quarta-feira, dezembro 31, 2008

Nunca mais brigarei contigo



Nunca mais brigarei contigo (bolero, 1965) - Elias Soares e Sebastião Rodrigues - Intérprete: Roberto Müller

LP Roberto Müller / Título da música: Nunca mais brigarei contigo / Elias Soares (Compositor) / Sebastião Rodrigues (Compositor) / Roberto Müller (Intérprete) / Gravadora: CBS / Ano: 1964 / Álbum: 37388 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Bolero.


Tom: A

Introdução: A D Dm A F#m 
              Bm E7 A E7 
 
  A 
 Pergunte a quem quiser 
                  Bm 
 Como eu vivo chorando 
                E7 
 E sempre lamentando 
                  A 
 O mal que te causei 
 Se um dia tu voltares 
 A7               D   Dm 
   Encontrarás abrigo 
                 A 
 E Nunca, nunca mais 
          E7     A   A7 
 Eu brigarei contigo 
  D  Dm                      A 
 Vem... A saudade está me matando 
 F#m                         Bm 
    Ansioso eu estou te esperando 
         E7         A7 
 Podes crer no que digo 
  D  Dm                         A 
 Vem... Desta vez viveremos em paz 
 F#m                       Bm 
    E eu te juro por Deus nunca mais 
          E7     A 
 Eu brigarei contigo 

Não me esquecerás


Não me esquecerás (bolero, 1965) - Otto Borges - Interpretação de Carlos Alberto

LP Não Me Esquecerás / Título da música: Não me esquecerás / Otto Borges (Compositor) / Carlos Alberto (Intérprete) / Gravadora: CBS / Ano: 1964 / Álbum: 37378 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: Bolero.



Tu não me esquecerás
Eu sei que tu me amas
Eu não te esquecerei
Porque também te quero

Seguirei os teus passos
Os meus passos seguirás
Eu serei tua sombra
Minha sombra tu serás

De que vale, queimar tuas cartas
Rasgar teus retratos
Procurar noutra boca o teu beijo
Que louca ilusão

Assim como tu não te afastas
Do meu pensamento
Eu também viverei
Pra sempre, no teu coração

Minhas madrugadas

Paulinho da Viola
Minhas madrugadas (samba, 1965) - Paulinho da Viola e Candeia - Interpretação: Elizeth Cardoso

LP Elizete Sobe o Morro / Título da música: Minhas madrugadas / Paulinho da Viola (Compositor) / Candeia (Compositor) / Intérprete: Elizeth Cardoso / Gravadora: Copacabana / Ano: 1965 / Álbum: CLP 11434 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: samba.


Tom: C
Intro: Dm7  D#dim  C7M  Bb7  A7  
          Dm  Fm  G7  C  G7

C                     B7    G7     C6
Vou pelas minhas madrugadas  a cantar
     Ab        C   E7
Esquecer o que passou
                 Am
Trago a face marcada
                  D7
Cada ruga no meu rosto
     G7/9        C
Simboliza um desgosto
           C7      F         E7
Quero encontrar em vão o que perdi
   Am
Só resta a saudade
    D7     G7/9
Não tenho paz
                            C  G7
E a mocidade que não volta mais
                     C
Quantos lábios beijei
                    B7
Quantas mãos afaguei
                         Em
Só restou saudade no meu coração
Dm                D#dim  C
Hoje fitando o espelho
                      Bb7    A7
Hoje vi meus olhos vermelhos
Dm              Fm    G7       C
Compreendi que a vida que eu vivi foi ilusão

Mascarada

Zé Keti
Amores de carnaval sempre renderam boas histórias. E boas histórias podem render bons sambas quando os compositores são Zé Keti e Elton Medeiros. Foram esses dois cariocas que deram letra e música a uma "namorada" que Zé Keti encontrou em um carnaval, mas só foi ver seu rosto três anos depois. O resultado foi o samba "Mascarada", de música de Elton Medeiros e letra dos dois.

A história completa é a seguinte. Era dia de carnaval e Zé Keti, um cara muito boa praça, foi desfilar no Bloco das Piranhas. O esquema do bloco era simples e muitíssimo difundido no carnaval: homens que se vestiam de mulher.

Mas Zé Keti, que de acordo com Elton, era um sedutor, conseguiu descolar uma moça. Sim, uma moça que desfilava no Bloco das Piranhas. Não deu outra. Sumiu com ela durante todo o carnaval.

Ao voltar ao convívio social revelou que ela não tinha tirado a máscara nem por um segundo sequer.

O mistério continuou no ano seguinte. Zé já sabia onde encontrar a moça mascarada e ela lá estava. As noites de amor se repetiram e o segredo sobre a identidade da pequena também. Apenas no terceiro ano é que a mulher deixou que Zé Keti tirasse a máscara dela. Daí surgiu um dos maiores sucessos dos dois sambistas: Mascarada.

Tempos depois, Elton Medeiros se encontrou com Zé que estava acompanhado de "uma bonita senhora", como definiu Elton. Zé então revelou: "Elton, essa aqui que é a mascarada". Mesmo assim não deu muito tempo para que ele trocasse algumas frases com ela: "Ele não ficou com ela muito tempo do meu lado. Foi embora", contou rindo. (fonte: Vermute com Amendoim - A mascarada de Zé Keti)

Mascarada (samba, 1965) - Zé Keti e Elton Medeiros - Interpretação: Quarteto em Cy

LP/CD Quarteto em Cy / Título da música: Mascarada / Zé Keti (Composição) / Elton Medeiros (Composição) / Quarteto em Cy (Intérprete) / Gravadora: Forma / Ano: 1964 / Álbum: FM-4 / Faixa 11 / Gênero musical: Samba.

Tom: F

Intro 2x: F7M  C7(9+)

F7M           D7/F#           Gm           Abº
   Vejo agora      esse  seu  lindo  olhar
          Am7       D7(9+)
Olhar que eu sonhei
                      G7(13) G7(13)
que   sonhei   conquistar
             Gm         Bb7(9)        FM7
e   que   um   dia   afinal   conquistei
      D7/F#                Gm       Abº
Enfim      findou-se   o   carnaval
               Am7       D7(9+)
E   só   nos   carnavais
                Gm
Encontrava-te   sem
      Bb7(9)                        Bb7(9+)      F7
Encontrar    esse   seu   lindo   olhar   porque
                     Bb6
O    poeta    era    eu
                          Bbm7
Cujas   rimas   eram   compostas
                       Am7
Na   esperança   de   que
   D7             FM7     D7/F#
Tirasses   essa   máscara
               Gm
Que   sempre   me   fez   mal
Abº             Gm7
Mal   que   findou   só
   C7(b9)      C7(9)  F
Depois    do    carnaval
      C7(9+)
Dos   carnavais

Malvadeza Durão


Malvadeza Durão (samba, 1965) - Zé Keti

LP/CD Show Opinião - Nara Leão, Zé Keti e João Do Vale / Título da música: Malvadeza Durão / Zé Keti (Compositor) / Nara Leão (Intérprete) / Zé Keti (Intérprete) / João Do Vale (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1965 / Catálogo: P-632.775-L / Faixa 19 / Gênero musical: Samba.


Tom: G

G          D7      G            E7
Mais um malandro fechou o paletó
        Am
Eu tive dó, eu tive dó
              D7                   Am2    A7
Quatro velas acesas em cima de uma mesa
                      D7
E uma subscrição para ser enterrado

    G                   E7
Morreu Malvadeza Durão
   Am     D7               G
Valente, mas muito considerado

Am          E7             Am
   Céu estrelado, lua prateada
G              D7          G
Muitos sambas, grandes batucadas
  Am              E7                    Am
O morro estava em festa quando alguém caiu
      A7                 D7
Com a mão no coração, sorriu

    G  Am7         Bm7    E7   Am
Morreu Malvadeza Durão
          D7           G
E o criminoso ninguém viu

Joga a chave, meu amor



Joga a chave, meu amor (marcha/carnaval, 1965) - João Roberto Kelly e J. Rui - Interpretação: Jorge Goulart

LP Carnaval Rio Quatrocentão / Título da música: Joga a chave meu amor / J. Rui (Compositor) / João Roberto Kelly (Compositor) / Jorge Goulart (Intérprete) / Gravadora: Copacabana / Ano de lançamento: 1964 / Álbum: CLP 11402 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Marcha / Nota: Carnaval de 1965.


         Cm                 Gm
Iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê
  Cm                 Gm
Iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê

     Cm            Gm
Joga a chave meu amor
      Gb          Eb
Não chateia por favor (bis)

Ab
Tô bebendo pela aí
                  Bb7
Tô sonhando com você

  Cm                 Gm
Iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê
  Cm                  Gm
Iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê

Folhas no ar


Folhas no ar (samba, 1965) - Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho - Intérprete: Elizeth Cardoso

LP Elizete Sobe o Morro / Título da música: Folhas no ar / Hermínio Bello de Carvalho (Compositor) / Elton Medeiros (Compositor) / Elizeth Cardoso (Intérprete) / Gravadora: Copacabana / Ano: 1965 / Álbum: CLP 11434 / Lado A / Faixa 3 / Gênero musical: Samba.



Vou buscar aquilo que foi meu
E que no mundo se perdeu
Qual folhas que o vento soltou no ar
Ter a mesma paz de antigamente
Sair cantando por cantar
Qualquer canção sob qualquer luar


Vou buscar aquele amor tão meu
Sair andando a perguntar
Qual o caminho por onde ele foi
E por onde for irei também
Até o coração achar
Que simplesmente não achou


E aí então vou entender
Que ao buscar eu me perdi
De tudo aquilo que eu sou 

Acender as velas


Acender as velas (samba, 1965) - Zé Keti - Interpretação: Vanja Orico

LP Vanja Orico / Título da música: Acender as velas / Zé Keti (Compositor) / Vanja Orico (Intérprete) / Gravadora: Chantecler / Ano: 1964 / Álbum: CMG 2295 / Lado A / Faixa 5 / Samba.


 Am               F7   E7   Am
Acender as velas já é profissão
               F7     E7        Am
Quando não tem samba, tem desilusão
F7  E7     Am    F7   E7   Am
Acender as velas já é profissão
               F7     E7        Am   F7   E7  Am   F7    E7  Am
Quando não tem samba, tem desilusão,    desilusão,     desilusão
  F#m7/5- E7  Am      Dm7   G7   C7+
É mais um coração que deixa de bater
   Bm7/5- E7      Am
Um anjo   vai pro céu
F7   E7    Am     F7  E7    Am
Deus me perdoe,   mas vou dizer
F7   E7    Am     Bm7/5-  E7    Am
Deus me perdoe,       mas vou dizer
Am       Am/G           F#m7/5-  B7
O doutor chegou tarde dem a  a   ais
          Em7/5-  A7
Porque no morro
            Gm6         F7+
Não tem automóvel pra subir
G7                      C7+
Não tem telefone pra chamar
Bm7/5-      E7          Am  Am/G
E não tem beleza pra se ver
F#m7/5-   E7           Am          Am/G
E a gente morre sem querer morrer
F#m7/5-   E7           Am          Am/G
E a gente morre sem querer morrer

Rock da cachorra

Rock da Cachorra (rock, 1982) - Léo Jaime - Intérprete: Eduardo Dusek

LP Cantando No Banheiro / Título da música: Rock da Cachorra / Léo Jaime (Compositor) / Eduardo Dusek (Eduardo Dussek) (Intérprete) / Gravadora: Polydor / Ano: 1982 / Nº Álbum: 2451 194 / Lado A / Faixa 5 / Gênero musical: Rock.


Tom: G  

G
Baptuba, uap baptuba
C7
Baptuba, uap baptuba
G         D7     C7      G
Baptuba, uau uau uau uau uau

G
Baptuba, uap baptuba
C7
Baptuba, uap baptuba
G         D7     C7      G
Baptuba, uau uau uau uau uau

G                        C7         G
Troque seu cachorro por uma criança pobre 
(Baptuba, uap baptuba)
G                  C7                   G
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre 
(Baptuba, uap baptuba)
D7                       C7               G
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre

G
Troque seu cachorro (uauuu)
C7
Troque seu cachorro (uauuu)
G                       D7          G
Troque seu cachorro por uma criança pobre

G
Tem muita gente por aí que está querendo levar uma vida de cão
     C7                                           G
Eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor-alemão
D7                    C7                  G
Esse é o rock de despedida pra minha cachorrinha 
chamada "sua-mãe"

G
É pra Sua-mãe, é pra Sua-mãe
C7             G
É pra Sua-mãe, é pra Sua-mãe
D7                    C7                     G
Esse é o rock de despedida pra cachorra "Sua-mãe"

G
Seja mais humano, seja menos canino
C7                                              G
Dê güarita pro cachorro, mas também dê pro menino
D7                      C7              G
Senão um dia desse você vai amanhecer latindo, 
uau, uau, uau

G                       C7          G
Troque seu cachorro por uma criança pobre 
(Baptuba, uap baptuba)
G                  C7                   G
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre 
(Baptuba, uap baptuba)
D7                       C7               G
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre

G                       C7          G
Troque seu cachorro por uma criança pobre 
(Baptuba, uap baptuba)
G                  C7                   G
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre 
(Baptuba, uap baptuba)
D7                       C7               G
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre

G
Baptuba, uap baptuba
C7
Baptuba, uap baptuba
G        D7      C7      G
Baptuba, uau uau uau uau uau

G
Baptuba, uap baptuba
C7
Baptuba, uap baptuba
G        D7      C7      G
Baptuba, uau uau uau uau uau

sábado, dezembro 27, 2008

Dialeto do malandro

O dialeto da "Boca": Ali, gansos, loques e laranjas eram engomados. Adoniran e Isaura Garcia: "O que foi que nóis fez?"


"Durante a ditadura estado-novista (Getúlio Vargas), particularmente de 1940 em diante, piscaram os sinais de alerta para os malandros e os que cultuavam a malandragem.

Desencadeou-se uma cruzada contra a "malandragem" carioca que tinha entre seus objetivos interromper a íntima relação que, na história da música popular brasileira, unira o samba à malandragem.

Mesmo assim, em pleno império do DIP, de modo enviesado que fosse, tipos que viviam à margem do trabalho regular continuavam a freqüentar muitas composições, como que a fornecer um atestado de sua sobrevivência.

É impressionante a quantidade de canções que se converteram em muros de lamentação de mulheres insatisfeitas com seus parceiros sanguessugas e com a sua condição de muro de arrimo da família. Normalmente compostas por homens e cantadas por mulheres, tais músicas, apesar de comportarem alguma dubiedade, se ocuparam de figuras que voltavam as costas ao trabalho."

Embora esse tema seja antigo (anos 30, 40 e 50), ele continua ainda atual, com certas modificações, porque as mulheres lutaram por direitos iguais, mas não para se vingarem, oops! Que estou dizendo? Hoje em dia existem mulheres "malandras" também. E antigamente também existiam! Basta uma pequena leitura dos romancistas do século 19.

Infelizmente, naquela época, tanto a literatura, quanto o linguajar "chulo" público pertencia só aos homens.

DIALETO DO MALANDRO (HOJE EM DIA É MUITO MAIS EXTENSO...)

Aceso – Excitado com estupefacientes; eufórico; sob efeito de bebida; erótico; irrequieto.

Aliviar – Amenizar a cumplicidade de alguém, libertar o detido, facilitar a soltura do indiciado.

Banhar – Deixar o outro sem a sua parte; ladrão que foge com a parte do comparsa. Limpar: na gíria jornalística é apresentar completa cobertura de um acontecimento em primeira mão.

Barca – Viatura policial.

Batata tá assando – Preso marcado para morrer.

Bater prato – Manter relação homossexual.

Cafiolo – Rufião, cáften ou cafetão.

Capivara – Ficha criminal.

Chafra – Soldado da Força Pública. "Chafra depenado": miliciano desarmado.

Da casa – Membro da polícia.

Empurradinha – Empurrar vítima para o parceiro fazer o roubo.

Engomar – Abotoar, espremer a vítima para o lanceiro furtar-lhe a carteira.

Escamoso – Venenoso, criador de caso.

Esquisito – Encontro amoroso. "Partir para o esquisito": ir ao encontro da mulher para manter relações.

Ganso – Informante policial.

Grupo – Mentira, golpe, logro, grupir ou engrupir, conto-do-vigário, um-sete-um ou cento e setenta e um.

Inferninho – Bar com música de vitrola. Geralmente é ponto de mulheres que arrebanham homens para rendez-vous. Imita a boate, mas não tem show.

Justa – Carro de polícia. O mesmo que "justinha".

Laranja – Novato, inocente, otário.

Loque – Ingênuo, caipira, otário.

Maçaneta – Puxa-saco; só abre e fecha a porta para o chefe.

Olho de vidro - policial que não conhece os ladrões.

Peitosa – Camisa.

Penosa – Galinha ou frango.

Pirandelo – Fugir da polícia ou da prisão.

Plantar o aço – Assassinar colega com arma branca.

Roçadeira – Libidinagem de lésbica, "roçadinho".

Um-sete-um – Estelionatário, malandro, golpista, vigarista, "conto do vigário".

O Carnaval de 1910

Eram três dias bem desagradáveis. Sujeitos precavidos fechavam-se, olhavam suspeitosos a rua, mas isto não os livrava de pesares: se se distraíam, inundavam-nos jatos de água suja. Iam mudar a roupa, furiosos.

Avizinhavam-se depois das janelas, atentos aos moleques armados de bisnagas enormes de bambu (na ilustração, o lançamento do lança-perfume, introduzido mais ou menos nesta época, desodorizante, produzido com cloreto de etila, embalado em vidro).

Além desses inimigos, havia os indivíduos que traziam, em mochilas, pacotes de alvaiade, zarcão, ocre, tinta de todas as cores, com que se pintavam os transeuntes.

O doutor verboso declamava discursos irados nas esquinas, referia-se aos selvagens, aos tupinambás. Ninguém lhe dava importância — e a zanga esfriava. Bem, agora, molhado, não valia a pena recolher-se. O jeito que tinha era entrar na função, tornar-se também selvagem, vingar-se, provocar outras indignações e arrastar para a folia os amigos cautelosos.

Animavam-se todos e perdiam a compostura, acabavam achando aquilo interessante. Alguns viam perfeitamente que estavam fazendo maluqueira e desregravam-se com moderação, quase a pedir desculpas encabuladas à cidadezinha pacata. Homens graves, pais de família, tisnados, bebendo, aos gritos. Mau exemplo, doidice. Na quarta-feira retornariam a sisudez necessária.

Cadeiras nas calçadas. Meninas sérias e bicudas reprovando os excessos, sacudindo com espanto e enjôo as cabeças, onde se arrumavam papelotes. Não se contaminavam, estavam livres da pintura, dos banhos, de atracações perigosas: comportavam-se direito, como se aguardassem a passagem da procissão. Rapazes ousados atiravam nelas esguichos de água de cheiro e eram mal recebidos. Muxoxos. Que assanhamento! Nada de brincadeira. Brincadeira com moça findava na igreja ou rendia pancada. Os desejos não se escondiam sob nuvens de confete, não se amarravam com serpentinas, não se excitavam com éter.

Ainda se desconhecia o automóvel. A gente escassa pisunhava nas barrocas do calçamento ruim, equilibrava-se nas pedras pontudas.

As negras se haviam tingido com papel vermelho molhado. E andavam tesas para não desmanchar os enfeites do pixaim, branco de fiapos.

De longe em longe desfilavam parafusos, tipos envoltos em numerosas anáguas que se iam encurtando. As de cima, perto do pescoço, eram camisas de crianças. Esses espantalhos andavam inchados por dentro e por fora pacholas, cobertos de renda engomada.

Papangus vagabundos enrolavam-se em sacos de estopa, sujos, as caras escondidas em fronhas, as mãos calçadas em meias.

Bobos de máscaras horríveis se esforçavam por aterrorizar os meninos. Gingavam, falavam rouco e fanhoso:

— Você me conhece?

Se não conseguiam disfarçar-se, recebiam vaia e ficavam arreliados.

O índio, de penacho e tanga, era personagem obrigatória e silenciosa.

Passava o cordão, levantando poeira, causando entusiasmo. Um frevo decente em redor do porta-bandeira. Repetiam-se cantigas de dez anos sem nenhuma alteração, muito bem ensaiadas. As figuras marchavam na disciplina; o homem da maromba conduzia o bando, importante; papai velho exibia vaidoso a cabeleiras de algodão e as longas barbas de espanador; o morcego, na frente, fazia piruetas, agitando as asas de guarda-chuva.

Mascarados solitários produziam hilaridade com pilhérias antigas e ditos grosseiros, inconvenientes. Outros, reunidos, firmavam as críticas, motivo de receios e alarma. Alusões a notáveis acontecimentos do lugar, comentários a fatos melindrosos e particulares, mexericos todos, sem graça nenhuma. Criavam-se inimigos. E às vezes se liquidavam contas velhas.

Um cidadão espiava o morcego e o parafuso de longe. Dois ou três embuçados musculosos entravam-lhe em casa, batiam-no a cacete. Berros, súplicas, sangue, apitos sumiam-se na festa. Ninguém sabia donde vinham as pauladas — e era bom evitar opiniões. No ano seguinte as críticas seriam menos ofensivas.

(Ramos, Graciliano. "Carnaval 1910". Para Todos. Rio de Janeiro, fevereiro de 1957)

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Falando de samba

Muitos dos nossos musicólogos e folcloristas, quando falam do samba carioca, música que, queiram ou não, é a mais difundida, mais amada e mais bela do Brasil, perdem-se numa desconcertante série de afirmativas não se sabe onde encontradas, tirando delas conclusões as mais levianas. Raras as exceções.

De origem africana, o samba, também chamado primitivamente "baiano", sofreu, desde sua implantação no Brasil, múltiplas transformações.

A música dos brancos, música religiosa, a ópera e a opereta (a primeira trazendo contribuição italiana, a segunda, a marca vienense), mais as cançonetas francesas (no princípio do século, em grande voga entre nós), a valsa, a polca, o shottisch, a mazurca, a quadrilha, todos esses elementos, e muitos outros, fizeram a amálgama que é o samba dos nossos dias.

O berço do samba atual é a cidade do Rio de Janeiro. Depois de uma época em que o tanguinho brasileiro era nome e disfarce para autêntica música nossa, depois do maxixe, fundindo toda a beleza e musicalidade de um ao buliçoso e brejeirice do outro, surgiu o samba.

O samba é um só. Os amantes de classificações mais ou menos arbitrárias falam de samba de morro, como o da primeira fase, samba da cidade, segunda etapa, esquecendo-se de que a subida ao morro, das populações da cidade, por motivos único e exclusivamente econômicos, só se deu depois do aparecimento "oficial" do primeiro samba, com partitura impressa e gravado em disco fonográfico comercial: o famoso Pelo telefone, de Ernesto dos Santos (Donga), em 1917, samba da cidade.

Por outro lado, as chamadas escolas de samba, também apontadas como precursoras, são ainda mais recentes, a primeira delas sendo fundada em 1923, no Estácio de Sá, bairro que fica no centro da cidade (Escola de Samba Deixa eu Falar).

Noel Rosa, simplificando a questão, disse, em uma de suas peças mais conhecidas, que "o samba nasce é do coração". Imagem de poeta. Mas a verdade é que o samba nasce onde se encontra um sambista; no morro, nos subúrbios distantes, na avenida Rio Branco, num apartamento no Catete, num café da Lapa ou em qualquer outro lugar. Sambista é o que tem a "bossa", palavra criada por eles e que significa musicalidade, ritmo, poesia e espírito carioca.

Alfabetizados ou não, têm saído deles as obras primas de um vasto cancioneiro popular, ao lado dos tanguinhos de Nazareth, das canções de Chiquinha Gonzaga, das valsas de Eduardo Souto, dos choros de Calado, Anacleto Medeiros e Pixinguinha.

Um pouco da história do samba

Depois do aparecimento de Pelo telefone, surgiriam as primeiras produções de João Barbosa da Silva, o Sinhô. Tipo autêntico de carioca, mulato contador de vantagens, gabola e valente, gaforinha desarrumada, pianista das gafieiras, amigo de políticos importantes, tipo querido e respeitado dentro da classe a que pertencia, Sinhô foi um grande artista. Tocando todos os instrumentos, o piano e o violão, bem como diversos outros de sopro, suas músicas tinham uma espontaneidade e um frescor raramente atingidos por outros. Seus versos, apesar das imagens rebuscadas e pernósticas, traziam a marca do dono e uma invejável poesia, primitiva e autêntica.

Peças como Jura, Cansei, A medida do Senhor Bonfim, A favela vai abaixo, Sabiá etc. são, ainda hoje, das melhores produzidas pela lira popular carioca. Malandro sabido, não tinha escrúpulos em se apropriar de certos refrões alheios, mas sempre melhorando-os e dando-lhes o sopro de sua personalidade. É dele a frase que ficou célebre: "Samba é como passarinho, de quem pegar..."

Rival de Sinhô, José de Luis de Morais, o Caninha, celebrizou-se com peças como Ó que vizinha danada e, mais recentemente, com É batucada. Com mais de oitenta anos de idade, Caninha ainda compõe sambas e freqüenta as rodas boêmias dos subúrbios cariocas.

José Francisco de Freitas foi outro valor da época. Dorinha, meu amor e Zizinha são pontos altos de sua produção numerosa. Também merece menção especial o compositor Luis Nunes Sampaio, o Careca, autor de Chuva não mata ninguém e do famoso Ai, seu Mé!

Tem se especializado no choro, gênero eminentemente instrumental, Alfredo da Rocha Viana (o Pixinguinha), talvez o nosso maior músico popular de todas as épocas, também produziu alguns sambas dos melhores: Samba de negro, Promessa e Festa de branco. Sua obra como chorão, orquestrador e regente é das maiores.

Outro que se especializou mais nas valsas e canções, o maestro Eduardo Souto, autor de Despertar da montanha, das valsas que celebram as quatro estações do ano, de quando em vez compunha sambas de sucesso, como é o caso de Tatu subiu no pau.

Mais recentes são os sambistas Ismael Silva que, com seu parceiro Nilton Bastos, fornecia o repertório principal dos cantores Francisco Alves e Mário Reis; João da Baiana, especialista nos corimas afro-brasileiros, mas autor de sambas como Cabide de molambo; Cícero de Almeida - O Baiano, Mário Travassos de Araújo, Walfrido Silva, Gadé, Leonel Azevedo, J. Cascata, Almirante, também cantor e hoje um dos melhores conhecedores da nossa música popular, Alcebíades Barcelos, Antonio Vieira Marçal, etc.

Os legendários

Ao lado desses, muitos outros faziam seus sambas sem procurar o disco e a celebridade, raramente abandonando os seus subúrbios ou os seus morros, funcionando nas suas próprias festas e entre seu adeptos. Gradim, Canuto, Brancura, Baiaco e, principalmente, Agenor de Oliveira — o Cartola, são os mais notáveis. Raramente gravaram discos e, quando isso acontecia, muitas vezes suas composições saíam com nomes de outros autores. Todos sempre foram, no entretanto, figuras das mais respeitadas entre seus pares.

Noel e Ari

Não esqueçamos, porém, os dois maiores compositores populares da segunda geração que são, indubitavelmente, Noel Rosa e Ari Barroso.

Nascido no dia 11 de dezembro de 1910, Noel Rosa pertencia à tradicional família carioca. Na casa modesta da rua Teodoro da Silva, nasceu, viveu e morreu. Vila Isabel foi a sua paixão, que cantou em mais de um samba inspirado. Chegando a freqüentar o segundo ano de medicina, com cultura acima do comum dos sambistas, era exímio no versejar, improvisando com facilidade espantosa. Violinista e boêmio, logo abandonou os estudos, passando a dedicar sua vida à música popular. Embora contando com diversos parceiros, era ele próprio um melodista dos melhores e não um simples letrista, como querem alguns. Várias de suas peças (letra e música) são verdadeiros clássicos do samba, como Até amanhã, Palpite infeliz, Silêncio de um minuto, Com que roupa? e muitos outros. Com Vadico, seu principal parceiro compôs Feitiço da Vila, Feitio de oração e mais cerca de oito números. Noel Rosa é, até hoje, um dos compositores mais amados pelo público de todo o Brasil e suas músicas são das mais gravadas e regravadas pelas nossas fábricas de disco.

Mineiro de Ubá, Ari Barroso é verdadeiro talento. Bacharel em direito, jornalista e ex-político militante, além de radialista dos mais populares, foi como compositor que seu nome se tornou imorredouro. Começando num estilo que lembrava o de Sinhô, com peças como Vou à Penha e Amizade, logo encontrou o seu próprio rumo a partir de Faceira, samba que já traz a marca inconfundível do seu autor. Algumas centenas de músicas constituem sua bagagem autoral, sendo que muitas delas — como Maria, Rancho fundo, Morena Boca de Ouro e, principalmente Aquarela do Brasil — são bastante conhecidas no mundo inteiro, levando o nome de Ari Barroso por todos os cinco continentes e sua música aonde quer que haja uma vitrola ou uma estação de rádio. De inspiração inesgotável, continua a produzir jóias musicais que são disputadas por intérpretes e editores.

Outros compositores

Impossível citar, no espaço limitado de um simples artigo, todos os compositores de mérito que têm cultivado o samba. Mas convém não esquecer Henrique Vogeler — autor de Ai, ioiô, Lamartine Babo — o rei da marchinha carnavalesca mas também sambista, Nássara, Geraldo Pereira, Bucy Moreira, Paulo da Portela, Custódio Mesquita, Evaldo Rui, Romualdo Peixoto, Francisco Matoso, Haroldo Barbosa, João de Barro, Bonfiglio de Oliveira, Jararaca, Vicente Paiva e os novíssimos Billy Blanco, Monsueto e Antonio Carlos Jobim (Tom).

O samba, de novo

Houve época em que o samba foi relegado a um segundo plano, não pelo povo, mas pelas estações de rádio e pelos fabricantes de discos, que se deixavam levar por compositores do chamado samba-slow, sem ritmo e sem características e influenciados pelos boleros e pelos mambos. Mas felizmente, tudo isso passou. O samba voltou a se apresentar com toda a sua grandeza, com seus tamborins e seus surdos, seus pandeiros e seus ganzás, para a alegria de um povo que tem na sua música popular um dos índices mais positivos de sua força e sua personalidade.

Fonte: "Falando de samba". Revista Esso. Rio de Janeiro, fevereiro de 1957. Não foi possível identificar o nome do autor.

O Rio revive nas marchinhas

Havia uma garota, em 1942, cujo beijo era uma bomba de Stuka. Havia uma outra, em 1937, a Sebastiana, que, debaixo de um abraço, só se sentia carne, não se sentia osso. Só não havia pelo menos em 1955, uma Miss Brasil crioula do Morro da Favela - porque, se houvesse seu Joaquim apoiava ela.

Marchinha é a maneira mais bem-humorada de se conhecer a história do Rio de Janeiro na primeira metade do século passado e a gravadora Revivendo, com o lançamento de mais três CDs, chega ao número 22, mais de 450 músicas, da série Carnaval, sua história, sua glória. Um flagrante sonoro irretocável da famosa - ''é ou não é, piada de salão?'' - alma carioca das ruas.

Stuka, do beijo, era um avião militar alemão de mergulho na marchinha Dona Santa não é santa, de Humberto Teixeira. Mostrava que, pelo menos no início de 42, a guerra vista do Rio ainda despertava o riso. Sebastiana, dos irmãos Valença, curtia nonsense puro mas revelava que magricelas já não tinham vez.

Miss Criôla, de Arnô Provenzano e O. Lopes, pegava carona num dos grandes assuntos do final de 1954, o segundo lugar de Marta Rocha no Miss Universo. Mostra que o vocabulário politicamente correto, ao contrário das polegadas a mais, não estava na moda.

Beatles - As marchinhas eram pequenas reportagens, sempre divertidas, quase sempre esculhambativas, críticas, dos acontecimentos do ano anterior. Cabeleira do Zezé (Roberto Faissal e João Roberto Kelly) comentava no carnaval de 1964, o estouro cabeludo dos Beatles em 1963 com I wanna hold your hand. Gegê, de Eduardo Souto, quando falava que ''o seu pedido já foi, meu bem, despachado'', fazia caricatura da distribuição de empregos por Getúlio Vargas.

As músicas são apresentadas em suas gravações originais, com ótima qualidade de som, e revelam uma enorme quantidade de clássicos da MPB produzidos especialmente para o carnaval. Fala Mangueira, de 1956, samba de Mirabeau e Milton de Oliveira, com Ângela Maria, está entre as melhores que cantam o morro carioca. Confete, de 1952, de J. Júnior é uma das mais clássicas, e a última, para o carnaval, de Francisco Alves.

As faixas dos novos CDs obedecem ao mesmo critério de seleção dos outros discos da coleção. Sucessos fundamentais da festa, como Odete, de 1944, com o Trio de Ouro (atenção para o apito de Herivelto Martins e o solo de Dalva de Oliveira), e Implorar, de 1935 (atenção para o arranjo de Pixinguinha e a voz sem breque de Moreira da Silva) cruzam com marchas, sambas e frevos que não tiveram qualquer destaque nas ruas e salões - mas são saborosíssimos.

Em Bairros de Pequim, de 1948, aprende-se, por exemplo, que ''Existem em Pequim/ dois bairros, Fu e Lu/ que nem aqui no nosso/ São Cristóvão e Grajaú''. A polícia recolheu o compacto (do outro lado havia a catita Comprei um Buda) por temer que os foliões incluíssem palavras que não constassem da letra original. Deliciosa também era a O soro e os velhinhos, marcha de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, de 1950. O laboratório Pfizer, que hoje produz o Viagra, podia muito bem adotá-la como jingle: ''O soro vai ser um maná/ Os velhos velhinhos/ Vão ser outra vez brotinhos''.

Carnaval, sua história, sua glória é ainda uma boa oportunidade para se reencontrar grandes intérpretes esquecidos da MPB. No volume 20, Jorge Veiga, o caricaturista do samba, dá o tradicional show de malícia e divisão rítmica em Eu quero rosetar (''Por um carinho seu minha cabrocha/ Eu vou até a Irajá'').

No volume 21, com A hora é boa, o Bando da Lua revela o pique e alto astral que fariam Carmen Miranda convidá-los para longa temporada nos Estados Unidos. Na letra, Aloysio de Oliveira dá uma de Guimarães Rosa e inventa palavra sem qualquer sentido hoje e, segundo os estudiosos, na época também: ''A hora é boa/ pra virar pangaio/ no meio desse povaréu''.

Protesto - No volume 22, Blecaute, com voz personalíssima, faz o protesto social de Pedreiro Waldemar, de 1949, o mesmo ano em que apresentou a divertida General da banda: ''O Waldemar que é mestre no ofício/ constrói um edifício e depois não pode entrar''.

As marchinhas desapareceram com a popularização dos sambas de enredo no final dos anos 60 e hoje, com a decadência deste gênero também, o Monobloco precisou sair pelas ruas do Jardim Botânico no domingo animado pelo repertório pop de Raul Seixas. A cidade, sem chororô nostálgico, mudou e descobriu outros prazeres. Veja as fotos de carnaval na Rio Branco de Marcel Gautherot, em exposição no Instituto Moreira Salles, e ouça os divertidos documentos históricos, essência da carioquice, que são os CDs de Carnaval, sua história, sua glória.

Na mais antiga faixa dos três discos, Dondoca, de 1927, exalta-se como padrão de beleza a mulher de carnes moles. ''Não treme tanto a gelatina/ que o caldo entorna na terrina'', canta Gomes Júnior. Setenta e cinco anos antes das gatas musculosas do Monobloco cantava-se - e é preciso reverenciá-la para sempre na memória - o rebolar maravilha da mulher gelatina.

por: Joaquim Ferreira dos Santos

Fontes: Jornal do Brasil de 29.01.2002; Carnaval, sua história, sua glória, volumes 20, 21 e 22 - Revivendo (www.revivendomusicas.com.br);
http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.0201/1116.html.

Ana Lúcia


Cantora catarinense revelada em São Paulo na era da bossa nova, Ana Lúcia era puro romantismo e balanço cool no seu primeiro Lp, gravado na extinta Chantecler em 1959.

Em sua carreira que foi mais constante até 1964, quando abandonou tudo para casar-se, gravou apenas três Lps, deixando para sempre sua marca na MPB, sendo idolatrada pelos fãs da bossa que pagam fortunas nos sebos por seus velhos vinis.

Neste disco, há clássicos da MPB, como O que tinha de ser, Cheiro de saudade, Da cor do pecado, entre outras menos conhecidas e não menos interessantes. Os arranjos são de Guerra Peixe, Elcio Álvares, Rafael Puglielli e do mestre Johnny Alf. Trata-se de uma relíquia a ser guardada em lugar especial na estante de discos.(Rodrigo Faour)

Ana Lúcia - COLEÇÃO AS DIVAS

FAIXAS:

01.Cheiro de saudade
02.O que tinha de ser
03.Esquecendo você
04.Destinos
05.Nada no meu coração
06.Tema do adeus
07.Chicote
08.Da cor do pecado
09.Mundo mau
10.A outra face
11.O tempo e o vento
12.Amar não é brinquedo

Fazem parte desta obra, os compositores Djalma Ferreira, Luiz Antônio, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Herve Cordovil, Salathiel Coelho, Ribeiro Filho, Nelson Figueiredo, Bororó, Sidney Moraes, Henrique Lobo, Johnny Alf...

terça-feira, dezembro 02, 2008

Giane


Giane (Georgina Morozinde dos Santos), cantora, nasceu em Ribeirão Preto, São Paulo, e pode ser considerada uma das precursoras da jovem guarda.

Iniciou a carreira em meados da década de 1960, durante o início da Jovem Guarda.

Seu maior êxito, como cantora profissional, foi ter ganho o Festival de San Remo, realizado na Itália em 1972, interpretando a música Estrada do sol, samba-canção de Tom Jobim e Dolores Duran.

Discografia

Esta É Giane - A Voz Doçura (1964) - A pronúncia italianada dos erres era típica velha-guarda, e a paulista Giane, nascida numa fazenda em Ribeirão Preto, estaciona aqui nalgum ponto intermediário entre o comércio à antiga e o mercadão pop nascente da “música jovem”, em quindins infanto-juvenis como a versão de Dominique (de Soeur Sourire): Dominique, nique, nique, sempre alegre, esperando alguém que possa amar/ o seu príncipe encantado, seu eterno namorado, que não cansa de esperar. Aos ouvidos de hoje, soa menos infanto-juvenil que infanto-infantil, mas Dominique termina a canção condoída, punida, nique, nique, nique, sempre triste a chorar o amor que se acabou.

Giane (1965) - Preste Atenção, versão para Fais Attention (de J.L. Chauby e Bob du Pac), abre o LP em feitio de dramalhão. Sempre com um pé em lancha “jovem” e outro em canoa “antiga”, Giane parece nesse momento mais determinada a pular de corpo inteiro na segunda embarcação. Os vocais infantis de rotação acelerada, tipo Pato Donald, de Eu Não Posso Namorar podem soar vexatórios a ouvidos de 2008. Mas não custa lembrar que, em 1961, também eram usados num disco de “brotolândia” por uma adolescente gaúcha chamada Elis Regina.

Suavemente (1965) - “Suavemente”? Não, dramas, draminhas e dramalhões como Se Eu Pudesse Encontrar Você ou 15 Primaveras não autorizam o mimoso advérbio que titula o LP. Notas curiosas sobre a instabilidade e a incerteza no imaginário musical de Giane: a) a presença do sambão Lago da Felicidade, de Lúcio Cardim e Nello Nunes; b) a regravação lamuriosa (e emprestada de vozes solenes como a de Maysa) da toada acaipirada de Adoniran Barbosa Bom-Dia, Tristeza, com versos pré-bossa nova de mr. Vinicius de Moraes. Era 1965, Roberto Carlos já mandava tudo para o inferno.

Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; RUÍDO - blog musical de Pedro Alexandre Sanches

Manuel Bandeira

Manuel Bandeira (Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho) nasceu no Recife - PE no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passa dois verões em Petrópolis.

Em 1892 a família volta para Pernambuco. Manuel Bandeira freqüenta o colégio das irmãs Barros Barreto, na Rua da Soledade, e, como semi-interno, o de Virgínio Marques Carneiro Leão, na Rua da Matriz.

A família mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896, onde reside na Travessa Piauí, na Rua Senador Furtado e depois em Laranjeiras. Bandeira cursa o Externato do Ginásio Nacional (atual Colégio Pedro II). Tem como professores Silva Ramos, Carlos França, José Veríssimo e João Ribeiro. Entre seus colegas estão Sousa da Silveira e Antenor Nascentes.

Em 1903 a família se muda para São Paulo onde Bandeira se matricula na Escola Politécnica, pretendendo tornar-se arquiteto. Estuda também, à noite, desenho e pintura com o arquiteto Domenico Rossi no Liceu de Artes e Ofícios. Começa ainda a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana, da qual seu pai era funcionário.

No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim.

"... - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Em 1910 entra em um concurso de poesia da Academia Brasileira de Letras, que não confere o prêmio. Lê Charles de Guérin e toma conhecimento das rimas toantes que empregaria em Carnaval.

Sob a influência de Apollinaire, Charles Cros e Mac-Fionna Leod, escreve seus primeiros versos livres,em 1912.

A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em junho de 1913 para a Europa. No mesmo navio viajam Mme. Blank e suas duas filhas. No sanatório conhece Paul Eugène Grindel, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Paul Éluard, e Gala, que se casaria com Éluard e depois com Salvador Dali.

Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em outubro. Lê Goethe, Lenau e Heine (no sanatório reaprendera o alemão que havia estudado no ginásio). No Rio de Janeiro, reside na rua Nossa Senhora de Copacabana e na Rua Goulart.

Em 1916 falece sua mãe, Francelina. No ano seguinte publica seu primeiro livro: A cinza das horas, numa edição de 200 exemplares custeada pelo autor. João Ribeiro escreve um artigo elogioso sobre o livro. Por causa de um hiato num verso do poeta mineiro Mário Mendes Campos, Manuel Bandeira desenvolve com o crítico Machado Sobrinho uma polêmica nas páginas do Correio de Minas, de Juiz de Fora.

O autor perde a irmã, Maria Cândida de Souza Bandeira, que desde o início da doença do irmão, havia sido uma dedicada enfermeira, em 1918. No ano seguinte publica seu segundo livro, Carnaval, em edição custeada pelo autor. João Ribeiro elogia também este livro que desperta entusiasmo entre os paulistas iniciadores do modernismo.

O pai de Bandeira, Manuel Carneiro, falece em 1920. O poeta se muda da Rua do Triunfo, em Paula Matos, para a Rua Curvelo, 53 (hoje Dias de Barros), tornando-se vizinho de Ribeiro Couto. Numa reunião na casa de Ronald de Carvalho, em Copacabana, no ano de 1921, conhece Mário de Andrade. Estavam presentes, entre outros, Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda e Osvaldo Orico.

Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade. Bandeira não participa da Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro em são Paulo, no Teatro Municipal. Na ocasião, porém, Ronald de Carvalho lê o poema "Os Sapos", de "Carnaval". Meses depois Bandeira vai a São Paulo e conhece Paulo Prado, Couto de Barros, Tácito de Almeida, Menotti del Picchia, Luís Aranha, Rubens Borba de Morais, Yan de Almeida Prado. No Rio de Janeiro, passa a conviver com Jaime Ovalle, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Prudente de Morais, neto, Dante Milano. Colabora em Klaxon. Ainda nesse ano morre seu irmão, Antônio Ribeiro de Souza Bandeira.

Desses encontros surgiu a oportunidade de Jaime Ovalle compor duas músicas para poemas seus que marcaram época: Azulão e Modinha. Anos depois, escreveu versos para Ary Barroso musicar, Portugal, meu avozinho, fado que nunca chegou a ser gravado.

Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo.

A serviço de uma empresa jornalística, em 1926 viaja para Pouso Alto, Minas Gerais, onde na casa de Ribeiro Couto conhece Carlos Drummond de Andrade. Viaja a Salvador, Recife, Paraíba (atual João Pessoa), Fortaleza, São Luís e Belém. No ano seguinte continua viajando: vai a Belo Horizonte, passando pelas cidades históricas de Minas Gerais, e a São Paulo. Viaja a Recife, como fiscal de bancas examinadoras de preparatórios. Inicia uma colaboração semanal de crônicas no Diário Nacional, de São Paulo, e em A Província, de Recife, dirigido por Gilberto Freyre. Colabora na Revista de Antropofagia.

1930 marca a publicação de Libertinagem, em edição como sempre custeada pelo autor. Muda-se, em 1933, da Rua do Curvelo para a Rua Morais e Vale, na Lapa. É nomeado, no ano de 1935, pelo Ministro Gustavo Capanema, inspetor de ensino secundário.

Grandes comemorações marcam os cinqüenta anos do poeta, em 1936, entre as quais a publicação de Homenagem a Manuel Bandeira, livro com poemas, estudos críticos e comentários, de autoria dos principais escritores brasileiros. Publica Estrela da Manhã (com papel presenteado por Luís Camilo de Oliveira Neto e contribuição de subscritores) e Crônicas da Província do Brasil.

Recebe o prêmio da Sociedade Filipe de Oliveira por conjunto de obra, em 1937, e publica Poesias Escolhidas e Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica.

No ano seguinte é nomeado professor de literatura do Colégio Pedro II e membro do Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Publica Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana e Guia de Ouro Preto.

Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Toma posse em 30 de novembro, sendo saudado por Ribeiro Couto. Publica Poesias Completas, com a inclusão da Lira dos Cinqüent'Anos (também esta edição foi custeada pelo autor). Publica ainda Noções de História das Literaturas e, em separata da Revista do Brasil, A Autoria das Cartas Chilenas.

Começa a fazer crítica de artes plásticas em A Manhã, em 1941, no Rio de Janeiro. No ano seguinte é nomeado membro da Sociedade Filipe de Oliveira. Muda-se para o Edifício Maximus, na Praia do Flamengo. Organiza a edição dos Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental.

Nomeado professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia, em 1943, deixa o Colégio Pedro II. Muda-se, em 1944, para o Edifício São Miguel, na Avenida Beira-Mar, apartamento 409. Publica Obras Poéticas de Gonçalves Dias, edição crítica e comentada. No ano seguinte publica Poemas Traduzidos, com ilustrações de Guignard.

Recebe o prêmio de poesia do IBEC por conjunto de obra, em 1946. Publica Apresentação da Poesia Brasileira e Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos.

Em 1948 são reeditados três de seus livros: Poesias Completas, com acréscimo de Belo Belo; Poesias Escolhidas e Poemas Traduzidos. Publica Mafuá do Malungo (impresso em Barcelona por João Cabral de Melo Neto) e organiza uma edição crítica das Rimas de João Albano. No ano seguinte publica Literatura Hispano-Americana e traduz O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sóror Juana Inés de la Cruz.

A pedido de amigos, apenas para compor a chapa, candidata-se a deputado pelo Partido Socialista Brasileiro, em 1950, sabendo que não tem quaisquer chances de eleger-se. No ano seguinte publica Opus 10 e a biografia de Gonçalves Dias. É operado de cálculos no ureter. Muda-se, em 1953, para o apartamento 806 do mesmo edifício da Avenida Beira-Mar.

No ano de 1954 publica Itinerário de Pasárgada e De Poetas e de Poesia. Faz conferência no Teatro Municipal do Rio de Janeiro sobre Mário de Andrade. Publica 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, em 1955. Traduz Maria Stuart, de Schiler, encenado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em junho, inicia colaboração como cronista no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e na Folha da Manhã, de São Paulo. Faz conferência sobre Francisco Mignone no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Traduz Macbeth, de Shakespeare, e La Machine Infernale, de Jean Cocteau, em 1956. É aposentado compulsoriamente, por motivos da idade, como professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia.

Traduz as peças Juno and the Paycock, de Sean O'Casey, e The Rainmaker, de N. Richard Nash, em 1957. Nesse ano, publica Flauta de Papel. Em julho visita para a Europa, visitando Londres, Paris, e algumas cidades da Holanda. Retorna ao Brasil em novembro. Escreve, até 1961, crônicas bissemanais para o Jornal do Brasil e a Folha de São Paulo.

Em 1958, publica Gonçalves Dias, na coleção "Nossos Clássicos" da Editora Agir. Traduz a peça Colóquio-Sinfonieta, de Jean Tardieu. Publicada pela Aguilar, sai em dois volumes sua obra completa - Poesia e Prosa.

No ano seguinte traduz The Matchmaker (A Casamenteira), de Thorton Wilder. A Sociedade dos Cem Bibliófilos publica Pasárgada, volume de poemas escolhidos, com ilustrações de Aldemir Martins.

Em 1960 traduz o drama D. Juan Tenório, de Zorrilla. Pela Editora Dinamene, da Bahia, saem em edição artesanal Estrela da Tarde e uma seleção de poemas de amor intitulada Alumbramentos. Sai na França, pela Pierre Seghers, Poèmes, antologia de poemas de Manuel Bandeira em tradução de Luís Aníbal Falcão, F. H. Blank-Simon e do próprio autor.

No ano seguinte traduz Mireille, de Fréderic Mistral. Começa a escrever crônicas semanais para o programa "Quadrante" da Rádio Ministério da Educação. Em 1962 traduz o poema Prometeu e Epimeteu de Carl Spitteler.

Escreve para a Editora El Ateneo, em 1963, biografias de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Castro Alves. A Editora das Américas edita Poesia e Vida de Gonçalves Dias. Traduz a peça Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht. Escreve crônicas para o programa "Vozes da Cidade" da Rádio Roquette-Pinto, algumas das quais lidas por ele próprio, com o título "Grandes Poetas do Brasil".

Traduz as peças O Advogado do Diabo, de Morris West, e Pena Ela Ser o Que É, de John Ford. Sai nos EUA, pela Charles Frank Publications, A Brief History of Brazilian Literature (tradução, introdução e notas de R. E. Dimmick), em 1964.

No ano de 1965 traduz as peças Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala. A Fogueira Feliz, de J. N.Descalzo, e Edith Stein na Câmara de Gás de Frei Gabriel Cacho. Sai na França, pela Pierre Seghers, na coleção "Poètes d'Aujourd'hui", o volume Manuel Bandeira, com estudo, seleção de textos, tradução e bibliografia por Michel Simon.

Comemora 80 anos, em 1966, recebendo muitas homenagens. A Editora José Olympio realiza em sua sede uma festa de que participam mais de mil pessoas e lança os volumes Estrela da Vida Inteira (poesias completas e traduções de poesia) e Andorinha Andorinha (seleção de textos em prosa, organizada por Carlos Drummond de Andrade). Compra uma casa em Teresópolis, a única de sua propriedade ao longo de toda sua vida.

Com problemas de saúde, Manuel Bandeira deixa seu apartamento da Avenida Beira-Mar e se transfere para o apartamento da Rua Aires Saldanha, em Copacabana, de Maria de Lourdes Heitor de Souza, sua companheira dos últimos anos.

No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Fonte: Dados obtidos em livros de Manuel Bandeira, e nas publicações "Homenagem a Manuel Bandeira" e "Bandeira a Vida Inteira", na Academia Brasileira de Letras e sites da Internet.

Baianinho

Baianinho (Eládio Gomes dos Santos), compositor, nasceu em Salvador, Bahia, em 03 de setembro de 1936. Começou em 1952 na banda de música da escola municipal, onde estudou, tocando clarineta e requinta. Em 1956 mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no bairro de Cavalcanti.

Juntamente com outros músicos, fundou em 1959 o G. R. E. S. Em Cima da Hora, integrando a ala dos compositores. Em 1963, 1964 e 1973, a escola desfilou com samba-enredos de sua autoria, respectivamente Inssurreição pernambucana, Apoteose econômica e financeira do Império (ambos com Zeca do Varejo) e O sabor poético da literatura de cordel.

Em 1971 fez sucesso com o samba É baiana (com Fabricio da Silva, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio), gravado por Clara Nunes na Odeon.

Em 1972 integrou o conjunto Os Cinco Só e no ano seguinte apresentou-se como cantor no Teatro Opinião, do Rio de Janeiro.

Obras

É baiana (c/Fabrício da Silva, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio), samba, 1971; O sabor poético da literatura de cordel, samba-enredo, 1973.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira, Art Editora - PubliFolha.

Barnabé

Barnabé (João Ferreira de Melo), cantor e compositor (Botelhos MG, 08/12/1932 - São Paulo SP, 13/09/1968), criado no Paraná, trabalhou na roça e na construção de estradas.

Ainda adolescente, juntou-se aos artistas de um parque de diversões, apresentando-se em circos e cinemas como Nhô Peroba, que tocava violão e contava piadas. Levado para São Paulo pela dupla Tonico e Tinoco, passou a participar dos programas de rádio Na Beira da Tuia e Peru que Fala.

Gravou seu primeiro disco como Barnabé em 1965, na Continental, obtendo sucesso imediato. Seu humor ingênuo e espontâneo, misturando piadas e músicas caipiras bem-humoradas, como Sanfona da véia (Brinquinho e Brioso), Casamento do Barnabé (Capitão Furtado), O esculhambeque (paródia do sucesso da Jovem Guarda O calhambeque), rendeu ainda mais três LPs antes de sua morte, em 1968.

A partir de 1970, seu irmão caçula, José Ferreira de Melo (Ribeirão do Pinhal PR, 09/12/1949) passou a usar o mesmo nome artístico e lançou ainda nesse ano seu primeiro disco pela Continental. Nessa gravadora, o segundo Barnabé gravou mais de oito LPs e, entre suas composições, estão Bailinho bom (com Palmar) e Ponto negro (com M. Nascimento), sucesso de Chitãozinho e Xororó.

Publicou três livros de piadas editados pela Luzero. Na década de 90 continuou viajando por todo o Brasil e apresentando seus shows em circos, praças e rodeios.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

Germano Mathias

Germano Mathias, cantor, nasceu em São Paulo-SP em 2 de junho de 1934. Sambista nascido no bairro da Barra Funda, foi contratado pela Rádio Tupi em 1955, depois de se apresentar em um programa de calouros da emissora cantando um samba.

No ano seguinte lançou o primeiro disco, com a música Minha nega na janela (com Doca). Em 1957 saiu seu primeiro LP, Germano Matias, o Sambista Diferente, título que se devia à sua maneira diferente de interpretar sambas e ao acompanhamento percussivo feito por tampa de lata, que executava.

Guarde a sandália dela, samba composto em parceria com Sereno em 1958, foi um dos seus grandes sucessos. Foi também um intérprete assíduo dos sambas de Zé Keti: Nega Dina, Malvadeza Durão e O assalto são exemplos.

Firmou-se como um dos grandes nomes do samba paulista, mas ultimamente não tem gravado tanto. Apresentou-se em 2000 no programa Musikaos, da TV Cultura.

Fontes: Wikipédia; ClicMusic.

Luís Bittencourt

Luís Bittencourt (Luís Gonzaga Bittencourt), compositor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 6/5/1915. O pai, Antônio Lourenço Bittencourt, pianista que acompanhava filmes mudos, ensinou-lhe as primeiras noções de música.

Iniciou a carreira em 1930, participando de programas na Rádio Educadora do Brasil (hoje Tamoio) e também do programa Horas do Outro Mundo, de Renato Murce, na extinta Rádio Philips.

A partir de 1935, passou a dedicar-se profissionalmente à música, integrando a orquestra do Cassino da Urca. De 1936 a 1960, participou como violonista das orquestras da Victor e da Rádio Nacional. Em 1937, sua composição Lua triste (com Leonel Azevedo) foi gravada na Odeon por Sílvio Caldas.

Como instrumentista, atuou em conjuntos famosos, como o Regional de Dante Santoro, o de Benedito Lacerda, Conjunto Regional Victor, Conjunto Regional Guanabara, Regional Rogério Guimarães, além das orquestras das gravadoras Sinter, Musidisc e Continental.

Como compositor, tem cerca de 130 músicas gravadas, entre as quais Nova ilusão (com José Menezes), que fez sucesso em 1948 com Os Cariocas, Aquelas palavras (com Benny Woldoff), de 1945, Casadinhos (com Tuiú), de 1945, e A grande verdade (com Marlene), de 1948.

De 1950 a 1965, foi diretor musical e artístico de várias gravadoras, entre as quais a Sinter e a Musidisc, e de 1967 a 1975 exerceu cargos na Ordem dos Músicos do Brasil. Desde 1961, integra a Orquestra Sinfônica Nacional, do Ministério de Educação e Cultura.

Fontes: Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 2000.

Zé Menezes


Zé Menezes (José Menezes França), violonista, nasceu em Jardim (CE) em 6/9/1921. Começou a tocar profissionalmente aos 8 anos, quando ainda explorava o cavaquinho, em Juazeiro do Norte (CE).

Aos 11 anos era instrumentista da banda municipal, e trabalhou durante algum tempo como músico de cinema e bailes. No final dos anos 30 mudou-se para Fortaleza, onde trabalhou na Ceará Rádio Clube como violonista.

Em 1943 foi para o Rio de Janeiro a convite de César Ladeira, que o ouvira tocar em Fortaleza. Na então capital federal foi contratado da Rádio Mayrink Veiga, onde conheceu o sucesso como solista graças aos dois programas semanais que apresentava, tocando violão, cavaquinho, viola, guitarra, bandolim, violão tenor e banjo.

Em 1947 foi para a Rádio Nacional, onde tocou ao lado de Garoto. Como compositor, sua primeira música gravada foi Nova ilusão (parceria com Luís Bittencourt), pelo conjunto Os Cariocas.

Outros de seus sucessos foram Não interessa não, com Luís Bittencourt, gravado por César Ladeira e Heleninha Costa, Tudo azul, na interpretação de Zezé Gonzaga, Cinzas, cantada por Ernani Filho, Pau-de-arara, baião gravado por Carmélia Alves e outras composições, sempre em parceria com Luís Bittencourt.

Gravou vários discos como solista, alcançando o sucesso com suas interpretações de Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro) e Um domingo no jardim de Alah (Lírio Panicali).

Viajou pela Europa com o Sexteto Radamés Gnattali em 1959, e formou o grupo Velhinhos Transviados, que gravou 13 LPs. Em 1995 lançou o CD Chorinho in Concert e em 1998 foi a vez de Relendo Garoto, só com músicas do violonista paulista com quem tocou com muito sucesso na década de 40.

Homem dos Mil Instrumentos

Chamá-lo de homem dos mil instrumentos nem chega a ser exagero. O cearense de Jardim, nascido em 1921, toca praticamente todos os de corda. Já atuou em dupla com o virtuose do violão Garoto durante o período áureo da Rádio Nacional, integrou o Quinteto do rigoroso Radamés Gnattali e reforçou os primeiros discos de Roberto Carlos tocando guitarra. Fez até a música de abertura do programa Os Trapalhões.

Onipresente nos bastidores de várias gerações (e estilos) da MPB, Zé começou muito cedo em um cavaquinho de uma corda só. Aos oito anos exibiu-se para o lendário Padre Cícero tocando sua composição Meus Oito Anos. Aprendeu requinta (um clarinete uma quinta acima), escalou o violão, o bandolim, o violão-tenor (quatro cordas) e não parou mais.

Ao lado de Radamés ao piano (e Vidal, baixo, Luciano Perrone, bateria, Chiquinho, acordeom), atuou com alguns dos principais intérpretes nacionais, mas nunca renunciou a sua assinatura pessoal. Compôs o samba-canção modernista Nova Ilusão (com Luiz Bittencourt), que se tornaria prefixo da primeira fase do grupo vocal Os Cariocas, em 1948, e também Comigo é Assim, outro sucesso do grupo (da mesma dupla) que Miúcha e Tom Jobim regravariam em 1977. Outras composições suas conseguiram projetar-se como Mais uma Ilusão, na voz de Nuno Roland, Castigo por Gilberto Milfont e Pau-de-Arara por Carmélia Alves. Seu estoque de choros instrumentais também é expressivo: Sereno, Vitorioso, Encabulado, Caititu, entre outros.

Aos 11 anos, músico de banda em Juazeiro, foi descoberto por César Ladeira quando tocava na Ceará Rádio Clube, em 1943. Contratado pela Rádio Mayrink Veiga carioca, ele passaria mais tarde para a Nacional onde se apresentou em dupla com Garoto. Trabalhou ainda com o tecladista Djalma Ferreira no conjunto Milionários do Ritmo, excursionou pela Europa a bordo do Sexteto de Radamés Gnattali (que começou como quarteto e chegou a Orquestra Brasileira de Shows com Zé, Garoto e Bola Sete nas cordas).

Gravou treze discos com o bem-humorado grupo de estúdio Velhinhos Transviados, que "envelhecia" (e envenenava com Menezes na guitarra) por meio de uma formação de bandinha do interior os sucessos das paradas, incluindo rock e derivados. Sua enorme carreira discográfica, no entanto, tem poucos solos como os dois LPs de dez polegadas registrados na Sinter no início dos 50 (Dançando com Zé Menezes, A Voz do Violão) e os mais recentes CDs Chorinho in Concert, na CID, de 1995, e Relendo Garoto, produzido por Pelão em 1998, no qual ele realiza o velho sonho do parceiro que desejava ver suas músicas reintepretadas por orquestra. E de quebra por um homem-orquestra, o gênio modesto Zé Menezes.

Tárik de Souza - ENSAIO - 22/9/1998

Fontes: ClicMusic; SESC-SP MPB.