Zezé Gonzaga (Maria José Gonzaga), cantora, nasceu em Manhuassu, MG (03/09/1926). Filha e neta de músicos, sua mãe chamava-se Oraide e era flautista. O pai, Rodolpho, era "luthier", tendo inclusive construído um instrumento para Luperce Miranda.
Começou a cantar aos 13 anos, quando se mudou para a cidade vizinha de Além-Paraíba e passou a apresentar-se no Rex Clube. Recebeu incentivo da família, que apoiava que seguisse a carreira de cantora lírica. Começou a estudar canto com a professora Graziela de Salerno, que gostava muito de seu registro de soprano ligeiro, e além de canto, estudou piano e leitura musical.
Fez seus estudos escolares na cidade vizinha de Porto Novo, com bolsa de estudos, compensada por pequenos serviços realizados por seu pai, já que sua família vivia com dificuldade. Foi em Porto Novo que fez sua primeira apresentação, cantando a valsa Neusa, de Antônio Caldas (pai do cantor Sílvio Caldas), grande sucesso de Orlando Silva.
Iniciou sua carreira como caloura no programa de Ary Barroso, em 1942. Na ocasião, recebeu a nota máxima ao interpretar Sempre no meu coração. Logo em seguida, recebeu convite para se apresentar no programa radiofônico Escada do Jacó, do popular radialista Zé Bacurau. Depois de curta temporada no Rio de Janeiro, retornou a Porto Novo para continuar seus estudos. Nessa época, costumava fazer pequenas apresentações num clube de jazz, o que lhe causou problemas na escola, pois além da discriminação racial, enfrentava a discriminação por ser artista.
Mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1945. Nesse ano, conquistou o primeiro lugar no programa Pescando estrelas, da Rádio Clube do Brasil, apresentado por Arnaldo Amaral. Isso lhe valeu um contrato de 800 mil-réis com a emissora, que duraria até 1948. Nessa época, formou com a cantora Odaléa Sodré (filha de Heitor Catumbi) uma dupla chamada As Moreninhas do Ritmo. Com a parceira, cantou no conjunto do pianista Laerte, na Rádio Jornal do Brasil.
Em 1948, assinou contrato com a Rádio Nacional do Rio. Foi levada para lá a partir de um contato do cantor Nuno Roland, que marcou uma reunião com ela a pedido do diretor geral da rádio, Victor Costa. Na ocasião, Victor Costa lhe ofereceu um salário bem mais alto e a cantora, dias depois, já integrava o "cast" da Nacional, tendo como "padrinhos musicais" o próprio Victor Costa, ao lado do cantor Paulo Tapajós.
No ano seguinte, gravou seu primeiro disco, pela Star, com os sambas-canção Inverno, de Clímaco César e Desci, de Alcir Pires Vermelho e Cláudio Luiz. Foi por essa época que Paulo Gracindo começou a chamá-la de "minha namorada musical", em seu programa na Rádio Nacional, nos anos 1940, devido a sua técnica e afinação impecável. Depois, integrou vários conjuntos vocais (de diversas formações), alguns dos quais são: As Moreninhas, Cantores do céu e Vocalistas modernos. Além disso, participou do coro de inúmeras gravações na Rádio Nacional.
Em 1951, gravou pela Sinter o samba-canção Foi você, de Paulo César e Ênio Santos, e o bolero Canção de Dalila, de Victor Young, com versão de Clímaco César com o qual fez bastante sucesso. Nesta etiqueta gravou outros discos solo e também com o grupo As Moreninhas.
Em 1952, gravou os sambas Não quero lembrar, de Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques e Quero esquecer, de Brasinha, Salvador Miceli e Mário Blanco, a valsa Festa de aniversário, de Joubert de Carvalho e a marcha Um sonho que eu sonhei, de Alcyr Pires Vermelho e Sá Róris.
Em 1953, gravou o baião É sempre o papai, de Miguel Gustavo. No ano seguinte, gravou o bolero Meu sonho, de Pedroca e Alberto Ribeiro e o Baião manhoso, de Manoel Macedo e Marcos Valentim. Ainda em 1954, foi contratado pela Columbia e gravou o fox Canário triste, de V. Floriano com versão de Juvenal Fernandes e o samba canção Razão de tudo, de Umberto Silva e Nilton Neves.
Em 1955, gravou os sambas canção Sedução, de Carlito e Nazareno de Brito e Óculos escuros, de Valzinho e Orestes Barbosa, seu maior sucesso. Em 1956, gravou a toada Moreno que desejo, de Bruno Marnet e a valsa Natal das crianças, de Blecaute. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, Zezé Gonzaga, que foi considerado o melhor disco do ano e trazia entre suas faixas "Ai ioiô (Linda flor), de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, que passou a ser considerada uma de suas grandes interpretações, além de Nunca jamás, de Lalo Ferreira, numa versão de Marques Porto.
Em 1957, gravou os boleros Não sonhe comigo, de Fernando César, Tédio, de Fernando César e Nazareno de Brito e Vivo a cantar, de Cícero Nunes e Bruno Marnet. No ano seguinte, gravou o samba jongo Cafuné", de Denis Brean e Gilberto Martins e o samba canção Saia do caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui.
Em 1959, gravou duas músicas da parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes: o samba A felicidade e Eu sei que vou te amar. Em 1961, passou a gravar na Continental e registrou A montanha, de Agueró e Moreu, com versão de Fernando César e o samba Que culpa tenho eu?, de Armando Nunes e Othon Russo. No mesmo ano, gravou o bolero Há sempre alguém, de Luiz Mergulhão e Umberto Silva e o samba Um beijo, nada mais, de Almeida Rego e Índio.
Em 1962, gravou a balada Rosa de Maio, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, o rasqueado Decisão cruel, de Palmeira e o samba Neném, de Tito Madi.
Considerada uma das mais belas vozes do cast da Rádio Nacional, era com freqüência escalada para participar dos grandes musicais noturnos da emissora, dos quais eram responsáveis os grandes maestros como Radamés Gnattali, Léo Peracchi e outros. Gravou vários discos infantis pela fábrica Carrossel, com produção de Paulo Tapajós, e na Continental, quando se juntou aos Trios Madrigal e Melodia, para cantar e contar historinhas para crianças.
Na década de 1960, associou-se com o maestro Cipó e Jorge Abicalil em uma agência de jingles, vinhetas e trilhas para rádio, TV e cinema (a Tape Produções Musicais Ltda.), onde trabalhava como cantora e compositora. Em parceria com o escritor, produtor e apresentador de rádio Luiz Carlos Saroldi, compôs o tema de abertura do Projeto Minerva, apresentado pela Rádio MEC.
Em 1967, gravou o LP Canção do amor distante pelo selo Fontana com destaque para Sorri, de Elton Medeiros e Zé Kéti, Faça-me o favor, de Fernando César e Britinho, Não fique triste não, de Jorge Ben e Veja lá, de Luiz Fernando Freire e Baden Powell.
Em 1979, gravou com o Quinteto de Radamés Gnattali um disco em homenagem a Valzinho, que também participou do disco só de composições suas, com produção de Hermínio Bello de Carvalho. O disco Valzinho - Um doce veneno teve, além da edição brasileira, uma tiragem destinada ao mercado estrangeiro.
Fez algumas apresentações nos anos 1980 com o grupo Cantoras do Rádio, ao lado de Nora Ney, Rosita Gonzales, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima, que lhe renderam dois CDs. Em 1999 gravou o disco Clássicas ao lado da cantora Jane Duboc, que também rendeu show encenado no Rio, São Paulo e outras praças brasileiras. O disco trazia entre outras, Linda flor, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto, Olha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e Cidade do interior, de Mário Rossi e Marino Pinto, entre outras. No mesmo período, também participou do espetáculo Lupicínio Rodrigues, ao lado de Áurea Martins, montado em várias casas noturnas do Rio e de São Paulo.
Em 2000, participou do Projeto MPB: A História de Um Século, estrelando o primeiro da série de quatro shows no CCBB, Do choro ao samba, ao lado de Paulo Sérgio Santos e Maria Tereza Madeira, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.
Em 2001, apresentou show no Paço Imperial no rio dem Janeiro. Em 2002, gravou pelo selo Biscoito Fino o CD Sou apenas uma senhora que canta, dedicado à parceira de profissão Elizeth Cardoso, no qual interpretou, entre outras, Meu consolo é você, de Roberto Martins e Nássara, Vida de artista, de Sueli Costa e Abel Silva, Pra machucar meu coração, de Ary Barroso, Chão de estrelas, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa e Por que te escondes?, letra inédita do poeta Thiago de Mello para um choro de Pixinguinha.
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