quinta-feira, dezembro 20, 2007

Lennie Dale

Bailarino e coreógrafo americano radicado no Brasil, criador dos Dzi Croquettes em 1973, um grupo de grande sucesso com seus shows escandalosos apresentando uma androgenia debochada. Elogiado por Liza Minelli, com quem trabalhou e disse jamais ter visto coisa igual, fez também um filme underground de uma equipe alemã, retratando a alucinante passagem dos Dzi Croquettes por Paris.

Nascido no bairro do Brooklyn, em Nova York, Lennie se apaixonou pelo Brasil em 1960, ao ser convidado por Carlos Machado para fazer a coreografia da peça Elas Atacam Pelo Telefone, na boate Fred´s no Rio. Em seguida, foi para o Bottle's Bar no Beco das Garrafas, onde, ao ouvir João Gilberto, dirigiu vários shows de bossa nova e criou uma dança especial para o ritmo que surgia. Sob sua orientação, Sergio Mendes começou a usar dançarinas em seus shows. Em 1961, o restaurante Night and Day vibrava com o bailarino vestindo uma saia e estalando chicote, uma coreografia revolucionária para a época.

Lennie foi o introdutor da noção de ensaio em espetáculos de MPB. Até então, o artista chegava na hora da apresentação e cantava, sem nenhuma preocupação com a produção ou expressão corporal. Foi ele quem mandou Elis Regina cortar os cabelos e balançar os braços como hélices na música Arrastão.

O pai de Lennie, um barbeiro fracassado que imigrara da Sicília e vivia amaldiçoando o dia em que decidira buscar a prosperidade na América, lamentava como mais um castigo da vida ter um filho bailarino. Logo, porém, tornou-se seu próprio empresário, e ele fez muito sucesso no programa infantil Star Lime Kids, co-estrelado por Connie Francis.

Dos 14 aos 21 anos, Lennie dedicava-se as aulas de balês em tempo integral. Na Broadway, fez parte do grupo dos jets em West Side Story, mas foi barrado pelo diretor Jerome Robbins para a versão cinematográfica. Mudou-se então para Londres, alugou uma sala e deixava a porta aberta para que todos vissem como dançava bem. Um empresário de Shirley Bassey passava pelo local quando ficou admirado com sua performance e contratou-o.

Apresentou-se em toda a Europa, participou de um programa com Gene Kelly na televisão italiana e da coreografia para 500 bailarinos em Cleópatra. Na ocasião, ficou conhecendo a grande estrela do filme de forma sui-generis: um dia abriu a porta errada no corredor dos camarins e defrontou-se com uma animada Elizabeth Taylor praticando sexo oral com Richard Burton. Nenhuma surpresa, eles acharam engraçado e acabaram tornando-se amigos.

Lennie chegou a voltar para os Estados Unidos, mas em 1971 retornava novamente ao Brasil, preso em seguida, por porte de maconha na galeria Alaska. Passou um ano na penitenciária Helio Gomes onde, numa noite, sonhou que galopava sobre um cavalo branco, seguido por uma multidão de admiradores. O sonho repetiu-se exatamente um ano depois, na mesma data, e ele foi tomado por uma grande fé umbandista, pois identificou-se com a imagem de São Jorge Guerreiro. Embora calvo na vida real, no sonho via-se com uma longa cabeleira longa.

Lennie possuía uma sapatilha roubada em Paris do russo Rudolf Nureyev e um exemplar da biografia de Madame Satã, seu ídolo máximo, um homossexual famoso por surrar policiais e travestir-se de Carmen Miranda. Foi responsável pela coreografia da novela Baila Comigo e pelo musical 1.707.839 / Leonardo Laponzina.

Lennie Dale morreu aos 57 anos, em 9 de agosto de 1994.

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