Carmen Miranda - 1936 |
E ao que se diz, brevemente, elas serão anunciadas da seguinte maneira: “Now listen Carmen Miranda...” e “Maintenaut vous allez entendre Aurora Miranda...”. É que a América do Sul já está se tornando pequena para as duas incansáveis estrelas cariocas.
Carmen Miranda é, hoje, a maior das nossas estrelas de rádio. É, também, a mais antiga, pois, desde 1928 que a sua voz é ouvida através os microfones da cidade.
Foi lançada pela Victor em parceria com Josué de Barros, quem primeiro a ensaiou e orientou. “Yayá Yoyô”, “Ta-hi”, “Vamos dar valor” e algumas outras músicas, foram das primeiras gravações de Carmen que já começava absoluta, isto é, sem rivais.
Neste tempo, pode-se dizer que a música popular era interpretada, exclusivamente, por cantores. Havia, é verdade, cantoras, mas estas, não se dedicavam ao samba e a marchinha. Limitavam-se a interpretar canções. Carmen Miranda foi, pois, uma revolução. Foi a luva que o samba jogou à canção. E o resultado não se fez esperar: a canção foi, fragorosamente, derrotada e o samba passou a dominar a cidade. As músicas que Carmen lançava e gravava eram conhecidas desde Ipanema até a Tijuca. Eram cantadas, assobiadas e cantaroladas.
Começou então, o segundo período de sua carreira, talvez o mais glorioso e que se prolonga até hoje: a imitação. Diante do sucesso de Carmen, as outras cantoras da cidade, não tardaram em imitá-la. Ao invés de procurarem criar estilos próprios, pessoais, limitavam-se a imitar a dona de um “jeito” todo especial de cantar e que possui, como ninguém, em alto grau, o senso da interpretação.
Aurora Miranda em 1936 |
Carmen e Aurora partem agora, novamente, para Buenos Aires. Terão, na capital portenha, uma estada de mês e meio. Levam, no seu repertório, as últimas novidades do Rio e todos os grandes sucessos do último carnaval — músicas lançadas por elas, ou por outros cantores.
— Levamos um repertório, inteiramente novo para Buenos Aires e esperamos agradar — disseram as duas encantadoras estrelas, a CARIOCA.
E assim, ficará o Rio, privado, por algum tempo, das duas vozes que ele mais admira. Na volta de Buenos Aires, após curta permanência nesta capital, pretendem, as duas, seguir para a Europa, visitando Lisboa, Paris e outras cidades.
CARIOCA prevê, desde já, para as irmãs que tanto têm feito pela nossa música, grandes êxitos. Habituados como estamos, a ver os sucessos no estrangeiro, de criaturas que aqui são autênticos fracassos, temos que esperar das Irmãs Miranda, uma brilhante atuação, pois, não lhes faltam qualidades para isso.
E, por certo, não estamos muito longe do dia em que ouviremos, numa “broadcasting” parisiense ou londrina, através das ondas curtas, as vozes simpáticas e amáveis das “Embaixatrizes do Samba”, que virão matar as saudades dos seus fãs do Rio, que são todos os habitantes da capital brasileira."
Fonte: CARIOCA, de 2/4/1936 (fotos e texto atualizado).