos anos 1990. Jaime Vogeler faleceu em 7 de agosto de 1966, no Rio de Janeiro.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Jamelão

José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, nasceu na Rua Fonseca Teles, no bairro carioca de São Cristóvão, no dia 12 de maio de 1913. Conhecido por sua bela voz e sua enorme versatilidade, nosso "Gogó de Ouro" atravessa a passarela da música popular brasileira de um extremo ao outro; como cantor de samba e também como intérprete de belas canções de dor-de-cotovelo, principalmente Lupicínio Rodrigues.

Puxador de samba, jamais! Ele sempre diz: “Puxador é ladrão de carro. Eu não puxo samba coisa nenhuma, eu interpreto”. E como interpreta! Em sua longa estrada no carnaval verde e rosa da Mangueira, quando sua voz poderosa ecoa na avenida dizendo os primeiros versos de um samba enredo, é puro júbilo popular. Até quem não é mangueirense se emociona com sua voz e vitalidade. Para chegar até aí, percorreu um longo e tortuoso caminho.

Tudo começou quando, aos dez anos, cismou em aprender a tocar bandolim e cavaquinho, presente do pai, um pintor de paredes. José Bispo tinha quatro irmãos e aos quinze anos, quando o pai foi embora com outra mulher, precisou ir trabalhar na fábrica de tecidos Confiança, em Vila Isabel, para ajudar a mãe nas despesas de casa. Trabalhou também como jornaleiro e costuma dizer que sua voz foi treinada nos pregões que gritava para vender jornal.

Ao mesmo tempo, sem nenhuma pretensão, frequentava as gafieiras da cidade e se tornou íntimos dos músicos e, um dia, foi convidado para cantar na Gafieira Jardim do Meyer. O sucesso foi tanto que logo surgiram outros convites e ele passou a ser "crooner" de diversos "dancings" da cidade.

Foi no Jardim do Méier que ganhou o apelido de Jamelão. Seu Euclides, o gerente, na hora de anunciá-lo não sabia bem o seu nome e, numa alusão à sua cor, idêntica a da fruta, chamou-o pelo nome de Jamelão e o apelido ficou para sempre.

No final da década de 40 ele resolveu tentar o rádio. Primeiro passou pela Rádio Clube do Brasil, depois Rádio Guanabara e, por fim, a Rádio Tupi. No período de 1957 a 1965 Jamelão participou do "cast" da Rádio Nacional. Fez também filmes com Oscarito e Grande Otelo nos tempos da Atlântida.

Na década de 50 gravou seu primeiro LP, com o samba Maior é Deus, de Felisberto Martins. Foi neste tempo também que o samba-enredo ganhou dimensão e, desde essa época, passou a "interpretar" os sambas da Estação Primeira de Mangueira sendo sempre campeão em suas interpretações na avenida.

Na década de 60 aproximou-se de Lupicínio Rodrigues, tendo gravado, de início, duas de suas músicas num LP: Ela disse-me assim e Exemplo. Depois, gravou outras tantas e, até hoje, é considerado seu melhor intérprete. Além de outras interpretações de dores-de-cotovelo como Castigo, de Dolores Duran; Matriz ou filial de Lúcio Cardim e Um dia hás de pagar, dele próprio.

Passado o tempo, e com um público fiel à sua bela voz, em 1977, num show do Seis e Meia, no Teatro João Caetano foi recorde de público na época (duas mil pessoas por dia). Em 1987 conseguiu realizar um grande sonho: gravar um disco só com músicas de Lupicínio Rodrigues, considerado pela crítica um dos melhores discos daquele ano. Casado há mais de 50 anos com D. Delice, tem uma única filha.


Fonte: Obi Music

Jaime Redondo

Jaime Redondo (Jaime Fomm Garcia Redondo), cantor, compositor, ator, nasceu em São Paulo/SP em 29/10/1890 e faleceu em 5/12/1952. Era filho do engenheiro e escritor Manoel Ferreira Garcia Redondo (1854—1916), fundador e primeiro ocupante da cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras.

Desde pequeno tocava violão, piano e compunha. Cantou na Rádio Educadora Paulista, a primeira de São Paulo, fundada em 1923, da qual foi diretor de música popular. Foi pioneiro da gravadora Columbia de São Paulo. Não gravou em outra etiqueta e de 1929 a 1931 totalizou 27 discos com 50 músicas.

Seu maior sucesso foi a canção de sua autoria Saudade, lançada em seu segundo disco. Também foram sucessos Ao cair do pano, valsa (Sherman e Lewis, versão sua de 1929) e sua canção de 1930, História de Jaci.

Cantou no filme de Wallace Downey, Coisas nossas, de 1931. No cinema foi produtor, diretor, argumentista e ator. No filme Lei do inquilinato, de William Schoucair (1926), além de ator foi argumentista e fotógrafo e em 1927 produziu, dirigiu e atuou no filme Flor do sertão.

Depois de deixar de ser cantor, foi diretor artístico do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Em 1950 compôs com Vicente Paiva o famoso samba-canção Ave Maria, gravado por Dalva de Oliveira no mesmo ano.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

J. B. de Carvalho

J. B. de Carvalho
J. B. de Carvalho (João Paulo Batista de Carvalho), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 24/12/1901 e faleceu em 24/8/1979. Iniciou carreira artística em 1931, na extinta Rádio Cajuti, liderando o Conjunto Tupi, que interpretava corimás, músicas cantadas durante os rituais de macumba.

No repertório do grupo estava incluído o seu batuque Cadê Viramundo, depois gravado com sucesso pelo próprio conjunto e mais tarde por Xavier Cugat. O Conjunto Tupi foi um dos primeiros a ter programa de umbanda em rádio, durante muitos anos, além de realizar inúmeras gravações na Odeon.

O grupo se apresentou na maior parte das emissoras cariocas, sendo freqüentemente interrompido pela polícia, que invadia os auditórios de seus programas, quando as pessoas entravam em transe ao ouvir os pontos de macumba e orações. Foi preso inúmeras vezes, sempre dizendo que saia livre graças a sua amizade com Getúlio Vargas.

Em 1937 obteve grande êxito no Carnaval com o samba Falso amor (com Osvaldo Silva), gravando com sucesso, na Odeon, a batucada Poeira (J. Santos e Abigail Moura), em 1940, e a marcha Pó de mico (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), em 1941.

Ainda na Odeon, gravou com Eladir Porto o batuque africano Ponto do caboclo Rompe-Mato (com Nelson Trigueiro), em 1941, além das macumbas Pai Xangô (com E. Silva e H. Almeida) e São Jorge Guerreiro (Amado Régis), lançados em 1943, com acompanhamento de Garoto e seu conjunto.

Afastado do rádio em fins da década de 1960, reapareceu em 1971, na Rádio Carioca, com A Carioca dos Terreiros, programa de grande audiência e popularidade, realizado por ele com a colaboração do locutor Moreira e de seu filho, J. B. Júnior, pandeirista e compositor da Portela.

Conhecido também como O Batuqueiro Famoso, gravou alguns dos maiores sambas cariocas, como Juro (Milton de Oliveira e Haroldo Lobo), em 1937, Só um novo amor (Max Bulhões) e Foste embora (Djalma Esteves, Raul Resende e Carlos de Almeida), ambas em 1938.

A partir de fins da década de 1960 passou a gravar uma série de LPs de pontos de macumba e outras musicas de terreiro, muito vendidos em casas de artigos de umbanda de todo o Brasil.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora

Jacob do Bandolim

Filho único do farmacêutico Francisco Gomes Bittencourt e de Raquel Pick, uma polonesa foragida da Primeira Grande Guerra, Jacob Pick Bittencourt nasceu (em 14.02.1918) e foi criado no bairro carioca da Lapa.

Percebendo a sua atração pela música, a mãe deu-lhe aos doze anos um violino, logo substituído por um bandolim, instrumento que ele desejava sem saber bem por que.

Aplicado, persistente e dotado de vocação para o autodidatismo, Jacob, ainda adolescente, já podia ser considerado um bom bandolista, com razoável domínio do cavaquinho e do violão. Isso o animou a formar um pequeno conjunto para acompanhá-lo em participações em programas radiofônicos, o que o levaria à profissionalização.

Como o que ganhava com a música era pouco, exerceu paralelamente as atividades de vendedor-pracista, prático de farmácia e corretor de seguros até 1940, quando, a conselho do compositor Donga, prestou concurso e foi nomeado escrevente juramentado da Justiça do Rio de Janeiro. Na ocasião, casado com Adília, já era pai de Sérgio e Helena.

Depois de muitos anos de rádio e participações em gravações alheias, Jacob gravou em 1947 o seu primeiro disco solo, um 78 rpm da Continental que apresentava o choro Treme-Treme, de sua autoria, e a valsa Glória, de Bonfiglio de Oliveira. Ainda na Continental, gravaria nos anos seguintes mais seis fonogramas, cinco dos quais: Flamengo, de Bonfiglio, Flor amorosa, de Joaquim Antônio da Silva Callado, Cabuloso, Remelexo e Salões Imperiais, de sua autoria.

Em 1949 transferiu-se para a RCA, onde gravaria até o final da vida um total de 47 discos 78 rpm, vários compactos e mais de dez LPs. Gravaria ainda, na CBS, a suíte Retratos, composta especialmente para ele por Radamés Gnattali.

Além do músico virtuoso, que revolucionou a técnica do bandolim criando uma nova maneira de tocá-lo e elevando-o à categoria de principal instrumento solista do choro, ao lado da flauta, Jacob entra para a história da MPB como um excelente compositor, responsável por obras-primas como Doce de Coco, Noites cariocas, Salões Imperiais e Vibrações, entre outras.

O mais surpreendente é que ainda arranjou tempo para dedicar-se à pesquisa musical, sempre com a seriedade e o espírito de organização que o caracterizavam. Fiel ao preceito de que o êxito do solista muito dependente da competência dos músicos que o acompanham, Jacob jamais abriu mão de sua total liderança sobre os conjuntos com os quais atuou. Segundo Sérgio Cabral, seus companheiros sabiam bem que diante de um erro, "bastava um simples olhar seu, mais violento do que qualquer espinafração".

O mais importante conjunto ligado a Jacob, que sobreviveu ao seu desaparecimento, é o Época de Ouro. Formado em 1959, quando o mestre lança o LP homônimo, o grupo tem como núcleo básico os violonistas Horondino Silva (Dino 7 Cordas), César Faria e Carlos Carvalho Leite (Carlinhos) e o pandeirista Jorge da Silva (Jorginho do Pandeiro).

Jacob Bittencourt morreu aos 51 anos de enfarte do miocárdio, na sexta-feira, 13 de agosto de 1969. Na ocasião, regressava de uma visita a Pixinguinha, seu ídolo maior.

(Jairo Severiano)

Fonte: Encarte da Enciclopédia Musical Brasileira distribuído pela Warner Music Brasil Ltda.

Paulo Tapajós

Paulo Tapajós (Paulo Tapajós Gomes), cantor, compositor e radialista, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 20/10/1913 e faleceu em 29/12/1990. Estudou desenho na Escola Nacional de Belas Artes e música com o maestro Lorenzo Fernandez, além de aprender piano com Maria Siqueira e canto com Cecília Rudge e Riva Pasternak. Estudando violão sozinho, chegou a lecionar o instrumento por vários anos, abandonando mais tarde o desenho para se dedicar exclusivamente à música.

Em 1927, formou com os irmãos Haroldo e Osvaldo o trio vocal Irmãos Tapajós, que se apresentava em festas de amigos e que, no ano seguinte, estreou na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Ainda em 1928 escreveu sua primeira composição, editando-a pela Casa Vieira Machado.

Com a saída de Osvaldo em 1932, formou uma dupla com o irmão Haroldo, gravando Loura ou morena (Haroldo Tapajós e Vinícius de Moraes), de 1928. A dupla gravou, também na Odeon, a marcha Decadência de pierrô (Lamartine Babo e Alcir Pires Vermelho) e o samba Eu chorei (Alvaiade e Alcides Lopes), além de Noite azul (Carlos Armando Pascoalini e Rogério Cardoso).

Em 1933, compôs com Vinícius de Morais o fox-canção Canção da noite. Em 1942, Haroldo abandonou a dupla e as atividades artísticas; prosseguiu então, individualmente, como cantor, diretor e produtor de programas, contratado pela Rádio Nacional. Transferindo-se para a Rádio Tupi, em 1946, como diretor artístico, voltou à Rádio Nacional dois anos depois, sendo produtor da emissora durante a sua fase de ouro. Com Nuno Roland e Albertinho Fortuna, formou o Trio Melodia e criou o conjunto de serenatas Turma do Sereno.

Em 1951 compôs o samba Morreu o Anacleto (com Dunga). Em 1956 gravou na Sinter o LP Luar do Sertão, interpretando músicas de Catulo da Paixão Cearense. Participou das primeiras dublagens de desenhos de Walt Disney, planejando ainda emissoras de rádio em diversas cidades, além de pesquisar e estudar a música popular brasileira.

Em 1966, fez parte da comissão executiva do I FIC, da TV-Rio, Rio de Janeiro, permanecendo como diretor artístico até maio de 1970. Participou, em 1971, do LP lançado pela RCA, Os saraus de Jacó - Jacó do Bandolim recebe o modinheiro Paulo Tapajós, que aproveitou fitas do famoso bandolinista, com seu conjunto Época de Ouro.

Em 1972 escreveu o capítulo sobre a música popular brasileira no livro Brasil, uma história dinâmica, obra didática muito elogiada pela UNESCO. Durante a década de 1980 participou de vários encontros e festivais de música como a X e a XII Califórnia da Canção Gaúcha (Carazinho RS), o I Acorde, Seminário de Defesa da Música Brasileira (Tramandaí RS), o I Seminário dos Festivais de Música Gaúcha (Guaíba RS), o Festival Comunicasom de Goiânia GO, o Sercapo - Festival da Canção Popular de Cascavel PR, e os III e IV Encontros de Pesquisadores de Música Popular Brasileira, no Rio de Janeiro.

Em 1990 participou do I Ciclo de Debates sobre Rádio e Televisão, promovido pela Futevê-M.E.C., no Rio de Janeiro. Pai dos compositores e cantores Paulinho e Maurício Tapajós e da cantora Dorinha Tapajós (os dois últimos já falecidos), Paulo Tapajós produziu, dirigiu e apresentou, ao longo de vários anos e até o dia de sua morte, o programa radiofônico Domingo Musical, do Projeto Minerva.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Ildefonso Norat

Ildefonso Norat, cantor, compositor e ator, nasceu em Belém/PA. Atuou em fins da década de 1920 e meados da década de 1930 como cantor e ator de teatro de revistas. Gravou o seu primeiro disco pela Victor em 1929 cantando a cançoneta Feijoada, de Rogério Guimarães e Ornellas. Por essa época, formou um conjunto para acompanhá-lo em apresentações.

Em fevereiro de 1930, gravou com seu conjunto pela Columbia os sambas É assim, de Rubem Bergmann e A casinha que eu fiz caiu, de sua autoria. No mesmo ano, lançou três discos que tinham numa das faces o cantor Januário de Oliveira. Nesses discos cantou a marcha Seu Julinho trouxe ouro, de Juvenal de Abreu, referência ao então candidato oficial à presidência da República Júlio Prestes; a regravação do samba-canção Reminiscências do passado, de Sinhô e o samba O que tu qué...não dou!, de Oscar Cardona. Gravou também Ioiô! Você quer?, de Cícero de Almeida e a marchinha Eu só digo a você, de Raul Morais.

Também em 1930, gravou na Parlophon o samba Vem ouvir meu cantar, de Edmundo Henriques. Ainda nesse ano, gravou como crooner da Orquestra Brunswick os sambas Amostra a mão, de Sinhô e Eu vou à feira, de Átila Soares.

Ainda na gravadora Brunswick registrou como cantor do grupo Gente do Morro os sambas Dá nele, de Sinhô; No Salgueiro, de sua autoria e Benedito Lacerda; Chora meu bem, de Benedito Lacerda e Isto não se faz, de Júlio dos Santos.

Gravou solo, com acompanhamento da Orquestra Brunswick sob direção de Henrique Vogeler, os sambas Samba Maria, de sua autoria, e No palácio das necessidades, parceria com Benedito Lacerda.

Em 1931, gravou em dueto com Murilo Caldas os sambas Já fui rei e Deixo saudades, de autores desconhecidos. Em 1932, fez uma série de gravações pela Columbia cantando os sambas Sai fumaça, de J. Aimberê, com acompanhamento da Orquestra Columbia; Você me conhece, de Plínio Brito, com o grupo Sete Diabos e Sou carioca, de Henrique Vogeler e Milton Amaral e a marcha Tenentes...do diabo, de Noel Rosa, Visconde de Bicoíba e Henrique Vogeler, com a Fanfarra dos Tenentes, da Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo.

Em 1935, teve a marcha No duro gravada por Jaime Vogeler na Odeon. Gravou ainda as canções Martírio, de sua autoria e Ranchinho do sertão, de Luiz Iglesias e Sofonias Dornelas com acompanhamento de Josué de Barros ao violão. Também nesse ano, fez três gravações em dueto. Com Dina Marques gravou o Samba da meia-noite, de sua autoria e Luiz Tangerini; com Leonel Farias registrou a marcha Aurora, de Leonel Farias e Henrique Vogeler e com Iolanda Osório registrou a marcha Paquita meu bem!..., de Alfredo Gama.

Gravou 25 músicas em 18 discos pelas gravadoras Victor, Columbia, Parlophon e Brunswick. Em 2003, teve duas de suas gravações de obras de Sinhô relançadas pelo selo Revivendo.

Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.

Heloísa Helena


Heloísa Helena (Heloísa Helena de Almeida Lima), cantora, compositora e atriz, nasceu em 28/10/1917 no Rio de Janeiro/RJ e faleceu em 19/06/1999. Filha e neta única, Heloísa desde criança demonstrou vocação artística. Seu pai, Otávio, era advogado e um alto funcionário da Prefeitura do Rio de Janeiro. Na infância, além das disciplinas normais, estudava com uma governanta o idioma inglês. Logo, começou a cantar e tocar violão.

Iniciou sua carreira na Rádio Mayrink Veiga. No começo cantava em inglês, já que dominava a língua como se fosse nativa dos Estados Unidos da América. Participou do filme Samba da Vida, primeiro musical de Jaime Costa, que passou a ser seu ídolo. Heloísa escrevia também.

Heloísa em 1936
Foi a primeira cantora a interpretar Carinhoso, de Pixinguinha, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Cantou também nos cassinos da Urca, Copacabana e Atlântico. A embaixada dos Estados Unidos fez na época um intercâmbio cultural com o Brasil e Heloísa Helena acabou indo para New Orleans, permanecendo algum tempo.

Voltando ao Brasil, é convidada por Chianca de Garcia a ingressar na televisão, em 1951, na então recém-inaugurada TV Tupi do Rio. Participou de vários teleteatros, entre os quais Um Bonde Chamado Desejo e A Rosa Tatuada. Começou também a ser apresentadora de programas de televisão.

Heloísa Helena - 1943
Trabalhou depois por um tempo em Recife, mas quando voltou ao Rio, já para a Rede Globo, integrou o elenco de várias telenovelas de sucesso, entre as quais Verão Vermelho, Assim na Terra Como no Céu, Selva de Pedra (como Fanny, a divertida dona da pensão) , Pecado Capital, O Astro, Eu Prometo e várias outras. Heloísa Helena também se dedicou à direção de programas, como a versão brasileira do programa What's My Line?.

No cinema, participou de Mãos Sangrentas, Leonora dos Sete Mares, O Homem do Sputinik. Mas o que mais a enche de emoção é Independência ou Morte, filme nacional rodado em 1972 no qual interpretou Carlota Joaquina, mãe do príncipe D. Pedro I, vivido por Tarcísio Meira.

Fonte: Depoimento de Heloísa Helena ao Museu da Televisão Brasileira, em 16/12/1998.

Heleninha Costa


Heleninha Costa (Helena Costa), cantora, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 18/1/1924 e faleceu em 11/04/2005. Ainda menina, transferiu-se com a família para Santos/SP, iniciando carreira na Rádio Clube local em 1938. Pouco tempo depois, foi para São Paulo SP, atuando nas rádios São Paulo, Record e Bandeirantes.


Gravou seu primeiro disco em 1940, um 78 rpm da Columbia, com a marcha Sortes de São João (Osvaldo Santiago e Alcir Pires Vermelho) e o samba Apesar da goteira do quarto (Pedro Caetano e Alcir Pires Vermelho).

Transferindo-se para o Rio de Janeiro, em 1943, passou a cantar na Rádio Clube do Brasil, hoje Mundial. Foi crooner e bailarina do Cassino da Urca por volta de 1943, ano em que gravou na Columbia o samba de grande sucesso Exaltação à Bahia (Chianca de Garcia e Vicente Paiva).

Em 1945 César Ladeira a convidou para cantar na Radio Mayrink Veiga. Em 1947 o mesmo César Ladeira levou-a para a Nacional, onde atuou no programa Música do Coração. Em 1953 casou com o compositor Ismael Neto, líder do conjunto Os Cariocas.

Entre seus principais sucessos estão o bolero Afinal (Luis Bittencourt e Ismael Neto), o baião Não interessa, não! (Luis Bittencourt e José Meneses), o tango Cartas de amor (José Maria de Abreu e Luis Roldán) e o samba Ginga (Sá Róris ).


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Hebe Camargo

Hebe Camargo nasceu no dia 08 de março de 1929, em Taubaté, São Paulo. Filha de Ester e Fego Camargo, que era violinista do Cinema Politeama em Taubaté na época dos filmes mudos, Hebe teve uma infância humilde, principalmente depois da chegada do cinema falado, quando seu pai perdeu o emprego.

Em 1943, a família Camargo se mudou para São Paulo e Fego passou a integrar a orquestra da Rádio Difusora. No ano seguinte, Hebe começou a se apresentar em programas de calouros das rádios paulistanas, fazendo imitação de Carmen Miranda.

Depois de ganhar vários prêmios como caloura, Hebe formou o Quarteto Dó-Ré-Mi-Fá, junto com a irmã Stela e as primas Helena e Maria. Cantando músicas do grupo feminino americano Andrews Sisters, o quarteto foi contratado pela Rádio Tupi. Encerraram atividades três anos depois, quando uma das primas se casou.

Logo em seguida, Hebe e a irmã Stela formaram a dupla sertaneja Rosalinda e Florisbela, que teve vida curta. Hebe, então, decidiu iniciar carreira solo, interpretando as seguintes músicas: Moreno Lindo e Dora Dora.

Seu primeiro disco, em 78 rotações, foi gravado pela Odeon. Nele havia as músicas Oh! José e Quem foi que disse?. A artista lançou outros discos, passou a ser conhecida como Estrelinha do Samba e posteriormente como A Estrela de São Paulo.

Já consagrada, prestou homenagem a Carmen Miranda, gravando um pout-pourri com os maiores sucessos da pequena notável. Ainda como cantora, Hebe atuou em alguns filmes do comediante Mazzaropi e até contracenou com Agnaldo Rayol num deles. Como atriz, participou do filme Quase no Céu, de Oduvaldo Vianna, lançado em maio de 1949. Hebe participou ainda da última edição do Festival de Música Popular, defendendo a música Volta Amanhã.

Com o passar do tempo, a carreira de cantora deu lugar à de apresentadora. Hebe, inicialmente substituiu Ary Barroso num famoso programa de calouros. Mas o programa que a destacou como apresentadora foi "O Mundo é das Mulheres", exibido no então canal 5 e que contava com a produção de Walter Forster.

Em 14 de julho de 1964, Hebe se casou com o empresário Décio Capuano e interrompeu a carreira artística. No dia 20 de setembro de 1965, nasceu o primeiro e único filho da artista, Marcello Camargo. Logo ela retomou a carreira, com um programa na rádio Excelsior.

No dia 6 de abril de 1966, Hebe estreou na TV Record (Canal 7) o Programa Hebe, que teve como convidado Roberto Carlos. A atração bateu recordes de audiência, chegando a obter 70% dos telespectadores. A fase só não era melhor porque Hebe não conseguia aliar a carreira com o casamento. Em 1971, terminou sua união com o empresário Décio Capuano. Em 1973, conheceu Lélio Ravagnani, com quem viveu até 2000, ano em que Lélio faleceu.

Após uma pausa de quase 10 anos, Hebe retornou à televisão em 1981. Seu programa era exibido nas noites de domingo e posteriormente às sextas-feiras, na TV Bandeirantes. Depois de quatro anos de sucesso, a direção da emissora resolveu inexplicavelmente acabar com a atração.

Em 1985, quando ainda estava na Bandeirantes, recebeu convite do SBT e em novembro do mesmo ano assinou contrato. Sua estréia aconteceu dia 4 de março de 1986. Desde a estréia no SBT, Hebe apresentou: o Programa Hebe, no estilo show, no ar nas noites de segunda-feira, e o "Hebe Por Elas", programa de entrevistas só com mulheres apresentado às terças-feiras. Ela chegou a ter, por curto período, um programa nas tardes de domingo.

Hoje o Programa Hebe vai ao ar às segundas-feiras, a partir das 22h20, no qual a apresentadora conversa com artistas e personalidades sempre de forma descontraída, mostrando toda sua irreverência e experiência, num estilo inconfundível. Aurora Prado dirigiu o programa até abril de 2002, mês em que a diretora Simone Lopes assumiu a atração.

No rádio, Hebe apresenta atualmente o programa "Hebe & Você", pela Nativa FM, de segunda à sexta, das 11h às 12h. Ela recebe convidados especiais, responde perguntas dos ouvintes, fala sobre sua vida, emite opinião sobre fatos relevantes que marcaram a semana e dá dicas de beleza e saúde, entre outros temas.

A carreira de cantora foi retomada em 1999. Hebe gravou o CD Pra Você, pela Universal-Polygram, com produção de Zé Milton. O show de lançamento, realizado no Palace, alcançou enorme repercussão e originou uma turnê pelas principais capitais do país.

Em agosto de 2001, Hebe lançou Como é grande o meu amor por você - Hebe e convidados. O CD tem participações especiais de Chico Buarque, Caetano Veloso, Zezé di Camargo e Luciano, Simone, Nana Caymmi, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo e Fábio Júnior.

Entre os vários prêmios que a apresentadora recebeu ao longo da carreira, o que mais a deixou emocionada foi ter sido escolhida pelos paulistanos, numa pesquisa realizada 1990, A cara de São Paulo. Em 1994, Hebe recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadã Paulistana.

Fonte: Hebe/SBT - http://www.sbt.com.br/

Helena de Lima


Helena de Lima, cantora, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 17/05/1926. Começou a vida profissional na década de 1940 quando César Ladeira recrutava talentos novos para a Rádio Nacional. Em 1948 estreou como crooner da boate Pigalle, do Rio de Janeiro, e a partir daí, continuaria a cantar em casas noturnas do Rio de Janeiro e de São Paulo por mais de 25 anos.


Depois de temporada na boate Oásis, de São Paulo, em 1951, voltou ao Rio de Janeiro e participou como crooner do conjunto de Djalma Ferreira, no bar do Hotel Plaza Copacabana. Entre os compromissos seguintes incluíram-se apresentações na boate Jirau, do Rio de Janeiro.

Em 1958 fez grande sucesso, apresentando-se em contracanto com Dolores Duran, na boate Bacará, também do Rio de Janeiro. Seu primeiro disco, da Todamérica, tinha duas composições da dupla Marino Pinto e Vadico: Prece e Coração, atenção. Após o fechamento da Bacará, alternou temporadas em casas noturnas com gravações, sempre acompanhada pelo maestro Lauro Miranda, a quem se manteria ligada ao longo da carreira. É dessa época o LP Vale a pena ouvir Helena.

Na década de 1960, durante a fase de apresentações na boate Cangaceiro, gravou ao vivo os LPs O céu que vem de você e Um noite no Cangaceiro, produções da RGE. Concessa Lacerda, que a ouvira num show do Cangaceiro, deu-lhe para gravar Verdade da vida (com letra de Raul Mascarenhas), uma das faixas do LP Uma noite no Cangaceiro e seu maior sucesso profissional.

Na sucessão de temporadas em outras boates e clubes que se seguiu a fase do Cangaceiro, apresentou-se com Elisete Cardoso e outros artistas, e gravou um LP com músicas de Noel Rosa.

Em 1971, com Adeilton Alves, gravou um LP com 36 composições de Ataulfo Alves. Em 1974, após uma série de excursões e shows, participou de temporada em que a boate Porta do Carmo, de São Paulo, reuniu Cauby Peixoto, o Trio Mocotó e outros. Em 1975 fez curta temporada na Pujol, do Rio de Janeiro.

Em sua longa carreira, sempre preferiu o ambiente íntimo e de público pequeno, das casas noturnas de grandes cidades. Entre seus êxitos, destaca-se a marcha-rancho Estão voltando as flores (Paulo Soledade).


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Bossa Nova - A visão de Carlos Lyra

O 1° time da Bossa Nova: Tom, Vinícius, Bôscoli, Menescal e Lyra. O uísque também fazia parte do grupo.



“Quando a Bossa Nova surgiu houve uma grande mudança, uma sofisticação que atingiu a letra, a harmonia e a melodia. Antes, havia melodias bonitas, produzidas por Ary Barroso, Custódio Mesquita, Dorival Caymmi, este, uma espécie de precursor da Bossa Nova.

Havia muita gente importante, como Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Dircinha e Linda Batista. Isso era a grande música popular brasileira. Era a música popular mesmo, porque a Bossa Nova, para mim, é música popular de câmera, não é música popular.

A Bossa Nova foi um tipo de música feita pela classe média para atender a própria classe média. Quando se fala de influências houve a do impressionismo europeu e do jazz norte-americano.

O que diferenciava a harmonia da Bossa Nova da harmonia tradicional? Era alguma coisa elaborada, com elementos do jazz e do impressionismo na parte técnica. A melodia também ganhou uma sofisticação, algo blue note, com muita nota alterada, coisa que o povo não cantava. As melodias do povo são mais simples. Por incrível que pareça, as harmonizações passaram também a dar uma nova cara harmônica às músicas antigas, as populares.

Na letra, Vinícius de Moraes e os demais letristas - entre os quais, eu me incluo - tiraram aquele clima de tango e de bolero, um gosto bem latino-americano, para fazer algo mais leve, mais relacionado com certos textos das comédias norte-americanas e européias...”

Fonte: Depoimento de Carlos Lyra a Almir Chediak, no Songbook Bossa Nova

Bossa Nova - A visão de Nara Leão

Nara Leão, Sílvio Caldas e Carlos Lyra no programa Renner Brasil, TV Excelsior-SP, maio/1963.


“A Bossa Nova foi importante para mim e para a humanidade, pois mudou a música do mundo inteiro. Pimeiro, é preciso destacar o João Gilberto, porque ele mudou tudo. Chegou até a ser chamado de desafinado, coisa que ele não é.

Na verdade é afinaderrímo, a coisa mais afinada do mundo, mas as pessoas achavam que um cantor que não gritasse era desafinado. Sua maneira de cantar é fantástica, não precisa de orquestra nenhuma. O violão, sozinho, parece uma orquestra. Com a boca, faz uma bateria, milhares de coisas.

A Bossa Nova também mudou as letras. Havia uma parte substancial de nossa música em que as letras eram dramáticas, sentimentais, derramadas. A Bossa Nova veio com aquele negócio de amor, sorriso, flor, céu. Era uma coisa leve. Para mim, ela continua viva e muito nova. A música quando é boa a gente ouve sempre, com prazer. E a Bossa Nova contribuiu muito com a nossa música tradicional.

Antes o samba não tinha uma harmonia rica. Quando o Carlinhos Lyra me apresentou aos sambas, tocados de maneira bossa-novista, achei muito interessante. Mas, na época, eu pensava que não podia cantar uma coisa que João Gilberto já tivesse cantado, porque ele canta maneira extraordinária.

Só tive coragem de fazer Bossa Nova quando fui para Paris e gravei um álbum duplo. O João me inibia de cantar Bossa Nova. O que se guardou do movimento foi a maneira de cantar e a harmonia. Os arranjos e a harmonia”.


Fonte: Depoimento a Almir Chediak no Songbook Bossa Nova.

Bossa Nova - A visão de Vinícius

Na casa de Vinícius, os Cariocas: Severino, Badeco, Luiz Roberto e Quartera cantam para o poeta.


"O movimento da Bossa Nova está ligado ao processo de desenvolvimento do país. A partir de 1922, o movimento modernista rompeu formalmente com a cultura européia. Houve uma grande busca - criações nacionais na poesia, na pintura, em tudo.

O grande Villa-Lobos é prova disso. Um tremendo músico, um erudito que tinha raízes populares, que tocava violão e fazia serestas nos bairros boêmios do Rio. Na música popular, o desenvolvimento foi diferente. O samba tradicional começou com os carnavais do princípio do século. Houve um grande êxodo de escravos, que se estabeleceram no Rio e começaram a trabalhar ritmos e danças.

Nisso, a música brasileira se parece muito com o jazz. A contribuição da cultura africana é importantíssima. Devemos a eles toda a parte de ritmo. Nós tivemos a influência católica. Os primeiros cantos de jazz tiveram a influência protestante. Era obrigação acompanhar a missa, escutar esse tipo de música. Não obstante, se preservou a pureza do ritmo africano.

O que há realmente de importante no Brasil é uma unidade de sentimentos que vem da mistura do português com o negro e o índio. Criou-se, com isso, uma espécie de tristeza do povo, de melancolia, que explode nas festas tribais, como o carnaval. O português é muito romântico. O negro também, mas com ritmo e uma vitalidade enorme".

Fonte: Depoimento de Vinícius de Moraes ao Jornal Opinião – Novembro de 1970.

Bossa Nova - A visão de Tom Jobim

Em Nova York, gravação do álbum "Stan Getz e João Gilberto". Da esquerda para a direita: Tião Neto, Tom Jobim, Stan Getz, João e Milton Banana.



“A música brasileira vinha tomando um caminho em direção do modernismo, ao moderno. Embora essa palavra ‘moderno’ não signifique muita coisa... O fato é que a música brasileira ia em direção a algo novo, na direção do progresso, daquilo que Juscelino fazia, quando o Brasil começou a fabricar automóveis, construir estradas, tinha a Petrobrás com “o petróleo é nosso”, aquela coisa toda.

A gente era jovem e tinha vontade de fazer as coisas. E, sobretudo, apareceu um baiano chamado João Gilberto, nascido em Juazeiro, na beira do rio São Francisco - ali, você sabe, cruzando o rio, você está em Pernambuco -, com aquela fantástica batida no violão.

A gente tinha o Johnny Alf, eu e outros fazendo samba moderno, mas com a chegada do João, o negócio balançou. Ele bagunçou o coreto. Porque a coisa do João era genial.

Depois, a Bossa Nova tornou-se um padrão, uma coisa chata - tché-tché, tché-tché - ficou todo mundo tocando igual no Brasil, na América, na Europa etc. Houve uma certa padronização dessa batida.

As pessoas cantavam qualquer coisa nessa batida. O que nunca foi o caso do João. A batida dele tem a ver com o que ele canta. Aquilo forma um contraponto, um jogo, não é isso? - que suinga e que balança. Esse é um dos muitos aspectos da Bossa Nova. Há várias maneiras de você olhar a Bossa Nova..."

Fonte: Depoimento de Tom Jobim a Almir Chediak no Songbook Bossa Nova.