"De Alzirinha Camargo, presente de Natal que São Paulo enviou ao “broadcasting” carioca, só se pode dizer que é uma vitoriosa. A sua atuação ao microfone da Rádio Tupi, desde aquela noite em que lançou o “Querido Adão”, tem sido uma série sucessiva de triunfos.
Cantora de grande sensibilidade artística é Alzirinha, intérprete de diversos gêneros. Dela se pode afirmar que conhece o segredo da canção regional e das lendas amazônicas, ao mesmo tempo que anima e movimenta um samba muito carioca.
Não estávamos, positivamente, com sorte, na noite que resolvemos entrevistar Alzirinha. A simpática lourinha, havia acabado de interpretar uma marcha que, a seu ver, tinha sido um fracasso. É muito difícil dizer a uma cantora de rádio que ela cantou mal. Mais difícil, porém, é convencê-la de que o seu insucesso foi apenas imaginário...
— Como entrou para o rádio?
Alzirinha estava alegre e nos respondeu:
— Estudava na Escola Normal de Itapetininga, minha cidade natal e era solista do Orpheon. Pessoas de minha família me aconselharam o rádio. Quando recebi o diploma de professora.
— Não sabíamos que tinha esse título.
— Pois fique sabendo. Fui para São Paulo logo depois. Por intermédio de Sivan, consegui ingressar na Rádio Educadora de São Paulo. Daí passei à Record. Em seguida estive na Cruzeiro, de onde saí para inaugurar a Difusora. Da Difusora fui ao Rio Grande do Sul, inaugurar a Farroupilha e agora estou aqui.
- Qual a primeira música que interpretou ao microfone?
- “Moreninha brasileira”, de Joubert de Carvalho. Lembro-me ainda muito bem. Esta marchinha durante muito tempo, foi a minha predileta. Talvez por gratidão...
- Quais as músicas que lhe agradam?
— São aquelas caracteristicamente brasileiras. São as músicas de Hekel Tavares, Waldemar Henrique e Humberto Porto, um dos valores novos da nossa música, mas possuidor de inegável talento. Creio, porém, que “Banzo”, de Hekel, dentre todas é ainda a que mais se destaca.
— Como encara o “broadcasting” em São Paulo e no Rio?
— Ambos os meios são bons. Existe, porém, no Rio, um campo mais vasto de expansão para o artista. O público aqui é mais caloroso e nos aplaude com mais entusiasmo, enquanto em São Paulo sentimos sempre a frieza dos ouvintes que não se manifestam através de cartas e telefonemas como aqui. Note-se: lá há gente tão boa como aqui. Pena é que o público não esteja nesta situação de igualdade.
— Das músicas que tem lançado para o Carnaval? Quais as suas esperanças?
— Sou suspeita para falar, pois gosto de todas. Baseando-me porém, no aplausos que recebo quando canto, creio que “Querido Adão” é a que mais se destaca. Parece-me que esta marcha tem agrado. Creio porém, que as músicas que vão abafar, ainda não apareceram. Ainda se encontram nas casas dos compositores, bastante escondidas, para que se evite o plágio...”.
Fonte: CARIOCA, de 28/12/1935
quinta-feira, dezembro 19, 2013
Paulistas de Itararé
Como sorriem Elvira e Rosina, as "Irmãs Pagãs" - Fotos de Edmond - Carioca, 1935. |
Irmãs Pagãs, — serão pagãs mesmo? — É esse, sem dúvida, um dos mais originais e sugestivos pseudônimos adotados por gente do rádio. Esse duo que os leitores de CARIOCA tantas vezes têm admirado através do microfone da PRA-9, tanto fascina pela voz como encanta pela graça feminina e pela vibração do espírito. Foi o que pudemos constatar, quando as entrevistamos, na Mayrink Veiga.
— Como se chamam?
— Rosina.
— Elvira.
— Onde nasceram?
— No Estado de S. Paulo.
— Batizaram-se em...
As entrevistadas entreolharam-se. O sorriso e as sobrancelhas à Joan Blondell de Rosina cobriram de motejo o entrevistador. Este pensou aflitivamente e, levando de súbito a mão à testa, teve uma exclamação: — Ah são pagãs. As duas irmãs, então, o contemplaram com certa piedade cristã. E as perguntas prosseguiram.
—— Onde estrearam? Aqui no Rio?
— Sim. O público da cidade maravilhosa é muito gentil. Já somos cariocas de coração. No rádio, demos a nossa primeira audição na Cajuti. Cantamos também no Tijuca. Na Mayrink Veiga foi que nos tornamos de fato conhecidas.
—— Até onde vai o amor à arte a que se dedicam?
Desta pergunta em diante as respostas nem sempre andaram em dueto. Ambas sacrificam tudo para o aperfeiçoamento constante do gosto e da expressão. Mas... ambas, adoram o cinema. E, além dele, amam o canto, a natação, a dança, a leitura.
Na tela, Rosina aprecia imensamente Tarzan: “E’ um símbolo de força, inteligência espontânea e lealdade masculina. Acha que o artista revela a sua maior capacidade no beijo. O guarda-roupa feminino de Hollywood é sábio em estética sempre que não prejudica as linhas do corpo e a naturalidade das formas.
Elvira admira Ramon Novarro. Quando Ramon esteve no Rio pôde apertar-lhe a mão. Por isso guarda, até hoje, com o maior carinho, a luva que usava nesse dia.
— Qual o tipo de homem que mais apreciam?
Elvira: — O que se faz desejar.
Rosina: — Com ou sem bigode.
— Que pensam do amor?
— Julgado pela maior parte dos seus efeitos ele mais se parece ao ódio do que à amizade.
— E o ciúme?
— No ciúme há mais amor próprio do que amor.
— E o casamento?
— Ainda não tivemos tempo de tomá-lo na devida consideração.
São assim, as irmãs Pagãs: fascinantes, originais, inteligentes. Amam a Arte, mas acima da Arte a vida, que tudo enriquece, dá feitios novos e cria a simpatia entre o homem e a Natureza. Por isso, em tão pouco tempo, já são ídolos da “radiopolis”, estas paulistanazinhas de Itararé... Não se espantem. São legítimas, genuínas de Itararé.
Vitoriosas e gloriosas.
A batalha não houve, mas as Irmãs Pagãs, essas existem de fato e de verdade...
Fonte: CARIOCA, de 30/11/1935.
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