terça-feira, outubro 30, 2007

Rildo Hora

Rildo Hora (Rildo Alexandre Barreto da Hora), instrumentista, compositor e cantor, nasceu em Caruaru PE em 20/4/1 939. Começou a tocar gaita-de-boca aos seis anos, quando foi morar no subúrbio carioca de Madureira.

Autodidata, desenvolveu sua técnica tocando chorinhos, frevos e outras músicas populares que ouvia no rádio.

Aos 12 anos venceu concurso das Gaitas Hering, na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro, e foi convidado pelo apresentador do programa, Fred Williams (também gaitista), a integrar a equipe da emissora.

Convidado por Moleque Saci (Caué Filho), participou de shows circenses, acompanhando cantores ao cavaquinho — que também tocava desde os 14 anos — e, como solista, tocando gaita. Tomou parte também do programa Festival de Gaitas, na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.

Em 1958 formou com Sérgio Leite e Luís Guimarães o trio Malabaristas da Gaita, aproveitando a grande aceitação do instrumento nos programas radiofônicos. No ano seguinte, fez sua primeira composição, com Gracindo Júnior, Brigamos com o amor, gravada por Carminha Mascarenhas. Na época da bossa nova, passou também a tocar violão e a cantar.

Em 1961 — época em que trabalhava na boate carioca Cangaceiro —, compôs com Clóvis Melo Canção que nasceu do amor, lançada por Cauby Peixoto, regravada mais tarde por Elisete Cardoso. No ano seguinte, Alaíde Costa gravou, dele e Gracindo Júnior, Como eu gosto de você, arranjo de César Camargo Mariano.

Acompanhou Elisete Cardoso como violonista em shows por todo o Brasil, de 1965 a 1967. No ano seguinte, quando era cantor e professor de violão, iniciou carreira de produtor de discos, aceitando o convite de Geraldo Santos para trabalhar na RCA; sua primeira produção foi o LP Música nossa, seguida dos discos de Antônio Carlos e Jocafi, João Bosco, Martinho da Vila e Maria Creuza.

Estudou então harmonia, contraponto e composição na Pró-Arte, com o maestro Guerra-Peixe. Compôs com Sérgio Cabral Janelas azuis, gravada em 1973 por Maria Creuza. Em 1987 executou na Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, o Concerto para harmônica e orquestra, de Villa-Lobos, sob regência do maestro Davi Machado.

Em 1988 interpretou Suíte quatro cordas, de Guerra-Peixe, obra escrita e orquestrada especialmente para ele. Em 1992 lançou o CD Espraiado, pela gravadora Caju, que, distribuído nos EUA pela etiqueta Milestone, em 1994, foi considerado um dos dez melhores discos de jazz latino do ano.

Além de ter mais de 200 composições gravadas, é arranjador e produtor de discos de artistas como Martinho da Vila (de quem é produtor desde 1970), Beth Carvalho, Leni Andrade e Elis Regina, tendo recebido vários prêmios. Também participou como instrumentista de discos de inúmeros artistas. Já se apresentou nos E.U.A., Argentina, Angola, Moçambique e países europeus.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha

Roberto Ribeiro


"As escolas de samba vivem um paradoxo: são um celeiro de cantores, popularmente chamados de "puxadores", mas raros fazem sucesso fora das quadras. Uma das exceções é José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, da Mangueira, cantor, intérprete de samba-enredo – jamais um "puxador", como se recusa a ser chamado.


Outro dos raros exemplos é Roberto Ribeiro – assim mesmo com o verbo no presente, pois Roberto continua vivo nas gravações (poderiam ser em maior número), vídeos (raros). E principalmente na lembrança de quem ouviu aquela voz de timbre muito especial.

Nascido Dermeval Miranda Maciel, Roberto (20/7/1940 Campos, RJ - 8/1/1996 Rio de Janeiro, RJ) é sinônimo de Império Serrano, ao lado do maior compositor de sambas-enredos da história, Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade, Tiradentes), de Mano Décio da Viola (parceiro de Silas), Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, e por aí vai. Além de puxador, Roberto era da ala de compositores da escola – chegou a fazer dois sambas para a avenida.

A voz translúcida de Roberto Ribeiro deixou para sempre o registro de algumas obras-primas de Silas, além de jongos – uma das marcas registradas do morro da Serrinha – e uma fieira de belíssimos sambas de terreiro. Uma das duas melhores gravações de Senhora Tentação (Meu Drama), de Silas, é dele. A outra é de Cartola.

Roberto teve ainda a sensibilidade de deixar registrado um samba-enredo que, apesar de não ter sido o escolhido na quadra para ir à avenida, no carnaval de 1975, durante anos foi cantado nas rodas. A divulgação do samba era feita espontaneamente nos bares e biroscas do Rio. Vedete de Madureira ("Brilhando / num imenso cenário...") sobreviveu durante muito tempo sem estar gravado. Com Roberto Ribeiro, garantiu a perpetuidade.

Puxador de samba na avenida, aos poucos Roberto conquistou palcos e estúdios. Mas nunca se desligou da Serrinha. Nos dias de desfile do Império podia ser visto no asfalto com terno de linho branco, camisa verde e óculos escuros, para proteger a vista, atacada por uma doença irreversível.

Fluminense de Campos, morreu em 1996, vítima de um atropelamento. Foi-se muito cedo, aos 55 anos de idade. Seguiu o destino de Silas, que, em 1972, aos 56, sofreu enfarte fulminante depois de cantar sambas seus em uma roda em Botafogo. Roberto Ribeiro estava presente. Continua presente."


Aluizio Maranhão - ENSAIO

Zimbo Trio


Formado pelo paulista de Bauru, Amílton Godoi (nascido em 1941), ao piano, o paraense de Belém, Luís Chaves (1931), no contrabaixo, e o paulistano Rubinho, Rubens Barsotti (1932), o Zimbo Trio surgiu em São Paulo em plena efervescência da bossa nova, em 1964.

Na epidemia de trios instrumentais do período, ele logo se destacou numa ninhada de cobras que trazia entre muitos os depurados Tamba Trio (Luís Eça, Bebeto, Hélcio Milito), Bossa 3 (Luís Carlos Vinhas, Tião Netto, Edison Machado) e Sambalanço Trio (César Camargo Mariano, Humberto Cleiber e Airto Moreira).

Lançado num show na boate Oásis, em São Paulo, ao lado da cantora e atriz Norma Benguel, o Zimbo alcançaria sucesso nos grandes shows de origem universitária que tomavam a cidade, incluindo o clássico O Fino da Bossa, do qual sairia o programa homônimo da TV Record comandado por Elis Regina.

A pegada vigorosa de arquitetura clássica do piano de Amílton (de formação erudita, estudou na escola de Magda Tagliaferro), o baixo conciso de Luís Chaves e a bateria sutil de Rubinho (que também solava sem as baquetas, utilizando as caixas como tumbadoras) transformaram-se em uma grife de qualidade instrumental capaz de erguer uma ponte entre as dissensões da MPB na época.

O arranjo do ZT para Garota de Ipanema (que eles foram um dos primeiros a gravar) era número imprescindível em suas apresentações. Por isso, eles tanto eram convocados ao programa O Fino, de Elis (com quem gravariam o memorável disco O Fino do Fino, de 1965) quanto ao tradicionalista Bossaudade, de Elizeth Cardoso, com quem excursionariam pelo Japão, além de gravar dois discos ao vivo na boate carioca Sucata, em 1969 e 1970.

Ao lado de Elizeth e seu descobridor, Jacob do Bandolim, o Zimbo ainda participaria de um dos shows mais importantes já realizados no país, no teatro João Caetano no Rio, em fevereiro de 1968, sob a direção de Hermínio Bello de Carvalho. O encontro da bossa modernizadora do trio com o choro nada conservador do exímio Jacob, unidos pela eternidade vocal de Elizeth, virou marco histórico, editado em nada menos de três LPs.

Ao longo de uma carreira de inúmeras excursões ao exterior, o grupo ainda difundiu seu saber fundando em 1973 o CLAM (Centro Livre de Aprendizado Musical), por onde passaram feras como a pianista paulista Eliane Elias, hoje uma renomada jazzista nos EUA, onde está radicada desde os 80.

Em 1974, ao lado da Orquestra Sinfônica de Buenos Aires eles provaram sua ressonância erudita atuando no Pequeno Concerto para o Zimbo Trio, escrito especialmente para eles pelo maestro Ciro Pereira. Com vários discos gravados ao lado de solistas instrumentais (Canhoto da Paraíba, Hector Costita, Heraldo do Monte e até o saxofonista de jazz americano Sonny Stitt) e centrados em repertórios de grandes autores (Milton Nascimento, Tom Jobim) à alta qualidade o Zimbo Trio aliou a façanha de ter resistido a todas os movimentos em um trajeto de longevidade à prova de modismos."

Tárik de Souza
ENSAIO - 28/4/1994

Canhoto da Paraíba

Não são poucos os violonistas canhotos no Brasil. Alguns deles, com status de estrelas de primeiríssima grandeza (como o paulista Américo Giacomino, o Canhoto, o maior nome do instrumento no início do século), deram importantes contribuições para a fixação do violão como o mais brasileiro dos nossos instrumentos populares. Mas todos eles necessitavam inverter as cordas para aprender; primas para cima, bordões para baixo, de maneira que somente canhotos pudessem dedilhar o instrumento. Todos, menos um.

No alto sertão paraibano, na lendária cidade de Princesa Isabel (onde "pau-pereira já roncou", como cantava Luiz Gonzaga), entre nove irmãos, nasceu Francisco Soares de Araújo, em 19 de maio de 1928. O avô era clarinetista da banda, o pai tocava violão, os irmãos distribuíam-se entre vários instrumentos e logo o Chico começou a tocar todos eles, por conta própria. Tanto assim que, já adolescente, tomou puxão de orelha de "seu" vigário, que tolerava a maneira suingada como seu pequeno sacristão tocava os sinos, mas não perdoou quando o flagrou rasgando o frevo Vassourinhas, no... órgão da igreja.

Mas Chico gostava mesmo era de violão. O problema é que para ensiná-lo "só mesmo na frente do espelho", como dizia seu pai, quando desanimou da tarefa. Canhoto irreversível, tratou de aprender sozinho. Como o instrumento era usado pela família toda, não podia inverter as cordas, o negócio era simplesmente virá-lo ao contrario, de cabeça para baixo e...tocar.

Tocar magistralmente, a ponto de em pouco tempo a confraria dos gênios musicais brasileiros saber dele. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tia Amélia, Severino Araújo, Dilermando Reis já sabiam que pelo Nordeste - agora já adulto, tocando no Regional da Rádio Jornal do Comercio do Recife, depois de estágio nas mesmas funções na Rádio Tabajara, de João Pessoa - existia um violonista fora de série, à altura dos melhores do país.

Em 1959, visita o Rio de Janeiro e em um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, torna-se amigo de todos os seus ídolos, principalmente do jovem Paulinho da Viola, que o homenageia com o choro Abraçando o Chico Soares. Nunca quis fazer carreira no Sul, mesmo tendo gravado um LP (produzido por Paulinho), preferindo continuar sua vida de "chorão" ao lado dos amigos no Recife.

Tão bom compositor quanto intérprete, Canhoto da Paraíba - nome com que se inscreveu definitivamente na história do violão brasileiro - realizou algumas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, exibindo um talento que sempre deixou um gosto de "quero mais" nos que tiveram contato com ele.

Arley Pereira
ENSAIO - 12/4/1994