terça-feira, março 27, 2012

J. Carlos

J. Carlos (José Carlos de Brito e Cunha), chargista e ilustrador, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 18 de junho de 1884, e faleceu na mesma cidade em 2 de outubro de 1950. Também escultor, foi também autor de teatro de revista, letrista de samba, e é considerado um dos maiores representantes do estilo art déco no design gráfico brasileiro.

Seu primeiro trabalho foi publicado em 1902, na revista Tagarela, com uma legenda explicando ser aquele o desenho de um principiante, mas, em seguida, passa a colaborar regularmente com a revista e em abril do ano seguinte já desenha a capa da publicação.

Os trabalhos de J. Carlos apareceriam nas melhores revistas de sua época: O Malho, O Tico Tico, Fon-Fon, Careta, A Cigarra, Vida Moderna, Eu Sei Tudo, Revista da Semana e O Cruzeiro.

Fez histórias em quadrinhos com a negrinha Lamparina, mas seus desenhos mais conhecidos sãos as figuras típicas do Rio de Janeiro, os políticos da então capital federal, os sambistas, os foliões no carnaval e, principalmente, a melindrosa, uma mulher elegante e urbana que surgia com a modernidade do século XX.

Juntamente com Raul Pederneiras e com Kalixto formou o triunvirato máximo da caricatura brasileira da Primeira República.Além de variada, sua obra é bastante numerosa, sendo calculada por alguns em mais de cem mil ilustrações.

Nos anos 1930 J. Carlos foi o primeiro brasileiro a desenhar Mickey Mouse, estreando o personagem em capas e peças publicitárias na revista O Tico Tico.Também foi responsável pela capa primeira edição do Suplemento Infantil do jornal A Nação, suplemento criado por Adolfo Aizen.

Em 1941, Walt Disney visitou o Brasil, Disney ficou impressionado com o estilo de J. Carlos e o convidou para trabalhar em Hollywood, o ilustrador recusou o convite, porém enviou a Disney um desenho de um papagaio que serviu de inspiração para a criação de Zé Carioca.

J. Carlos sofreu uma hemorragia cerebral enquanto estava reunido com o compositor João de Barro, o Braguinha, discutindo a ilustração para a capa de seu próximo disco, e faleceu dois dias depois.

Fonte: Wikipédia.

Herivelto e o samba do Edredom

Nilo Chagas, Lamartine Babo, Dalva de Oliveira e Herivelto Martinss

A frase “se houver motivo, é mais um samba que eu faço”, constante de vitoriosa produção do compositor Zé Keti, define de maneira bem expressiva como comumente nasce a maioria das canções populares. Assim, simples edredon exposto na porta de uma casa comercial, buscando apenas comprador, tornou-se tema, foi motivo de samba.

Exatamente como ficou dito acima. Talvez ignorando que aquela peça de seu estoque estivesse na cabeça de um autor de musiquinhas fáceis, para o povo, sendo mote de poemeto despretensioso, de melodia acessível, O negociante a tenha vendido barato. Entregou-a por “preço de queima”.

Meses ou dias depois, adquirido o edredon (que era de fato vermelho como é cantado no samba) por um comprador ocasional, Herivelto Martins acrescia com ele mais um sucesso à sua bagagem musical. Não de maneira tão rápida como poderão supor, mas resultando de paciente trabalho de concatenação de versos à medida que iam brotando, as duas coisas, ao mesmo tempo. E, subindo a serra de Petrópolis, em meio de muitos passageiros, indiferente a todos eles, um compositor popular tinha um edredon na cabeça inspirando-lhe nova canção. Houvera o motivo acidental, ao acaso, e mais um samba estava sendo feito dentro de um trem e a muitos metros de altitude.

No princípio a cor e o violão

Embora Vasco Mariz em A Canção Brasileira registre como primeira música de Herivelto Martins o samba Da cor do meu violão, lançado em 1932, o que ele também confirma, parece haver equívoco de ambos. A produção que deu início à carreira do hoje bastante conhecido compositor foi — segundo sua entrevista ao Diário Carioca, em janeiro de 1933 — um outro samba, o Não importa a nossa cor. Nesse que teve a parceria de Francisco Senna, com quem veio a formar a primitiva Dupla Preto e Branco, cantava: “Que importa a nossa cor, / Se os corações são iguais. / Também tens o teu amor, / Sofremos a mesma dor, / Portanto somos iguais”.

Que tenha sido qualquer dos dois sambas, o exatamente primeiro na ordem cronológica das produções de Herivelto Martins (quase todos de sua autoria exclusiva), pouco importa. Computando em sua ficha na SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores de Música) de onde é presidente do Conselho Deliberativo, um total de mais de 700 composições, o importante é o êxito delas. Isto teria comprovação facílima recordando-se o sucesso obtido por muitas. Bastará, porém, citar-se a Ave Maria no Morro, já com a centena de gravações ultrapassada, para não haver dúvida quanto á qualidade de todo o repertório de Herivelto.

O edredon sai da cabeça para o samba

Morando na Rua Larga — que apesar de oficialmente ser a Avenida Marechal Floriano Peixoto, ainda tem válido seu antigo nome — Herivelto Martins freqüentava assiduamente o ponto dos compositores na Praça Tiradentes. Certa tarde quando para ali se dirigia, entre 1936 ou 1939, ao passar pela Avenida Gomes Freire, viu na porta de uma casa que vendia roupas de cama e mesa (próxima à agência postal ali existente) um pequeno cartaz. Oferecendo a mercadoria na qual estava afixado, dizia em letras maiúsculas e grandes: edredon. Mais abaixo, um pouco menor na grafia, constava o preço. Leu a palavra e achou-a bonita, vistosa: edredon.

Conseqüentemente, pelo impacto, assim como pelo agrado que causou, viu no vocábulo francês, de boa rima, o motivo para mais um samba. “Fiquei com o edredon na cabeça”, diz ele. No dia seguinte indo a Petrópolis, já com o alinhavo da letra e da música em formação, O edredon que estava em sua cabeça desde a véspera subiu a serra com Herivelto, mas, na descida, já havia se tornado em samba. Um pedaço de papel, um lápis e os versos foram sendo escritos, conduzidos pelo ritmo e melodia: Meu edredon vermelho, / Brilha que nem um espelho, / Reflete o rosto teu. / Quando te sentas na cama, / Sujas o tapete de lama, / Mas não faz mal, digo eu.

Era “samba pra mulher” e Jamelão recusou

Quando Herivelto se dispôs (ou conseguiu) gravar o Edredon Vermelho, em 1945 ou 46, convidou Jamelão para ser o intérprete. Primeiro cantou todo o samba e ao terminar perguntou ao José Bispo (este o nome de Jamelão) se ele queria pô-lo na cera. Elogiando a melodia, a letra, vaticinando o seu sucesso, recusava, no entanto, cantá-lo por ser “próprio pra mulher”. Foi então Isaurinha Garcia escolhida. Com sua voz bonita transmitindo o sentimento dos versos e ajuntando ainda o molho que lhe deu lugar de destaque em nossa música popular, assegurou o agrado da composição.

Motivado ao acaso, esse Edredon Vermelho, que começou na simples leitura de rotineira oferta comercial onde havia uma palavra sugestiva, tem história despida de artifícios alegóricos e bastante sincera. Ao contar honestamente, sem enredo falso, impressionante, que apenas um vocábulo de pouco uso bastou para sugerir-lhe um samba, Herivelto Martins mostrou a fertilidade de nossos compositores populares. Todos eles encontram nas ruas, no caminho, não apenas a pedra de que fala Carlos Drummond de Andrade, porém muita coisa que faz gerar uma cançãozinha alegre, brejeira.

Exatamente como o edredon que estava à venda na Avenida Gomes Freire e Herivelto depois de tê-lo na cabeça por algum tempo transformou-o em samba.

(O Jornal, 15/11/1964)
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Fonte: Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira / Jota Efegê. - Apresentação de Carlos Drummond de Andrade e Ary Vasconcelos. — 2. ed. — Rio de Janeiro - Funarte, 2007.