CARIOCA de Outubro/1936: "Um novo cantor de linda voz e optima interpretação" |
Nuno Roland apareceu no Rio para provar que ainda existe muita linda voz escondida esperando apenas uma chance para surgir vitoriosamente. Ele ainda não é inteiramente conhecido. Mas a Rádio Nacional tem-se encarregado de espalhar por toda a parte o timbre rico e bonito da sua voz, causando surpresas e comentários.
Nuno Roland iniciou a sua carreira radiofônica na PRC-2, Rádio Sociedade Gaúcha, passando depois a atuar na Rádio Educadora Paulista, estação que manteve a exclusividade da sua voz durante dois anos e meio. Nuno Roland, em São Paulo, adquiriu um grande número de admiradores, que o incentivaram na carreira escolhida. Aliás, ele é dono de um grande entusiasmo.
Falando a CARIOCA demonstrou possuir elevado grau de confiança no seu futuro.
Diferença de ambiente
— O rádio em São Paulo oferece uma grande diferença do ambiente artístico carioca. Há menos publicidade, menor incentivo, embora o público seja gentil e interessado pela carreira dos artistas. Nasci em Joinville, porém permaneci pouco tempo em Santa Catarina, empenhado em viajar pelos outros Estados. Aliás, conto um dos meus grandes desejos em poder, um dia, viajar bastante, conhecendo outros países. Almejo visitar a Argentina.
Nuno Roland nunca praticou excursões artísticas, fato que não o tem impedido de se popularizar. Ele começou a cantar com a idade de dezoito anos, exibindo-se em festivais, sendo constantemente aplaudido com entusiasmo, até ingressar no “broadcasting”, em 1933, conseguindo ainda maior sucesso.
Nuno, atualmente na Rádio Nacional, tem sido uma das revelações da “turma” paulista, ora no Rio. Ele não pretende sobrepujar o prestígio de ninguém, tanto que ainda interpreta inúmeras composições dos seus colegas de arte.
— Almejo, no entanto, organizar um repertório próprio, exclusivamente meu, fato que irei realizar agora com a ajuda de vários compositores. Em São Paulo, há faltas deles. Essa observação se baseia em fatos concretos, uma vez que também não existem artistas interessados em lançar primeiras audições. Ary Barroso, André Filho, Assis Valente e outros serão os “padrinhos dessa minha nova fase.
Nuno Roland também aprecia grandemente o talento de Orestes Barbosa, o poeta dos compositores radiofônicos.
O cinema em foco
— O cinema é a arte que está sempre na moda. Penso nela como um meio de expansão, porque reconheço que o microfone, embora admirável, restringe muito as atitudes dos artistas que sentem a melodia.
Nuno Roland sente intensamente as músicas que interpreta, embora não pertença à classe de artistas que afugentam o microfone com as expressões fisionômicas que praticam.
Nuno Roland é um rapaz simpático que muita gente acha parecido com Dick Powell, um dos seus artistas cinematográficos prediletos.
— Acho inadmissível a semelhança. Aliás faço questão de parecer-me exclusivamente comigo mesmo.
Ele admira todos os seus colegas radiofônicos. Em teatro nunca pensou. Gosta de ler livros de aventuras.
— A vida já é uma grande aventura, complicada em muitos pontos, mas que sempre nos desperta a curiosidade de saber o fim.
Não tem pretensões a filosofar sobre as situações humanas. É alguém que vive com a máxima naturalidade. Gosta de amar.
— O amor é a única felicidade que existe sobre a terra. Acho que a própria tristeza que o amor às vezes nos empresta, age como um estimulante poderosíssimo.
Já tem tido grandes emoções: quando gravou o seu primeiro disco. E quando se estreou na Rádio Nacional, cantando pela primeira vez no Rio, numa grande estação.
Fonte: CARIOCA, de 24/10/1936 (fotos e texto atualizado).