Aracy Côrtes, aliás Zilda Spinola |
—— Zilda Spinola? — perguntará, surpreendido, o leitor. — Francamente, não me recordo de ter ouvido esse nome.
Cantora, pianista, declamadora? Quem será Zilda Spinola?
Zilda Spinola, — deixemos que se dissipe o mistério, — não é senão o nome verdadeiro, o nome autêntico de Aracy Côrtes, a intérprete inconfundível da nossa música popular. E, agora, na certa, o leitor declarará:
— Ora! Aracy... Também quem é que não a conhece?
Começo de carreira, no teatro |
Trabalhando na revista “Nós pelas costas”, foi, então, crismada com o pseudônimo de Aracy Côrtes, que se transformou num dos maiores nomes do nosso teatro popular e do nosso “broadcasting” ...
Dessa temporada, Aracy não tem saudades. Seguiu para São Paulo e, voltando mais tarde ao Rio, foi a Campos como empresária, para logo depois ser contratada pela Empresa Paschoal Segreto, estreando no Teatro São José, na revista de Duque e Oscar Lopes: “Sonho de ópio”.
E acrescenta:
— Há por aí quem diga maldosamente que só consegui ser “estrela” na praça Tiradentes. É falso. Pondo a modéstia de parte brilhei na praça dos Caboclos e brilhei, na Avenida, no Glória, no Cassino Beira-Mar, no Fênix e no antigo Palace Teatro. Fui com Jardel Jercolis à Europa, onde o meu êxito, se é que houve, foi constatado pela imprensa. Percorri, nessa ocasião, Portugal, Espanha, França e Itália.
— O público já está saudoso. Quer vê-la em cena — dissemos nós.
— E eu também estou saudosa dele, mas, infelizmente, o teatro de revista está em situação precária. É doloroso dizer-se que a capital do Brasil, a “Cidade Maravilhosa”, não tenha para os turistas, não como novidade, mas como passatempo, um só teatro musicado funcionando.
— E quanto à sua viagem à Argentina?
— Fui contratada pelo empresário Cairo. Ele ficou satisfeitíssimo, porque conseguir agradar na Argentina é um “caso muito sério”. Os platinos, conquanto não sendo jacobinos, gostam muito do que é deles, e defendem muito, artística e monetariamente, a prata de casa. No terreno artístico lá vence quem tem mérito real. Aliás, você não ignora isso. É dos livros, como se diz lá no morro! Ficaram satisfeitíssimos com a interpretação dos nossos sambas, com os “breques” e contracanto, criação dessa sua criada. Há quem diga que não, mas eu tenho a certeza, embora não cobre direitos autorais.
— Quais os seus autores prediletos?
— Todos aqueles que escrevem boas revistas.
— Das peças que já representou, qual é a que mais gosta?
Aracy, em casa, com seu canário cantor |
— E, agora, — dissemos nós, — um pouco de suas preferências. Qual o seu manjar predileto?
Aracy deu uma gostosa gargalhada e respondeu:
— Espiga de milho cozido.
— E, se fosse rica, que faria?
— Viajaria muito, muitíssimo. Teria criadagem especial para tratar exclusivamente das malas, chapeleiras, etc.
Despedimo-nos. Aracy trouxe-nos, gentilmente, até ao elevador, onde acrescentou:
— Diga na CARIOCA que eu até nova ordem estou no rádio, porque sou positivamente do rádio: — cansa pouco e populariza mais! ...”
Fonte: CARIOCA, de 25/01/1936.