segunda-feira, março 05, 2018

Foi boto sinhá - Gastão Formenti

Em noite de festa à beira do rio, o boto transforma-se em um belo rapaz, que se veste todo de branco e usa sempre um chapéu, também branco, na cabeça. Esse chapéu nunca é retirado, pois serve para esconder o orifício que tem na testa e usa para respirar. Não se sabe por que esse orifício não desaparece na sua transformação. Bonito e elegante, o rapaz é bom dançarino e bebedor. Conquista facilmente as moças jovens e bonitas, casadas ou não. Na festa, dança e namora. Depois, convida a namorada para um passeio, para seduzi-la.

Seu poder de sedução é incrível, hipnótico. Muitas de suas vítimas foram "salvas" no último momento porque alguém gritou, fez barulho e as tirou do transe. Após o envolvimento sensual, o boto atira-se no rio e volta à sua forma animal. A namorada, encantada, fica triste. Muitas vezes adoece e acaba por se atirar ao rio à procura do seu amado. As que resistem ao suicídio acabam por parir uma criança, que pode ser boto, já nascer na forma de peixe ou ser normal.

Inúmeras são as histórias contadas com a veracidade característica dos "cabôcos". O Boto é a saída social para as moças que engravidam sem casar. Desculpa fundamental que desvia a jovem do papel de pecadora para o de vítima. O mito também serve ao rapaz que engravidou uma jovem, uma vez que não será procurado, nem identificado, nem responsabilizado. Como resolve tantos "desconfortos", o Boto apresenta-se como um mito socialmente perfeito, sendo talvez esta a razão que o mantém tão vivo até hoje (Fonte: Uma visão sobre a interpretação das canções amazônicas de Waldemar Henrique - Márcia Jorge Aliverti).

Foi Boto, Sinhá!... (Tajá-panema) (batuque, 1933) - Waldemar Henrique e Antônio Tavernard - Intérprete: Gastão Formenti

Disco 78 rpm / Título da música: Foi Boto Sinhá!... / Antônio Tavernard (Compositor) / Waldemar Henrique (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1934 / Nº Álbum: 33807 / Lado B / Gênero musical: Batuque / Folclore.



Tajá-panema chorou no terreiro
Tajá-panema chorou no terreiro
E a virgem morena fugiu no costeiro

Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Que veio tentá
E a moça levou
E o tal dancará
Aquele doutô
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô

Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!

Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!

O boto não dorme
No fundo do rio
Seu dom é enorme
Quem quer que o viu
Que diga, que informe
Se lhe resistiu
O boto não dorme
No fundo do rio...

Curupira - Inezita Barroso

O Curupira é um ser de forma humana, pequeno, esverdeado, com os cabelos cor de laranja, que tem os pés virados para trás e vaga pela mata zelando pelas árvores e animais. Volta-se contra qualquer um que queira caçar apenas por prazer, ou desmatar a floresta sem propósito. Por outro lado, é amigo dos que vivem na mata sem agredi-la, caçando apenas para alimentar-se e respeitando a flora. Para atrapalhar os que não agem com boas intenções, o curupira tem muitas artimanhas. Pode assombrá-los com seus gritos agudos, açoitá-los, tornar-se invisível e aparecer em vários lugares, até fazer com que aqueles que tentam contra a vida na floresta percam o rumo.

A letra, também de Waldemar Henrique, narra as dificuldades de um caçador que teve a má sorte de encontrar o curupira no seu caminho. Este ser mitológico não pode ser atingido por armas, nem pela prece mais poderosa do cabôco, o Padre-Nosso. Sendo assim, só restou ao caçador o pedido do verso 18 – "Deixa o cabôclo passar". O uso dos versos junto à melodia é totalmente silábico e o texto possui uma mudança de foco narrativo no verso 13. Aqui, o narrador deixa de falar das suas dificuldades para si mesmo, como num desabafo, e passa a dirigir-se diretamente à entidade mágica que o persegue. Não temos palavras de uso regional (Fonte: Uma visão sobre a interpretação das canções amazônicas de Waldemar Henrique - Márcia Jorge Aliverti).

Curupira (canção, 1936) - Waldemar Henrique - Intérprete: Inezita Barroso

Disco 78 rpm / Título da música: Curupira / Waldemar Henrique (Compositor) / Inezita Barroso (Intérprete) / Gravadora: Sinter / Ano: 1951 / Nº Álbum: 00-00.091-a / Lado B / Gênero musical: Canção / Folclore.



Já andei três dias e três noites pelo mato
Sem parar
E no meu caminho não encontrei nenhuma
Caça pra matar
Só escuto pela frente pelo lado o Curupira
Me chamar
Ora aqui, ora ali, se escondendo sem
Parar num só lugar
Por esse danado muitas vezes me perdi
Na caminhada
E nem padre nosso me livrou desse
Danado da estrada
Curupira feiticeiro
Sai de trás do castanheiro
Pula pra frente
Defronta com a gente
Negrinho covarde matreiro
Deixa o caboclo passar

Coco peneruê - Jorge Fernandes


Coco Peneruê (1934) - Waldemar Henrique - Intérprete: Jorge Fernandes

LP 10' Música De Waldemar Henrique Na Interpretação De Jorge Fernandes / Título da música: Coco Peneruê / Waldemar Henrique (Compositor) / Jorge Fernandes (Intérprete) / Gravadora: Sinter / Ano: 1956 / Nº Álbum: SLP 1064 / Lado A / Faixa 7 / Gênero musical: Coco / Folclore / Obs.: Jorge Fernandes é acompanhado ao piano pelo próprio Waldemar Henrique.



Olha'o coco peneruê
Olha'o coco peneruá

'Sta nega é o coco de stambiro biro biro
Sta nega é o coco do stambiro biro á

Olha'o coco peneruê
Olha'o coco peneruá
Olha'o coco peneruê
Sacode o coco e olha o coco peneruá

Roda volante puxa avante manivela
Meu mano carrega nela e bota o azeite
No mancá
Tenho uma faca, uma pistola, uma riuna
Quando o cabra se arripuna
Bole em baixo o tiro pá!!!

Olha'o coco peneruê
Olha'o coco peneruá
Olha'o coco peneruê
Sacode o coco e olha o coco peneruá

Coco peneruê
Coco penuruá

Boi-bumbá - Gastão Formenti

W. Henrique
Boi-bumbá (cateretê, 1934) - Waldemar Henrique - Intérprete: Gastão Formenti

Disco 78 rpm / Título da música: Boi bumbá / Waldemar Henrique (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1935 / Nº Álbum: 33939 / Data de lançamento: 1935 / Lado B / Gênero musical: Cateretê / Folclore.



Ele não sabe que seu dia é hoje
Ele não sabe que seu dia é hoje
Ele não sabe que seu dia é hoje
Ele não sabe que seu dia é hoje

O céu forrado de veludo azul-marinho
Venho ver devagarinho
Onde o Boi ia dançar
Ele pediu pra não fazer muito ruído
Que o Santinho distraído
Foi dormir sem celebrar

E vem de longe o eco surdo do bumbá
Sambando
A noite inteira encurralado
Batucando
E vem de longe o eco surdo do bumbá
Sambando
A noite inteira encurralado
Batucando

Bumba meu Pai do Campo
Bumba meu boi bumbá

A Estrela Dalva lá no céu já vem surgindo
Para ouvir galo cantar
Na minha rua resta cinza da fogueira
Que passou a noite inteira
Fagulhando para o ar

E vem de longe o eco surdo do bumbá
Sambando
A noite inteira encurralado
Batucando

Bumba meu Pai do Campo
Bumba meu boi bumbá

Abaluiaê - Jorge Fernandes

Abaluaiê (ponto ritual, 1947) - Waldemar Henrique - Intérprete: Jorge Fernandes

Disco 78 rpm / Título da música: Abaluaiê / Waldemar Henrique (Compositor) / Jorge Fernandes (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 30/12/1949 / Nº Álbum: 12988 / Data de lançamento: Março/1950 / Lado A / Gênero musical: Ponto ritual / Folclore.



Perdão Abaluaiê, perdão
Perdão a orixalá, perdão
Perdão a meu Deus do céu, perdão
Abaluaiê perdão


Ó rei do mundo
Perdão Abaluaiê
Ele veio do mar
Abaluaiê
Ele é forte, ele veio,
Abaluaiê
Salvar...(ritornelo)


A tô tô lu Abaluaiê
Cambône sala na muxila gôlô-ê
Cambône sala na muxila gôlô-ê

Abá-Logum - Jorge Fernandes


Abá-Logum (1948) - Waldemar Henrique - Intérprete: Jorge Fernandes

LP 10' Música De Waldemar Henrique Na Interpretação De Jorge Fernandes / Título da música: Abá-Logum / Waldemar Henrique (Compositor) / Jorge Fernandes (Intérprete) / Gravadora: Sinter / Ano: 1956 / Nº Álbum: SLP 1064 / Lado B / Faixa 4 / Gênero musical: Folclore / Obs.: Jorge Fernandes é acompanhado ao piano pelo próprio Waldemar Henrique.



Amanquê ojarê Abá-Logum ia coroa onirê
Abá-Logum ia coroa onirê
Abá-Logum ia coroa onirê

Abá-Logum ia coroa aiô
Ia manquera, ia manquerea
Ia manquera, undá
Abá-Logum ia coroa aiô