sábado, fevereiro 15, 2014
Odete Amaral, expressão do samba
"Quando Odete Amaral resolveu cantar ao microfone, dirigiu-se aos estúdios da Rádio Guanabara, em 1934. Odete era nesse tempo, uma garota que possuía apenas, bom ouvido e boa voz.
Cantando sambas, foi, não obstante, imediatamente contratada pela referida emissora. Havia na voz de Odete, já naquela ocasião, qualquer coisa particular. Depois todos viram que Odete Amaral cantando sambas era uma legítima revelação.
Hoje ela é uma das cantoras mais aplaudidas do nosso “broadcasting”.
Pessoalmente, Odete não se parece com a voz triste com que interpreta sambas. É uma criatura alegre, dona de um tipo gracioso e cheio de vivacidade. Morena brasileira, fluminense, porque nasceu no Estado do Rio, mas que parece carioca por muitos motivos, adora o Carnaval, gosta de cinema. Acha o Rio lindo. Não acredita no amor, mas acha o “flirt” um ótimo passatempo. Não lê romances. Mas gosta de ler jornais.
Falando a CARIOCA, declarou que há um meio simples de conseguir uma boa situação no “broadcasting”.
— Ter persistência e boa vontade com o próximo.
Odete é a artista que admira sinceramente todas as colegas. Nunca faz críticas e se espanta quando lhe apontam defeitos sobre as interpretações alheias. Sobre ela mesma acolhe com um sorriso os elogios. Mas no íntimo não acredita: ela acha que ainda está começando ...
Por que prefere o samba-canção
Odete Amaral, que tem sido uma artista vitoriosa, desde que ingressou para o rádio, já atuou em quase todas as estações do Rio, tendo já gravado, com sucesso, duas interessantes composições.
Agora, contratada pela PRD-2, Odette continuará gravando. O seu repertório compõe-se, quase todo, de sambas dolentes. Odete prefere o samba-canção, diz ela, porque se harmoniza bem com a sua voz ... Um samba triste, numa voz que parece um soluço. Mas quando acaba de interpretar uma daquelas composições sentimentais Odete sai do estúdio rindo. Porque as músicas tristes são muitas vezes ótimos pretextos para iludir o próximo ... Odete não é sentimental.
O matrimônio, uma finalidade
Apesar de levar muito a sério a sua carreira radiofônica, Odete Amaral acha que o casamento é a única finalidade da existência.
— Penso em casar-me naturalmente. Mas não penso em deixar o rádio por causa disso.
Ela é uma criatura calma, que acredita sinceramente na felicidade matrimonial. Também se espanta quando alguém discorda das suas ideias, mas não as modifica por causa disso. É alguém que pensa firme, mas sem alardes e grandes opiniões.
Odete Amaral não tem, na vida, grandes ambições, além de sempre conseguir sucesso.
— Recebi, há pouco tempo, uma proposta para ir filmar e cantar em Buenos Aires,
Odete achou interessante a ideia. Mas até agora ainda não resolveu nada ..."
Fonte: Foto e reportagem da revista "CARIOCA", de 24/11/1936 (texto atualizado)
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