segunda-feira, maio 02, 2011

Gonzalo Curiel

Gonzalo Curiel
Gonzalo Curiel (Gonzalo Curiel Barba) nasceu em 10 de janeiro de 1904 em Guadalajara, Jalisco, México. Seus pais eram Juan Nepomuceno Curiel Guerrero e María de Jesus Barbosa Riestra, e tinha dois irmãos, María Elisa e Juan Luis. Desde pequeno mostrou grande apreço pela música. Aos seis anos aprendeu a tocar piano e depois guitarra e violino.

Em sua cidade natal estudou até o quarto ano de medicina, pois seu pai exigia uma habilitação profissional. Mas o seu grande dom para a música prevaleceu e, em 1927 deixou a Universidade e se mudou para a Cidade do México. Já instalado na capital trabalhou como pianista em uma loja de música, para gravação de rolos de piano.

E assim como pianista ou "pianeiro" começou sua carreira profissional na música na empresa XEW . Ele já estava tocando há dois meses nessa rádio, quando o médico e cantor Alfonso Ortiz Tirado, que estava partindo para uma turnê internacional,  lhe convidou para substituir seu pianista, que estava doente.

Este passeio deu a Curiel a oportunidade de apresentar seu trabalho e talento, e serviu como plataforma para depois, criar bandas e se tornar um dos primeiros artistas que trabalharam na frente de sua própria orquestra.

Foi assim que surgiu o "Grupo Ritarmelo" (ritmo, harmonia e melodia), integrado por Emilio Tuero, Pablo e Carlos Martínez Gil e Ciro Calderón e dirigido por Gonzalo. Depois, sempre buscando inovações, formou "Los Diablos Azules" e "Los Caballeros de la Armonía".

Então, finalmente deu luz para o que seria o seu famoso "Escuadrón del Ritmo", que chegou a ter grande renome e marcou toda uma época entre as orquestras e eventos sociais, assim como variedade principal em teatros de revista.

Com esta orquestra, excursionou por todo o México e os Estados Unidos, assim como Brasil, Argentina e Chile. Deste grupo surgiu músicos e compositores, cuja fama perdura até hoje.

Durante sua carreira, Gonzalo Curiel aventurou-se em três grandes áreas de música: o popular, o cenário para filmes e da sinfonia.

Na música popular seu trabalho foi muito extenso, mas é certamente em Vereda tropical, o seu bolero mais conhecido e cantado em todo o mundo.

Entre outras criações de Gonzalo Curiel que vieram para o gosto público mundial estão: Temor, Un gran gmor, Caminos de ayer, Son tus ojos verde mar, Amargura, Incertidumbre, Calla tristeza, Dime, morena linda, Noche de luna, Desesperanza, Dolor de ya no verte, Esperanza, Me acuerdo de ti, e Llévame.

Participou em mais de 180 filmes da era dourada do cinema, além de produzir músicas para o cinema americano e francês. Em 1954 ganhou o prêmio Ariel, por causa de sua música de fundo no filme Eugenia Grandet, que estrelou Marga Lopez. Em 1958 ele foi premiado no filme Vainilla, bronce y morir em que atuaram os artistas Ignacio López Tarso e Elza Aguirre.

Curiel, compartilhando ideais com Afonso Esparza Oteo, Nacho Tata Fernandez Ignacio Esperon e Talavera Mario, entre outros, para melhorar a situação econômica dos compositores do México, fundou o Sindicato Mexicano de Compositores, Autores e Editores de Música (SMACEM) e, em seguida, Sociedade de Autores e Compositores, instituição em que foi, em dois períodos, Presidente do Conselho Diretivo.

Em sua vida recebeu muitos prêmios, mas depois de sua morte as homenagens foram grandiosas: algumas ruas e avenidas no México levam o seu nome e bustos em bronze imortalizam a sua memória.

O grande compositor Gonzalo Curiel morreu de um ataque cardíaco em sua casa, em 4 de julho de 1958. Seus restos descansam no Jardim Panteão de San Angel na Cidade do México.

Em 2009, Gonzalo Curiel Barba foi premiado pela Sociedade de Autores e Compositores, com reconhecimento póstumo Juventino Rosas, uma medalha de "post mortem", instituído para homenagear os compositores mexicanos, cujo trabalho transcendeu as barreiras linguísticas e a glória cultural do México no mundo.


Acesse aqui a relação de compositores e intérpretes de bolero

Bolero: Letras, Cifras e Músicas

Saiba sobre as origens do bolero


Fonte: Sociedad de Autores y Compositores de México - SACM. Tradução: Everaldo J Santos (12/4/2011).

Cego Aderaldo

Cego Aderaldo (Aderaldo Ferreira de Araújo), cantor itinerente e repentista, nasceu em 24 de junho de 1878 na cidade do Crato — CE, e faleceu em 29 de junho de 1967, em Fortaleza - CE. Logo após seu nascimento mudou-se para Quixadá, no mesmo estado.

Aos cinco anos começou a trabalhar, pois seu pai adoeceu e não conseguia sustentar a família. Tomou conta dos pais sozinho: quinze dias depois que seu pai morreu (25 de março de 1896).

Quando tinha 18 anos e trabalhava como maquinista na Estrada de Ferro de Baturité, sua visão se foi depois de uma forte dor nos olhos. Pobre, cego e com poucos a quem recorrer, teve um sonho em verso certa vez, ocasião em que descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma viola a qual aprendeu a tocar. Mais tarde começou a tocar rabeca.

Algum tempo depois, quando tudo parecia estar voltando à estabilidade, sua mãe morre. Sozinho começou a andar pelo sertão cantando e recebendo por isso. Percorreu todo o Ceará, partes do Piauí e Pernambuco. Com o tempo sua fama foi aumentando.

Em 1914 se deu a famosa peleja com Zé Pretinho (maior cantador do Piauí). Depois disso voltou para Quixadá mas, com a seca de 1915, resolveu tentar a vida no Pará. Voltou para Quixadá por volta de 1920 e só saiu dali em 1923, quando resolveu conhecer o Padre Cícero.

Rumou para Juazeiro onde o próprio Padre Cícero veio receber o trovador que já tinha fama. Algum tempo depois foi a vez de cantar para Lampião, que satisfez seu pedido — feito em versos — de ter um revólver do cangaceiro.

Tentando mudar o estilo de vida de cantador, em 1931, comprou um gramofone e alguns discos que usava para divertir o povo do sertão apresentando aquilo que ainda era novidade mesmo na capital. Conseguiu o que queria, mas o povo ainda o queria escutar.

Logo depois, em 1933, teve a idéia de apresentar vídeos. Que também deu certo, mas não o realizava tanto. Resolveu se estabelecer em Fortaleza em 1942, onde veio a abrir uma bodega na Rua da Bomba, No. 2. Infelizmente o seu traquejo de trovador não servia para o comércio e depois de algum tempo fechou a bodega com um prejuízo considerável.

Desde 1945, então com 67 anos, Cego Aderaldo parou de aceitar desafios. Mas também, já tinha rodado o sertão inúmeras vezes, conseguira ser reconhecido em todo lugar, cantara pra muitas pessoas, inclusive muitas importantes, tivera pelejas com os maiores cantadores.

E, na medida em que a serenidade, que só o tempo trás ao homem, começou a dificultar as disputas de peleja, ele resolveu passar a cantar apenas para entreter a alma.

Cego Aderaldo nunca se casou e diz nunca ter tido vontade, mas costumava ter uma vida de chefe de família pois criou 24 meninos.

Relata o Cego Aderaldo:

"Em Belém do Pará eu conheci muitos cantadores. Mas o mais afamado, que emendou a camisa comigo, foi o índio Azuplim. Nossa batida foi a que se segue..."

Eu saí do Ceará
Deixei meu triste mocambo,
Com medo do dezenove,
Este pesadelo bambo.
Vinha o coronel Monturo
Junto com doutor Molambo...
A dona fome na frente,
Na cadeira do trapiche,
Dizendo: No Ceará
Tudo é fofo e nada é fixe.
Juro que aqui nesta terra
Não vinga mais nem maxixe...
A dona Fome me olhou
E disse a mim: — Eu pego!
Eu disse: — Não senhora!
Eu sei por onde navego,
Quem tem vista corre logo,
Quanto mais eu sendo cego...
Segui para Fortaleza,
Dei uma viagem além.
O barco era o "Maranhão",
E até corria bem,
Com três dias e três noites
Chegando nós em Belém...
Quando eu cheguei em Belém,
Me encostei naquele cais.
— Aonde vai esta linha?
Eu perguntei a um rapaz
Ele disse: — Nesta linha
Passa um trem para São Brás...
Eu parti para São Bras,
Para casa de Gaudêncio
Que já conhecia bem,
Ele, Salina e Merêncio;
Junto estes amigos
Não pude guardar silêncio...
Fui para Madre de Deus,
Terra de um povo fiel,
Ali ganhei qualquer cousa
Tomei açaí com mel,
De manhã peguei o trem,
Fui para Santa Isabel...
Depois fui para Americana,
Cantei lá no Apéu,
Do sitio de São Luís
Eu fui pra Jambuaçu;
Eu cantei no Castanhal,
E no Igarapeaçu...
No primeiro Caripi
Eu cantei, lá fui feliz,
No segundo Caripi
Cantei tudo quanto quis,
E ali tomei o trem,
Fui cantar em São Luís....
Ali chegou um convite,
Eu para Muricizeira,
Depois, cantei no Burrinho
Cantei no Açaí Teuã...
Fui cantar no Timboteuã...
Segui para Capanema
Com coragem e esperança.
Passei uns dois ou três dias
E segui para Bragança,
Dizendo sempre comigo:
— Quem espera em Deus não cansa...
Quando eu cheguei em Bragança,
Não quis ir no Benjamim,
Não encontrando hospedagem,
Me hospedei num botequim,
Que era coberto e cavaco
E circulado a capim...
O dono do botequim
Veio a mim e perguntou:
— Cego de onde tu és?
Me diga se é cantador.
Me diga se não tem medo
De azuplim trovador...
Me perguntei: — Não senhor!
Será algum rio-grandense
Ou mesmo um paraibano,
Ou um cantador cearense?
Ele disse: — Não senhor,
É um cantor paraense...
Quando findei a palavra
Vi o paraense chegar,
Ele trazia consigo
Uma viola e um ganzá,
E trazia um tamborim,
Que é instrumento de lá...
Ele afinou a viola,
Quando bateu no ganzá,
Deu um tom no tamborim
Para o baião entoar,
Eu tirei a rabequinha
E fiz a prima chorá...
Cego — Eu lhe disse: — Oh! Paraense,
És uma ninfa de fada,
Teu cântico me parece
A deusa da madrugada.
Eu lhe peço, amicíssimo,
Que cante a sua toada...


Azuplim — Cego, minha toada é,
Um trabalhador garantido.
Você pra cantar mais eu
Precisa ser aprendido,
Queira Deus tu me acompanhe, ai ai!
Pra cantar nesse gemido...
C — Meu amigo, o teu gemido,
Tem destacado valor,
Canta bem perfeitamente,
Já vi que é bom cantador,
Mas amigo, esse gemido,
Me desculpe , que eu não dou...
A — Se num dás um só gemido
Também não és cantador,
Vá cobrar logo o dinheiro.
Do mestre que lhe ensinou, ai, ai!
O cego já apanhou...
C — Se gemer foi cantoria,
Você é bom cantador,
Pois gemes perfeitamente,
No gemido tem valor,
Mas geme com grande dor...
A — Ou que gema ou que não gema,
A boa palavra encerra,
Cego, cante aqui mais eu,
Que eu vim lhe fazer guerra,
Quero que você me diga, ai, ai!
A linguagem da minha terra...
C — A linguagem da tua terra,
Não é linguagem mesquinha,
É toda no guarani
Estudada, é bonitinha!
Para que não perguntaste
A linguagem da terra minha?...
A — Eu quero é que diga da minha
Por que muda de figura:
Cego, diga para mim
O que nós chama mucura,
Quero que você me diga, ai, ai!
O que é saracura...
C — É verdade, essa linguagem
Muda mesmo de figura,
O que nós chama casaco
Vocês só chamam mucura
E o que nós chama sericóia
Vocês chamam saracura...
A — Cego, diga para mim:
O que é jamaru?
Queira Deus você me diga
O que é jacuraru,
O que é macuracar ai, ai!
O que nós chama jambu...
C — É o que nós chama cabeça,
Vocês chama jamaru,
O que nós chama tejo,
Vocês chama jacuraru,
Tipi é mucuracar,
E agrião chamam jambu...
A — Cego, diga para mim
O que nós chama jibóia,
Quero que você me diga
O que é tiranabóia,
Diga aí pra eu saber, ai, ai!
O que é "pegando a bóia"...
C — No Piauí tem um besouro
De nome tiranabóia,
Nossa cobra-de-veado
Cresce aqui, chamam jibóia,
Em minha terra almoço e janto,
... tanto aqui só "pego a bóia"...
A — Cego, diga para mim
O que é a sacupema,
Veja se você me diz
O que é piracema,
Diga aí rapidamente, ai, ai!
O que nós chama panema...
C — O que nós chama raiz
Vocês chama sacupema,
O que nós chama peixe muito
Vocês chamam piracema;
A um sujeito preguiçoso
Chega aqui chamam panema...
A — Cego, diga para mim
A língua dos Tupinambá,
A língua dos Aimoré,
Ou dos índios Caetá,
Ou sobre os índios Tamoios
Ou índios Tamaracá...
C — Sobre as gírias dos índios,
Desde o Norte até o Sul,
Pixueira é coisa fria,
Um beijo chama meiru,
Tacioca é uma é uma casa,
Morada de caititu...
A — Agora o cego Aderaldo
Me respondeu muito bem,
Vi que gírias dos índios,
Ele segue mais além,
Pelo jeito que estou vendo
Você é índio também...
C — Meu amigo eu não sou índio,
Nasci num pobre lugar:
Que é tão propenso a seca
Que obriga agente emigra
Sol danado de Iracema,
Terra de Zé de Alencar...
A — Cego, deixa de mentira,
Tua terra não tem nome,
Tua terra é uma miséria,
É lugar que não se come,
De lá veio cinco mil,
Tudo pra morrer de fome...
C — Dos cinco mil que vieram
Algum era meu parente,
Uma era tio, outro primo,
Conterrâneo e aderente,
Mais esse povo só come
Massa de figo de gente...
A — Saí daí, cego canalha,
Com a sua poesia,
Nesta minha carretilha
Você hoje se esbandalha,
Teu cântico tem grande falha,
Quer cantar mais não convém...
Você somente o que tem
É entrar no bacalhau;
Apanhar de peia e pau
Cearense aqui não vai bem...
C — De onde tu vens contrafeito,
Cabeça de onça mancho,
Bote o matulão abaixo
E conte a história direito,
Me diga o que aqui tem feito
Por estes mundos além,
Se você matou alguém
Ou então se fez barulho,
Vai muito mau seu embrulho,
Paraense aqui não vai bem...


A — Quando eu pego um cantador
Dou três tacada danada,
Lhe deixo a cara inchada
De relho e chiquerador,
É o café que lhe dou,
É isto que lhe dou,
E não diz nada a ninguém,
Apanha e fica calado,
Triste e desmoralizado
Cearense aqui não vai bem...


C — Disse uma velha na rua
Que em outros tempos atrás
Você e um seu rapaz
Lhe roubaram uma perua;
Veja que moda esta sua
Roubando quem vai, quem vem,
Como tu não tem ninguém
Mais ladrão do que você.
Tome lá meu parecer:
Paraense aqui não vai bem...
A — O cantador que eu pegar
Pelo meio da travessa
Nem Padre lhe confessa
Enquanto eu não lhe soltar,
Dou-lhe arrocho de lhe quebra,
Osso e costela também,
Quebro tudo que ele tem,
Deixo-lhe o corpo em bagaço,
Tudo quanto eu digo eu faço,
Cearense aqui não vai bem...
C — Até as moças donzelas
Pediram aos cabras da feira
Para meter-lhe a madeira
E arrebentar-lhe as costelas.
Você abra o olho com elas,
Boa surra você tem,
Boa surra você tem,
Neste dia também vem
A velhinha da perua
Quebrar-lhe a cara na rua,
Paraense aqui não vai bem...
A — Também não quero brigar,
Não sou homem de intriga,
Eu não nasci para briga
E não vivo de pelejar;
Também não quero teimar
Porque isso não convém,
Lhe venero e quero bem,
Digo isso pode crer;
Não quero lhe aborrecer,
Cearense aqui vai bem...
C — Amigo, como mudou,
Que coisa misteriosa!
Tens o perfume da rosa
Que a pouco desabrochou.
Por isso tem o maior verdor
Do que lá no bosque tem.
O anjo lá de Belém
Ouviu nossa cantoria,
Entrarmos em harmonia,
Paraense aqui vai bem...
Havia quatro cervejas
Que um coronel apostou
Dizendo que todas quatro
Pertencem ao vendedor
Nós dois bebemos as cervejas
Nem um nem outro apanhou...

(Estado do Pará, junho de 1919)

Fontes: Texto extraído do livro "Eu sou o Cego Aderaldo"; Rachel de Queiroz, Maltese Editora — São Paulo, 1994; Wikipedia - A Enciclopédia Livre.

Murici Andrade

Murici Andrade (José Cândido de Andrade Murici), musicólogo, jornalista e professor, nasceu em Curitiba PR, em 4/2/1895, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 9/6/1984. Iniciou estudos de piano com Marieta Beltrão, em 1911, escrevendo também seus primeiros trabalhos literários para a revista O Fanal.

Em 1913 publicou sua primeira obra, o conto Sonata pagã. Em 1914 e 1915 participou das manifestações literomusicais Horas de Arte, época em que estudou piano com Hugo Antônio de Barros e piano e harmonia com Leo Kessler.

Em 1916 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo e à crítica literária. Em 1919 formou-se em direito pela Faculdade de Ciências Juridicas e Sociais do Rio de Janeiro.

De 1923 a 1925 morou na Suíça. Retornando ao Brasil, retomou seus estudos de piano com Luciano Gallet e depois com Tomás Terán e Arnaldo Estrela, no Rio de Janeiro. Em 1926 publicou o romance Festa inquieta e foi nomeado para a secretaria da Corte de Apelação, do Rio de Janeiro. Em 1927 fundou, com outros, a revista Festa, que também dirigiu. 

Em 1935 deu cursos de extensão universitária no I.N.M. e na Associação dos Artistas Brasileiros. Em 1942 foi transferido para o Ministério da Educação e Saúde, atuai Ministério da Educação e Cultura, como professor de estética musical e história da música, no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Música e seu secretário-geral em 1945. 

Publicou Caminho da música (1a. série, Curitiba, 1946; 2a. série, Curitiba, 1951). Membro da comissão artística e cultural do Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, foi eleito seu diretor em 1952. Nesse ano publicou Panorama do movimento simbolista brasileiro, 3 volumes, Rio de Janeiro (2a. ed., 2 volumes, Rio de Janeiro, 1973). Escreveu ainda Villa-Lobos — uma interpretação, Rio de Janeiro, 1961. 

Em 1965 recebeu a medalha de mérito Carlos Gomes, do governo do antigo Estado da Guanabara. Em 1973 recebeu a medalha cultural Silvio Fróis, do Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador BA, lançando no mesmo ano o estudo biobibliográfico Cruz e Sousa. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art EditorA.

Muraro

Muraro (Heriberto Leandro Muraro), pianista e compositor, nasceu em La Plata, Argentina, em 25/5/1903, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 8/3/1968. Começou estudando piano com Alfredo Bevilacqua, sendo matriculado depois no Conservatório Fracassi D’Andrea.

Estreou como concertista no Salão Argentina, excursionando por Santiago do Chile e Montevidéu, Uruguai. Atuou nas rádios Cultura e Belgrano, ainda em Buenos Aires, Argentina.

Chegou ao Brasil em 1932, apresentando-se na Rádio Record, de São Paulo SP. No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi contratado para atuar na Rádio Mayrink Veiga como pianista de Lely Morel.

Compôs a valsa Roleta da vida, gravada por Carlos Galhardo. Tocou nos filmes Alô, alô Brasil (1935, de Alberto Ribeiro, João de Barro e Waliace Downey) e Alô, alô Carnaval (1936, de Ademar Gonzaga), e seus malabarismos e brincadeiras com o teclado valeram-lhe o apelido de “O incrível Muraro”. 

Trabalhou na Rádio Mayrink Veiga até 1942, quando voltou a São Paulo, onde permaneceu por um ano. Regressando ao Rio de Janeiro, foi novamente contratado pela Rádio Mayrink Veiga, passando a atuar em programas populares, como Rádio Novidades, Quatro Notinhas Mágicas, Três Malucos em Ritmo e outros. 

Até 1952 gravou mais de 60 músicas em 78 rpm, entre elas algumas de sua autoria, como os choros Moto perpétuo, Zangado, Flanando e Saudade de Santa Cruz (com Pixinguinha), a polca Baumbá e o samba Chopin no samba

Destacado intérprete de choros, gravou na RGE os LPs O incrível Muraro, em 1958, com peças de Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense, e Casinha pequenina, em 1959, com músicas tradicionais e várias de Chiquinha Gonzaga

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Rosil Cavalcanti

Rosil Cavalcanti, compositor, ator e animador de programas de rádio e televisão, nasceu em Macaparana-PE, em 20/12/1915, e faleceu em Campina Grande-PB, em 10/07/1968. Nasceu no Engenho Zebelê, na localidade de Macaparana. Fez os cursos primário e ginasial no Recife.

Em 1936 entrou para o 22º Batalhão de Caçadores da 7º Região Militar na cidade de Aracaju, em Sergipe. Em 1937, licenciou-se do Batalhão de Caçadores e passou a trabalhar no Fomento Agrícola de Sergipe. Nesse período sagrou-se como jogador tri- campeão de futebol sergipano pelo Cotinguiba Sport Clube.

Em 1941 foi trabalhar na Secretaria de Agricultura da Paraíba, na cidade de João Pessoa. Em 1943 mudou-se para Campina Grande, onde permaneceu até 1947, quando retornou a João Pessoa. No mesmo ano, passou a trabalhar na firma Brasil Oiticica S. A na cidade de Pombal.

Em 1942 iniciou a carreira artística fazendo com Jackson do Pandeiro a dupla "Café com leite", que atuou na Rádio Jornal do Comércio, em Recife.

Em 1951, passou a trabalhar como redator na Rádio Caturité de Campina Grande, onde lançou o programa Rádio Atrações. Em 1953, Jackson do Pandeiro gravou um dos maiores sucessos de sua carreira e o maior da carreira de Rosil, o coco Sebastiana, que seria regravada, em 1969, por Gal Costa e Gilberto Gil, em LP da cantora baiana. 

No mesmo ano, passou a trabalhar na Rádio Borborema, também de Campina Grande, e a cantora Ademilde Fonseca gravou na Todamérica o baião Meu cariri, de sua autoria. Outros grandes sucessos de Rosil gravados por Jackson do Pandeiro foram Cabo Tenório e Moxotó. Com Jackson do Pandeiro compôs, entre outras, Quadro-negro, Cumpadre João e Os cabelos de Maria

Em 1955, o Trio Orixá gravou o baião Meu Cariri, em parceria com Dilu Melo. Em 1956 Jackson do Pandeiro gravou na Copacaba o xote Moxotó. Em 1958, Marinês e sua Gente gravaram os baiões Aquarela nordestina e Saudade de Campina Grande

Em 1962 teve a marchinha Faz força, Zé e o xote Ô véio macho, gravados na RCA Victor por Luiz Gonzaga e o baião Forró de Zé Lagoa gravado por Genival Lacerda na Mocambo. 

Em 1989, o cantor e compositor paraibano Biliu de Campina gravou o disco Tributo a Jackson e Rosil, em que interpretou, entre outras, Forró na gafieira, Chapéu de couro e Coco do Norte. Entre outros, também gravaram músicas de sua autoria o Trio Nordestino, Pedro Sertanejo, Trio Orixá, Jacinto Silva, Gilvan Chaves e Zito Borborema.

Em 2003, teve a sua música, A festa do milho, gravada no álbum Canções joaninas, do cantor e sanfoneiro Targino Gondim. Em 2007, teve a música de sua autoria Sebastiana gravada pelo cantor e compositor Kojak do forró, no álbum ao vivo O afilhado do rei do ritmo Jackson do Pandeiro. O CD/DVD, de lançamento independente, produzido por Kleber Matos, foi uma homenagem ao cantor e compositor Jackson do Pandeiro.

Como animador, usava o nome de "Zé Lagoa", um tipo engraçado que criou e que fez muito sucesso na televisão e, sobretudo, no rádio. Nunca gravou uma de suas canções porque reconhecia que tinha "pouca voz".

Morreu em Campina Grande, Paraíba, em 10/07/1968, vítima de infarte do miocárdio.

Fonte: Pernambuco de A-Z; Wikipedia; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Os Mulheres Negras

Os Mulheres Negras - Dupla formada por André Abujamra (André Cibelli Abujamra, São Paulo SP 1965—), guitarra, e Maurício Pereira (Maurício Gallocci Pereira, São Paulo 1959—), saxofone, ambos também tocando diversos instrumentos eletrônicos.

O trabalho musical, muito bem-humorado, constituía uma paródia do tecnopop — estilo de pop-rock caracterizado pelo uso preponderante ou mesmo total de instrumentos eletrônicos —, além de sofrer influências de vários estilos e ritmos, entre eles a bossa nova e a música africana, seguindo também a world music (rótulo usado desde meados dos anos de 1980 para música pop com influências de fora dos EUA e Inglaterra).

Gravaram dois LPs/CDs Música e ciência (WEA, 1988) e Música serve pra isso (1990), que incluem sucessos como John, Monstros japoneses e Sub, versão de Yellow Submarine, dos Beatles.

Com o fim da dupla e (independente, 1995), e André Abujamra formou o grupo Karnak, dedicado a satirizar a world music e que já lançou dois CDs, Karnak (Tinitus, 1996) e Universo, um big o (Velas, 1997).

No ano de 2002, a gravadora WEA realançou em CD os dois LPs da dupla: Música e ciência" e Música serve para isso.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Paulo Moura

Paulo Moura, instrumentista, regente, arranjador e compositor, nasceu em São José do Rio Preto SP, em 15/7/1932, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12/7/2010. Filho do mestre-de-banda, clarinetista e carpinteiro Pedro Moura, tem três irmãos músicos, José e Alberico, trompetistas, e Valdemar, trombonista.

Começou a aprender piano aos nove anos e com 13 já tocava em festas e bailes que o conjunto do pai animava. Foi aprendiz de alfaiate e mudou-se para o Rio de Janeiro com a família, fazendo o curso científico, enquanto os irmãos mais velhos viviam de música, tocando em orquestras, no Cassino da Urca e nos shows de Carlos Machado.

Iniciou-se como músico profissional em gafieiras dos subúrbios cariocas e nos cafés da Praça Tiradentes, entrando em 1951 para a orquestra de Osvaldo Borba, atuando depois com Zacarias e sua Orquestra. Nessa época, participou de uma gravação, pela primeira vez, tocando na orquestra que acompanhou Dalva de Oliveira no samba Palhaço (Nelson Cavaquinho ).

Aos 18 anos entrou, por concurso, no quinto ano da E.N.M.U.B., fazendo o curso de clarinetista e obtendo diploma dois anos depois. Aprendeu teoria, contraponto e música com Paulo Silva e Lincoln Pádua, estudou harmonia, contraponto e fuga com Guerra Peixe e José Siqueira, aiém de aprender orquestração com Moacir Santos e arranjos populares com o maestro Cipó.

Em 1953 foi ao México com a orquestra Ary Barroso, integrou o Conjunto Maciel e trabalhou com a Orquestra Cipó da Rádio Tupi. De 1954 a 1956 participou do Conjunto Guio de Morais, atuando na boate Régine, gravando nesse último ano o Moto perpetuo, de Niccolò Paganini (1 782—1 840), em 78 rpm, na Columbia, seu primeiro disco como solista. No ano seguinte formou sua orquestra para baile, atuando no Brasil Danças, e gravou para a Sinter Paulo Moura e sua orquestra para bailes.

De 1958 a outubro de 1959, tornou-se orquestrador e arranjador da Rádio Nacional, viajando, ainda em 1958, para a antiga União Soviética e outros países socialistas, na direção musical do grupo formado por Dolores Duran, Nora Ney, Jorge Goulart, Maria Helena Raposo e o Conjunto Farroupilha.

No ano seguinte, entrou como clarinetista para a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, gravando no mesmo ano, para a Continental, com o quarteto de Radamés Gnattali, o LP Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali, que incluia composições inéditas como Monotonia.

Em 1960 obteve o primeiro lugar como solista de clarineta na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, e viajou para a Argentina, com a Orquestra de Severino Araújo, gravando na Chantecler outro LP, Tangos e boleros. Dois anos depois, integrou o Conjunto Bossa-Rio, de Sérgio Mendes, tocando sax-alto, e apresentou-se no Festival de Bossa Nova, no Carnegie HaIl em New York, EUA.

Em 1964 gravou na CBS o LP Edson Machado é samba novo, atuando como saxofonista do conjunto. Em 1968 gravou Paulo Moura hepteto e no ano seguinte Paulo Moura quarteto, seguindo-se o LP Fibra, novamente com o hepteto, em 1971, todos na gravadora Equipe.

Teve vários conjuntos, três orquestras e dois quartetos; com um deles esteve na Grécia em 1971.
Em janeiro de 1975 esteve novamente nos EUA gravando um disco com o guitarrista Tiago de Melo.
Regeu a Orquestra Sinfônica de Brasília, em 1988, executando peça de sua autoria em homenagem ao centenário da libertação dos escravos.

Em 1992 recebeu o prêmio Sharp como Melhor instrumentista Popular. No mesmo ano compôs Suíte carioca, peça para orquestra sinfônica, coral infantil e grupo instrumental de jazz. Cinco anos depois foi lançado pelo selo Velas o CD Pixinguinha, gravado em 1996, ao vivo, no teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro, em show do grupo Os Batutas, do qual participa como clarinetista ao lado de Zé da Velha (trombone), Joel do Bandolim, Jorge Simas (violão), Márcio (cavaquinho) e os percussionistas Jorginho do Pandeiro, Marçalzinho e Jovi.

Lançou, em 1998, com Os Batutas, o CD Pixinguinha, pelo qual recebeu o Prêmio Sharp, nas categorias Melhor CD Instrumental e Melhor Grupo Instrumental, e, em 1999, com Cliff Korman, o CD Mood ingenuo.

Em 2000, sua Fantasia Urbana para Saxofone e Orquestra Sinfônica foi apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, recebeu o Grammy Latino, na categoria Melhor Disco de Música Regional (ou de Raízes Brasileiras), pelo disco Pixinguinha, gravado com o grupo Os Batutas. 

Em 2001, participou do projeto Rio Sesc Instrumental, dividindo o palco com Yamandu Costa. Nesse mesmo ano, lançou, pela Pau Brasil, o CD "Paulo Moura visita Gershwin & Jobim", gravação ao vivo de um show realizado em 1998 na inauguração do Teatro Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com um septeto instrumental formado por Jerzy Milewsky (violino), Jota Moraes (piano), Cliff Korman (teclados), Nelson Faria (violão e guitarra), Rodolfo Stroeter (baixo) e Pascoal Meirelles (bateria).

Em 2003, lançou o CD Estação Leopoldina. No ano seguinte, lançou, com o violonista Yamandú Costa, o CD El negro del blanco.

Participou do documentário Brasileirinho, do finlandês Mika Kaurismaki, uma das atrações da mostra Forum do Festival de Berlim, em 2005. Neste mesmo ano, estreou turnê nacional e internacional do espetáculo "Homenagem a Tom Jobim", ao lado de Armandinho, Yamandú Costa e Marcos Suzano.

Em 2006, lançou, com João Donato, o CD Dois Panos para Manga, concebido em uma reunião na casa do diretor de TV Mario Manga. Nesta oportunidade, foi sugerida aos dois artistas a gravação de um disco que registrasse alguns dos temas degustados pelos freqüentadores do Sinatra-Farney Fã Club na década de 1950. No repertório, Minha saudade (João Donato e João Gilberto), On a Slow Boat to China (Frank Loesser), Swanee (George e Ira Gershwin), That Old Black Magic (Harold Arlen e Johnny Mercer), Tenderly (Walter Gross e Jack Lawrence), Saudade mata a gente (Antonio Almeida e João de Barro), Copacabana (Alberto Ribeiro e João de Barro) e ainda Pixinguinha no Arpoador e Sopapo, duas composições inéditas assinadas pelos dois artistas. 

Lançou, nos anos seguintes, os CDs Samba de latada” (2007), em parceria com Josildo Sá, Pra cá e pra lá – Paulo Moura trlha Jobim e Gerschwin (2008), e AfroBossaNova (2009), em parceria com Armandinho.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Leonardo Mota

Leonardo Mota (Leonardo Ferreira da Mota), jornalista e folclorista, nasceu em Pedra Branca CE, em 10/5/1891, e faleceu em Fortaleza CE, em 2/1/1948. Formou-se pela Faculdade de Direito do Ceará, em 1916.

Colaborou na imprensa cearense e do Sul do país. Publicou alguns volumes com farto documentário sobre o sertão nordestino, principalmente com referência à literatura oral — poesia, anedotário e adagiário:
Cantadores, Rio de Janeiro, 1921 (2ª. ed., Rio de Janeiro, 1953; 3ª. ed., Fortaleza, 1961); Violeiros do Norte, São Paulo, 1925 (2ª. ed., Rio de Janeiro, 1955; 3ª. ed., Fortaleza, 1962); Sertão Alegre, Belo Horizonte, 1928 (2ª. ed., Fortaleza, 1965; 3ª. ed., Rio de Janeiro, 1976); No tempo de Lampião, Rio de Janeiro, 1930; Prosa vadia (Palestras lítero-humorísticas), Fortaleza, 1932; A padaria espiritual, Fortaleza, 1939.

Leota na defesa do folclore nordestino

Nos cafés existentes na antiga Fortaleza, onde intelectuais e poetas se reuniam diariamente, uma figura se destacava nas conversas, nas histórias bem humoradas sobre o homem do sertão: Leonardo Mota. Com o poder incomum de declamação, atraia sempre a atenção geral, divulgando através de sua memória prodigiosa os mais belos versos do cancioneiro popular. No Café Riche, Maison Art Noveau e Bar do Majestic, palcos tradicionais da sociedade cearense da época, ele brilhava na poesia. Um autêntico boêmio que legou ao Brasil os maiores estudos sobre o folclore. Um escritor que alcançou, em vida, a fama, o sucesso.

Rachel de Queiroz, da Academia Brasileira de Letras, lembra que o livro de estréia de Leonardo Mota, "Cantadores", conseguiu ser naquele tempo um "best-seller": "Sucesso difícil para um gênero considerado árido - pois quem, senão eruditos, lê folcloristas? Mas Leonardo Mota - ou antes Leota, o seu pseudônimo predileto - era lido com avidez e entusiasmo não só pelos seus colegas especialistas, como também pelo público em geral, dada a apresentação deliciosa dos temas, a inteligência na escolha do Material posto nos livros, a par da fidelidade exemplar com que ele reproduzia o falar sertanejo em toda a sua pura autenticidade e riqueza".

A autora do romance "O Quinze" observa que tais estudos não calam nos exageros e ridículos do chamado "falar caipira", que é uma contrafação posta em voga pelo teatro de revista, com fins de comicidade fácil". Diz que a seriedade de seus trabalhos era de tal forma surpreendente que "os cantadores profissionais consideravam a inclusão de seus versos num dos livros de Leonardo, como a consagração suprema, e a disputavam com afinco".

- E olha que não se tratava - complementa Rachel - de "cantadores" dessa fauna pobre e poluída pelo rádio, que anda hoje por ai, era o tempo dos gigantes, dos mestres ainda não superados e até agora imitados, que deixaram marca indelével no cancioneiro nordestino.

Sânzio de Azevedo, professor de Literatura na Universidade Federal do Ceará, destaca a importância de Leonardo Mota: "Ele se aprofundou nas pesquisas sobre o folclore, sendo imenso o número de trovas, desafios e anedotas que colheu diretamente do povo, em longas viagens ao interior, o que lhe valeria a fama de um dos maiores folcloristas do Brasil em todos os tempos". Além de recolher trabalhos que eram dispersos pelo tempo, Leota se dedicava também à poesia. O soneto "Pedra" um exemplo:

- Pedra que eu amo, pedra confidente/De todo o mal que o coração tortura,/Tu, que tens a serena compostura/De quem da vida a inquietação não sente,/Tu, que vives de todo indiferente/Ao lodaçal desta charneca impura/Que nós chamamos mundo, pedra escura/Que eu te cobice a placidez consente!/Pudesse eu ter a calma soberana/Que tens, em vez de agitação insana/A sacudir meu peito de preceito ... /Faze-me, pedra à tua semelhança:/ - Dá-me o sossego, a plácida confiança,/Faze desta alma um bloco de granito!.

O escritor Florival Seraine, do Instituto Histórico do Ceará, afirma que nenhum pesquisador de folclore no Brasil pode prescindir de consulta à obra de Leonardo Mota: "Ele realizou trabalho de extrema importância para a preservação da cultura popular. Realmente é impossível o desenvolvimento de qualquer pesquisa sem antes verificar as contribuições de Leota sobre os estudos nordestinos". O poeta Cláudio Martins, Presidente da Academia Cearense de Letras, manifesta-se admirador de Leota:

- Foi o homem mais vocacionado de todos os que se dão ao luxo do trabalho intelectual no Pais. Leota desfez-se do seu cartório para fazer pesquisa no plano da literatura natural, popular. Mesmo sendo ótimo poeta, preferiu dedicar-se à divulgação dos mais importantes versos populares brasileiros. Revelou ao Brasil a grandeza existente na poesia nordestina. Se não fosse seu esforço, muito da cultura popular estaria hoje perdida.

Leonardo Ferreira da Mota nasceu em Pedra Branca, em 10 de maio de 1891, filho de Leonardo Ferreira da Mota e Maria Cristina da Silva Mota. Terminou os preparatórios no Liceu do Ceará (1909), depois de Ter estudado em escolas primarias de Quixadá, no Seminário de Fortaleza (1903) e no “Colégio São José” na Serra do Estevão (1904 a 1908). Bacharel pela Faculdade de Direito do Rio de janeiro, em 1916, foi redator de jornal "Correio do Ceará" e diretor da "Gazeta Oficial". Foi notário público, tendo vendido o cartório para, com o dinheiro, custear as suas excursões folclóricas. Conhecido pelo pseudônimo de "Leota" assinava crônicas na imprensa cearense sobre os mais variados assuntos. Em 1921, publicou um de seus mais importantes livros: ''Cantadores''.

Dedicado totalmente ao folclore, reuniu depois suas pesquisas nos volumes "Violeiros do Norte" (1925), "Sertão Alegre" (1928), "No Tempo de Lampião" (1930), "Prosa Vadia" (1932) e "A Padaria Espiritual" (1938). Pela relevância de sua obra, foi eleito para a Academia Cearense de Letras e Instituto do Ceará. Considerado o "príncipe dos folcloristas nacionais", faleceu em Fortaleza, em 2 de janeiro de 1948.

No dia da morte de Leonardo Mota, os originais do livro "Adagiário Brasileiro” sumiram misteriosamente. Até hoje não se sabe de seu paradeiro. Graças ao trabalho persistente de seus filhos Moacir e Orlando Mota, aquele documento foi reconstituído numa tarefa que levou quinze anos, através de manuscritos, rascunhos e recortes de jornais, Com seiscentas páginas, "Adagiário" reúne dez mil ditados, locuções, modismos, ditos e comparações matutas.

O escritor Moreira Campos compartilha da opinião geral de que Leonardo Mota é o nosso maior folclorista: "Sem dúvida que neste campo uma grande autoridade do Nordeste e do Brasil, do ponto de vista da interpretação dos fenômenos folclóricos, é a Câmara Cascudo. Mas ele não excedeu a Leonardo Mota no que este pode recolher em relação sobretudo ao Nordeste". E acrescenta:

- De resto, destaque-se a graça com que escrevia. A força com que sabia transmitir os fatos. E isto está não só nos seus livros, como nas conferências que pronunciou. Conferências aliciantes, pelo seu jeito de narrar, pelos efeitos que tirava de sua exposição. Ele esqueceu todos os bens materiais para perseguir seu objetivo que foi o folclore.

Otacílio Colares, no livro "Lembrados e esquecidos" (Vol. 11), traça o perfil de Leonardo Mota: "Ledor incansável, periodista de têmpera, "causeur" inimitável, possuidor de extraordinária memória e de uma "verve" somente igualável aos seus talentos expressionais, alcançou, no Brasil, ao tempo em que seu nome começou a projetar- se, fora do Ceará, como o de um dos mais dedicados soldados de pesquisa folclórica, à época, justamente, do fastígio da conferência artístico-literária. A época em que, no Sul, os escritores mais populares tinham na tribuna do conferencista (conferente, como se dizia, então) o veículo, maior de sua popularidade".

Em conferência proferida no antigo Clube Iracema, em Fortaleza, Leonardo Mota falou sobre sua paixão "pela observação e estado dos costumes, da linguagem e da poesia das nossas gentes do sertão". Interessado desde menino pelo assunto, foi seduzido pela "vaidade de ser no nosso País, uni arauto da inteligência do brasileiro nordestino". "Realmente, Leonardo Mota mostrava toda a revolta contra a marginalização imposta aos nordestinos, ao desrespeito por sua cultura e folclore. Em "Musa Matuta", um dos capítulos do livro "Violeiros do Norte", revela a postura assumida em sua peregrinação pelo Brasil:

- Fui intransigente na defesa do sertão esquecido, do sertão ridicularizado, do sertão caluniado e só lembrado quando dele se quer o imposto nos tempos de paz ou o soldado nos tempos de guerra. E foi, sobretudo, contra o labéu de cretinice do sertanejo nordestino que orientei a minha documentada contradita: em todo o meu "Cantadores" e nas conferências que proferi, de Norte e Sul, pus o melhor dos meus empenhos em fazer ressaltar a acuidade, a destreza de espírito, a vivacidade da desaproveitada inteligência sertaneja, de que os menestréis plebeus são a expressão bizarra e esquecida, apesar de digna de estudos.

Em todos as capitais que Leonardo Mota visitava, ouvia-se a sua voz contra o preconceito existente em relação ao sertanejo: "Todo me devotei a uma campanha de morigerado nacionalismo, refutando a velha injustiça de as populações litorâneas ou citadinas só exergarem no sertanejo ou o cangaceiro "de alma, de lama e de aço", a que se reporta Gustavo Barroso, ou o ser desfibrado e lerdo que "magina de cócoras" e tão inexoravelmente caricaturado por Monteiro Lobato. Protestei contra essa mania de autodesmoralização que tristemente nos singulariza".

Existe ainda outra característica de Leonardo Mota muito conhecida entre seus amigos: a da improvisão de versos espontâneos, elaborados de forma jocosa, humorística. Entre as dezenas de casos vividos pelo poeta, um dos mais conhecidos é sempre contado nas rodas boêmias. A história se originou quando, em viagem pelo interior, Leota recebeu um bilhete no hotel em que estava hospedado. O proprietário, de nome "Maleta", pedia que ele "quitasse" a divida de alguns dias de permanência. Em resposta, escreveu o seguinte bilhete:

- "Meu caro amigo Maleta, /tenha pena do poeta./Eu vejo a coisa tão preta/que não quero ser profeta/. Posso lá dizer-lhe a data/em que eu terei a dita/ de pagar-lhe esta maldita/conta que tanto me mata./Eu não sou homem de fita/e por isso evito a rata/de dizer-lhe a data exata/em que esta conta se "quinta"/Veja bem a minha luta./A paciência se esgota./Que vida filha da p ... /Saudações, Leonardo Mota".

Fontes: Leonardo Ferreira da Mota - Vithor.cjb.net; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - Publifolha - 2a. Edição - 1998 - São Paulo

Tutty Moreno


Tutty Moreno (Emmanuel Alves Moreno), instrumentista (baterista), nasceu em Salvador BA, em 30/10/1947. Com três pianistas na família, a avó, a tia e a irmã, interessou-se por música desde pequeno e aos cinco anos começou a cantar, acompanhando-se ao violão.

Aos dez anos ganhou de presente da mãe um trompete, formando mais tarde com amigos o conjunto Avanço. Entre os 13 e 14 anos trocou o trompete pelo sax e um ano depois passou a dedicar-se à bateria.

Por essa época integrou como baterista o Perna’s Trio, com Perna (Antônio Fróis) ao piano e Moacir Albuquerque no baixo, grupo que durante a década de 1960 acompanhou em teatros e clubes vários artistas, entre os quais Elis Regina, Chico Buarque, Taiguara, Vinícius de Moraes e Toquinho , Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Dorival Caymmi e Maria Bethânia.

Ingressou no seminário de música da Universidade Federal da Bahia, cursando três anos. Ainda como baterista solou, com a Orquestra Sinfônica da Bahia, no Teatro Castro Alves.

Em 1970 foi para a Europa, participando de todos os shows de Gilberto Gil, na época em que este morou em Londres, Inglaterra, e em suas tournées por outros países. Retornando ao Brasil, participou de diversas gravações com Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Chico Buarque, Macalé, Jorge Mautner e outros.

Foi para os EUA em abril de 1975. Em Los Angeles, entrou para o grupo de Marieto Correia e posteriormente passou a acompanhar João Gilberto; também tocou e gravou com músicos de jazz, como Walter Booker e Ernie Watts.

De volta ao Brasil em 1978, na década de 1980 participou do grupo de percussão da O.S.B., mas na década seguinte voltou a tocar no exterior. Seu primeiro CD solo, Tocando, sentindo, suando (Tutty Moreno & Friends), foi lançado em 1996 na Europa e no Japão, pelo selo londrino Out Records.

Em 1997 gravou o CD Pra Que Mentir?, pela Lumiar Discos, como membro do Quarteto Livre.

Dois anos depois, gravou o CD Forças d'alma, lançado pelo selo Sons da Bahia. O disco destacou-se por uma nova linguagem, melódica e harmônica, utilizada pela bateria, e foi considerado pela crítica especializada como um dos mais importantes lançamentos instrumentais do ano. Em 2000, o CD foi lançado internacionalmente pelo selo norte-americano Malandro Records.

Em 2001, como líder do Tutty Moreno Quarteto, participou do Chivas Jazz Festival. O show gerou especial da DirecTV, com o Dave Holland Quintet.

Em 2011, lançou, com Joyce Moreno, no mercado brasileiro, o CD Samba-Jazz & outras bossas, uma celebração aos 30 anos de parceria afetiva e musical de ambos. O disco foi lançado no mercado europeu pela Far Out, em 2007, e a edição brasileira trouxe no repertório, em faixa-bônus, uma versão mais completa da faixa Garoto, dedicada a Aníbal Sardinha, o Garoto, além das faixas originais.

Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Wilson Moreira

Wilson Moreira (Wilson Moreira Serra), compositor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 12/12/1936. Desde criança interessou-se por música, pois seus avós e tios eram jonguistas e tocadores de caxambu.

Aos 16 anos freqüentava as escolas de samba, hoje extintas, Unidos de Curitiba, Voz do Orion e Três Mosqueteiros, todas no Realengo, e saía na escola de samba Água Branca tocando tamborim. Mais tarde a Água Branca uniu-se com a Mocidade Independente de Padre Miguel, na qual passou a sair na bateria, tocando surdo, e em 1956 como passista na ala dos boêmios. Por essa época já compunha sambas.

Sua primeira composição, Antes assim, foi gravada por Leny Andrade, algum tempo depois. Na Mocidade Independente fundou quatro alas, uma das quais fez carreira dentro da escola, a Mocidade Unida de Realengo.

Foi também membro-fundador, em 1955, da ala dos compositores, na qual permaneceu até 1968. Seu primeiro parceiro foi Da Volta, com quem, ao lado de Jurandir Cândido e Arsênio Isaías, foi campeão de samba-enredo em 1962 com Brasil no campo cultural e bicampeão em 1963, com As Minas Gerais.

Passou a atuar como cantor, em 1965, na TV Continental, gravando pela primeira vez, dois anos depois, um compacto duplo com Acossante, Cantando pro morro, Lamento de preto velho e Até breve, na etiqueta Folia.

Passou para a Portela em 1968, ano em que, além de começar a atuar no conjunto Os Cinco Só, fez um curso de música com Guerra-Peixe no MIS, através de bolsa distribuída a compositores de escolas de samba. Um ano depois, deixou o conjunto Os Cinco Só, passando a integrar — com os mesmos componentes Zuzuca, Zito, Jair do Cavaquinho e Velha — o conjunto Turma do Ganzá.

Em 1972 fez um curso de música popular com Maria Luísa de Matos Priolli, patrocinado pela Ordem dos Músicos. No ano seguinte, atuou com o grupo Partido em Cinco, formado por Candeia, Velha, Casquinha e Joãozinho da Pecadora.

Suas músicas que mais se destacaram foram Mel e mamão com açúcar e Não tem veneno (com Candeia).

Seus principais parceiros, até a década de 1970, foram Candeia, Clóvis Scarpino, Neizinho e Josan de Matos. Com Nei Lopes iniciou um trabalho em defesa do samba de raiz (tradicional), compondo, entre outras, Senhora liberdade (gravada por Zezé Mota) e Gostoso veneno (sucesso com Alcione e Paul Mauriat).

Em 1980 gravou com Nei o LP A arte negra, coletânea dos sucessos dos parceiros, como Goiabada cascão. Em 1985 lançaram O partido muito alto de Wilson Moreira e Nei topes.

Em 1986 lançou seu primeiro disco individual, Peso na balança, editado pela Kuarup dentro da série Grandes Sambistas, em co-produção nipobrasileira. Participou do LP Candeia, lançado pela Funarte em 1988, cantando dois sambas em parceria com o homenageado: Quero estar só e Não vou te perdoar.

Em 1991 gravou o CD Okolofé para a gravadora Bomba Records e, dois anos depois, cantou Velhos arvoredos, de sua autoria, no disco Grupo Pé de Moleque (Paradoxx).

Em 1994 A arte negra e O partido muito alto de Wilson Moreira e Nei Lopes foram remasterizados e lançados em CD pela EMI, na série Dois em Um.

Em 1995 participou de várias faixas do CD Estácio & Flamengo — 100 anos de samba e amor, homenagem aos cem anos do Clube de Regatas Flamengo e do bairro do Estácio.

Entre os intérpretes de suas músicas estão Beth Carvalho, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, João Nogueira, Zeca Pagodinho e o Grupo Batacotô.

Em fevereiro de 1997, sofreu derrame; em outubro, já recuperado, apresentou-se na Casa de Noca, no Rio de Janeiro, casa noturna de Noca da Portela, e, em novembro, completou 40 anos de carreira ganhando uma biografia em quadrinhos escrita pela pesquisadora Angela Nenzy.

Em 1999, foi lançado pela gravadora Velas o disco Um natal de samba. O CD reuniu diversos compositores e intérpretes, entre eles Zeca Pagodinho interpretando "Canção da esperança", de Wilson Moreira. 

No ano seguinte, o compositor lançou para o mercado brasileiro o disco Okolofé. O show de lançamento aconteceu no bar Espírito do Chopp, na Cobal do Humaitá. O compositor foi acompanhado pelo Conjunto Sarau e recebeu vários convidados, entre eles Monarco, Nelson Sargento, Nei Lopes, Walter Alfaiate, Délcio Carvalho, Mauro Diniz e Noca da Portela. 

No ano 2002, pelo selo Rádio MEC, lançou o CD Entidade, disco no qual regravou Oloan e incluiu Além do centenário, Meu poema é você, Congada para Sinhô-Rei (c/ Grande Otelo), Forró do Cafundó, Põe dendê e tempero, Homenagem à Portela e Jongueiro cumba, esta última em parceria com Nei Lopes. 

No ano de 2003, Beth Carvalho, acompanhada do conjunto Quinteto em Branco e Preto, gravou o CD Pagode de mesa 2 ao vivo, disco no qual incluiu a composição Morrendo de saudade, em parceria com Nei Lopes. 

Em 2004 recebeu como convidado Elton Medeiros em roda de samba no Centro Cultural Lapases, na Lapa, centro do Rio de Janeiro. 

No ano de 2006, com o grupo Tem Mais Sambas, apresentou-se no teatro do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro. No show, em comemoração aos 70 anos do compositor, além de interpretar sucessos de carreira em parceria com Nei Lopes, Zeca Pagodinho, Sérgio Fonseca, Marcos Paiva, entre outros, também incluiu diversas composições inéditas em parceria com Nélson Cavaquinho, Mano Décio da Viola, Zé Kétti, Carlos Cachaça e Grande Otelo.

No ano de 2007 o LP Peso na balança foi relançado em CD pela gravadora Atração. O disco foi lançado Livraria Folha Seca, em uma roda de samba comandada por Wilson Moreira, na qual compareceram vários amigos e parceiros.

Em 2010 participou do evento "20 sambistas e um DJ" apresentado no Centro Cultural Solar de Wilson Moreira, espaço criado em homenagem ao próprio Wilson Moreira e às tradições afro-brasileiras. No espetáculo, além de Wilson Moreira, apresentaram-se também Ruivão, DNA do Samba, Adilson Bispo, Batuque na Cozinha, Claudinho Magalhães, Délcio Carvalho, Edu Krieger, Ernesto Pires, Iracema Monteiro, Lúcio Sanfilippo, Marcelo Bernandes, Noca da Portela, Roda de Bamba, Sambaixada, Simone Lial, Tânia Malheiros, Thaís Villela, Toninho Geraes, Marquinho PQD, Samba no Sítio, Zé Katimba, DJ Graça e Leandro Fregonesi.

Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; Wikipedia; Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira.

Cida Moreira

Cida Moreira (Maria Aparecida Guimarães Campiolo, cantora e pianista, nasceu em São Paulo SP, em 12 de novembro de 1951. Iniciou sua carreira profissional em 1977, atuando com atriz de teatro e em musicais.

Em 1981 realizou o show Summertime, com direção de José Possi Neto, que resultou no lançamento de seu primeiro disco, Summertime, lançado pelo Selo Lira Paulistana, gravado ao vivo, contendo a faixa-título, outros clássicos do jazz e do blues, além da versão censurada da canção Geni e o zepelim, de Chico Buarque.

Em 1983, gravou o LP Abolerado blues, que incluiu músicas de Zé Rodrix e Eduardo Dusek.

Em 1985, participou do Festival dos Festivais, da Rede Globo de Televisão, como a canção Novos rumos, que foi uma das finalistas e seria lançado em coletânea de mesmo nome no mesmo ano.

Em 1986, lançou o LP Cida Moreira, com as canções Vocalise (Arrigo Barnabé), Balada do louco (Arnaldo Batista e Rita Lee) e Como diria Satie (José Miguel Wisnik).

Em 1988, gravou o LP Cida Moreira Interpreta Brecht, com destaque para Canção do vendedor de vinho de Bertolt Brecht e Kurt Weill com versão em português de Cacá Rosset.

Em 1993, lançou seu primeiro CD, pelo selo Kuarup, chamado Cida Moreira Canta Chico Buarque, interpretando canções do compositor entre as quias se destacam Morte e vida Severina, Soneto, Suburbano coração, A voz do dono e o dono da voz, Estação derradeira e Beatriz (Chico Buarque e Edu Lobo).

Em 1995, participou da coletânea Dolores - a música de Dolores Duran na qual interpreta canções de Dolores Duran junto com artistas como Zezé Motta, Fafá de Belém, Leila Pinheiro, Pery Ribeiro, Tetê Espíndola, Jane Duboc e Denise Duran.

Em 1997, gravou o CD Na Trilha do Cinema, com temas de filmes do cinema brasileiro, tais como Bye bye Brasil (Chico Buarque e Roberto Menescal), À flor da pele (Chico Buarque), Minha desventura (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes) e O ébrio (Vicente Celestino). Nesse mesmo ano participou da coletânea Cantorias e Cantadores na qual interpreta clássicos da música regional e caipira junto com os artistas Renato Teixeira, Xangai e Eugênio Leandro.

Em 2003 lançou o CD Uma canção pelo ar..., com clássicos da MPB.

Em 2008, Cida Moreira lança pela Lua Music o álbum Angenor, no qual interpreta composições de Cartola. Apesar de conter canções bastante conhecidas do compositor carioca, tais como O mundo é um moinho e Alvorada, o álbum é composto principalmente por canções mais obscuras, como O silêncio de um cipreste e a toada Feriado na roça. O lançamento do disco aconteceu em três apresentações no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Entre os convidados estiveram as cantoras Zélia Duncan e Alaíde Costa.

Em 2009, participa de outra coletânea, Elas cantam Paulinho Da Viola, na qual interpreta músicas de Paulinho da Viola junto com as cantoras Alaíde Costa, Milena, Fabiana Cozza e Célia. No mesmo ano, fez uma temporada de apresentações na casa de shows Studio SP, famosa por seu público jovem e suas atrações renomadas. Os cantores Hélio Flanders (vocalista do Vanguart) e Guilherme Eddino e o baixista Zé Mazzei (da banda Forgotten Boys) estiveram entre os convidados.

Em 2010, gravou pela Microservice S&D a coletânea Mrs. Lennon, na qual interpreta canções de Yoko Ono, esposa do ex-Beatle John Lennon junto a cantoras como Ângela Ro Ro, Hevelyn Costa, Zélia Duncan, Isabella Taviani, Tetine, Silvia Machete, Ampslina e outras.

Discografia

Ao vivo:

Summertime (1981) Áudio Patrulha / Lira Paulistana LP

Estúdio:

Abolerado blues (1983) Lira Paulistana / Continental LP
Cida Moreira (1986) Continental LP, CD
Cida Moreira interpreta Brecht (1988) Continental LP
Cida Moreira canta Chico Buarque (1993) Kuarup CD
 Na trilha do cinema (1997) Kuarup CD
Uma Canção Pelo Ar... Kuarup (2003)
Angenor Lua Music (2008)
A Dama Indigna Jóia Moderna (2011)

Coletâneas

Festival dos Festivais Som Livre (1985) - com a canção Novos Rumos
Dolores - a música de Dolores Duran Lua Music (1995) - com a canção Canção da volta
Cantorias e Cantadores Kuarup (1997) - com a canção Noites do sertão
Elas cantam Paulinho Da Viola Lua Music (2009)
Mrs. Lennon Microservice S&D (2010) - com a canção Mrs. Lennon

Fonte: Wikipedia.

Álvaro Moreira

Álvaro Moreira (Álvaro Moreira da Silva), poeta, jornalista, letrista e teatrólogo, nasceu em Porto Alegre RS, em 23/11/1888, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 12/10/1964. Concluiu curso na Faculdade de Ciências e Letras, de São Leopoldo RS, em 1907, lançando no ano seguinte seu primeiro livro de poesias simbolistas.

Transferiu- se nesse ano para o Rio de Janeiro, onde, em 1912, recebeu o diploma de bacharel em direito. Realizou intensa atividade jornalística, tendo dirigido as revistas Para Todos, Ilustração Brasileira e Fon-Fon.

No fim da década de 1920 aproximou-se do teatro de revista, fundando em 1927, com Joraci Camargo e outros, o Teatro de Brinquedo. Escreveu, entre outras, a peça Adão, Eva e outros membros da família, ainda em 1927.

É autor de algumas letras, como Mamãezinha que estás no céu, A menina quer saber, Realejo e Bahia, todas com música de Hekel Tavares.

Dirigiu a Companhia de Arte Dramática, em 1937. Em 1945 passou a trabalhar como radialista na Rádio Globo e posteriormente, participou da produção do programa Rio, Eu Gosto de Você, na TV-Rio. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Henrique de Mello Moraes

Bororó e Henrique Mello Moraes, o palhaço
alegre e a bailarina triste do Carnaval de 1932
Henrique de Mello Moraes, cantor, compositor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 8/12/1912. Seu nascimento foi comemorado com música, pois o pai trouxe uma banda para tocar em casa e convidou vários amigos, entre os quais o caricaturista e compositor J. Carlos.

Desde criança gostava de cantar, sendo apelidado de Pequeno Caruso pela família. Foi funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde conheceu o compositor Cândido das Neves, o Índio. Com outros amigos, entre os quais Bororó, Osvaldo Simões e Rogério Guimarães, fazia serestas pelas madrugadas, no bairro da Gávea, acompanhando-se ao violão.

Iniciou a carreira no rádio por 1932, cantando na Rádio Educadora do Brasil, do Rio de Janeiro, no programa de Gastão Lamounier com Albenzio Perrone. Apresentava-se também em outros programas da emissora, atuando ainda na Rádio Clube e Mayrink Veiga. Paralelamente, fazia serestas pelos bairros cariocas.

Por essa época, deixou a Central do Brasil, gravando seu primeiro disco pela Parlophon, com Eduardo Souto, em 1932, com as músicas Velho solar (André Filho) e a fantasia Un peu d’amour (J. Carlos).

Em seguida, gravou três músicas de Índio, a Rosa morena, Luar de minha terra, nas quais o compositor participou fazendo a segunda voz, e Versos de longe, composta especialmente para ele.

Formado em direito em 1934, assumiu o cargo de delegado de polícia, deixando a Rádio Educadora e suas atividades artísticas. Tio de Vinícius de Moraes, é conhecido como Henriquinho.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Edgar Morais

Edgar Morais (Edgar Ramos de Morais), compositor, arranjador e instrumentista, nasceu em Recife PE, em 1/11/1904, e faleceu na mesma cidade, em 31/3/1973. Começou a estudar música, ainda menino, com o irmão mais velho, Raul Morais, formado em música na Alemanha e também compositor de Carnaval.

Em 1923, quando já tocava violão, fez suas primeiras composições para Carnaval e, tendo sido um dos grandes foliões de Recife, fundou diversos blocos locais como o Pirilampos, Jacarandá, Turunas de São José e Corações Futuristas.

Destacou-se no Carnaval de 1935 com Furacão no frevo, frevo de rua, e Caí no frevo, morena, frevo- canção, ambos gravados em disco Victor. Quando morreu seu irmão Raul Morais, em 1937, passou a estudar música sozinho e, em 1939, classificou-se em segundo lugar no Concurso Oficial de Músicas de Carnaval, em Recife, com o frevo de rua Saudades de mano.

Fez ainda dois frevos de rua — Pinga fogo e Tempo quente —, antes de trocar esse gênero pela marcha de bloco e deixar a orquestra de metais, que dirigia, para formar uma orquestra de pau-e-corda, composta de violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, reco-reco, tarol e surdo, e um coral feminino, que cantava suas composições.

Compôs marchas de bloco para quase todos os blocos de Recife, chegando, num só ano, a escrever 12 marchas para 12 blocos diferentes, que competiram na passarela camnavalesca, cada um cantando música de sua autoria.

Foi campeão do Carnaval recifense durante vários anos, e, entre as composições que lhe deram o título, foram gravadas em discos, de etiquetas diversas (RCA Victor, Copacabana, Philips, Chantecler, Continental, Odeon, CBS e Mocambo), as seguintes marchas de bloco: A dor de uma saudade, de 1961; Valores do passado, de 1962; Pra você recordar, de 1967; Velhos Carnavais, de 1968, e Saudosos foliões, de 1973.

Conhecido como General de Cinco Estrelas da Folia, deixou uma produção de cerca de 300 composições, na maioria frevos e marchas. Um ano depois de sua morte, foi editado, na etiqueta Rozenblit, o LP Edgar e Raul Morais, contendo entre outras, sua última composição, Velhos tempos de criança.

Obras 

Caí no frevo, morena, frevo-canção, 1935; A dor de uma saudade, marcha de bloco, 1961; Furacão no frevo, frevo de rua, 1935; Saudosos foliões, marcha de bloco, 1973; Valores do passado, marcha de bloco, 1962; Velhos Carnavais, marcha de bloco, 1968.

Jesuíno do Monte Carmelo

Frei Jesuíno do Monte Carmelo (Jesuíno Francisco de Paula Gusmão), compositor, nasceu em Santos, SP, em 25/3/1764, e faleceu em Nossa Senhora da Candelária de Itu (atual Itu), SP, em 30/6/1819. A mãe, Domingas Inácia de Gusmão, era sobrinha-neta de Bartolomeu de Gusmão, o padre-voador.

Pobre e de instrução precária, cedo começou a trabalhar como pintor, no convívio dos padres carmelitas. Com o padre mestre do coro aprendeu rudimentos de música e estudou órgão.

Transferindo-se para a vila de Nossa Senhora da Candelánia de Itu em 1781, passou a trabalhar como ajudante do pintor José Patrocínio da Silva Manso, participando também dos eventos musicais da matriz da vila.

Em 1784, a convite dos carmelitas, voltou a Santos, para construir um órgão, recebendo pelo serviço a importância de 54.200 réis. No mesmo ano retornou a Itu, onde casou com Maria Francisca de Godói, com quem teve quatro filhos: Maria, Elias, Eliseu e Simão Stock. Por essa época recebeu a empreitada de pintar a igreja do Carmo.

Viúvo em 1793, dois anos depois foi convidado para decorar as igrejas carmelitas de São Paulo. Em setembro de 1797 recebeu as ordens menores como carmelita, adotando o nome de Jesuíno do Monte Carmelo, e em dezembro do mesmo ano tornou-se presbítero.

Em julho de 1798, voltou a Itu, onde rezou sua primeira missa. Em 1805 concebeu o plano de ali construir uma igreja para Nossa Senhora do Patrocínio, e reunir padres numa congregação sem estatutos. Com o apoio de seus filhos já sacerdotes, construiu o templo com esmolas e recursos obtidos no Rio de Janeiro RJ, do príncipe D. João.

Em 1817 a parte interna do edifício estava concluida. Compôs toda a música para a festa de inauguração, marcada para 1818 mas adiada, por doença, para o ano seguinte. Nesse ano de 1818, seu amigo, o padre Feijó, foi residir em Itu com os padres do Patrocínio.

Dedicando-se à composição musical, escreveu para as festas do Santíssimo e terminou as matinas da Semana Santa.

Com a inauguração prevista para novembro de 1819, faleceu na noite de 30 de junho, sendo sepultado na igreja do Carmo. A igreja foi inaugurada a 8 de novembro de 1820 e, mais tarde, seus restos mortais foram para lá trasladados, tendo o padre Feijó escrito a oração fúnebre da cerimônia.

Obras

Música sacra: Hino à Virgem Soberana, s.d.; Jesu dulcis memoria, s.d.; Ladainha para coro, s.d.; Laudate Pueri, s.d. Matinas do Menino Deus, s.d.; Matinas de São Pedro, s.d.; Missa, s.d.; Missa solene, s.d.; O Salutaris Hostia, s.d.; Paixão de Sexta-feira Santa, s.d.; Paixão de Domingo de Ramos, s.d.; Pange Língua, s.d.; Procissão das Palmas, s.d.; Sacris Solemnis, s.d.; Te Deum, s.d.; Venite Adoremus, s.d.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - 2a. Edição - 1998 - São Paulo.