quarta-feira, fevereiro 19, 2014

O samba e suas intérpretes


Por que o samba é diferente na voz de cada uma de suas intérpretes?  O samba é um ritmo vitorioso. Nascido das primeiras expansões de um povo triste, conseguiu evoluir, vivendo hoje dentro do sorriso feliz de toada a gente.

Música que se modifica durante todo o ano, apresenta-se paradoxalmente durante o Carnaval, num estilo só. É o samba com a obrigação de ser alegre.

Mas as cantoras de rádio — que são as principais animadoras do ritmo fremente, sabem variá-lo de acordo com as suas próprias interpretações. O samba torna-se diferente nos lábios e na voz de cada uma, muda de aspecto, de acordo com a personalidade que o interpreta, conseguindo as mais variadas expressões.

As artistas que se dedicam ao gênero popular, devem muito ao êxito do samba o sucesso das suas carreiras. Mas também elas são reconhecidas ao ritmo que não exige muita voz, nem muito estudo para o triunfo definitivo. Apenas personalidade. E é essa mesma personalidade que se desdobra, se multiplica, dando a cada intérprete do samba uma particularidade nova.

Carmen Miranda

Carmen Miranda - 1936
O samba na voz de Carmen Miranda tem uma finalidade única: agradar, empolgando o público. Carmen canta para os seus fãs, gosta de ver muita gente em redor de si, entusiasma-se com o próprio entusiasmo que desperta.

Nos seus lábios, o samba é um ritmo brejeiro, que segue literalmente a personalidade e o temperamento da sua intérprete. Canta sorrindo, enfeitando a música, sem cuidar de vãos e efêmeros sentimentalismos.

— O samba é para mim, antes de tudo um meio fácil de conseguir uma boa situação na vida, declara a a popular cantora que é atualmente a artista mais bem remunerada do “broadcasting” carioca.

A atual estrela de PRE-3 não se inspira nos romances de todo o dia para ajudar a sua interpretação — para ela, o samba é bem a música que evoluiu ...

Aracy de Almeida

Quando Aracy surgiu cantando sambas, há algum tempo, disseram que ela estava procurando assimilar o estilo de Marília Batista. Aracy sacudiu a cabeça, onde as ideias parecem vários batalhões em marcha e continuou cantando.

Hoje, o samba tem na voz de Aracy de Almeida uma das suas principais intérpretes. O samba cantado pelo timbre da sua voz é diferente: malandro sem ser “brejeiro”, vivo porém sem rebuscamentos de “breques” fora do compasso é positivamente criado pelo seu temperamento original.

— Não faço questão de microfone, diz ela. O que eu quero é cantar, tenha público em roda, ou não, ou existam unicamente as quatro paredes do meu quarto.

Ela é o samba na sua expressão mais tropical. Um samba que sabe onde nasceu, que não nega a sua origem e tem orgulho de ser simplesmente samba ...

O microfone de PRE-8 conhece bem os caprichos da vitoriosa artista, concedendo-lhe de vez em quando férias, capazes de ajudá-la a satisfazer o seu grande desejo: cantar sempre, em toda a parte ... Agora mesmo, Aracy regressa de uma de suas excursões ao sul, continuando a encantar os ouvintes da PRE-8.

Aurora Miranda

Aurora é a artista que teve a obrigação de ser diferente: lançada e guiada pelo tirocínio de Carmen Miranda, ouvindo a todo o instante o inconfundível estilo da sua vitoriosa irmã, Aurora sentiu mais que todas as outras intérpretes de samba vontade de criar um modo pessoal, um gênero particular de interpretar o exploradíssimo ritmo. E venceu, deixando de lado toda a expansão inútil e exterior. Ela é a personificação do samba discreto, bem ensaiado, agradavelmente cantado.

Acompanhando Carmen Miranda, contratou-se recentemente na Rádio Tupy. Ali Aurora continua cantando criteriosamente, apresentando aos ouvintes do “Cacique do Ar” um samba ultracivilizado e tão bonito como o seu sorriso sem artifícios ...

Marília Batista

— “Princesinha do Samba”, chamou-a há tempos Paulo Roberto.

— “A melhor cantora”, dizem alguns fãs exaltados. — “Uma menina que ainda está começando” ... — declara Marília com o seu mais ingênuo sorriso.

Marília Batista - 1936
Mas a verdade é que Marília tem um pensamento para cada novo samba e um samba novo para cada audição. Ela é a campeã da inspiração, a esplêndida recordista da música popular, a garota para quem o samba é sempre a confissão que os lábios nunca diriam, se o samba não existisse ...

— O meu primeiro vagido foi ritmado em compasso de samba, diz Marília. Trago o samba nas veias, sinto-o pulsando dentro do meu peito em perfeita harmonia com o tic-tac do coração ...

Ela é a única artista que se dedica apaixonadamente ao sentimento das suas audições. O microfone, diante dela é um pretexto para as suas íntimas expansões e a sonhadora inquietude das suas ideias.

Garota que nasceu artista, não precisa fingir para cantar com a expressão mais verdadeira.

— Sozinha, com o meu violão, cantarolando, eu amo o samba, componho-o como se procurasse descobrir um novo mundo ou inventasse um motivo decisivo para minha felicidade, — diz Marília com um olhar dos seus olhos grandes, cheios de vivíssima luz. A esplêndida cantora conseguiu em pouco tempo um lugar marcante entre as principais intérpretes de samba do nosso “broadcasting”.

Odete Amaral

Odete também é diferente, porque segue, enquanto canta, todos os seus impulsos. Faz-se triste, sente-se verdadeiramente infeliz, enquanto interpreta um samba falando de traição e de abandono. Mas quase sempre deixa o microfone rindo e nunca se preocupa demasiadamente com a música que já cantou.  Interessa-a a nova audição — embora seja inteiramente diferente.

Na sua voz o samba é lento, lembra sempre alguém que procura por sua própria vontade retardar uma finalidade qualquer.

Mas é um ritmo vitorioso, porque a voz de Odete é bonita, a sua expressão embora falsa encanta e também porque ela possui principalmente o que é essencial para vencer no “broadcasting”: personalidade.

O seu contrato na PRD-2 foi recentemente renovado.

Alzirinha Camargo

Alzirinha Camargo - 1936
O samba foi para Alzirinha uma lição de filosofia prática. Ela interpretava canções folclóricas tristes e passadistas, quando ganhou de presente um samba cheio de vida e de alegria. Interpretou-o, logo de início, com uma voz viciada pela garoa de São Paulo. Mas venceu. A sua própria voz foi aos poucos se modificando, adquirindo um timbre decisivo para a interpretação perfeita do seu novo gênero.

Hoje, Alzirinha é diferente por muitos motivos: aprendeu com o samba a viver sorrindo, a cantar pensando com alegria nos seus últimos contratos.

— O samba é bom de ser interpretado, principalmente durante o período carnavalesco, diz a vitoriosa cantora que sempre consegue nessa época o mais sensacional êxito.

Ela é a boneca loura do samba, motivo de inspiração para a própria melodia que lhe deu sucesso.

Dircinha Batista

Diricnha Batista - 1936
A “garotinha deliciosa” ainda não firmou definitivamente a sua interpretação. Por enquanto, é ainda uma criaturinha cheia de vida, que gosta de contar ao microfone as mágoas alheias, mas sem sentir absolutamente nenhum abalo com as demonstrações sentimentais. A sua voz, cantando, é naturalmente triste. Fala talvez de uma personalidade emotiva que repousa escondida dentro dos seus sentidos juvenis. Mas é ainda uma promessa ...

— Canto samba desde pequenina. Antes, interpretava músicas do repertório de outras cantoras, hoje tenho o meu.

Dircinha agrada. Viva, inteligente, cheia de encantador desembaraço, é uma artista que poderá se firmar definitivamente no gênero escolhido. Na PRA-9 ela continua a apresentar continuamente novos sambas de vários autores. Na sua voz, o samba também é diferente: porque ensaia com vida as primeiras emoções ...


Fonte: CARIOCA, de 12/12/1936 (texto atualizado).

Aurora Miranda para os fãs do rádio

Aurora Miranda apareceu como satélite de Carmen Miranda e encorajada por Francisco Alves, que a lançou em músicas de São João, em discos, no rádio e no palco do Recreio, onde interpretou com sucesso uma das músicas premiadas no primeiro concurso de músicas de junho de "A Noite", intitulada "Cabôco do zóio grande".

Aurora Miranda cantou na Phillips, na Mayrink Veiga e, agora acompanhando sempre os passos da irmã, está na Rádio Tupy. Aurora esteve em Buenos Aires e conquistou aplausos cantando para o público portenho.


Fonte: CARIOCA, de 12/12/1936.

domingo, fevereiro 16, 2014

Francisco Alves para os fãs do rádio

Francisco Alves, indiscutivelmente uma grande figura de cantor, um dos nobres mais populares do naipe masculino, do “broadcasting” carioca, nasceu a 18 de agosto de 1898, à rua da Prainha, nesta capital.

Estudou as primeiras letras na Escola Tiradentes, jogou futebol em Vila Isabel, trabalhou como operário na fábrica de chapéus Mangueira e, mais tarde, apaixonando-se pelo teatro, estreou-se no antigo São Pedro, em uma companhia dirigida pelo maestro Roberto Soriano.

Trabalhou em várias outras companhias, sobretudo em revistas, pelo espaço de vinte anos. Compôs várias músicas, algumas das quais, com letra de Orestes Barbosa, se tornaram populares, como, por exemplo, “Flor do asfalto”, “Há uma forte corrente”, “Dona da minha vontade”, etc. Excursionou por vários Estados brasileiros e, ultimamente, obteve grande sucesso em Buenos Aires.

Francisco Alves deu à publicidade uma autobiografia, sob o título “Minha vida”, em que há muito pitoresco e da qual extraímos parte dos dados para esta nota. Já cantou em quase todas as estações cariocas e gravou discos para várias companhias, começando na época em que se pagava aos cantores apenas 20$000 por execução das duas faces de um disco. Foi quem descobriu, ensaiou e lançou Aurora Miranda.


Fonte: CARIOCA, de 5/12/1936 (texto atualizado).

sábado, fevereiro 15, 2014

Odete Amaral, expressão do samba


"Quando Odete Amaral resolveu cantar ao microfone, dirigiu-se aos estúdios da Rádio Guanabara, em 1934. Odete era nesse tempo, uma garota que possuía apenas, bom ouvido e boa voz.

Cantando sambas, foi, não obstante, imediatamente contratada pela referida emissora. Havia na voz de Odete, já naquela ocasião, qualquer coisa particular. Depois todos viram que Odete Amaral cantando sambas era uma legítima revelação.

Hoje ela é uma das cantoras mais aplaudidas do nosso “broadcasting”.

Pessoalmente, Odete não se parece com a voz triste com que interpreta sambas. É uma criatura alegre, dona de um tipo gracioso e cheio de vivacidade. Morena brasileira, fluminense, porque nasceu no Estado do Rio, mas que parece carioca por muitos motivos, adora o Carnaval, gosta de cinema. Acha o Rio lindo. Não acredita no amor, mas acha o “flirt” um ótimo passatempo. Não lê romances. Mas gosta de ler jornais.

Falando a CARIOCA, declarou que há um meio simples de conseguir uma boa situação no “broadcasting”.

— Ter persistência e boa vontade com o próximo.

Odete é a artista que admira sinceramente todas as colegas. Nunca faz críticas e se espanta quando lhe apontam defeitos sobre as interpretações alheias. Sobre ela mesma acolhe com um sorriso os elogios. Mas no íntimo não acredita: ela acha que ainda está começando ...

Por que prefere o samba-canção

Odete Amaral, que tem sido uma artista vitoriosa, desde que ingressou para o rádio, já atuou em quase todas as estações do Rio, tendo já gravado, com sucesso, duas interessantes composições.

Agora, contratada pela PRD-2, Odette continuará gravando. O seu repertório compõe-se, quase todo, de sambas dolentes. Odete prefere o samba-canção, diz ela, porque se harmoniza bem com a sua voz ... Um samba triste, numa voz que parece um soluço. Mas quando acaba de interpretar uma daquelas composições sentimentais Odete sai do estúdio rindo. Porque as músicas tristes são muitas vezes ótimos pretextos para iludir o próximo ... Odete não é sentimental.

O matrimônio, uma finalidade

Apesar de levar muito a sério a sua carreira radiofônica, Odete Amaral acha que o casamento é a única finalidade da existência.

— Penso em casar-me naturalmente. Mas não penso em deixar o rádio por causa disso.

Ela é uma criatura calma, que acredita sinceramente na felicidade matrimonial. Também se espanta quando alguém discorda das suas ideias, mas não as modifica por causa disso. É alguém que pensa firme, mas sem alardes e grandes opiniões.

Odete Amaral não tem, na vida, grandes ambições, além de sempre conseguir sucesso.

— Recebi, há pouco tempo, uma proposta para ir filmar e cantar em Buenos Aires,

Odete achou interessante a ideia. Mas até agora ainda não resolveu nada ..."


Fonte: Foto e reportagem da revista "CARIOCA", de 24/11/1936 (texto atualizado)

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Pipoca, em flagrantes do Carnaval do passado

"Pipoca", o popular folião, uma figura alegre e bizarra para a época, carioca demais, dando o grito de "Carnaval" pela Rádio Nacional, quando o cantor Orlando Silva iniciou nessa emissora a irradiação das músicas carnavalescas para o Reinado de Momo de 1937.

Pela fantasia, nota-se uma influência do cinema baseada, talvez, em Charles Chaplin? É uma pena que não se tenha mais nenhum dado (por enquanto) desse homem alegre e divertido de um Rio maravilhoso de outrora ... 


Fonte: Foto e reportagem da revista "CARIOCA", de novembro/1936.

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

O rádio num domingo de 1936

Adhemar Casé, do "Programa Casé", o
mais antigo do "broadcasting" carioca
Os leitores desse artigo, podem imaginar, talvez, a tristeza da falta de uma TV para assistir à um programa dominical, com a família, pelos canais abertos ou pagos. Eu, nos abertos, desligo ou troco de emissora por não suportar os gritos do Faustão e outros similares, também insuportáveis. Na infância ouvi, com os meus pais, as últimas novelas transmitidas pelo rádio.

Em 1964/65, ainda criança, virei "televizinho". Em 1966, vovó comprou um aparelho de TV Semp ... 

Agora transcrevo, para nosso português atual, um artigo que descreve a programação radiofônica carioca aos domingos do ano de 1936, mostrando como os radiouvintes se divertiam girando o "dial" do rádio (quando não iam ao cinema ou namorar):

“Os estúdios radiofônicos do Rio, quase sempre dão bom-dia ao sol e aos ouvintes transmitindo, logo de início, qualquer marcha alegre e movimentada. Depois, com exceção da Rádio Nacional, que transmite pela manhã aulas de ginástica a cargo do conhecido professor Oswaldo Diniz Magalhães, todas elas iniciam muito cedo irradiações de discos populares ou gravações selecionadas.

À noite, somente à noite, é que surge a compensação dos programas de estúdio, com artistas autênticos, que o público pode ouvir e ver. E essas figuras animadas dão uma grande vida ao aspecto dos estúdios — aspecto que se modifica em quase todas as emissoras do Rio aos domingos, dia em que as famílias se reúnem em casa, e no qual os artistas quase sempre preferem passear.

O domingo que despovoa as ruas centrais da cidade e orna as praias com as mais lindas figurinhas é, no entanto, radiofonicamente falando, um dia mal distribuído: enquanto algumas emissoras cerram as suas portas, irradiando unicamente os já conhecidos programas de discos, outras batalham no ar, espalhando melodias generosas.

Noel, o jovem cantor do "Programa Casé"
(desenho de Luiz Gonzaga, de 1936)
Atualmente, pouquíssimas estações de rádio transmitem programas de estúdio, aos domingos, sendo tal fato oriundo dos mais diversos motivos.

A Rádio Guanabara, por exemplo, sempre teve os seus estúdios repletos de artistas e compositores durante as transmissões dos seus programas especiais, aos domingos. O “Nosso Programa”, feliz iniciativa de Cristóvão de Alencar, reunia na “estação do povo” os mais entusiastas elementos do nosso “broadcasting”.

Mas hoje, esperando mudar de frequência e aumentar a força dos seus transmissores, a PRC-8 resolveu abolir os programas de estúdio. E aos domingos, por algum tempo, os ouvintes poderão ouvir a voz do “amigo velho” anunciando os mesmos heroicos discos de sucesso.

A Rádio Jornal do Brasil é uma estação que não apresenta grande diferença nesse particular, porque, possuindo um “cast” selecionadíssimo, e uma coleção de discos verdadeiramente primorosa, não oferece ao ouvinte chance para distinguir um programa de estúdio, de um outro de “música de conserva” ...

A Rádio Educadora possui programas alugados que se apresentam agradavelmente. “Programa de Luiz Vassalo”, durante o dia e “Programa Lamounier”, à noite.

O domingo parece ser mesmo um dia favorável aos programas particulares, os quais encontram amplidão entre as outras “ondas desocupadas”...

O antigo “Programa Francisco Alves” transmitido aos domingos pela PRE-2, estação que atualmente não conta com programas de estúdio aos domingos.

O veterano “Programa Casé”, passeando por várias emissoras do Rio, estando por último na Rádio Transmissora, sempre foi um motivo de agrado dos ouvintes que permanecem em casa, atentos ao receptor.

A Rádio Cruzeiro do Sul, até há poucas semanas, tinha uma grande atração por intermédio do “Programa dos Calouros”, de Ary Barroso. Mas hoje, premiada a “caloura” mais interessante, Clô Hardy, artista que se exibiu em outros programas de estúdio, perdeu a PRD-2 aquela novidade domingueira ...

E os discos ajudam incríveis situações nos estúdios desertos, enquanto outras emissoras apresentam um aspecto quase estranho de força de vontade, em quererem ter um pouco mais de vida.

A Rádio Tupy e a PRE-8, Rádio Nacional, não parecem dar muita importância ao feriado assinalado pela folhinha. O número vermelho — sinal solene de um descanso obrigatório, encontra, muitas vezes, junto ao microfone da PRG-3, os lábios igualmente rubros de Alzirinha Camargo, cantando, em “carne e osso”, junto ao microfone feliz.

Os vestidos leves de Sylvinha Mello decoram e servem de modelo de elegância aos estúdios da Rádio Nacional, demonstrando assim que somente ali fora, nas casas de moda, é que modelos se escondem, aos domingos.

Mas que fazem neste dia outros artistas, que ganham férias?

Muitos são fãs de rádio.

Cristóvão de Alencar
Dora Barbiere Gomes procura ouvir as colegas, passando quase todo o dia às voltas com o “dial”.

Outros preferem ir ao cinema e também muitas vezes assistem novamente aos “colegas”, como Gilda de Abreu, a deliciosa “Bonequinha de seda”.

Luiz Americano, embora quase sempre programado na Rádio Nacional, onde toca com uma grande perícia o seu instrumento predileto: saxofone, possui em casa, completas coleções de discos célebres. Ficando em casa, em raros domingos, ouve todos os artistas notáveis da sua preferência.

Mara da Costa Pereira quando não tem programa na Rádio Tupy, nem quer ouvir falar em lendas amazônicas, microfones, músicas folclóricas. O domingo é para ela, sempre que pode um dia de refúgio para expandir outras predileções e divertimentos.

Tânia Mara, a fina intérprete de canções do Rádio Club, gosta de domingos. Dia burguês e algo deselegante, o domingo sempre o dia que provoca as mais desencontradas opiniões, gere, também, muitas vezes, a lembrança dos melhores folguedos.

Mas no “broadcasting” carioca o domingo é um dia que tem vida própria.”


Fonte: CARIOCA, de 14/11/1936 (fotos e texto atualizado)

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Bateria! Sentido!

Luciano Perrone, o rei dos bateristas - 1936
"Quando se fala numa orquestra, imediatamente vem à tona o nome do seu diretor e o elogio ou a crítica desfavorável ao seu valor. Sobre ele, as opiniões divergem. Dele decorre o mérito da orquestra.

Aos elementos que a compõem ninguém se refere. Ninguém lembra sequer que um conjunto musical nada mais é que o produto do esforço individual de cada um dos seus componentes. Uns, mais destacados, outros, mais humildes, todos porém, sob a direção do maestro, concorrendo para um mesmo fim — a execução perfeita de uma página musical.

Numa grande orquestra destinada à música inspirada dos compositores de renome mundial, ou num “jazz” de ritmo infernal e maluco, a bateria é hoje um dos instrumentos principais e, pela sua complexidade de objetos, dos mais difíceis de tocar. Dia para dia, ampliam-se em número os instrumentos que a compõem. Já estamos bem longe dos tempos em que um simples bombo e as caixas davam conta de toda esta parte da orquestra.

Hoje, há uma série de aparelhos complicados: Belo, campanas, xilofone, etc. Tão diversos são em sua essência estes instrumentos que, não raro, difícil se torna encontrar quem os saiba tocar a todos conjuntamente. No Rio, bem poucos poderão gabar-se de tal capacidade e entre estes está Luciano Perrone, o bateria da Rádio Nacional, que, além deste instrumento, toca piano e é profundo conhecedor de música, como o provou há pouco, com a orquestra que organizou para a “Parada das Maravilhas”, a inesquecível festa da Pequena Cruzada no Municipal — “clou” da “saison” elegante de 1936.

Luciano, que é carioca, nasceu em 1908. Desde criança revelou tendência para a música. Seu pai, Luiz Perrone, foi diretor de orquestra em quase todos os cinemas que em 1919 conhecia o Rio: o Avenida, Palácio, Odeon com as duas salas e outros. No Odeon, Luciano fez a sua estreia, substituindo, num dia, o músico efetivo, que havia adoecido.

Era então um garoto de pouco mais de quatorze anos, cheio de entusiasmo e desejo de triunfar. Depois, foi para o Cinema Parisiense, onde, pela primeira vez, foi apresentada a bateria americana, até então desconhecida entre nós. Fez parte de muitas orquestras no Rio de Janeiro e em São Paulo e, quando apareceu a Rádio Cajuti, fazia parte da orquestra. Dissolvida esta, Luciano foi para o Rádio Club e correu em seguida a Transmissora e a Cruzeiro, fazendo atualmente parte da PRE-8 (Rádio Nacional do Rio).

Luciano Perrone tem em sua vida duas gratas recordações: ter sido o primeiro a oferecer ao público um concerto de bateria, o que aconteceu na Rádio Cajuti, e ter sido o primeiro a gravar este instrumento em discos. A bateria até pouco era malquerida e afastada das gravações. Coube a ele reabilitá-la e provar que o instrumento não era pernicioso, como se pensava, a produção de bonito som nos discos.

Muito jovem, pertencendo à moderna geração da música brasileira, Luciano Perrone tem consigo um ideal — elevar a nossa música, a música brasileira.

Sonha com uma orquestra bem organizada e bem ensaiada que possa levar ao mundo, em, interpretações perfeitas, a magnitude da nossa melodia e a riqueza incomparável dos nosso ritmos ..."


Fonte: CARIOCA, de 31/10/1936 (texto atualizado).

Abigail Parecis, uma cantora de classe

Quando ela nasceu, recebeu o primeiro beijo do sol. Porque nas tabas dos índios o sol entra à vontade dentro das casas, como um senhor onipotente. 

No interior da oca humilde da tribo dos seus pais, ela confundiu os seus primeiros vagidos com o som desordenado do maracá.

Depois cresceu como “Iracema”. Aos 9 anos de idade era uma indiazinha de grandes olhos negros, dentes fortes e expressão ingênua. Mas já não estava mais nas selvas do Paraná.

Uma expedição civilizadora levou-a, junto com os seus pais, para longe dos tacapes e murucus, para longe do seu querido sol selvagem.

E só por isso ela deixou de ser Iracema.

Abigail, seu nome de batismo, servia agora para conduzir pela vida uma menina civilizada, que estudava vários idiomas, aprendia a saber-se portar na sociedade, dentro de todas as normas da boa educação.

Mas os traços do seu rosto falavam de uma heroína de romance que existiu outrora nas selvas do Brasil, dentro da fantasia de Alencar. “Iracema”, dona de cabelos tão negros como a asa da graúna e tão longos como o seu talhe de palmeira ...  Também ela concertava com “ará”, sua companheira e amiga, o canto agreste. “Iracema” também devia ter uma linda voz.

Mas Abigail, deixando de ser a índia mais linda da sua tribo, guardava outro destino mais glorioso. Um bondoso professor italiano, maestro Phillipo Alessio adotou-a como filha, notando logo, assim que a menina chegou aos doze anos, o timbre puro e encantador da sua voz.

Depois de estudos persistentes, apareceu a cantora. Estava morta a lenda. Surgiu Abigail Parecis.

A vida que parece um romance ...

Diante de Abigail Parecis a curiosidade — romancista inveterada — tem um interesse maior. Porque ela surge como uma evocação. Junto dela estão figuras lendárias, fragmentos de romances, restos de páginas lidas.

Insensivelmente vamos desejando sentir na sua vida um capítulo qualquer de fantasia.

Mas Abigail desfaz essas impressões com um sorriso claro e despreocupado.

— A minha vida parece um romance, inegavelmente, mas um romance que parou no meio ou mudou de rumo. Falta-me, principalmente, para parecer com a “Iracema”, o “Guerreiro branco” — não tenho guerreiros na vida ... — declarou, sorrindo.

Ela não se interessa pelo amor. Declarou-o com simplicidade, com os olhos negros, muito abertos, num desafio ás opiniões alheias. Pensa, principalmente, na sua arte.

— Quando comecei a cantar, adotando o gênero lírico, sonhei em realizar grandes viagens, já fui à América do Norte, país adorável onde consegui, com felicidade, agradar plenamente. Pretendo, muito em breve, ir a Itália, aperfeiçoar-me, afim de ter inteira segurança na carreira que estabeleci para o meu destino.

Ela não tem outros ideais. Conseguir a glória e dar uma boa situação aos seus velhos pais.

Abigail adora sua mãe, a qual, além de amiga e conselheira é uma lembrança viva e permanente da sua romanesca origem.

Hoje, que Abigail já não parece índia, sendo muito mais clara que qualquer garota moderna que frequenta as praias cariocas, se declara saudosa dos ambientes onde não viveu ...

Restos de lembranças ancestrais.

Como cantora lírica, Abigail é, presentemente um dos elementos de relevo do “cast” da Rádio Nacional, interpretando, com perfeição, todas as óperas célebres.

— “Madame Butterfly” e “La Bohéme”, são as minhas óperas prediletas. Cantei, quando me exibi no Teatro Municipal a “Traviata” mas não estabeleço comparações entre essas músicas. Gosto de todas. Também já filmei em Hollywood para a Paramount e sincronizei parte falada de “Noivado de ambição”, um filme exibido há pouco tempo.

Ela não é fanática pelo cinema. Gosta de esportes violentos, box, luta romana, etc. Mas também gosta de bordar e pintar.

Fala com perfeição o francês, o inglês, italiano e espanhol. Mas em nenhum desses idiomas é capaz de dizer — “eu te amo”!

— Estou casada com a minha arte e acho que os homens são muitas vezes criaturas que não desconfiam de nada.

Ela é alegre e atenciosa. Incapaz de uma indelicadeza, tem no entanto essa ojeriza pelo sentimento —- fato que poderá ser, talvez, a única fantasia da sua vida — uma vingança espiritual de “Iracema” contra todos os sofrimentos do amor.


Fonte: CARIOCA, de 31/10/1936 (texto atualizado).

sábado, fevereiro 08, 2014

Nuno Roland, um novo cantor

CARIOCA de Outubro/1936: "Um novo cantor de linda voz e optima interpretação"

Nuno Roland apareceu no Rio para provar que ainda existe muita linda voz escondida esperando apenas uma chance para surgir vitoriosamente. Ele ainda não é inteiramente conhecido. Mas a Rádio Nacional tem-se encarregado de espalhar por toda a parte o timbre rico e bonito da sua voz, causando surpresas e comentários.

Nuno Roland iniciou a sua carreira radiofônica na PRC-2, Rádio Sociedade Gaúcha, passando depois a atuar na Rádio Educadora Paulista, estação que manteve a exclusividade da sua voz durante dois anos e meio. Nuno Roland, em São Paulo, adquiriu um grande número de admiradores, que o incentivaram na carreira escolhida. Aliás, ele é dono de um grande entusiasmo.

Falando a CARIOCA demonstrou possuir elevado grau de confiança no seu futuro.

Diferença de ambiente

— O rádio em São Paulo oferece uma grande diferença do ambiente artístico carioca. Há menos publicidade, menor incentivo, embora o público seja gentil e interessado pela carreira dos artistas. Nasci em Joinville, porém permaneci pouco tempo em Santa Catarina, empenhado em viajar pelos outros Estados. Aliás, conto um dos meus grandes desejos em poder, um dia, viajar bastante, conhecendo outros países. Almejo visitar a Argentina.

Nuno Roland nunca praticou excursões artísticas, fato que não o tem impedido de se popularizar. Ele começou a cantar com a idade de dezoito anos, exibindo-se em festivais, sendo constantemente aplaudido com entusiasmo, até ingressar no “broadcasting”, em 1933, conseguindo ainda maior sucesso.

Nuno, atualmente na Rádio Nacional, tem sido uma das revelações da “turma” paulista, ora no Rio. Ele não pretende sobrepujar o prestígio de ninguém, tanto que ainda interpreta inúmeras composições dos seus colegas de arte.

— Almejo, no entanto, organizar um repertório próprio, exclusivamente meu, fato que irei realizar agora com a ajuda de vários compositores. Em São Paulo, há faltas deles. Essa observação se baseia em fatos concretos, uma vez que também não existem artistas interessados em lançar primeiras audições. Ary Barroso, André Filho, Assis Valente e outros serão os “padrinhos dessa minha nova fase.

Nuno Roland também aprecia grandemente o talento de Orestes Barbosa, o poeta dos compositores radiofônicos.

O cinema em foco

— O cinema é a arte que está sempre na moda. Penso nela como um meio de expansão, porque reconheço que o microfone, embora admirável, restringe muito as atitudes dos artistas que sentem a melodia.

Nuno Roland sente intensamente as músicas que interpreta, embora não pertença à classe de artistas que afugentam o microfone com as expressões fisionômicas que praticam.

Nuno Roland é um rapaz simpático que muita gente acha parecido com Dick Powell, um dos seus artistas cinematográficos prediletos.

— Acho inadmissível a semelhança. Aliás faço questão de parecer-me exclusivamente comigo mesmo.

Ele admira todos os seus colegas radiofônicos. Em teatro nunca pensou. Gosta de ler livros de aventuras.

— A vida já é uma grande aventura, complicada em muitos pontos, mas que sempre nos desperta a curiosidade de saber o fim.

Não tem pretensões a filosofar sobre as situações humanas. É alguém que vive com a máxima naturalidade. Gosta de amar.

— O amor é a única felicidade que existe sobre a terra. Acho que a própria tristeza que o amor às vezes nos empresta, age como um estimulante poderosíssimo.

Já tem tido grandes emoções: quando gravou o seu primeiro disco. E quando se estreou na Rádio Nacional, cantando pela primeira vez no Rio, numa grande estação.


Fonte: CARIOCA, de 24/10/1936 (fotos e texto atualizado).

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Lar, doce lar ...

Aracy não acredita em "lar, doce lar"
Astros e estrelas longe do microfone

O lar pode ser um ótimo refúgio para os dias de chuva, na opinião de uma criatura boêmia que nunca para em casa. Mas também será o local preferido pelo honesto chefe de família que procura descanso. É a única situação humana e verdadeira na vida de uma mulher artificial. Assim como um pretexto para variar de atitudes.

Verdadeiramente, o lar é local onde o cidadão fica à vontade: de chinelas cômodas e “robe de chambre” despretensiosa. Os artistas de rádio também ficam assim, muitas vezes, nas situações simples da vida cotidiana.

Aquela moça loura, por exemplo. Dentro da casa de chá elegante, fuma com displicência e discute modas.

É a figurinha bonita de Sylvinha Mello. Sylvinha, criatura fina e graciosa, é um dos ornamentos mais gentis da sociedade carioca. Mas Sylvinha, no lar, é alguém que prende os cabelos numa fita simples e passa todo o seu tempo cosendo e bordando. A vitoriosa artista da Rádio Nacional não gosta unicamente de cantar. O estúdio é um passeio festivo. Mas o lar ...

Elizinha tem seu filho, a maior alegria do lar
Há criaturas que sonham com um lar que nunca tiveram. Porque uma casa verdadeiramente ao gosto de cada um é difícil.

— Esta expressão: “lar, doce lar”, é falsa — diz — Aracy de Almeida. — Quando chego a casa tiro os sapatos e início grandes arrumações. Quando eu me disponho a isso, é um caso muito sério!

Aracy às vezes fica zangada ao ponto de não tolerar ninguém fazendo barulho ao seu redor.

Francisco Alves também tem uma afilhadinha que é a sua ocupação constante, quando está em casa. O aplaudido artista ensina-a a cantar e a dançar.

Chiquinha Jacobina
Chiquinha Jacobina, como trabalha de dia e canta de noite tem pouco tempo para permanecer em casa. Mas, assim mesmo, quando o consegue, estuda canto e se ocupa com uma porção de afazeres domésticos. Conclui o seu enxoval. E sonha com a felicidade.

Elizinha Coelho pertence à classe de criaturas que realizam milagres nos lugares onde moram. O lar de Elizinha é gracioso e elegante. Um apartamento cheio de almofadas, bonecas e Luiz Philippe, o seu encantador filhinho.

— Gasto todo o meu tempo, em casa, cuidando do garoto — declara Elizinha. Às vezes ele resolve passear de automóvel e espalhar os brinquedos por todo o canto. Aí sou obrigada a desempenhar várias funções ao mesmo tempo.

Elizinha se transforma em inspetor de veículos e consegue também voltar ao alegre período da infância. Dentro de casa ela é menos triste, do que o demonstra cantando ao microfone.

Glorinha Caldas
Marília Batista é uma artista original ao microfone da PRE-8. Mas, em casa, ela faz questão de esquecer os seus sucessos radiofônicos.

— Estudo e bordo. Também faço tricô e gosto de me ver às voltas com novelos de lã, pontos complicados e cortes de fazenda.

A sua figurinha minúscula quase desaparece nos amplos estúdios da Rádio Nacional.

Ela é a soberana do seu lar, gostando também de se entreter com a irmãzinha caçula, uma deliciosa garota que também já está aprendendo a cantar sambas.

Glorinha Caldas tem uma predileção esquisita quando está em casa. Gosta de ficar fumando, incessantemente. Glorinha pouco fuma, em público, mas em casa tira uma “revanche”.

— Também leio e escrevo. Mas o cigarro é o meu companheiro melhor e inseparável.


Fonte: CARIOCA, de 17/10/1936 (texto atualizado e fotos)

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Lulu Santos

Lulu Santos (Luiz Maurício Pragana dos Santos), cantor, compositor, guitarrista e produtor, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4/5/1953. Já vendeu mais de 7 milhões de discos, tem 16 singles no Brasil e 29 canções entre as 10 mais tocadas. Filho de pai militar, começou a tocar aos doze anos de idade formando uma banda inspirada nos Beatles chamada de Cave Man. Contrariando o desejo de seu pai, de que também se tornasse militar, fugiu de casa antes de completar o colegial, percorrendo o Brasil com os hippies.

Aos dezenove anos, tocava no grupo Veludo Elétrico com Fernando Gama e Paul de Castro. Um ano depois, Lulu e Lobão formaram a banda Vímana, da qual saiu por não concordar com os rumos que a banda acabou seguindo. Após trabalhar como músico freelancer, Lulu Santos resolveu seguir carreira solo. Antes de virar músico trabalhou como colunista em revistas como a "Som Três" escrevendo comentários sobre os álbuns da época.

Em 1981, assinou com a gravadora WEA e assumiu o nome de Lulu Santos, gravando Tesouros da juventude, em parceria com o jornalista Nelson Mota. Seguiram-se outras músicas de sucesso: em 1982 Tempos modernos, O ritmo do momento (1983), O último romântico (1984) - cujo arranjo musical foi fortemente influenciado por uma música de George Harrison - Greece, do álbum Gone Troppo de 1982, Tudo azul (1984), Normal (1985), Lulu (1986) e Toda forma de amor (1988).

Em 1985, Lulu participa, com êxito, do "Rock in Rio" e dois anos depois é premiado com o disco de platina. O cantor recusa o prêmio na cerimônia de entrega por não ter atingido o limite mínimo de vendas de 250 mil cópias. Entrou em um período de crise a seguir, quando tentou aproximar o pop com os ritmos brasileiros, através dos trabalhos Popsambalanço e Outras levadas, Honolulu e Mondo cane.

Mas a parceria com o DJ Memê, iniciada na sequência, alavancou novamente sua carreira com discos como Assim caminha a humanidade (1994), no qual a faixa-título se tornou tema de abertura do seriado da Globo Malhação, entre 1995 e 1999.

Com o gênero disco, trabalhou com o produtor Marcelo Mansur em "Eu e Memê, Memê e eu" (1995). Seguiram-se Anticiclone tropical (1996), Liga lá, assumindo a produção, sendo o álbum mestrado pelo tropicalista Rogério Duprat em 1997, um tempo depois veio Calendário (1999) e o Acústico MTV (2000), lançado em dois volumes.

Em 2002, Lulu grava o disco Programa e, em 2003, lança Bugalu, novamente em parceria com o Dj Memê, em 2004 é lançado o MTV ao Vivo.

No ano de 2005, como lançamento de seu disco, segue Letra e música, com a turnê Popstar.

Em 2007 Longplay, onde ficou 3 anos em turnê pelo Brasil e outros países, o show foi visto por mais de 5 milhões de pessoas, acompanhado de uma super banda e se utilizando do que há de mais moderno em tecnologia com paredes de led, iluminação e projeções feitas especialmente para o show, com clipes interativos.

No final de 2009, flerta com o samba novamente no álbum Singular recheado de canções pop no melhor estilo que o consagrou.

Em meados de 2010, em comemoração aos seus 30 anos de carreira solo, aos 20 anos da MTV Brasil e aos 10 anos da gravação do seu primeiro Acústico MTV, Lulu lança o seu Acústico MTV Vol. 2.

Foi casado por 28 anos com a jornalista Scarlete Moon, a qual conheceu em uma festa na casa de Caetano Veloso. Lulu não teve filhos. Em 2012, passa a ser jurado do "The Voice Brasil", junto de Claudia Leitte, Daniel e Carlinhos Brown.


Fontes: Centro América FM - Cuiabá MT; Wikipédia.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Sônia de Carvalho, uma intérprete vitoriosa

Sônia Carvalho - CARIOCA Setembro/1936
O samba encontrou em Sônia de Carvalho uma intérprete diferente. Justamente por ter nascido em São Paulo, Sônia procurou inventar um novo estilo de samba, adaptando-o à sua voz bonita.

Hoje, a música tão popular adquire coloridos diversos, quando interpretados pela vitoriosa artista.

— Não é um samba de cimento armado - declarou Sônia, sorrindo. — Nasceu em São Paulo, mas possui um ritmo diferente. Eu mesma procuro retardá-lo, porque o meu samba não tem pressa, nem procura subir para o céu ... Ele está tão bem, aqui! ...

Sônia olhava a cidade do 22° andar do edifício de "A Noite". Ali, na Rádio Nacional, ela tem sido um motivo constante de admiração. Surgiu junto com todos os outros artistas. Mas a diferença é que Sônia é ela mesma ...

Brincando de ficar vitoriosa

— Um dia, eu tive um desejo ingênuo. Quis agradar aos ouvintes, gravar discos, contratar-me numa grande estação e ter a impressão de estar satisfeita. Tudo isso junto parece muita coisa, mas eu o consegui em pouco tempo. Três anos de microfone e discos. . . Agora, essa brincadeira me surpreende, porque deu certo.

Sônia não pertence a essa classe de artistas que quase morrem do coração diante de elogios. É algo displicente a esse ponto, quase tímida. Dona de uma figura graciosa, não gosta de aparecer.

— Eu poderia dizer que detesto a publicidade, mas isso, declarado assim publicamente, adquire um sentido inverso.

Sônia tem outra particularidade notável: gosta de ser sentimental e triste, ao ponto de não ligar a menor importância à alegria alheia.

— Acho que toda criatura que possui sentimento tem a obrigação de ser um pouco triste, afim de não desagradar ao coração, nem entrar em desacordo com a vida.  Gosto da minha arte. Mas acho o amor infinitamente mais humano. A prova é que todos amam, mas nem todos são artistas ...

Sônia de Carvalho começou a cantar na Rádio Educadora Paulista. Veio várias vezes ao Rio, a passeio. Agora, contratada com exclusividade, ela se declara perfeitamente satisfeita, mas observa:

— O ambiente radiofônico agrada, mas não é uma finalidade. A existência feminina anda sempre às voltas com outros problemas: o matrimônio, o amor, etc. Pela minha parte, penso em me casar e ter um lar sossegado.

Ela possui atualmente um repertório musical inédito, composto de músicas de Sinval Silva, Assis Valente e outros. Compositora inspirada, Sônia de Carvalho já gravou composições suas que obtiveram êxito.

Agora irá gravar inúmeros outros sambas. E continuará cantando e vencendo, pelo menos enquanto o seu coração continuar seguindo o ritmo bonito e retardado dos seus sambas ...


Fonte: CARIOCA, de 26/9/1936 (texto atualizado).

domingo, fevereiro 02, 2014

Inauguração da Rádio Nacional: o evento

Fotos: Elisa Coelho, a magnífica intérprete de canções brasileiras, quando era apresentada por Celso Guimarães, um dos melhores "speakers" com que conta atualmente o Rio; Bidu Sayão, a maior cantora do Brasil e uma das melhores do mundo, emprestou brilho excepcional à inauguração da PRE-8, cantando duas lindas canções; Orlando Silva, o inconfundível cantor de nossa música sentimental e um dos grandes sucessos da noite de estreia da PRE-8.


Eis aqui, amigos, amantes da MPB e arqueólogos musicais, mais uma reportagem da revista CARIOCA intitulada "Do Rio para todo o Brasil", de 19/9/1936, sobre a festa da inauguração da PRE-8, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ocorrida em 12/9/1936, e, que bom: com fotos ...

"Teve um brilho excepcional a inauguração da Sociedade Rádio Nacional. No estúdio do edifício de "A Noite", além de vários membros do governo, representantes de altas autoridades, deputados, vereadores, delegações de instituições culturais, de sociedades difusoras, artistas e membros de letras, compareceram as mais representativas figuras da sociedade brasileira.

Fotos: Bob Lazy, o interessante intérprete de "foxes" gênero "hot", cantando acompanhado por Pereira Filho, "The music goes round and around"; a cantora paulista Roxane, interpretando canções francesas, foi, acompanhada pela orquestra, sob a direção de Romeu Ghipsman.
Entre os presentes se notavam o presidente do Senado Federal, embaixadores da França, Portugal e Japão; ministros de Estado, presidente da Academia Brasileira, da Câmara Municipal, da Associação Brasileira de Letras, diretor do Departamento Nacional de Propaganda e Difusão Cultural e várias outras personalidades de relevo.

A solenidade foi iniciada executando-se o Hino Nacional pela orquestra do Teatro Municipal. Em seguida, falou o Dr. Medeiros Netto, presidente do Senado. Seguindo com a palavra, abençoando a Rádio Nacional, o Cardeal Arcebispo, falou do Palácio de S. Joaquim, ao microfone da PRE-8. (À direita Nuno Roland - catarinense de Joinville -, grande intérprete de nossa música, que cantou pela 1a. vez no Rio).

Fotos: Sylvinha Mello, como intérprete do nosso folclore, é um dos mais destacados nomes do "cast" da PRE-8. Na inauguração da nova estação, Sylvinha foi um dos grandes sucessos; Amalia Diaz, a intérprete de tangos da PRE-8, apresentando uma interessante música argentina; o samba tem em Aracy de Almeida uma de suas maiores intérpretes. Inaugurando a PRE-8 e cantando um samba carioca, ela mais uma vez reafirmou a sua incomparável interpretação.


Falaram a seguir, proferindo expressivas orações, o embaixador de Portugal, na qualidade de sub-decano do corpo diplomático; o ministro da Educação, como orador oficial da cerimônia; os embaixadores da França e do Japão e o representante do embaixador argentino; presidente da Câmara Municipal o diretor do Departamento Nacional de Propaganda, o presidente da Confederação de Radiodifusão, o presidente da A. B. I., o Sr. Castellar de Carvalho, nosso companheiro de "A Noite", e o diretor-presidente da Sociedade Rádio Nacional, Dr. Cauby de Araújo.

Fotos: A inauguração da Rádio Nacional foi prestigiada pela presença de grande número de pessoas da nossa melhor sociedade, como se pode avaliar pela fotografia; Sônia Carvalho, a querida estrela de São Paulo, cantando um samba, acompanhada pelo Regional da PRE-8, com Pereira Filho e Dante Santoro.

 Os destacados cantores do elenco do Municipal, Bidu Sayão, Maria de Sá Earp, Giuseppe Danise, Bruno Landi, Aurélio Marcato, a ilustre pianista Dyla Joseti, o conhecido artista Mário de Azevedo e a orquestra do Teatro Municipal executaram a parte de honra do programa musical, a que se seguiram os demais números a cargo do "cast" da Rádio Nacional, que se inaugurou assim com um acontecimento mundano de raro brilho e grande repercussão."

Dolly Ennor cantando a música de câmera - "La Wally", que obteve um dos maiores sucessos da noite.


Eis a inauguração da famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1936, cujo evento aqui é ilustrado pela revista CARIOCA, com fotos de alguns artistas, alguns esquecidos pelos brasileiros, que nem sequer possuem uma biografia digna aqui na NET. Boa Noite!


Fonte: CARIOCA, de 19/9/1936 (texto atualizado e fotos).