quarta-feira, agosto 15, 2007

Pavão mysteriozo

Mais um dos artistas cearenses que migraram para o Sul no início dos anos setenta, o cantor/compositor Ednardo (José Ednardo Soares Costa Souza) integrava a fração do grupo que se estabeleceu na rua Oscar Freire, no bairro paulistano de Pinheiros. Nesse endereço eles costumavam promover saraus musicais, o que lhes facilitava os contatos com produtores como Júlio Lerner, que os levou ao programa “Proposta”, na TV Cultura, e o radialista Walter Silva, que os encaminhou à Continental.

Nesta empresa, em 73, sob o nome de “Pessoal do Ceará”, eles fizeram um disco que apresentou Rodger Rogério, sua mulher Tetty, Ednardo e o violonista Cirino. Talvez o mais enigmático desses cearenses seria Ednardo, cujo primeiro disco solo, O romance do pavão mysteriozo, gravado em 74, incluía a composição que inspirou este extravagante título.

“Pavão Misterioso” era uma música completamente diferente de tudo o que então estava sendo tocado nas rádios. Com uma interpretação desafiadora do autor, a canção fora baseada em um dos folhetos de cordel mais vendido nas feiras nordestinas. Atribuído a João Camelo de Melo Resende e João Melquíades Ferreira, este folheto conta a história de João Evangelista e da condessa Creuza, uma reclusa, presa por seu pai na torre de um castelo grego. Cego de amor, o herói abandona a casa e a família para libertar a amada, sonhando com a possibilidade de voar num aeroplanopavão.

“Pavão misterioso / pássaro formoso / tudo é mistério nesse teu voar / ah, se eu corresse assim / tantos céus assim / muita história eu tinha pra contar”, diz a letra de Ednardo, em que o voo representa uma tentativa de transpor barreiras, como as da repressão, em plena vigência do AI 5. Não era “Pavão Misterioso” e sim “Carneiro” a música destinada a puxar a venda do disco de Ednardo. Porém, a partir de seu aproveitamento, dois anos depois do lançamento, como tema básico da telenovela surrealista “Saramandaia”, na TV Globo, a composição acabaria se tornando o primeiro e maior sucesso de Ednardo (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Pavão Mysteriozo (1976) - Ednardo - Intérprete: Ednardo

LP Saramandaia - Trilha Sonora da Novela da Rede Globo / Título da música: Pavão Mysteriozo / Ednardo (Compositor) / Ednardo (Intérprete) / Gravadora: Som Livre / Ano: 1976 / Nº Álbum: 403.6089 / Lado A / Faixa 7 / Gênero musical: Canção.


    A                   G        D
Pavão mysteriozo, pássaro formoso
A                E
Tudo é mistério nesse teu olhar
A                       G           D
Ah, se eu corresse assim, tantos céus assim
A                  E         A
Muita história eu tinha pra contar
F#m                     B              F#m
Pavão mysteriozo nessa cauda aberta em leque
Dm                    Am       E7
Me guardar moleque de eterno brincar
Am              Dm
Me poupa do vexame de morrer tão moço
Am          E            A   A4 A5m A
Muita coisa ainda quero olhar
....
F#m                     Am          Am/G
Pavão mysteriozo, meu pássaro formoso
G                 C           E
No escuro dessa noite me ajuda a cantar
Am                             Dm    Am
Derrama essas faíscas, despeja esse trovão
                          E           A   A4 A5m A
Desmancha isso tudo, que não é certo não

Os meninos da Mangueira

A dupla Rildo Hora-Sérgio Cabral já havia criado um razoável repertório, com alguns sucessos como “Visgo de Jaca” e “Janelas Azuis”, quando Sérgio propôs ao parceiro escreverem um samba em homenagem à Mangueira. A idéia era prestar uma homenagem diferente, focalizando, por exemplo, os meninos do lugar. Assim nasceria “Os Meninos da Mangueira”, com Sérgio fazendo a letra sobre uma bela composição de Rildo, um samba de verdade, sincopado, malemolente, sentimental, mas de estribilho vibrante, sacudido.

E como o letrista é também historiador, homenageia passado e presente da Mangueira, descrevendo com graça e concisão os atributos de cada um dos personagens enumerados (“Carlos Cachaça, o menestrel / Mestre Cartola, o bacharel / Seu Delegado, um dançarino...”), juntando-os no final aos meninos que representam o futuro da Escola: “E a velha guarda se une / aos meninos lá na passarela / abram alas que vem ela / a Mangueira toda bela...”

“Os Meninos da Mangueira” foi lançado por Ataulfo Júnior, num compacto, recebendo, ainda em 76, mais doze gravações, entre as quais as de Jair Rodrigues e Eliana Pittman. A boa gravação de Ataulfo mostra na abertura uma sutileza do arranjador Rildo Hora: o som forte, grave, encorpado de um violão, que, revela Sérgio Cabral, “é na realidade o som dobrado de um violoncelo e um violão” (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Os meninos da Mangueira (samba, 1976) - Rildo Hora e Sérgio Cabral - Intérprete: Ataulfo Júnior

Compacto simples (7") / Título da música: Os Meninos da Mangueira / Rildo Hora (Compositor) / Sérgio Cabral (Compositor) / Ataulfo Júnior (Intérprete) / Gravadora: RCA Victor / Ano: 1975 / Nº Álbum: 101.0361 / Lado A / Gênero musical: Samba.


C 
Um menino da Mangueira recebeu pelo natal 
     Ebdim         Dm    A7             Dm 
Um pandeiro e uma cuíca, que lhe deu Papai Noel 
                        G7             C 
Um mulato sarará, primo-irmão de dona Zica 
 
E o menino da Mangueira,foi correndo organizar 
    C7       F       A7               Dm    C 
Uma linda bateria, carnaval ja vem chegando 
       Dm      Am             Dm      G7    C 
E tem gente batucando, são os meninos da Mangueira 
         G7          C                G7        C  C7 
Carlos Cachaça, o menestrel mestre Cartola, o bacharel 
      F         E7      Am                    D7 
Seu Delegado um dançarino,faz coisas que aprendeu 
       G7   C7 
Com Marcelino 
 
-------- 
          F                 Ebdim            C 
E a velha guarda se une aos meninos la na passarela 
       A7           Dm        G7         C   C7 
Abram alas,que vem ela, a Mangueira toda bela 
 
 ( BIS ) 
--------- 
 
   G7                 C             G7            C  C7 
O Padeirinho, cade Xangô, o preto rico, chama o Sinhô 
        F    E      Am              D7 
E Dona Nelma.... maravilhosa, e a primeira mulher 
         G7  C7 
Da verde-rosa 
 
---------- 
    F                    Ebdim                  C 
E onde e que se junta o passado,o futuro e o presente 
        A7        Dm            G7             C  C7 
Onde o samba e permanente, na Mangueira minha gente 
 
 ( BIS )