segunda-feira, julho 23, 2007

Disparada

Geraldo Vandré
Em 1966, o compositor Geraldo Vandré participou vitoriosamente de três grandes festivais musicais promovidos pela televisão: em junho, foi 1° lugar na TV Excelsior, com “Porta Estandarte” (parceria de Fernando Lona); em outubro, tirou o 10º lugar na TV Record, com “Disparada” (parceria de Téo de Barros); e ainda em outubro, ficou em 2° lugar na TV Rio (1° Festival Internacional da Canção), com “O Cavaleiro” (parceria de Tuca).

Dessas três composições, a de maior repercussão seria inegavelmente “Disparada”, a mais vigorosa canção de protesto surgida até então, um verdadeiro cântico revolucionário. Musicado por Téo sobre uma versalhada que Vandré havia escrito durante uma viagem, “Disparada” é uma moda-de-viola com sotaque nordestino. “A intenção era compor uma moda-de-viola baseada no folclore da região Centro-Sul, porém nossas raízes se infiltraram no processo e resultou uma catira de chapéu de couro”, esclarece Téo na contracapa de seu primeiro elepê.

Para apresentar “Disparada”, os autores escolheram Jair Rodrigues, então no auge da popularidade, entregando o acompanhamento ao Trio Novo — Téo (viola), Heraldo do Monte (violão) e Airto Moreira (percussão) — reforçado pelo Trio Marayá. O Trio Novo atuou na eliminatória e na gravação de estúdio, mas não pôde participar da final (por já ter compromisso agendado para a data), sendo os seus músicos substituídos por Aires (viola), Gianulo (violão) e Manini (percussão).

Mas nas duas fases o resultado foi excelente, com a canção sendo ruidosamente aclamada pela facção mais politizada da platéia — principalmente em trechos como “Mas o mundo foi rodando / nas patas do meu cavalo / e já que um dia montei / agora sou cavaleiro / laço firme, braço forte / de um reino que não tem rei...” — que rivalizava em número e entusiasmo com os partidários de “A Banda”. Em vista disso, embora “A Banda” tenha ganho pelos votos dos jurados, a direção da Record resolveu considerar as duas concorrentes empatadas na primeira colocação, a fim de evitar um confronto entre os torcedores.

Uma nota pitoresca na apresentação de “Disparada” foi a utilização de uma queixada de burro como instrumento de percussão. A novidade, descoberta por Airto Moreira numa loja em Santo André, emprestou maior rusticidade ao acompanhamento, além de evocar uma visão forte da seca (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Disparada - (moda-de-viola, 1966), Geraldo Vandré e Theo de Barros - Interpretação: Jair Rodrigues.

LP O Sorriso do Jair / Título da música: Disparada / Geraldo Vandré (Compositor) / Theo de Barros (Compositor) / Jair Rodrigues (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1966 / Álbum: P-765.004-P / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Moda-de-viola.

    D             G          D                  G
Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
C           Bm        C     Am D    G
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
B7      Em      C      Am D      G
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
D             G          D          G
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
C               Bm       C    Am  D     G
E a morte, o destino tudo, a morte o destino tudo
B7      Em        C    Am    D   G
Estava fora de lugar, eu vivo pra consertar
G7          C          A7        D
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
B7        Em     D                      G
Não por um motivo meu ou de com quem comigo houvesse
B7              Em         B7        C
Que qualquer querer tivesse porém por necessidade
Am      D   G C      Am     D   G
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
D              G          D              G
Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte
C          Bm    C     Am  D   G
Muito gado, muita gente pela vida segurei
B7       Em       C     Am   D      G
Seguia como num sonho que boiadeiro era um rei
D          G         D             G
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
C                G        Am   D       G
E nos sonhos que fui sonhando as visões se clareando
B7          Em      C         Am  D    G
As visões se clareando, até que um dia acordei
D            G        D               G
Então não pude seguir, valente em lugar tenente
C              G            Am      D      G
E o dono de gado e gente, porque gado a gente marca
B7      Em       C              Am D      G
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
D             G          D           G
Se você não concordar, não posso me desculpar
C         Bm          Am      D      G
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
B7            Em   C    Am       D     G
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
G7          C        A7           D
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
B7             Em         C      Am  D    G
Não por mim nem por ninguém que junto comigo houvesse
B7              C            B7               C
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
B7                C               Am    D   G
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe que eu
D          G         D              G
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
C               Bm      C            G
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
B7            Em       C       Am      D   G
Laço firme, braço forte de um reino que não tem rei

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