terça-feira, setembro 04, 2018

Osvaldo Molles - Biografia

Osvaldo Molles (Santos, SP, 1913 - São Paulo, SP, 14/05/1967) aos 16 anos de idade iniciou sua carreira no jornalismo, trabalhando na redação do Diário Nacional e, em seguida, no São Paulo Jornal e no Correio Paulistano.

Viajou pelo interior do Brasil escrevendo reportagens sobre os nordestinos. Fixou residência em Salvador (BA), ocasião em que se juntou ao grupo fundador de O Estado da Bahia.

De volta a São Paulo, participou do lançamento da Rádio Tupi, iniciando sua carreira de grande sucesso na radiofonia nacional, que continuou crescente nas rádios Bandeirantes e Record.

Entre suas produções, podemos citar: História das Malocas, O crime não compensa e a História da literatura brasileira, levada ao ar durante dois anos consecutivos e que contou com a colaboração de Oswald de Andrade e Sérgio Milliet, dentre outros.

Como compositor fez, em parceria com Adoniran Barbosa e João B. dos Santos, o samba Conselho de mulher (1953); Tiro ao álvaro, com Adoniran; e em 1968 torna-se sucesso o samba Mulher, patrão e cachaça, feito também com Adoniran.

Inspirado em Saudosa Maloca, samba de Adoniran lançado pelos Demônios da Garoa em maio de 1955, Molles criou, na Rádio Record, o programa História das Malocas, onde Adoniran figurava como Charutinho, um negrinho malandro e boêmio, com sotaque italianizado dos paulistanos.

Gostava dos fraseados errados do companheiro, considerando-os a expressão do autêntico modo de falar do povo. E foi com a pretensão de aprofundar esse mergulho no espírito popular que Molles produziu esse programa. Sucesso absoluto, História das Malocas ficou no ar durante dez anos, de 1955 a 1965, chegando até a ser levado para a televisão.

Acompanhava de perto e incentivava todo o processo de criação de Adoniran Barbosa. Era ele quem enviava Adoniran para longos passeios pelas redondezas, para observar e extrair histórias para seus programas. Também foi Molles quem deu chance para o amigo e parceiro interpretar diversos tipos.

A parceria dos dois deu tão certo que, em 1946, a imprensa chamava Adoniran de "o milionário criador de tipos" e, Molles, "o milionário criador de programas". Nesse ano, Adoniran fazia nada menos do que dezesseis interpretações diferentes.

Na TV Record, produziu Gente que fala sozinho e outros sucessos, tendo sido agraciado, por onze anos consecutivos, com o Prêmio Roquete Pinto, além dos Prêmios Tupiniquim (4 vezes), Paulo Machado de Carvalho (melhor programador de 1959) , tendo sido condecorado com a Medalha de Ouro do Mérito Radiofônico. Com o roteiro do filme Simão, o caolho, obteve o Prêmio Governador do Estado de São Paulo e o Prêmio Saci.

Poeta, contista e romancista, conquistou o Prêmio Castro Alves e o Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, tendo suas crônicas publicadas nos jornais paulistanos O Tempo, Folha de São Paulo e Diário da Noite e na revista Manchete. Alguns críticos diziam ser ele o sucessor, na literatura paulista, de Antônio de Alcântara Machado.


Fontes: MPB Compositores - Adoniran Barbosa - Editora Globo; Piquenique Classe C - Boa Leitura Editora – São Paulo, sem data, pág. 345; Releituras.com.

O Nascimento da Orquestração Brasileira - Artigo


Antes de Pixinguinha, o samba das orquestras tinha som de maxixe e os arranjos eram da escola italiana. Com ele, o colorido sonoro ganhou tons verde-amarelos, criando a maneira brasileira de se fazer ouvir.



Ary Barroso foi um dos primeiros a protestar contra a forma como os sambas e outros ritmos brasileiros estavam sendo gravados, nos momentos da expansão da indústria fonográfica no Brasil. Não que tivesse algo de pessoal contra os maestros e instrumentistas estrangeiros encarregados de executar nossas músicas, mas bastava simplesmente ouvi-los para sentir a falta de sotaque brasileiro.

Os arranjos obedeciam à escola italiana, os músicos tocavam como nos velhos tempos dos maxixes, não se observava a presença de ritmistas nas orquestras, faltando molho e sabor nacionais às gravações.

A solução veio com um gênio negro, nascido no Rio de Janeiro, em 1898, e que, aos 12 anos, já era considerado o maior flautista da cidade. No futuro, viria a sê-lo também do Brasil e, em termos de música popular, talvez do mundo. Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, que já tivera a grande experiência internacional liderando Os Oito Batutas em Paris, era nome conhecido e respeitado como músico e líder, quando sua carreira de arranjador, uma guinada em seu destino e no da música popular brasileira, aconteceu.

A primeira vez que formou uma orquestra, ou algo parecido, foi na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, no Rio de Janeiro. Como ele mesmo contava: “A Rádio Sociedade tinha um estúdio na Exposição.Tinha aqueles alto-falantes e fui irradiar da Exposição. Eu e Zaíra de Oliveira, grande cantora e que veio a ser posteriormente esposa do Donga (...) toquei em uma exposição da General Motors, da qual participou também Villa-Lobos. Eu organizei uma orquestra popular, com instrumentos de orquestra”.

Sérgio Cabral, na biografia de Pixinguinha, aclara: “O compositor e pianista Eduardo Souto, encarregado de convidar os artistas e as orquestras que iriam apresentar-se diariamente, pediu a Pixinguinha para organizar uma orquestra, tarefa cumprida com a participação de todos os batutas e mais o reforço de Bonfiglio de Oliveira e da cantora Zaíra de Oliveira. (...) Durante toda a exposição, Pixinguinha e sua orquestra tocaram diariamente no pavilhão da General Motors”.

Pixinguinha escrevendo músicas.

Nascia o primeiro maestro brasileiro a tocar música com o nosso sotaque. A primeira escola de arranjos para Pixinguinha foi o teatro de revista. Foi em composições suas e alheias que o maestro burilou o estilo e iniciou o trabalho de criação de uma forma brasileira de execução orquestral. Seu jeito de levar para a pauta a parte de cada instrumento, no todo de um arranjo, foi ganhando forma na soma de trabalhar muitos ritmos e maneiras de fazer música. Ele próprio, compondo para revistas, fazia músicas japonesas, americanas, argentinas, francesas e por aí afora.

Em 1928, logo após a implantação da gravação elétrica no Brasil, Pixinguinha pôde usar a gravadora Odeon como laboratório para seus experimentos orquestrais. Gravou como nunca, músicas dele e de outros compositores. Apresentava-se como Pixinguinha e Conjunto, Orquestra Típica Pixinguinha, Orquestra Típica Pixinguinha-Donga e Orquestra Típica Oito Batutas.

Em maio de 1928, em companhia de Donga, forma uma orquestra de caráter inteiramente brasileiro. Criada para tocar na II Exposição de Automobilismo, Autopropulsão e Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro, dos 40 músicos, 34 eram instrumentistas de cordas e ritmo, visto que Pixinguinha e Donga objetivavam, com essa orquestra “típica”, fazer frente às jazz bands e às típicas argentinas, febre musical da época.

A consolidação como maestro e arranjador viria em 1929, quando a gravadora Victor contratou Pixinguinha como seu orquestrador de discos e maestro da Orquestra Victor Brasileira. Em, no mínimo, seis gravações por ano, apareceria como solista de flauta, completando suas funções.

Sérgio Cabral destaca a partir daí a importância dessa orquestra para o panorama da música brasileira de então, já que finalmente se passou a tocar música brasileira de um jeito brasileiro, incluindo aí o samba provindo do Estácio. As orquestrações de Pixinguinha podiam ser reconhecidas de imediato.

As introduções que criava, compondo sobre temas alheios, deram tom definitivo ao arranjo nacional. A de O teu cabelo não nega chega a ser tão lembrada quanto a própria música. Sem nunca ter parado de estudar e trabalhar, Pixinguinha é uma referência até hoje para os maestros brasileiros, como continuará sendo amanhã.


Fonte: História do Samba - Editora Globo.

Waldir Calmon - Biografia

Waldir Calmon (Valdir Calmon Gomes), pianista e compositor, nasceu em Rio Novo-MG (30/1/1919) e faleceu no Rio de Janeiro-RJ (11/4/1982). Aos 11 anos já tinha aprendido a tocar piano com a mãe. Entretanto, sua primeira aspiração era ser cantor. Para tanto, foi crooner num conjunto em que formou em Juiz de Fora-MG em sua época escolar.

Em 1936, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu o compositor e flautista Benedito Lacerda e graças a ele, passou a apresentar-se nas rádios Guanabara e Transmissora, inicialmente como cantor, depois como pianista, com o nome Waldir Gomes.

A partir de sua transferência para a Rádio Cruzeiro do Sul, adotou o nome artístico de Waldir Calmon, que não constou de sua primeira gravação, acompanhando Ataulfo Alves em Leva meu samba (Mensageiro), no ano de 1941.

Depois de formar o grupo Gentleman da Melodia, que durou apenas alguns anos, tocou nos Teatros Rival e Serrador, além da boate Meia-Noite, do Copacabana Palace, todos no Rio, e em cassinos, como o Atlântico (Santos, SP). Foi por essa época que começou a tocar o primeiro solovox (pequeno teclado incorporado ao piano, precursor dos sintetizadores) trazido para o Brasil, popularizando o instrumento.

Com o fechamento dos cassinos, em 1946, foi atuar na boate Marabá-SP. Um ano depois, voltou ao Rio e foi contratado pela boate Night and Day, no Centro, onde permaneceu pelos oito anos posteriores.

Em 1951, começou a gravar discos de 78 rpm no selo Star. Na década de 50 seus discos Ritmos Melódicos (na etiqueta Discos Rádio), Para Ouvir Amando, Chá Dançante e Feito para Dançar (Copacabana) venderam como água. Foi o pioneiro a gravar sucessos dançantes em faixas únicas, ininterruptas, adequados a animar festas, eternizando nos acetatos o som que produzia nas boates de então. Nesse período, atuou na Rádio Tupi e na Rádio Serviço Propaganda, gravando muitos jingles.

Em 1955, deixou a boate Night and Day e abriu sua própria casa noturna, a popular Arpège, no Leme (RJ), que funcionaria até 1967 - onde atuaram João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, além de Chico Buarque, que fez um de seus primeiros shows, em 1966, ao lado de Odete Lara e MPB-4.

Seu conjunto era formado nessa época por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo) e o próprio Calmon, ao piano e solovox, que rivalizava as atenções do público com Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo na boate vizinha, o Drink. Gravou quatro LPs intitulados Uma Noite no Arpège.

Depois de arrendar sua boate, continuou atuando em bailes e excursões. Entre 70 e o começo de 77, atuou com sua orquestra de baile no Canecão (RJ), antes e depois do show principal. Nos últimos anos de carreira, passou a tocar também sintetizadores. Morreu em 1982 de infarto do miocárdio.


Fonte: Clique Music.