quarta-feira, março 07, 2012

O condutor de bonde

O condutor de bonde vem sendo, há bastante tempo, personagem glosada em muitos sambas e marchinhas carnavalescas. Os compositores transformaram-no em mote, em assunto satírico, chistoso, de suas produções. As dificuldades que o humilde servidor da Light enfrenta nos dias da pagodeira quando os bondes rodam cheios, superlotados, carregando foliões em algazarra, dão motivo aos nossos musicistas de Carnaval para canções humorísticas, ironizantes, maliciosas, quase sempre de estribilho leve, de letra fácil de ser aprendida.

Um sem número de marchinhas e de sambas já foi feito. Seria difícil, quase impossível, rememorá-los todos com precisão. Todos foram cantados pela cidade inteira e passaram, muitas vezes, de um Carnaval para Outro, a despeito de canções novas que apareciam, de outros sambas e marchinhas mais recentes que traziam, ainda, a figura do condutor como assunto de suas letras.

Uma dessas canções feitas, há já bastante tempo, por J. Cascata e Leonel Azevedo, tinha o seguinte estribilho:

Não pague o bonde iáiá,
Não pague o bonde iôiô,
Não pague o bonde
Que eu conheço o condutor...
Quando estou na brincadeira
Não pago o bonde,
Nem que seja por favor.”

Era uma marchinha bonita, de música simples, que os foilões retinham no ouvido. E, depois, em blocos, grupos e cordões, trepados no estribo ou sentados nas costas dos bancos do bonde, entoavam bem alto, animados, enquanto o condutor, a custo, suando muito, equilibrando-se no balaústre, recolhia os níqueis, apanhava os tostões dos passageiros, ou seja das “iáiás” e dos “iôiôs”. Estes e aquelas, atendendo ao que pedia a canção, fazendo o que a marchinha mandava, esquivavam-se ao apelo do “faz favor”, relutavam em pagar a passagem.

Alvarenga e Ranchinho, os dois caipiras que o falecido Duque (Amorim Diniz) trouxe de São Paulo para apresentar ao Rio quando dirigia a Casa de Caboclo, que funcionou durante muito tempo no Teatro Phoenix, também usaram o condutor numa marchinha feita para animar um de nossos Carnavais passados.

Os dois conhecidos artistas, hoje já muito aplaudidos em nossos cassinos, teatros e auditórios de emissoras em que têm atuado com grande êxito, apresentaram, então, nessa canção carnavalesca, o condutor num segundo plano, pois que a letra se demorava passando em revista a nomenclatura e o itinerário dos bondes:

O bonde da Lapa
É cem réis de chapa.
o bonde Uruguai
Duzentos que vai.
o bonde Tijuca
Me deixa em sinuca
E o Praça Tiradentes
Não serve pra gente.”

A letra, engraçada, divertida, além de focalizar o recebedor da passagem, criticar os nomes das linhas, glosava o preço das viagens. Na composição, para lhe dar característica própria, para colori-la, entrou como efeito musical o “tim-tim” da campainha, recurso que a tornou espontânea e interessantíssima.

Era assim o seu estribilho:

Seu condutor, tim-tim,
Seu condutor, tim-tim,
Pára o bonde
Pra descer o meu amor.”

Nos idos de 46, no “Carnaval da Vitória”, assim chamado por ser o primeiro que se realizou após o término da Segunda Guerra Mundial, o mesmo Alvarenga, já então dissociado do seu companheiro Ranchinho e agora em parceria com Felisberto Martins, lançaram os dois uma sátira musicada ao sempre lembrado condutor. Era em ritmo de marcha a nova composição carnavalesca que teve o título de Canção do Condutor.

Reproduzimos aqui seus maliciosos e satíricos versos:

“Seu condutor,
Ali right!
Você assim
Vai acabar sócio da Light.

Seu motorneiro
Toca o bonde, toca o bonde,
o meu amor está esperando por mim.

Senão eu canto a canção do condutor
Que é sempre assim:
Um pra Light,
Um pra Light,
E dois pra mim.”

Duvidamos que o condutor, mesmo abusando dessa percentagem de “tubarão” acabe sócio da Light como os autores da marchinha preconizavam.

O condutor continua, até hoje, pendurado no balaústre dos bondes, usando o seu clássico “faz favor” como convite ao pagamento da passagem, como apelos aos caronas que se fazem surdos ou distraídos.

Após o “Carnaval da Vitória” os compositores deixaram em paz por muito tempo os condutores não os trazendo mais para motivo de suas produções. Cremos que nenhuma marchinha ou sambinha voltou a satirizá-los nesses oito anos.

Eis porém que A. Netto, Aldacir Louro e Rubens Fausto resolvem fazer ressurgir o inefável condutor e, quase reeditando as velhas canções, usando frases características de tais composições: o “tim-tim”, o “dois pra Light e um pra mim”, deram-nos no Carnaval deste ano o “Conduta do Taioba”.

o condutor veio apresentado na corruptela que a gíria usa e o veículo de segunda classe acompanhou-o também vindo na sua designação pitoresca.

Eis a letra em questão:

O conduta deste taioba,
diz que é honesto quando cobra,
mas toda vez que faz fim . . . fim...
logo vai dizendo, dois pra Light e um pra mim.
Ele anda pendurado o ano inteiro.
É muito vivo e não tem nada de otário.
Fazendo tim... tim ...
Fazendo fim... tim ...
Este conduta acaba milionário.”

(Revista da Música Popular, n° 5 — Fev. — 1955) 
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Fonte: Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira / Jota Efegê. - Apresentação de Carlos Drummond de Andrade e Ary Vasconcelos. — 2. ed. — Rio de Janeiro - Funarte, 2007.

Noel, o cantor mais expressivo da MPB

Pode-se dizer, com segurança absoluta, que Noel Rosa foi um dos maiores cultores de nossa música popular.

Quando se escrever uma história certa, precisa e bem analisada, da música ligeira carioca nas suas diversas modalidades denominadas, genericamente, samba e marcha, mas que dentro do ritmo ou andamento podem ser classificadas: samba-canção, samba-corrido, chula, batucada, etc., há de aparecer ao lado de Sinhô, Caninha, Donga, Pixinguinha estes precursores — o nome de Noel Rosa, como elemento destacado da nova geração onde se conta Lamartine Babo, Ary Barroso, Almirante, Nássara, João de Barro, Alberto Ribeiro e poucos outros capazes de glosar, com espírito de letra e música, um mote popular.

Os primeiros, os da antiga seleção de sambistas, não foram expressões próprias na cultura da música popular porque eles não traziam nos seus descantes de modo positivo, as coisas, os fatos, os modismos do ambiente em que viviam.

Eram muito influenciados pelo africanismo dos seus mentores: Hilário Ferreira, Germano (o do “Macaco é outro”), o velho Marinho (pai de Getúlio, Amor), a Tia Assiata e mais alguns filhos de africanos que ambientaram ao nosso meio o jongo dos “tios minas” como derivante musical dos pontos de candomblés.

Só mais tarde, Sinhô, João da Baiana, Caninha, Getúlio Marinho, Pixinguinha, Donga e poucos outros foram se personalizando, criando um estro próprio, embora apegados ainda à escola negra de onde vinham.

Passemos, numa revista ligeira, algumas das suas produções e verificaremos o elemento “afro” sempre conduzindo-os:

o cu-ba-bá, gelê
Vá para escola, aprender a lê...
................................
................................
“Eu só teria medo
Se não tivesse “bom santo”
..........................
..........................
Mas eu tenho fé no meu orixá ...
Que não há de deixá...
...........................
...........................
“Chora na macumba, o gongá

Além de outras que, rareando, pouco a pouco apareciam ainda com “bom santo”, despacho, macumba, etc.

Quando surgiu a nova corrente, criando uma escola diferente para o samba, fazendo-o canção brejeira das ruas, mais que simples toadas, Noel Rosa veio à frente e nesse posto ficou até quando a morte o veio surpreender.

Nesta hora em que os sambistas e ainda os marchistas, na feliz desinência de Orestes Barbosa, são arrolados e quiçá reconhecidos como compositores, mas que os afeitos às rodas de samba os classificam como tiradores de samba, porque era esse o termo usual dos morros para se designar os que arranjavam facilmente melodia e versos para serem entoados, Noel Rosa deve ser lembrado como compositor, compositor na verdadeira acepção do vocábulo.

Noel Rosa foi compositor porque era capaz de decompor e dizer a razão dos elementos que punha em suas composições. Não era um desses “com jeito pra coisa” que, às vezes, e muitas, são felizes nas suas produções.

Não! Noel Rosa conduzia, punha capricho nos seus sambas, burilava o seu estro. E quando a popularidade os aureolava ele não se surpreendia porque era com esse fito que se esmerava em fazê-los. Dava-se tão-somente, por bem pago.

Atestam o seu valor todas as composições da enorme, quão seleta bagagem que ele logrou fazer. O Com que roupa?, Palpite infeliz, Pra esquecer, Eu vou pra Vila e tantos outros que seria longo enumerar e cujos títulos não me ocorrem. Tiveram, todos, aquela marca de ironia e sátira, imbuidas num humor leve a refletir a filosofia espontânea do autor.

Parece-nos que foi César Ladeira, anunciando-o, certa vez, ao microfone, quem o cognominou o Filósofo do Samba. E vinha bem, à feição, esse apelido. Ele foi bem um símile de Diógenes, cheio de saber, a residir num tonel, sem preocupações outras do que viver a vida.

Ele poderia, talvez se o quisesse, ser um poeta e rabiscar versos pernósticos, rebuscados, para cantar os mesmos motivos dos seus sambas.

Com que roupa, eu vou
Ao samba que você me convidou?!

Não é isto a expressão despretensiosa, espontânea, que um menestrel cheio de requintes adornaria, talvez assim, para dizê-la com foros de poesia acadêmica.

Com qual indumentária, eu vou
À festa que teu convite me honrou?

E foi ele, sempre assim. Smples, sem circunlóquios, cantando de modo direto a sua ironia, musicando a sua filosofia.

Qual o malandro do morro que pedia o enterrassem no terreiro, deixando um braço de fora para tocar o pandeiro, ou que expressava a sua última vontade:

Quando eu morrer, não quero choro, nem nada,
Quero um belo samba, ao romper da madrugada”.

Ele pediu também, como “bacharel” saído da mesma escola:

Quando eu morrer não quero choro nem vela.
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela”.

E ele foi satisfeito. Ficou sobre o seu túmulo essa fita amarela da saudade, com o nome dela gravado. Mas não só com o nome dela, da amada. Gravou-se também o nome da outra. “Dela”. Dessa porção de admiradores que viu calar o cantor querido, o que não tinha medo de bambas por ser, na roda do samba, um “bacharel”.

(Revista da Música Popular, nº 3 — Dez. — 1954)
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Fonte: Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira / Jota Efegê. - Apresentação de Carlos Drummond de Andrade e Ary Vasconcelos. — 2. ed. — Rio de Janeiro - Funarte, 2007.

As pastorinhas – Uma tradição que desapareceu

Alguns dias antes do Natal já as pastorinhas traziam para as ruas da cidade o seu cortejo álacre de mocinhas e rapazes que cantavam e caminhavam dançando ao som das melodias que entoavam. Era uma tradição que vinda dos Estados se ambientava aqui na capital e dava uma nota característica aos festejos do nascimento do Menino-Deus.

Procuravam esses grupos reproduzir, rememorar a jornada dos pastores à cidade de Belém onde nascera o filho do carpinteiro José e da Virgem Maria, onde a criança escolhida para trazer os ensinamentos e os exemplos de bondade e cordura do Deus-Pai se fazia homem e iniciava assim o seu sublime apostolado de redenção, de reunir a humanidade novamente no seio do seu Criador do qual se desgarrara.

À frente desses bandos festivos, graciosa menina vestida com alva túnica branca trazia na ponta de uma vara, o mais alto possível, uma pequenina estrela. Era a guia, a estrela que levara os magos do Oriente à estrebaria humilde onde se encontrava o Messias.

Seguiam-na os três reis, com seus mantos bordados, compridos, rentes ao chão, carregando as pequenas arcas com os presentes que iam oferecer ao Menino.

Logo depois, puxando o cortejo de pastores vinha o “velho”, o Papai Noel. Barbas brancas, farta cabeleira de algodão, caminhava a custo, tremendo muito, apoiando-se no seu cajado. E cantava com voz grossa:

Caminhemos, caminhemos
À lapinha de Belém,
Visitar o Deus-Menino
Que salvar o mundo vem.”

E as pastoras, batendo as castanholas nas palmas das mãos, sacudindo os chocalhos, repetiam em coro, com alegria, sempre marchando e gingando o corpo mansamente ao ritmo da música suave que entoavam:

Caminhemos, caminhemos
À lapinha de Belém,
Visitar o Deus-Menino
Que salvar o mundo vem.

Esses passeios, esses desfiles eram feitos para as visitas aos presépios armados nas casas de pessoas amigas onde então as pastoras “tiravam a lapinha”, realizavam a cerimônia da adoração ao Menino-Deus e, ao mesmo tempo, faziam a apresentação do grupo. Chegando à casa onde estava armado o presépio o grupo de pastoras abria-se numa roda ao centro da sala e entoando os cânticos de saudação mostravam as figuras que o compunham.

Eram o caçador, a borboleta, a Samaritana, o Anjo Gabriel, os soldados, enfim um punhado de tipos que vinham, cada um por sua vez, ao centro do grande círculo e cantavam uma quadrinha ou sextilha na qual descreviam a personagem que representavam.

Depois, como nota humorística desse desfile, fazia-se o “Namoro do Velho”. Era uma cena simples, intuitiva, na qual o ancião se tornava “gaiteiro” e cheio de tremeliques aproximava-se das moças para dirigir- lhes galanteios. As pastoras evitavam-no, repetiam o velho cantando:

Sai daqui ó velho,
Velho impertinente,
Não faça vergonha
No meio da gente.”

o velho insistia. As moças repeliam-no cantando outra vez a quadrinha até que entre risos dos assistentes finalizava a cena. Cessava a música. Interrompia-se o cântico. Silenciava o compasso das castanholas. Os donos da casa traziam em bandejas, castanhas, rabanadas, figos, passas e distribuíam-nos com as pastorinhas e assistentes.

Ouvia-se o apito do mestre de cerimônias ou do diretor do conjunto e os visitantes aprestavam-se para sair. Os músicos atacavam a introdução da marchinha e as pastoras, arrastando os pés, marcando passo, deixavam a sala sob palmas e entre vivas, cantando:

Caminhemos, caminhemos
À lapinha de Belém,
Visitar o Deus-Menino
Que salvar o mundo vem.

Iam-se para outras visitas, seguiam em busca de outras casas para repetirem o mesmo espetáculo, para “tirando a lapinha” rememorarem o nascimento de Jesus na pequenina Cidade de Belém.

E, de casa em casa, cantando pelas ruas e nas salas que as recebiam festivamente, as pastorinhas passavam a noite procurando reproduzir ao vivo a jornada da gente humilde que acorreu pressurosa à estrebana onde aconchegado no feno da manjedoura foram encontrar Jesus - a criança escolhida para salvar a humanidade.

Eram assim as pastorinhas que em tempos idos anunciavam o Natal e enchiam de música e alegria a noite do nascimento do Messias.

Hoje, o progresso que destrói tradições, que mata os símbolos de saudade, que não permite a sinuosidade das divagações em que se rememora o passado e quer tudo em linha reta, rápida e decisiva, apontando do presente para o futuro, afugentou de nossas ruas os bandos festivos das pastorinhas.

Os poucos grupos que restam ficaram pelos subúrbios, pelos arrabaldes, onde ainda, na noite festiva da cristandade, continuam entoando seus cânticos, seguindo o velho trôpego que os conduz na jornada alegre, animando-os a prosseguir sempre:

Caminhemos, caminhemos
À lapinha de Belém,
Visitar o Deus-Menino
Que salvar o mundo vem.

(Revista da Semana, 28/12/1940)
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Fonte: Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira / Jota Efegê. - Apresentação de Carlos Drummond de Andrade e Ary Vasconcelos. — 2. ed. — Rio de Janeiro - Funarte, 2007.

Sandra de Sá

Sandra de Sá (Sandra Cristina Frederico de Sá), cantora e compositora, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1955. Expoente da Música Popular Brasileira, com denso enfoque em black music mundial. Carioca do subúrbio de Pilares, é considerada a rainha do soul brasileiro. É chamada por alguns de "Tim Maia de saias", por se identificar com o cantor no balanço e no timbre grave da voz, além de suas histórias juntos, uma delas foi o famoso clipe do hit Vale tudo, que Tim Maia escolheu Sandra para fazer o dueto com ele.

Sua africanidade já veio no sangue, pois é neta de um caboverdiano. Seu pai era baterista e, por isso, em sua adolescência Sandra frequentava os bailes de Gafieira, Samba e "soul music", em Pilares e adjacências, além de aprender sozinha a tocar violão e começar a compor suas letras com sua criatividade.

Em 1977, começou a estudar psicologia, na Universidade Gama Filho, curso que teve de abandonar quase no momento de concluir, pois despontou como compositora, tendo uma de suas composições da época, Morenando, foi gravada por Leci Brandão. E logo, depois como intérprete.

O sucesso para valer, como cantora, já no começo de 1980. No festival MPB 80, da Rede Globo, Sandra Sá (como então era chamada, o "de Sá" só incluído no nome artístico alguns anos depois) classificou Demônio colorido entre as dez finalistas e a música obteve repercussão nacional.

Após o Festival, Sandra foi contratada pela gravadora RGE, onde Cazuza trabalhava como divulgador, daí a amizade deles e com toda essa convivência, a amizade ficou profunda, se tornaram grandes amigos, tanto que o chá de bebê de Jorge de Sá, filho de Sandra, foi na casa dos "Araújos", coordenado por Lucinha, mãe de Cazuza e ele, o padrinho de batismo do bebê.

A trajetória de Sandra, nos anos 80, foi fulminante, novos discos de sucessos, composições próprias e de grandes autores, agenda de shows pelos bailes do país, preencheram sua agenda. Além de se tornar uma das maiores cantoras de trilha e aberturas de novela, como Enredo do meu samba", Picadinho de macho, entre outras.

Nessa época surgiram os maiores hits da carreira de Sandra de Sá, que foram as músicas Retratos e canções, Joga fora no lixo, Bye bye tristeza, e Solidão.

Nos anos 90, apesar do ritmo não ser tão acelerado, Sandra marca presença forte no mercado por: gravações incríveis com Djavan, Marina Lima, Carlinhos Brown, Titãs, coral Gospel Monte Mariah (USA), Herbert Viana, entre outros.

Em 2000, entre shows e eventos, gravou o seu CD "Momentos que Marcam Demais" com a participações especiais: de Falcão (O Rappa), o rapper Gabriel Pensador e Cássia Eller. Foi escolhido o seu show para a festa "Brasil 500 anos" em Miami/USA.

Em 2001, dentre os shows da turnê do CD lançado, fez um dos shows mais comentados do festival Rock in Rio pela sua memorável participação na Tenda Brasil e participou do evento "Independence Day" em NY/USA.

O termo “Música Preta Brasileira” também deu nome para o projeto musical alternativo que desenvolveu de 2001 a 2005 ao lado de Toni Garrido e Zé Ricardo. No qual, cantavam músicas de Tim Maia, da fase Racional, e de Jorge Benjor, do disco "Tábua de Esmeralda".

Em 2002, gravou um CD em homenagem à Motown com uma seleção de grandes sucessos, todos versionados em português, com incríveis participações como: Djavan, Smokey Robinson e do rapper Rappin Hood. E participou ativamente das do palco música - formato "Jam sessions" do evento Telefônica Open Air.

Em 2003, No final do ano, para comemorar 25 anos de carreira, lançou seu primeiro CD ao vivo que teve amigos como participações especialíssimas, tais como: Alcione, Toni Garrido, Luciana Mello e do parceiro de composições Gabriel Pensador. Assim, excursiona com sucesso pelo Brasil e esteve em alguns países como Portugal, África (Cabo Verde) e Estados Unidos.

Em 2004, lançou seu primeiro CD ao vivo e excursiona com sucesso pelo Brasil. Em 2005, além dos shows pelo Brasil, fez sua estréia no teatro ao lados do amigo, diretor e escritor Miguel Falabella e da super atriz Stela Miranda.

Sandra também despontou como atriz no seriado "Antônia", sobre cantores de rap da periferia de São Paulo, uma produção independente do cineasta Fernando Meirelles, veiculada a partir de novembro de 2006 pela Rede Globo.

Em 2007, além dos shows pelo Brasil, iniciou o projeto e pesquisa "Batucofonia", com o qual fez uma temporada de shows pelo Rio; Promoveu pelo Brasil, juntamente com o elenco e equipe, o filme "Antônia" que foi fonte do seriado lançado no ano anterior pela TV Globo.

Em 2008, já inicia o ano com destaque em Salvador, a frente pois, fica de frente em um dia do Expresso 2222 com Toni Garrido e do Bloco Skol com Adelmo Casé. No ano seguinte, Sandra inicia o ano priorizando a continuação do processo de pesquisa e gravação do seu novo CD, esteve direto em estúdio nas férias, fazendo sempre paralelos com a agenda de shows. Depois, seguiu pelo Brasil, entre shows e eventos diversos, esteve em todas as regiões do país, marcando presença em Porto Alegre, Canela, Florianópolis, São Paulo, Vitória, Brasília, Salvador, Piauí, Natal, entre outros locais.

Em 2010, em Janeiro, dividiu-se entre os ensaios das Escolas de Samba do Rio (Mangueira) e SP (Leandro de Itaquera). Em fevereiro, na semana de Lançamento para as lojas do seu novo CD AfricaNatividade - Cheiro de Brasil (pela Universal Music em parceria com a Nega Produções), Sandra sentiu algumas dores e foi internada, no Hospital São Lucas, pelo diagnóstico de Diverticulite. Entretanto, saiu após 5 dias, podendo dar continuidade à agenda.

Foi uma das homenageadas por uma das mais tradicionais Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a Mangueira, sob o enredo "Mangueira é música do Brasil", no 6º Setor - "Tropicália", tendo uma ala sobre os Festivais de Música com a fantasia "Demônio Colorido", nome da composição de Sandra que ela "defendeu" no Festival da TV Globo MPB 80.

Discografia

Demônio Colorido (1980)
Sandra Sá (1982)
Vale Tudo (1983)
Sandra Sá (1984)
Sandra de Sá (álbum) (1985)
Sandra Sá (1986)
Sandra! (1990)
Lucky! (1991)
D'Sá (1993)
Olhos Coloridos (1994)
A Lua Sabe Quem Eu Sou (1997)
Eu Sempre Fui Sincero, Você Sabe Muito Bem (1998)
Momentos que Marcam Demais (2000)
Pare, Olhe, Escute! (2002) - Sandra de Sá traduz os sucessos da Motown
Música Preta Brasileira (2004)
Música Preta Brasileira (2004) - Sandra de Sá ao Vivo
AfricaNatividade - Cheiro de Brasil (2010)

Fonte: Wikipedia.

Ameno Resedá ressurge

Agremiação famosa na história do Carnaval carioca, pois que inovando os festejos de Momo deu-lhes muito de graciosidade a par de certo sentido artístico, o Ameno Resedá, em 1932, não pretendia voltar às ruas. Grêmio carnavalesco de gloriosas tradições, cognominado pela imprensa ‘rancho-escola’, já que fora ele o pioneiro desse gênero de desfile alegórico-musical no tríduo da folia, não tinha, então, seu fastígio de outrora. Era, apenas, alimentado pela tradição, simples sociedade dançante.

A última vez que se apresentou ao povo, passeando pela cidade feérico cortejo subordinado ao tema Jupira, em 1925, logrou grande sucesso. Não conseguiu repetir as proezas de anos anteriores, superando seus coirmãos, mas, mesmo assim, na competição de que participou, patrocinada pelo Jornal do Brasil, mereceu expressiva menção honrosa. Um júri de que faziam parte, entre outros, Oswaldo Teixeira, Modestino Kanto e Freire Júnior, concedeu-lhe essa láurea.

Herbert Moses provoca o ressurgir

Sempre exaltado nos jornais, mesmo quando já em declínio, pois seus feitos brilhantes em muitos carnavais obrigavam a venerá-lo, o Ameno Resedá gozava, conseqüentemente, de grande prestígio na imprensa local. Convidava-a para todas suas festividades e a tinha sempre presente, representada pelos cronistas carnavalescos. Resolveu, portanto, num assomo revigorante, acontecido durante a realização de um dos bailes levados a efeito nas proximidades da eclosão momesca, homenagear aquele que presidia os jornalistas tão seus amigos: Herbert Moses.

Estava o infatigável paredro do periodismo citadino iniciando ainda sua longeva e quase perpétua presidência da Associação Brasileira de Imprensa, mas já a marcava com operosidade notória. Assim, reconhecido às gentilezas recebidas dos jornais, o ‘rancho-escola’ deliberou, conclamando sua ‘velha guarda’ (Napoleão, Negasinha, Sady), retornar ao asfalto para uma passeata sem grande fausto, porém capaz de reavivar seu nome que parecia esquecido do grande público. Faltava-lhe, na carência de numerário em que vivia, condição para competir com seus antigos rivais. Iria, apenas, fazer uma simples ressurreição de homenagem.

Um “ranchinho” na ABI

Zelando pela sua tradição, não querendo comprometê-la em um desfile que não teria a imponência de seus áureos tempos, o Ameno Resedá frisava, ao divulgar sua resolução, ser, então, simples “ranchinho”. Nesse caráter, mas sob a égide do famoso grêmio carnavalesco, enviava ofício ao homenageado: “...Tenho a subida honra de comunicar a V. Exa. que, por deliberação unânime da Junta Governativa, o Clube Ameno Resedá fará uma passeata na segunda-feira de Carnaval como uma homenagem...“. Seguia- se, estendido em várias linhas, um arrazoado da distinção comunicada pelo referido expediente.

E, consoante a finalidade da saída que se verificava, após sete anos de ausência das lides momísticas, o “ranchinho” representativo do Ameno Resedá, na chamada segunda-feira gorda, era recebido festivamente na sede da ABI, na rua do Passeio, esquina da rua das Marrecas. Herbert Moses emocionado via, enchendo o salão da entidade por ele presidida, graciosas jovens que, trajando bonitas fantasias, cantavam marchas melodiosas. Espetáculo que o Correio da Manhã, dias após, registrava: “... os cantos admiravelmente bem ensaiados, as figuras vestidas com uma graça perfeita...”.

Moses, sócio benemérito do Ameno Resedá

Sensibilizado com o gesto do popularíssimo ‘rancho-escola’, o presidente da ABI, no decorrer da visita que era feita à entidade jornalística, ofereceu ao grêmio homenageante um vistoso bronze. Não o entregou naquela oportunidade. Fê-lo, passado o Carnaval, na própria sede do Ameno Resedá, na rua Visconde do Rio Branco, quando ali se levou a efeito o baile comemorativo do sucesso alcançado na memorável passeata.

Requintando ainda mais o gesto que tivera em homenagear o presidente da Associação Brasileira de imprensa, a quem devia sua ressurreição, o Ameno Resedá, no discurso então pronunciado por um de seus dirigentes, comunicava a Herbert Moses lhe ter sido conferido por decisão da assembléia geral, dias antes realizada, o título de sócio benemérito. Ligava-se, desse modo, num complemento à homenagem prestada, o nome do incansával dirigente da prestigiosa agremiação de jornalistas a um dos mais famosos ranchos do Carnaval carioca.

Coisa que se fazia com muita justiça, pois Herbert Moses provocara o ressurgir, em 1932, do tradicional ‘rancho-escola’.

(O Jornal, 13/01/63)
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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.

Maria Adamastor

O rancho Reinado de Siva, tendo Maria Adamastor (indicado pela seta) como mestre-sala.

Seu nome verdadeiro, aquele com que firmava documentos e papéis oficiais, era Maria da Conceição César. Ganhou, no entanto, um apelido que, juntado ao seu prenome, passou, desde então, a identificá-la na vida comum mas, principalmente, nas lides carnavalescas: Maria Adamastor. E foi com essa antonomásia, nascida de simples incidente, de mera brincadeira, que brilhou nos folguedos de Momo integrando, como porta-estandarte e mestre-sala (baliza), vários ranchos dos mais famosos entre seus congêneres.

A velha guarda do tão decantado Carnaval carioca que conheceu a nossa festa máxima nos seus áureos tempos, há de se recordar, sem dúvida alguma, do Rosa Branca, do Flor da Romã, do Papoula do Japão, do Reinado de Siva. Todos eles ranchos que se tornaram tradicionais no histórico da folia momesca e dos quais Maria Adamastor, quando não formou entre os fundadores, teve sempre lugar de destaque como dirigente ou integrando seus vistosos cortejos.

Do navio veio o apelido

Seu apelido, o cognome sob o qual se popularizou, surgiu, com já se disse, de ocasional gracejo: “Puxa, você parece o Adamastor!”. Dessa frase, dita por uma sua colega em quem, durante os ensaios de um dos ranchos a que pertencera, dera acidentalmente um esbarrão fazendo-a cair, originou-se um novo nome para Maria César. Comparando-a ao cruzador português que estava fundeado na Guanabara para, como homenagem do governo luso, participar das festas de posse do marechal Hermes da Fonseca na presidência da República (em 1910), a atingida tornava proscrito o legítimo sobrenome de Maria. Nascia, então, a alcunha Maria Adamastor.

Esse apelido que proclamava a potência da belonave portuguesa, consoante o orgulho da colônia lusa, jamais se despegou da popularíssima carnavalesca. Chegou mesmo a ter foros de nome próprio como se pode deduzir de certa notícia publicada muitos anos depois (1921) no Jornal do Brasil. Registrando a passagem do rancho Reinado de Siva em frente à sua redação disse o veterano matutino: “... Foi mais um grande sucesso na avenida Rio Branco, tendo a mestre-sala, Sra. Maria Adamastor, que se achava ricamente fantasiada, executado admiráveis manobras e dançado com pose inexcedível...“

Do Jardineira ao Reinado de Siva

Carioca, nascida na rua do Hospício (hoje Buenos Aires), Maria César, por sua convivência com os baianos que trouxeram para o Rio os ranchos dos festejos natalinos e carnavalescos da ‘boa terra’, era tida por muitos como vinda daquele Estado. Juntando-se a eles recolheu seus ensinamentos e começou por fundar o Jardineira e, mais tarde, o Rosa Branca. Em 1909, já com sua comadre Juliana Emília dos Santos, a quem se deve muitos dos informes aqui expostos, fazia parte do Papoula do Japão, que tinha sede na rua Dona Feliciana nº 2 e no qual, por eleição, tinha o cargo de Mestra.

Imperando já os ranchos no Carnaval da Sebastianópolis, pois que os barulhentos zé-pereiras e os briguentos ‘cordões’ iam desaparecendo para dar lugar à inovação graciosa e musical, Maria Adamastor passou a ser disputada por quase todos eles.

Formou, assim, no Sempre Vivas, no Flor da Romã, no Rei de Ouros, no Macaco é Outro, e muitos outros. Ora figurava no cortejo como porta-estandarte garbosa, impondo-se aos aplausos do povo, ora era a mestre-sala em bizarras evoluções coreográficas em que demonstrava leveza de movimentos e porte fidalgo.

No Reinado de Siva a despedida

Já consagrada, com o seu nome pronunciado com certa veneração nas rodas carnavalescas, Maria Adamastor ingressava, em 1921, no rancho Reinado de Siva, cuja sede estava situada na rua Senador Pompeu. Suscitava, na ocasião, o seguinte registro num matutino:”... Maria Adamastor, a rainha das diretoras de ranchos, assumiu, de verdade, a responsabilidade das pastoras do Reinado de Siva. O Titinho vai dedicar-lhe uma marcha...”. Tal nota, simples, sintética, dizia bem do valor da aquisição feita pelo grêmio referido para seu próximo desfile nos prélios que então se travavam na avenida Rio Branco.

Tivemo-la, conseqüentemente, brilhando nos majestosos cortejos que o rancho apresentou em 1921 e 22, subordinados, o primeiro, ao tema Lei Áurea e, o segundo, ao Jardins Suspensos da Babilônia. Em ambos, confirmando o renome que tinha, vestida luxuosarnente, exibindo-se com rara mestria, logrou os mais calorosos elogios da crônica carnavalesca que, naquela época, tinha lugar de destaque na imprensa citadina. Achou, porém, que devia encerrar suas atividades carnavalescas e dedicou-se, depois disso, a cuidar apenas de sua casa de petisqueiras a baiana, no velho Mercado Municipal.

Morre Maria, fica a fama

Ataulfo Alves, compositor que tem enriquecido o nosso cancioneiro popular com tantas produções de sucesso, diz numa delas estar certo de que não terá o seu nome jogado “na lama”, pois, conclui rimando, “morre o homem fica a fama”. Com Maria Adamastor que vimo-la triunfante nos ranchos a que pertenceu, que teve em suas casas da rua da América e rua Nabuco de Freitas o assédio de carnavalescos solicitando seu concurso para diversos ranchos, acontece agora exatamente isso. Seu nome, o apelido que a tornou célebre no Carnaval carioca, desfruta merecida fama.

Numa modesta casa de subúrbio na Piedade, depois de longa doença, faleceu deixando um nome que se tornou tradicional entre os carnavalescos dos velhos tempos. Não só a sua fiel comadre e companheira por muitos anos de folguedos, Juliana Emília dos Santos, o pronuncia com veneração. Todos que a conheceram, que conhecem ou vierem a conhecer a contribuição dada por Maria Adamastor à grandiosidade de nosso Carnaval (a despeito de tudo, ainda tido como ‘o melhor do mundo’) hão de, igualmente, perpetuar a sua fama, como proclama o sambista.

(O Jornal, 30/12/63)
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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.

Os musicistas populares esqueceram o Natal

João de Barro
Outrora quando as festas carnavalescas não começavam tão cedo como sucede hoje, em que desde novembro os rádios já estão lançando as modinhas que vão empolgar os foliões no tríduo de Momo, e a temporada do rei da galhofa tinha o seu verdadeiro início com os bailes de máscaras na noite de São Silvestre, os musicistas populares, os sambistas e “marchistas” (esta designação é de Orestes Barbosa) dedicavam também ao Natal muitas de suas produções.

Um sem número de canções brejeiras, de marchinhas saltitantes, falava do nascimento de Jesus, exaltava a bondade do Papai Noel, amigo das crianças, que enchia os sapatinhos postos à janela ou ocultos nos fogões, de brinquedos, de festas. Outras, chorosas, dolentes, interpretavam o lamento, a queixa do menino pobre, desprezado, a quem o velhinho não visitava, não lhe deixava um presentinho qualquer.

Umas e outras, tristes ou alegres, sentidas ou exultantes, diferenciavam inteiramente, no ritmo e no motivo, dos cânticos que os grupos de pastorinhas entoavam nos seus desfiles e nas lapinhas dos presépios. Eram simples canções das ruas, com música e letra fáceis, espontâneas, que o povo de pronto aprendia e as assoviava e cantava nos seus folguedos, nas comemorações natalinas.

Houve uma dessas canções, uma marchinha, composta pelo musicista Assis Valente, que alcançou sucesso extraordinário. Êxito este ainda bem recente e que nos permite lembrar, sem grande esforço de memória, muitos dos seus versos bonitos e expressivos. Era alguém, uma criança pobre, talvez sem mimos. que contava a história do seu Natal triste, sem árvores carregadas de brinquedos, o sapato vazio:

Anoiteceu,
O sino gemeu
E a gente ficou
Tristonha a rezar.

E a canção prosseguia, assim, triste, lamuriosa:

E eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel.

Anos depois, já nas proximidades dos festejos de Momo, quando todo o repertório de músicas alegres, ligeiras, já estava riscado nos discos que as emissoras irradiavam dia e noite, João de Barro lançava uma canção de Natal que havia feito em parceria com Noel Rosa.

O seu ritmo cadenciado, lento, idêntico aos das marchinhas de ranchos e cordões carnavalescos, fez com que a classificassem como “marcha de rancho” embora a sua letra não fizesse referência alguma a pierrôs, colombinas, baianas de roda ou outro qualquer motivo carnavalesco. Descreviam os seus versos, isto sim, e com muita fidelidade a jornada das pastorinhas ao presépio de Belém, seguindo a estrela que anunciava o nascimento de Jesus:

A estrela d’alva
No céu des ponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor.

As pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos cantos de amor.

Seguiam-se outros versos que bem poderiam ser atribuídos ao “velho”, figura característica dos grupos de pastorinhas, ou a um pastor enamorado que os cantasse à sua amada:

Linda pastora,
Morena, da cor de Madalena,
Tu não tens pena
De mim que ando tonto
Pelo teu olhar.

Linda criança,
Não me sai da lembrança,
Meu coração não descansa
De tanto, tanto te amar.

Mas os foliões sem se importar com a letra fizeram-na marchinha carnavalesca. E, nos três dias de folia, blocos, grupos e mascarados cantavam sob chuva de confete o cântico dedicado aos bandos álacres de pastorinhas, a canção que elas deveriam cantar caminhando pelas ruas quando saíssem na noite de Natal para visitar os presépios.

Os musicistas populares esqueceram o Natal...

Dão todo o seu estro, toda a sua bossa ao Carnaval, aos amores de malandro, à vida dos barracos, às histórias dos morros, como se só aí encontrassem inspiração.

Os musicistas populares esqueceram o Natal....

E o nascimento do Menino-Deus é um manancial sublime e encantador de motivos que se podem cantar em versos espontâneos, com melodias fáceis e bonitas.

(Revista da Semana, 21/12/1940)
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Fonte: Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira / Jota Efegê. - Apresentação de Carlos Drummond de Andrade e Ary Vasconcelos. — 2. ed. — Rio de Janeiro - Funarte, 2007.