domingo, setembro 25, 2011

Datilógrafa

Datilógrafa (samba-canção, 1953) - Jorge Faraj, Wilson Batista, Celso Cavalcanti e Flávio Cavalcanti - Intérprete: Nelson Gonçalves

Disco 78 rpm / Título: Datilógrafa / Autoria: Faraj, Jorge (Compositor) / Batista, Wilson, 1913-1968 (Compositor) / Cavalcanti, Celso (Compositor) / Cavalcanti, Flávio (Compositor) / Gonçalves, Nelson, 1919-1998 (Intérprete) / Orquestra (Acomp.) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor / Nº Álbum: 801182 / Matriz: BE3VB-0135 / Data da gravação: 25/05/1953 / Data de lançamento: Setembro/1953 / Lado A / Gênero musical: Samba.



De manhã no mesmo bonde / Você vem não sei de onde
Para o escritório cruel / Onde a máquina lhe espera
E você se desespera / Para dar vida ao papel

De manhã no mesmo bonde / Você vem não sei de onde
Para o escritório cruel / Onde a máquina lhe espera
E você se desespera / Para dar vida ao papel

Datilógrafa querida / Eu queria ser borracha
Pra seus erros apagar / Datilógrafa querida
Eu queria ser patrão / Pra você não trabalhar

Datilógrafa querida / Você tem na minha vida
Emprego de mais valor / Venha escrever eu lhe peço
Sem erro e sem retrocesso / A história do nosso amor

A última estrofe

A última estrofe (seresta, 1946) - Cândido das Neves (Índio) - Intérprete: Nelson Gonçalves

Disco 78 rpm / Título da música: A última estrofe / Neves, Cândido das, 1899-1934 (Compositor) / Gonçalves, Nelson, 1919-1998 (Intérprete) / Lacerda, Benedito, 1903-1958 (Acompanhante) / Regional (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 1946 / Nº Álbum 800413 / Lado: B / Gênero musical: Seresta

   Em             Am       Em 
A noite estava assim enluarada, 
          F              Em 
quando a voz já bem cansada 
      F#7   B7            Em                    B7 
eu ouvi       de um trovador  44 30 32 30 44 42 41 
     Em            Am            Em 
nos versos que vibravam de harmonia, 
        F          Em 
ele em lágrimas dizia 
       F#7  B7        Em 
da saudade    de um amor... 52 53 52 50 63 
   E7                       Am 
Falava de um beijo a- paixo-nado, 
62 60              60 62 64 50    50 52 53 52 
          F#º        Em   Em7M 
de um a- mor desesperado, 
 50    63  62 
         C7        B7    B7/F#   E7 
que tão cedo teve fim 
                      Am 
E desses gritos e tormentos, 
        F#º         Em   Em7M 
eu guardei no pensamento 
        F#7  B7           Em   B7 
uma estrofe    que era assim:   - 52 51 50 

  E/G#                  E/G# 
Lua,  52 51 54 52 51 50 64 
 64 
       B7           E 
vinha perto a madrugada, 
            B7/9           C#m 
quando, em ânsias, minha amada 
                      F#m 
nos meus braços desmaiou. 
                        F#m 
62 64 50 52 54 52 50 64 62 
                B7 
E o beijo do pecado 
        B7/F#      B7 
em seu véu estrelejado 
     B7/F#      E    B7 
a luzir glorificou.  - 52 51 50 
  E/G#                  E/G# 
Lua,  52 51 54 52 51 50 64 
 64 
         B7         E 
hoje eu vivo tão sozinho, 
                   C#7 
ao relento, sem carinho 
        C#7/G#       F#m     Am 
na esperança mais atroz, 
                          E 
de que cantando em noite linda 
         C#7         F#7 
esta ingrata, volte ainda, 
     B7   B7/F#         E    B7 
escutando      a minha voz   52 53 52 50 63 

      Em  F#º      Am   F#º      Em 
A estrofe    derradeira    merencórea 
62   60 
   F                Em   Em7M 
revelava toda a história 
        F#7  B7           Em                     B7 
de um amor     que se perdeu.  44 30 32 30 44 42 41 
     Em  F#º        Am  F#º       Em 
E a lua     que rondava    a natureza, 
     F               Em 
solidária com a tristeza 
          F#7    B7         Em 
entre as nuvens    se escondeu.  52 53 52 50 63 
    E7                    Am 
Cantor que assim falas à lua, 
62 60            60 62 64 50    50 52 53 52 
          F#º             Em  Em7M 
minha história é igual à tua 
50 63    62 
      C7           B7    B7/F#   E7 
meu amor também fugiu. 
                    Am 
Disse eu em ais convulsos 
       F#º         Em   Em7M 
Ele então entre soluços 
           F#7  B7      Em   B7 
toda a estrofe     repetiu.  - 52 51 50 

  E/G#                  E/G# 
Lua,  52 51 54 52 51 50 64 
 64 
       B7           E 
vinha perto a madrugada, 
            B7/9           C#m 
quando, em ânsias, minha amada 
                      F#m 
nos meus braços desmaiou. 
                        F#m 
62 64 50 52 54 52 50 64 62 
                B7 
E o beijo do pecado 
        B7/F#      B7 
em seu véu estrelejado 
     B7/F#      E    B7 
a luzir glorificou.  - 52 51 50 
  E/G#                  E/G# 
Lua,  52 51 54 52 51 50 64 
         B7         E 
hoje eu vivo tão sozinho, 
                   C#7 
ao relento, sem carinho 
        C#7/G#       F#m     Am 
na esperança mais atroz, 
                          E 
de que cantando em noite linda 
         C#7         F#7 
esta ingrata, volte ainda, 
     B7   B7/F#         E    B7                Em 
escutando      a minha voz   52 53 52 50 63 62 60 

Chico Santana

Chico Santana (Francisco Felisberto Santana), compositor, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22/9/1911, e faleceu na mesma cidade, em 26/3/1988. Residiu em Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio de Janeiro considerado um celeiro de sambistas. Foi levado por Alvaiade para a Ala de Compositores da Portela.

Em 1970, Paulinho da Viola produziu para a gravadora RGE o LP "Portela, passado de glória". Neste primeiro disco da Velha-Guarda da Portela participou cantando da música Vida fidalga, em parceria com Alvaiade. No ano seguinte, Paulinho da Viola gravou Passado de glória (c/ Monarco).

No ano de 1976, Eliana Pittman interpretou De Paulo da Portela a Paulinho da Viola, uma composição de sua autoria em parceria com Monarco. Neste mesmo ano, Cristina Buarque em seu disco Prato e faca, gravou outra composição de sua autoria. No ano seguinte, Beth Carvalho despontou com um dos maiores sucessos de sua carreira Saco de feijão, gravada em seu LP "Botequins da vida".

Em 1978, no LP "Arrebém", pela Continental Discos, Cristina Buarque interpretou Muito embora abandonado (c/ Mijinha). A faixa ainda contou com a participação especial da Velha-Guarda da Portela, da qual o compositor fazia parte. Neste mesmo ano no LP "De pé no chão", Beth Carvalho incluiu Lenço, parceria com Monarco. Ainda neste ano, Vania Carvalho interpretou sua composição Pranto.

No ano de 1986, o produtor japonês Katsounuri Tanaka lançou para o mercado japonês o disco "Doce Recordação - Velha-Guarda da Portela". O LP, lançado pelo selo Office Sambinha, trazendo a formação original da Velha Guarda da Portela que incluía Chatim, Manacéia, Alberto Lonato e Chico Santana, além do cavaquinho de Osmar do Cavaco.

Em 1990, foi gravado para o mercado japonês o disco "Resgate", de Cristina Buarque. Neste CD, foi incluída Adeus, eu vou partir (c/ Mijinha), que teve a Velha Guarda da Portela como participação especial nesta faixa. Mais tarde, em 1994, a gravadora Saci relançou o disco para o mercado brasileiro.

No ano de 1999, Tanaka produziu também para o mercado japonês o disco "Velhas companheiras". Neste CD, reunindo as velhas guardas da Portela e Mangueira, incluiu de sua autoria Vaidade de um sambista.

No ano 2000, a cantora e compositora Marisa Monte, filha do ex-diretor da Portela Carlos Monte, produziu pelo Selo Phonomotor o CD "Tudo azul", da Velha-Guarda da Portela. Neste disco, foram regravadas Noite em que tudo esconde, por Paulinho da Viola, e Lenço, em parceria com Monarco, gravada por Zeca Pagodinho e Velha Guarda da Portela.

Em 2001 foi lançado o livro "A Velha Guarda da Portela" (Ed. Manati) de autoria Carlos Monte e João Batista Vargens, no qual os autores fazem várias referências ao compositor, um dos fundadores da Velha Guarda da Portela.

Em 2002, pelo selo Phonomotor de Marisa Monte, Argemiro da Portela lançou o CD "Argemiro Patrocínio". Neste disco foi incluída uma parceria de Chico Santana com Argemiro Patrocínio Dizem que o amor.

Em 2004 Monarco e a Velha-Guarda da Portela, juntamente com Beth Carvalho, interpretaram Saco de feijão no DVD "Beth Carvalho - a madrinha do samba".

Obra

Adeus, eu vou partir (c/ Mijinha), De Paulo da Portela a Paulinho da Viola (c/ Monarco), Dizem que o amor (c/ Argemiro Patrocínio), Existe um traidor entre nós, Hino da Velha Guarda da Portela, Lenço (c/ Monarco), Minha querida (c/ Manacéia), Muito embora abandonado (c/ Mijinha), Noite em que tudo esconde (c/ Alvaiade), Passado de glória (c/ Monarco), Pranto, Saco de feijão, Vaidade de um sambista, Vida fidalga (c/ Alvaiade).

Fontes: Portela Web; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Marcelo Nova

Marcelo Nova (Marcelo Drummond Nova), cantor e compositor, nasceu em Salvador, Bahia, em 16/8/1951. Foi vocalista da banda baiana Camisa de Vênus, desde o início dos anos 1980 até o seu primeiro final em 1987.

Em 1988 iniciou sua carreira solo tendo gravado, no ano seguinte, um LP ao lado de Raul Seixas, intitulado A Panela do Diabo. Em 1995, reuniu-se com o Camisa de Vênus e lançou mais dois álbuns, sendo um ao vivo e outro de estúdio. Em 1998 retomou a sua carreira solo.

Reúne-se esporadicamente com o Camisa de Vênus e seu último trabalho de estúdio é o álbum O Galope do Tempo de 2005. É conhecido, principalmente, pelas músicas Beth morreu, Eu não matei Joana D'Arc, Simca Chambord e Só o fim, com o Camisa de Vênus, e Pastor João e a igreja invisível e Carpinteiro do Universo, com Raul Seixas.

Na infância era muito tímido e concentrava todas as suas horas livres em ouvir música. Ficava tardes e tardes inteiras apenas ouvindo música e prestando atenção aos detalhes, aos instrumentos e ao modo pelo qual eles eram tocados nos vários discos. Foi nessa época que teve o primeiro contato com o rock and roll, quando pediu que seu pai lhe comprasse um disco de Little Richard, chamado Here's Little Richard. Aos 14 anos viu Raulzito e os Panteras tocarem ao vivo, o que o fez perceber que era possível tocar o estilo de música que ele gostava aqui no Brasil.

Na adolescência e início da fase adulta trabalhou com seu pai, que tinha uma clínica de fisioterapia, fazendo pedigrafia. Trabalhou também vendendo seguros antes de montar uma loja de discos chamada Néctar, em meados dos anos 70. Com a loja de discos, Marcelo conseguiu um emprego em uma rádio de Salvador, a Aratu FM, passando a ser responsável por um programa, chamado Rock Special, e pela programação da rádio.

Com o programa de rádio, Marcelo Nova tornou-se conhecido fora da Bahia por pessoas no Rio e em São Paulo, ligadas a gravadoras, que lhe chamavam para dar opinião sobre vários discos que eles recebiam das matrizes e não tinham a menor idéia do que se tratava e de como comercializar aquilo.

No início dos anos 80, Marcelo Nova vendeu o ponto da loja e, com o dinheiro, fez uma viagem para Nova Iorque onde tomou contato com o movimento punk. Percebeu que, com o conhecimento musical que ele tinha adquirido - aliado à filosofia punk do "faça você mesmo", poderia montar uma banda e fazer música mesmo sem grandes virtuosismos.

Quando voltou de Nova Iorque, Marcelo chamou um amigo que tinha conhecido na TV Aratu, Robério Santana, para formar uma banda que tocasse rock and roll e punk rock. A banda foi formada ainda em 1980 e, após o lançamento de um compacto, ficaram famosos na Bahia o que lhes abriu as portas para gravarem um álbum.

A banda duraria sete anos e lançaria, nesse primeiro período, quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, ficando conhecida no Brasil inteiro e chegando a vender mais de 300 mil cópias do disco Correndo o Risco.

O Camisa de Vênus voltaria a se reunir em 1995, lançando mais dois álbuns, sendo um ao vivo e outro de estúdio. Após novo fim da banda em 1997, a banda se reuniria esporadicamente nos próximos anos. Atualmente encontra-se em atividade com Eduardo Scott (ex-Gonorréia) substituindo Marcelo Nova nos vocais.

Após o último álbum da primeira formação do Camisa de Vênus, Marcelo Nova juntou músicos para formar uma banda de apoio para a sua carreira solo. A primeira formação da banda Envergadura Moral conta com Gustavo Mullem nas guitarras, João Chaves (o Johnny Boy) nos teclados, Carlos Alberto Calasans no baixo, e o veterano Franklin Paolilo na bateria. Após ensaios e apresentações, gravaram o primeiro disco, Marcelo Nova e a Envergadura Moral, lançado em 1988.

Em 1984, durante um show do Camisa de Vênus no Circo Voador, o grupo foi avisado que Raul Seixas viria para assisti-los e queria conhecê-los. O que acabou acontecendo foi uma festa com o Camisa de Vênus, mais Raul Seixas, tocando covers de clássicos do rock para quem compareceu ao show.

A partir daí, Marcelo Nova e Raul Seixas tornaram-se grandes amigos. Em 1989 decidem gravar um disco juntos e saem em turnê, realizando 50 shows. Mais tarde naquele ano seria lançado o segundo álbum da carreira solo de Marcelo Nova, A Panela do Diabo, que viria a ser o último álbum de Raul Seixas, lançado dois dias antes da sua morte. Depois deste disco, Marcelo Nova foi tido por muitos como o sucessor de Raul Seixas, título do qual ele nunca gostou e o qual sempre contestou.

No início dos anos 90, Marcelo Nova estava em turnê quando o presidente Fernando Collor confiscou as cadernetas de poupança de todo mundo e, portanto, os shows que ele tinha marcado foram cancelados. Ele resolveu, então, pegar um violão e sair com mais um músico, sem nenhum instrumento elétrico, fazendo uma turnê acústica, o que trouxe a ideia de fazer um álbum inteiro com essa sonoridade.

Em 1991, saía o disco Blackout, primeiro disco integralmente acústico da história do rock nacional, que marca a entrada de André Christovam, substituindo Gustavo Mullem, nos violões da banda Envergadura Moral.

No próximo álbum, em 1994, Marcelo Nova pegou a sonoridade acústica e inverteu-a completamente, produzindo um disco com muita guitarra e bem pesado. O álbum recebeu o nome de A Sessão sem Fim e traz o guitarrista veterano Luis Sérgio Carlini, que ganhou fama como guitarrista da banda de Rita Lee nos anos 70, o Tutti Frutti.

Após a volta do Camisa de Vênus, em 1998, Marcelo Nova tem uma ideia de gravar um disco só com releituras de músicas de sua carreira, experimentando novos arranjos. A ideia surgiu quando ele viu uma ultra-sonografia de um feto e ocorreu-lhe que ele pulsava num ritmo exato, não tinha futuro, nem passado, era um ponto de luz. Assim, gravou o disco Eu Vi o Futuro, Baby. Ele É Passado com apenas um músico (o multi-instrumentista Johnny Boy) que, com a exceção do próprio Marcelo Nova em uma das faixas, tocou todos os instrumentos. Este é o último álbum de Marcelo a sair por uma grande gravadora, a extinta Abril Music.

No ano seguinte, Marcelo Nova lança dois álbuns ao vivo a partir de dois shows selecionados por um fã, Luís Augusto Conde. São eles o Grampeado em Público - Volume I e Grampeado em Público - Volume II que saíram pelo selo independente Baratos Afins e foram distribuídos apenas nos shows que Marcelo Nova realizou pelo país, tendo vendido cerca de 6 mil cópias.

Em 2001, sairia a caixa tripla Tijolo na Vidraça, na qual o artista faz um apanhado da sua carreira contando com músicas antigas remasterizadas, releituras e inéditas. Depois de um tempo excursionando pelo país, Marcelo Nova solta, em 2003, uma coletânea com grandes sucessos de sua carreira, tanto solo como com o Camisa de Vênus, chamada Em Ponto de Bala.

No ano de 2005, após 13 anos compondo e criando o conceito, sai seu último álbum de inéditas, O Galope do Tempo. O álbum possui características existencialistas, indo do nascimento à morte.

Atualmente, Marcelo Nova excursiona com sua banda de apoio fazendo shows pelo país afora.

Fonte: Wikipedia.

Cláudio Roberto

Cláudio Roberto (Cláudio Roberto Andrade de Azevedo), compositor, nasceu em Vassouras, RJ, e foi um dos principais parceiros de Raul Seixas.

As primeiras composições dos dois ocorreram em 1977 no disco "O dia em que a terra parou", de Raul Seixas, para o qual compuseram as músicas Tapanacara, No fundo do quintal da escola, Eu quero mesmo, Sapato 36, Você e outras, entre as quais, os sucessos O dia em que a Terra parou e Maluco beleza.

Um de seus maiores sucessos com o roqueiro baiano foi o Rock das aranhas, de 1987, proibido pela censura federal e liberada mediante a intervenção do escritor e crítico musical R. C. Albin.

Em 1988 fez sucesso com Cowboy fora da lei, música do último disco de Raul Seixas, que trazia ainda da parceria dos dois as músicas Gente, Cantar, Quando acabar, o maluco sou eu e Loba, as duas últimas com a participação de Lena Coutinho.

Nos últimos anos do século vinte, afastou-se praticamente da vida artística, passando a viver em um sítio em Miguel Pereira.

Obras

Abre-te sésamo (c/ Raul Seixas), Aluga-se (c/ Raul Seixas), Angela (c/ Raul Seixas), Baby (c/ Raul Seixas), Beira do pantanal (c/ Raul Seixas), Cantar (c/ Raul Seixas), Cowboy fora da lei (c/ Raul Seixas), De cabeça pra baixo (c/ Raul Seixas), Eh meu pai (c/ Raul Seixas), Eu quero mesmo (c/ Raul Seixas), Gente (c/ Raul Seixas), Loba (c/ Raul Seixas e Lena Coutinho), Maluco beleza (c/ Raul Seixas), Negócio é (c/ Eduardo Brasil), No fundo do quintal da escola (c/ Raul Seixas), O dia em que a terra parou (c/ Raul Seixas), Paranóia II (c/ Raul Seixas e Lena Coutinho), Quando acabar o maluco sou eu (c/ Raul Seixas e Lena Coutinho), Que luz é essa? (c/ Raul Seixas), Rock das "aranha" (c/ Raul Seixas), Sapato 36 (c/ Raul Seixas), Sim (c/ Raul Seixas), Só pra variar (c/ Raul Seixas), Tapanacara (c/ Raul Seixas) e Você (c/ Raul Seixas).

Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.

Carlos Colla


Carlos Colla (carlos carvalho colla), instrumentista, compositor e produtor musical, nasceu em Niterói, RJ, em 5/8/1944. Filho de imigrante italiano, vive hoje na capital fluminense.

Desde muito jovem, interessou-se por música. Aos 14 anos mudou-se com a família para Teresóolis, região serrana do Rio, onde conheceu e fez amizade com o violonista Alfredo Pessegueiro do Amaral. Teve dois filhos no primeiro casamento, Carlos Colla Júnior e Daniela, e, do relacionamento de dois anos e meio com a Miss Brasil Marisa Fully Coelho, uma filha, Laura.

Durante anos, Carlos Colla custeou os estudos se apresentando nas noites do Rio, até ser convidado por MaurÍcio Duboc para participar do conjunto musical O Grupo.

Foi numa apresentação do conjunto O Grupo no Canecão que Carlos Colla e Roberto Carlos se conheceram. Acompanhado de Maurício Duboc, Colla foi pedir ao Rei uma música e, prontamente, Roberto Carlos respondeu: "tudo bem, desde que vocês façam uma pra mim".

Carlos Colla se entregou ao desafio de corpo e alma e compôs com Maurício as músicas A namorada e Negra, que Roberto Carlos gravou em 1971. Nascia o compositor e a parceria de grandes sucessos, Colla e Duboc. Desde então, Carlos Colla figura entre os compositores preferidos do Rei, com mais de 40 sucessos gravados por ele.

Em 1977, Roberto Carlos explodia nas rádios com mais uma composição de Carlos Colla, o eterno sucesso Falando sério. A repercussão foi tamanha que, tempos depois, Falando sério seria gravada por inúmeros artistas, em vários idiomas.

Em 1974, Carlos Colla graduou-se bacharel em Direito. Durante dez anos, exerceu brilhantemente a carreira de advogado, mas não abandonou o amor pela música e tampouco a inquietação de compor as canções encomendadas pelo mais importante intérprete brasileiro, Roberto Carlos.

No ano de 1980, Carlos Colla trabalhava na OAB do Rio de Janeiro e presenciou a explosão da famosa carta bomba, episódio que marcou a história política do Brasil e também assinalou o fim de sua carreira advocatícia. Colla passou a dedicar-se inteiramente à sua arte, e presenteou o público com uma enorme quantidade de composições que, na voz de grandes intérpretes da MPB, se transformaram na trilha sonora da vida de milhares de brasileiros.

Carlos Colla emplacou vários sucessos e produziu muitos artistas, dentre os quais, o cantor mexicano Luis Miguel, e a turnê Brasil do grupo musical Menudo, fenômeno porto-riquenho.

Como intérprete, gravou suas composições em dois trabalhos: um LP, pela gravadora Som Livre, e um CD, pela Transcontinental. Em 2009 lançou seu primeiro DVD "50 Anos de Música", pela Diamond, onde comemora seus 50 anos de carreira e seus grandes sucessos.

Até hoje, intérpretes, grupos musicais, bandas e inúmeras duplas sertanejas, gravam canções de Carlos Colla.

A partir de então, Carlos Colla compôs várias músicas gravadas por artistas. Também atuou com produtor, já tendo produzido o Menudo no Brasil, assim como Luis Miguel.

Algumas obras

Falando sério
(parceria com Maurício Duboc), Roberto Carlos; Pra te dar Felicidade (parceria Kely Reinttz) - Alcione; Dança do Côco, Xuxa; Hoje a noite não tem luar, Legião Urbana; ; Daqui prá frente (parceria com Maurício Duboc), Vanusa; Cortinas (parceria com Fred Falcão), Vanusa; Eu quero mais (parceria com Lilian Knapp), Sandy e Júnior; Pra que mentir (parceria com Marcos Valle), Erasmo Carlos; Mel na minha boca (parceria com Nenéo), Grupo Desejos; Meu disfarce (parceria com Carlos Roque), Fafá de Belém; Anoiteceu (parceria com Mauro Motta), Fafá do Belém; Sinto muito (parceria com Chico Roque), Wanderléia; Tô deixando você (parceria com Chico Roque), Chitãozinho e Xororó; Na hora do adeus (parceria com Chico Roque e Matogrosso), Matogrosso e Mathias; Orgulho não leva a nada (parceria com Michael Sullivan), The Fevers; Doces algemas (parceria com Nenéo), Wanderley Cardoso; Avenida paulista (parceria com Gilson), Wanderley Cardoso; Eu quero ter felicidade (parceria com Peninha), José Daniel Camillo; Um gato que vai (versão de "Un gatto nel blu"), José Daniel Camillo; Sotaque do Interior (parceria Kely Reinttz)- Alex e Gabriel.

Fonte: Wikipedia.

Maurício Tapajós

Maurício Tapajós (Maurício Tapajós Gomes), compositor, instrumentista, cantor e produtor musical, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27/12/1943, e faleceu na mesma cidade, em 21/04/1995. Nascido em uma família carioca com forte ligação musical (o pai, Paulo Tapajós, era radialista, compositor e cantor e foi, com os irmãos, responsável pela estréia musical do poeta Vinícius de Moraes na parceria Loura ou morena, de 1928; o irmão Paulinho também é músico), começou a compor na década de 60.

Sua primeira composição gravada foi Carro de boi (com Cacaso), pelo conjunto Os Cariocas.

Em 1966, assinou a direção musical e a trilha sonora, em parceria com Hermínio Bello de Carvalho e Antonio Carlos Brito (Cacaso), da ópera popular João Amor e Maria, de autoria de Hermínio Bello de Carvalho. O musical foi encenado no Teatro Jovem (RJ), por um elenco formado por Betty Faria, Fernando Lébeis, José Wilker, José Damasceno, Cécil Thiré e os integrantes do grupo vocal MPB-4, com direção de Kleber Santos e Nélson Xavier e cenários de Marcos Flaksman. A trilha sonora do espetáculo, de sua parceria com Hermínio Bello de Carvalho, foi lançada em disco.

Em 1967, Mudando de conversa (com Hermínio Bello de Carvalho) obteve sucesso na interpretação de Dóris Monteiro.

Teve diversas músicas gravadas na década de 1970, incluindo o clássico anticensura Pesadelo, com Paulo César Pinheiro ("você corta um verso/ eu escrevo outro/ você me prende vivo/ eu escapo morto") e o hino da anistia To voltando. Criou sua própria gravadora, Saci (Sociedade de Artistas e Compositores Independentes). Pela Saci lançou Olha aí e o LP duplo Aldir Blanc & Maurício Tapajós.

Foi fundador da Amar (Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes) e presidente da entidade.

No ano de sua morte, foi realizado, no Teatro João Caetano (RJ), o show tributo "Amigos lembram Maurício Tapajós", com a participação de Paulinho Tapajós, Mu Carvalho, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Carlinhos Vergueiro, João Nogueira, Sérgio Ricardo, Cristina Buarque, Miúcha, Os Cariocas, O Trio, Cristóvão Bastos, Zezé Gonzaga, Célia Vaz, Alaíde Costa, Moacyr Luz, Marco Sacramento, Paulo Malaguti, Elza Maria e Amélia Rabelo, entre outros.

Maurício Tapajós faleceu aos 51 anos, em 21 de abril de 1995.

Algumas músicas

À flor da pele
Carro de boi
Mudando de conversa
Perdão
Pesadelo
Querelas do Brasil
To voltando


Fontes: CliqueMusic; Memorial da Fama.

Armando Fernandes

Armando Fernandes, o Mamão (Armando Fernandes Aguiar), cantor e compositor, nasceu em 24/8/1938, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Apaixonou-se por samba desde sua infância, quando aos 11 anos desfilou no carnaval pelas ruas de sua cidade, no bloco da escola onde estudava.

Participou do II Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora, no final dos anos 1960, com sua canção Adeus diferente, interpretada por Ellen de Lima, e obteve sucesso, como compositor, com a música Tristeza pé no chão, gravada por Clara Nunes, em 1976.

Lançou o CD Mamão com açúcar, contendo suas composições , O beco não perde o tom, Botei seu nome na bandeira, Amor nem pensar e Ao amigo Toninho, todas com Carioca, Sete costados (c/ Marcinho Itaboray), Falou e disse, Samba do aniversário, Endereço, De sapato branco, Decisão, Cordão de metal, Paulinho tanto do tanto, Vila Furtado e Tristeza pé no chão.

Sua primeira composição foi Água deu, água levou contando desavenças de carnaval. Ao longo de sua carreira compôs cerca de 200 sambas. Sua composição mais famosa foi Tristeza pé no chão gravada por Clara Nunes com enorme sucesso.

Fontes: Paixão e Romance; Dicionário Cravo Albin da MPB.

A impressão musical no Brasil - Parte 7

Ruas 1º de Março e Duque de Caxias - Recife (Pernambuco) - Últimas décadas do séc. XIX.
Recife - Segundo Pereira da Costa (em Estudo sobre as artes em Pernambuco, Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco, nr. 54, 1900), existia, em 1852, uma Imprensa de Música na Rua Bela, 28, que publicou as valsas Madrugada, para piano, Salto, para flauta, e Luisada, para violão. Na mesma época foram publicadas em Recife várias obras didáticas sobre música.

Em 1843 a Tipografia Santos & Cia. imprimia o Tratado científico metódico-prático de contraponto, de Joseph Fachinetti, e da Tipografia Imparcial da Viúva Roma, na Rua da Praia, 55 (calcografia do padre E. J. de Azevedo), saía em1851 o Indicador dos acordos para violão, de Miguel José Rodrigues Vieira. Seis anos depois, Tomás da Cunha Lima Cantuária, músico e compositor, publicava sua Pequena arte de música. Antônio José d’Azevedo, com oficina litográfica na Rua Nova, 11, imprimiu também, nas últimas décadas do século passado, alguma música de salão.

Ainda no final do século XIX, Victor Préalle, que até 1870 tivera loja de música no Rio de Janeiro, deixou o negócio com Henri Préalle e transferiu-se para Recife, abrindo loja na Rua do Imperador, 55. Continuou imprimindo músicas com chapas numeradas (cerca de 260), em grande maioria peças de Misael Domingues, compositor alagoano. A firma passou então para Préalle & Cia. suc. de Victor Préalle, no mesmo endereço, mudando-se mais tarde para Rua Barão da Vitória, 59.

Em 1899 já tinham imprimido cerca de 390 chapas, na maioria de compositores brasileiros, além de Misael Domingues, Euclides Fonseca, Antônio Rayol, Antônio Henrique Albertazzi, Francisco Libânio Colás e outros. No final da década de 1910 estavam com loja na Rua Floriano Peixoto, 115.

Eduardo Paiva abriu Loja de Pianos, Instrumentos, Músicas e Artigos Diversos, na Rua Nova (hoje Rua Barão da Vitória), 13. Em 1913 iniciou a publicação de músicas, muitas delas impressas em Leipzig, Alemanha, e mais tarde em Recife e São Paulo. As primeiras peças eram todas de Alfredo Gama. Na década de 1920, mudou-se para a Rua das Laranjeiras, 58, como Casa Paiva, imprimindo muito pouco.

Em 1916 abriu-se a Casa Ribas de Artur & Ribas, na Rua da Imperatriz, 173. Três anos depois Artur Aroxa estava sozinho na firma e publicando muita música de salão de compositores brasileiros, que mandava imprimir em São Paulo. As edições não eram numeradas, mas a produção era abundante. Em 1920, eram representantes da Casa Bevilacqua do Rio de Janeiro, e até 1930 continuavam publicando.

Azevedo Júnior & Cia., com Casa de Música na Rua da Imperatriz, 185, imprimiu muita música de salão na década de 1920 até cerca de 1935. Em 1940 a casa continuava no mesmo endereço, mas a firma passara a Cirne & Irmãs.

A Secção de Música, de Dantas Bastos & Cia., na Rua Sigismundo Gonçalves, 95, iniciou por volta de 1929 a publicação da Edição musical mauricéia, sob a direção do compositor Nelson Ferreira, autor da maioria das obras publicadas. No ano seguinte, foi comprada pela Casa Parlophon, de M. G. Martins, continuando no mesmo endereço.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.

A impressão musical no Brasil - Parte 6

Casa Levy Pianos em uma foto de 1870  - Rua XV de Novembro - São Paulo
São Paulo - Em meados do século passado, começaram a surgir em São Paulo as primeiras músicas impressas nas oficinas de Gaspar & Guimarães (1863), Henrique Schroeder (1865), José Maria dos Santos (1869) e Jules Martin (Rua São Bento, 37), mas só mais tarde, no final do século, surgiu um serviço regular de impressão de músicas, com a firma Levy Filhos.

Henrique Luís Levy, francês de nascimento, vendedor de jóias e clarinetista, veio para o Brasil em 1848 e, em sua vida de vendedor, fizera amizade com a família de Carlos Gomes, em Campinas SP, participando de vários concertos e tendo mesmo acompanhado o compositor em sua primeira viagem à capital do Estado, em 1859. No ano seguinte abriu loja para venda de jóias, na Rua do Rosário, 2, passando logo a vender também músicas. Foi precursor nesse ramo de negócios com Jean-Jacques Oswald, que em 1857 abriu o Depósito de Pianos e Músicas da Rua da Casa Santa (hoje Rua Riachuelo), 10.

Em 1868, porém, Oswald retirou-se com a família para a Europa, onde seu filho Henrique Oswald deveria completar seus estudos de música. Henrique Luís Levy associou-se, em 1864, ao compositor Emílio Eutiquiano Correia do lago, mas quatro anos depois estava desfeita a sociedade, continuando ele com o Depósito de Pianos, Músicas e Instrumentos, até 1891, na Rua da Imperatriz (hoje Rua Quinze de Novembro). A firma passou então para seus dois filhos, Luís Levy e Alexandre Levy, ambos pianistas e compositores. Levy Filhos começaram a publicar regularmente música, com chapas numeradas (L. ... F.). Não tinham chegado ainda a uma centena, quando a firma mudou para L. Levy & Irmão, com chapas (L. I).

Em 1892, morreu prematuramente Alexandre, o mais talentoso como compositor, sendo que seu pai sobreviveu a ele ainda quatro anos. Com a morte do irmão, Luís assumiu a direção da Casa Levy, continuando a publicar principalmente obras suas e de seu irmão Alexandre, música sertaneja, de dança, hinos, marchas etc., sempre na Rua da Imperatriz, atingindo mais de 400 as peças publicadas até o final da década de 1920. A casa Levy funciona até hoje, mas só para venda de músicas e instrumentos, tendo-se mudado da Rua da Consolação, 381, onde se achava até 1974, para a Rua Azpilcueta, 547, sendo de propriedade dos Irmãos Vitale.

Antônio Di Franco, italiano, tinha, no início da década de 1910, um estabelecimento musical na Rua São Bento, 59, com representação de várias editoras européias, entre elas Schott Frères (Bruxelas, Bélgica) e A. Gaizelli (Paris, França), e imprimia músicas em oficina própria, com chapas numeradas (A.D.F. ...). Publicou um Catálogo e por volta de 1919 já contava com mais de 700 peças impressas.

Em 1921 comprou, com o sócio Francesconi (Di Franco & Francesconi), o Estabelecimento Musical Santa Cecília, na Rua Sebastião Pereira, 21, que vendia, principalmente, instrumentos, e pertencera de 1918 a 1920 a Castagnoli & França. Este imprimia também uma dezena de peças numeradas (C ... F.), sendo sucedido por José França, que continuou a imprimir (J. ... F). A sociedade Di Franco & Francesconi teve pouca duração, continuando com Di Franco & Cia. Por volta de 1922, com a morte do proprietário, encerrava suas atividades.

João Campassi, gravador italiano que viera para o Brasil a chamado de A. Di Franco, estabeleceu com o sócio Pedro Angelo Camin a firma Campassi & Camin — Casa Editora Musical Brasileira (C.E.M.B.), na Avenida Brigadeiro Luís Antônio (1914). Em 1919 adquiriu a Casa Sotero, então localizada na rua Líbero Badaró. Mudaram pouco depois para a rua Direita e mais tarde para a rua São Bento. Fundaram filiais em Santos SP, Rio de Janeiro RJ e Araraquara SP, mas a crise de 1929 obrigou a liquidação desses estabelecimentos. Posteriormente, um grande desfalque praticado por empregados de confiança provocou a concordata da firma em 1933.

Com o objetivo de ajudar a viúva de Di Franco, de quem era parente, constituiu, com parte do acervo original, a Casa A. Di Franco, na Rua São Bento, 50, para venda de instrumentos e músicas, funcionando como redação da revista ilustrada Anel (1923-1929), dirigida inicialmente por Antônio de Sá Pereira, periódico informativo e noticioso sobre o movimento, não apenas musical, mas também de “teatro, arte, literatura e atualidades sociais”.

Contemporâneo de A. Di Franco, o Estabelecimento Musical Sotero de Sousa Ed., na Rua Libero Badaró, 135, iniciou, por volta de 1915, a publicação de músicas, com acentuada preferência pela música sertaneja, canções populares, operetas etc., todas as peças com chapas numeradas (S. ... S.), quase 200. Em 1920, a casa entrou em liquidação e foi em parte comprada por Campassi & Camin — Grande Estabelecimento Musical Campassi & Camin (antigo Sotero de Sousa), mantendo-se depois o nome de Casa Sotero, na Rua Direita, 47. Quatro anos mais tarde já tinha filial em Santos.

Em outubro de 1928 publicaram o 22 Catálogo de música (peças com chapas numeradas até 3.530). Entre 1927 e 1929 tiveram uma filial no Rio de Janeiro, na antiga Rua República do Peru, da qual foi gerente Eduardo Souto. Publicaram, além de métodos e obras didáticas, vasto repertório de música para piano, violino, canto, música de dança, as conhecidas coleções Cine-orquestra e Brasil-orquestra, com repertório para pequenos conjuntos instrumentais, e a Biblioteca pianística, coleção de peças para piano revistas por Luigi Chiaffarelli, Agostino Cantú e Outros.

Em 1920 a firma enfrentou sérias dificuldades financeiras, passando a ser propriedade de Agostino Cantú. No ano seguinte os endereços eram Rua Direita, 37, e São Bento, 42. Em 1932 o Catálogo C.E.M.B. passou para as Edições Musicais Derosa — Rua Álvaro de Carvalho, SA. Continuaram a publicação de peças, seguindo a mesma numeração, primeiro com as iniciais (E.d.R. ...) e mais tarde (D. ... R.). Em 1934 a numeração das chapas era cerca de 5.100 e em 1937 ia a té cerca de 5.280. Por volta de 1940 passou para Impressora Moderna Ltda.— IML., no mesmo endereço, continuando a impressão de músicas, com obras de Agostino Cantú, Fabiano Rodrigues Lozano, Francisco Mignone e outros, atingindo por volta de 5.500 peças. Vendida depois para a Editora Lítero-Musical Tupi 5/A — Rua Sete de Abril, 176, hoje é propriedade das Casas Editoras Musicais Brasileiras Reunidas CEMBRA Ltda., na qual os Irmãos Vitale têm participação.

Em meados da década de 1910, o compositor Francisco Russo imprimia alguma música em sua loja, Casa Ítala, na Rua do Arouche, 30. Por volta de 1919 instalou-se na Rua General Carneiro, 30, mudando o nome da loja para Casa Mignon, como sucessora do Estabelecimento Musical Pietro Mascagni, de propriedade de Attilio Izzo (imprimira cerca de 10 peças numeradas A. ... I.). Em 1920 mudou-se para a Rua Libero Badaró, onde vendia instrumentos e música. Em 1921 mudou o nome da firma para Francisco Giunta Russo e no ano seguinte montou oficina própria para impressão de músicas, mudando novamente o nome da casa para Casa Wagner (antiga Casa Mignon). As peças eram numeradas (C. ... W.). De 1951 em diante, a firma passou para Evaldo Mário Russo — Casa Wagner, e de 1954 até hoje Casa Wagner Ed. Ltda., tendo-se mudado em 1960 para a Rua Barão de Itapetininga, 207/2 andar. Imprimem principalmente material didático, peças para piano (principiantes), acordeão, violão e cantos escolares.

A Casa Manon de Facchini & Zanni, na Rua do Carmo, 20, imprimia desde 1918 alguma música de salão. Em 1920 mudaram-se para a Rua Boa Vista, 48. De 1948 em diante, têm publicado principalmente música para acordeão e métodos para instrumentos. De 1955 em diante o endereço passou a ser Rua Vinte e Quatro de Maio, 242.

Pedro Tommasi, com Estabelecimento Musical na Rua Boa Vista, 55, desde 1918, começou a publicar música em 1920, mantendo-se durante alguns anos, mas com produção reduzida.

Em setembro de 1923 Vicente Vitale iniciou atividades em São Paulo, começando no ano seguinte a publicação de música popular nacional e estrangeira. Associando-se a seu irmão Emllio, logo depois incorporaram-se os outros irmãos: João, Afonso e José, formando a Empresa Editora Musical Irmãos Vitale, na Rua Conselheiro Ramalho, 187. Em 1931, estenderam o âmbito de suas publicações com a compra da Edição Brasília de Nicollini e Pó, incluindo obras de Johann Sebastian Bach (1685—1750), Ludwig van Beethoven (1770—1827), Frédéric Chopin (1810—1849) etc. Tiveram inicialmente como orientador musical o compositor Lorenzo Fernandez, responsável pela Edição cosmos — com finalidade didática, compreendendo obras de compositores brasileiros e estrangeiros, Edição Panamérica e Edição Orfeu — uma seleção de obras corais de autores brasileiros.

Atualmente a direção artística da editora está entregue ao maestro Sousa Lima, e o Catálogo da empresa compreende obras de compositores estrangeiros, mas com acentuada preferência pelos autores brasileiros, dentre eles Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Barroso Neto, os irmãos Levy, Sousa Lima, Dinorá de Carvalho, Osvaldo Lacerda, Manos Nobre, Almeida Prado e outros.

Outras séries publicadas: Edição métodos, Edição álbuns, Edição orfeão, Edição violão, Edição musarmônio etc. Cada série com numeração independente: Música popular do nr. 1 até 1.000 e depois de 2.000 até aprox. 20.000. Em 1970 publicaram um Catálogo geral de música popular brasileira (125 p.), tendo incorporados os catálogos: Brasil-ritmos Vitale e Catálogo Ernesto Augusto de Matos, com obras de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Patápio Silva etc. O repertório de música estrangeira e obras de Villa-Lobos, Mignone etc.: do nr. 1.000 até 2.000, continuando de 20.000 em diante.

Periodicamente publicam um Guia temático com as peças dos programas dos conservatórios, classificadas por ordem de dificuldade, e em 1973, comemorando 50 anos de atividade editorial, publicaram um Suplemento Vitale, além dos catálogos de material didático, instrumental etc., publicados regularmente. Desde 1942 dispõem de loja para venda das Edições Vitale na Rua Direita, 115 — Casa Bevilacqua, adquirida da firma J. Carvalho & Cia., que havia sido representante das Ed. Bevilacqua em São Paulo.

Em 1926 a Ed. Ricordi, de Milão, Itália, abriu filial em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio — G. Ricordi & Cia., pondo à disposição do público vários catálogos, notando-se a predominância de material didático. Em Catálogo publicado em abril de 1929, já figuravam os seguintes compositores brasileiros: Barroso Neto, Agostino Cantú, Lorenzo Fernandez, Paulo Florence, Luciano Gallet e Henrique Oswald.

Criada a Ricordi Americana, na Argentina, voltaram- se para o Brasil no intuito de desenvolver a produção do país, fundando em 1943 a Ricordi Brasileira S/A— E.C., atualmente com endereço na Rua Conselheiro Nébias, 1.136. A orientação da editora continua a mesma, como se observa do Extrato do catálogo geral de 1973 (102 p.), com predominância de compositores brasileiros contemporâneos, entre os quais Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda, Ernst Mahle, Almeida Prado, Camargo Guarnieri, Rufo Herrera, Gilberto Mendes, Guerra-Peixe, José Siqueira, Ernst Widmer, Cláudio Santoro, Kilza Setti, Breno Blauth, Marlos Nobre e Bruno Kiefer.

Por volta de 1928, I. Chiarato & Cia. Ed., na Rua Santa Efigênia, 28, iniciaram a publicação de peças para piano, canto e violino (Biblioteca violinística brasileira), na maioria de compositores paulistas ou radicados em São Paulo, cerca de uma centena de peças numeradas (I.C. ...). Em 1930 L. G. Miranda comprou a firma mantendo o nome de Casa Chiarato (mesmo endereço), ano quem que já haviam publicado pelo menos três pequenos folhetos, como catálogos. Responsáveis pelo lançamento da quase totalidade das obras sobre música de Mário de Andrade, demonstravam grande interesse também pela produção musical contemporânea, tendo em estoque, para venda, obras de Darius Milhaud (1892—1974), Paul Hindemith (1895—1963), Igor Stravinsky (1882—1971), Vittorio Rieti (1898—), entre outros. Em 1931 mudaram-se para a Avenida São João, onde continuaram publicando música até cerca de 1935.

Estevam Sciangula Mangione, de nacionalidade italiana, chegou ao Rio de Janeiro em 1927, vindo da Argentina. Iniciou atividades com um balcão para venda de músicas em conjunto com André Barbosa & Cia., associando-se depois a Luís Gonzaga (filho de Chiquinha Gonzaga), no primeiro andar da Rua da Carioca, 55, com a firma Estevam S. Mangione, que iniciou a publicação de músicas, mas ainda sem oficina própria. Em 1930 tentaram, sem sucesso, a instalação de uma gráfica, e desde 1927 possuíam a loja A Melodia, na Rua Gonçalves Dias, 40. O endereço passou a ser depois Rua do Ouvidor, 160/1o. andar.

Nessa ocasião vieram para São Paulo, onde se instalaram na Rua da Liberdade, 96, com escritório, residência e oficina. Francisco Mignone foi o primeiro orientador e conselheiro musical da firma, além de se incumbir da revisão das peças. A firma, então E. S. Mangione, assim se manteve até 1944, quando passou a Editorial Mangione Ltda. Música popular brasileira foi o que predominou inicialmente na produção da editora, além de material didático, algumas obras de Francisco Mignone, João Baptista Julião, Radamés Mosca etc. Em São Paulo alugaram loja de música com J. Paulo Cristóval — Casa Beethoven — Rua Direita, 25 (de 1935 a 1942), para venda do material publicado.

Desde 1934 são os editores autorizados, mediante contrato, para impressão das obras do Catálogo E. Bevilacqua, mantendo idêntica situação com o Catálogo da Casa Viúva Guerreiro. De 1952 a 1968 passaram a Sociedade Anônima Mangione e depois Mangione e Filho Sociedade Coletiva. A produção da casa até hoje atinge cerca de 2.600 peças (numeração iniciada em 10.000, portanto 12.600), mais o acervo de música popular — cerca de 6.400 peças.

Bandeirante Editora Musical Ltda., Rua do Seminário, 165 / 2o. andar, iniciou atividades por volta de 1945, publicando música popular brasileira, repertório de acordeão e material didático, orientação que manteve até 1972, quando passou à propriedade da Fermata do Brasil. A produção ultrapassa 6.000 peças.

Enrique Lebendiguer, de nacionalidade polonesa, chegou ao Rio de Janeiro, vindo de Buenos Aires, Argentina, onde era sócio de Brenner nas Ediciones Internacionales Fermata — FBA. Colaborou inicialmente com as Edições Musicais Rio, Praça Marechal Floriano, 55, entrando mais tarde de sócio e acabando proprietário da editora. Em 1950 veio para São Paulo, iniciando publicação de música popular brasileira e estrangeira. Em 1966 comprou a Editora Santos Dumont, de Mário Zan, e em 1968 tornou-se proprietário do Catálogo Ed. Artur Napoleão, publicando, nesse mesmo ano, um extrato do referido catálogo, com as obras de autores brasileiros. 

Em 1972 comprou a Bandeirante Editora Musical Ltda., formando, com várias outras editoras menores de música popular, o Grupo Editorial Fermata. A aquisição do Catálogo Ed. Artur Napoleão constituiu para a editora um apreciável enriquecimento de acervo, pois até então dedicavam-se quase exclusivamente à publicação de música popular. 

 Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.

João Ricardo

João Ricardo (João Ricardo Carneiro Teixeira Pinto), cantor, compositor, violonista e gaitista, nasceu em Ponte do Lima, Portugal, em 21/11/1949. Filho do poeta e jornalista português João Apolinário e da esteticista Maria Fernanda Gonçalves Talline Carneiro Teixeira Pinto. Na infância foi fortemente influenciado pelo rock desde cedo, em especial o francês através do grupo Les Chats Sauvages e Johnny Halliday, além do maior de todos, Elvis Presley.

Conheceu a música brasileira através de Miltinho e Dóris Monteiro, discos que seu pai tinha em casa. Em 1963 toma contato com o que viria a determinar a sua opção pela música: The Beatles. Tinha quatorze anos á época e se viu envolvido com a música brasileira de imediato. Cedo começou escrevendo letras para músicas de um vizinho que o levou a aprender violão para fazer as suas próprias. A partir dos dezessete, dezoito anos, compôs algumas das que viriam a se tornar clássicos da banda seminal que fundou, Secos e Molhados.

Em 1970, convidou dois amigos - Fredie (percussionista) e Pitoco (Viola de dez cordas) - para integrarem o conjunto Secos e Molhados. Logo depois, convidou Ney Matogrosso para ser o cantor principal. Alguns dos maiores sucessos do grupo foram composições suas, como O vira, parceria com Luli, Sangue latino, com Paulo Mendonça, e Flores astrais, com João Apolinário.

No dia 23 de maio de 1973, o grupo entra no estúdio Prova para gravar - em sessões de seis horas ao dia, por quinze dias, em quatro canais – seu primeiro disco, que vendeu mais de 300 mil cópias em apenas dois meses, atingindo um milhão de cópias em pouco tempo.

Os Secos e Molhados se tornaram um dos maiores fenômenos da música popular brasileira, batendo todos os recordes de vendagens de discos e público. Em fevereiro de 1974, fazem um concerto no Maracanãzinho que bateu todos os índices de público jamais visto no Brasil. Em agosto do mesmo ano, é lançado o segundo disco e João Ricardo decide reciclar os integrantes da banda.

Com a dissolução do grupo, em 1974, lançou-se em carreira solo. Foi contratado pela Philips e, no ano seguinte, lançou o seu primeiro LP solo com as composições Vira safado, Janelas verdes e Salve-se quem puder, entre outras.

Em 1976. lançou mais um disco. Ao final dos anos 1970 e início dos 1980, tentou trazer de volta ao cenário artístico o grupo Secos e Molhados, sem repetir o sucesso da formação original.

Fonte: Wikipedia,

Raul: profeta, messias ou bruxo?

Há dez anos, o Brasil perdia Raul Seixas, o maluco-beleza, o mentor da Sociedade Alternativa e guru de milhões. Hoje, poeira assentada sobre o túmulo, já é possível enxergar a verdade por trás da fachada mística de Raulzito. Profeta? Messias? Bruxo? Ou simplesmente um personagem criado pela imaginação dos fãs? A história de Raul é mais bizarra que qualquer livro de magia.

A chave para decifrar o enigma Raul Seixas mantém-se à margem do mercado, escondido numa pequena chácara na zona rural da cidade de Miguel Pereira, no Rio de Janeiro. Cláudio Roberto Azeredo conheceu Raul aos 11 anos, através de uma namorada, a escritora Heloísa Seixas. Compuseram a primeira música juntos em 1964, "I Don't Really Need You Anymore", só gravada 25 anos depois. Juntos, compuseram cerca de 30 canções e muitos sucessos, como "Aluga-se", "Cowboy Fora-da-Lei", "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", "Coisas do Coração" e "Rock das Aranha", além de todo o LP O Dia em que a Terra Parou. "Raul era uma pessoa muito difícil", admite Cláudio, com a sinceridade a que só os amigos próximos têm direito.

Cláudio e Raul mantiveram contato distante até que, em 1968, Raul resolveu tentar a sorte de sua banda, Os Panteras, no Rio de Janeiro. A iniciativa foi frustrada. Raul voltou para Salvador, casou-se, abandonou a música por alguns meses e só fixou residência no Rio de Janeiro dois anos depois, quando arrumou emprego de produtor na CBS, onde trabalhou com artistas como Trio Ternura, Renato & Seus Blue Caps, Leno e Jerry Adriani. Foi expulso da gravadora em julho de 1971, depois de haver produzido, por baixo do pano, um disco absolutamente experimental, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez, influenciado por Frank Zappa.

No ano seguinte, ressurgiu como intérprete, defendendo uma mistura de baião com rockabilly chamada "Let Me Sing, Let Me Sing" no Festival Internacional da Canção. Rita Lee, que estava lá com os Mutantes, conta uma história sensacional: "Foi minha primeira visão de Raul, um rapaz vestido de couro preto, cantando em inglês e rebolando feito Elvis. Pensei tratar-se de um cantor cômico, imitando a caricatura de um jovem americano alheio à época que o Brasil e o mundo estavam vivendo. Mas, nos camarins, eis que percebo que aquele 'cômico' não estava brincando, não. Para acabar com a dúvida, cheguei no cara. Ele conversou comigo em inglês, num sotaque quase texano. Raul não estava tentando ser polêmico, ele realmente acreditava que havia nascido no Brasil por um infortúnio do destino. Eu lhe disse que comigo acontecia o contrário pois, sendo filha de gringos, minha grande aventura era me abrasileirar o máximo possível, ao que ele me respondeu com um sorriso maroto: 'então você pode ficar com o meu Seixas que eu fico com o seu Lee Jones!' ... Inesquecível!"

Raul encontra o Alquimista

Certo dia, Raul leu uma matéria sobre discos voadores na revista 2001, editada no Rio de Janeiro pelo mochileiro bicho-grilo Paulo Coelho. Raul convidou Paulo para um jantar em seu apartamento e mostrou algumas músicas que havia feito – bem diferentes das que costumava compor para os contratados da CBS - e propôs a Paulo que fizesse a letra para algumas delas. A partir de então, passaram a preparar alguns temas para o primeiro disco solo de Raul, Krig-Há-Bandolo, que seria lançado em julho de 1973.

No mesmo ano, Raul foi levado por Paulo a conhecer uma sociedade secreta de que o escritor fazia parte, conhecida como Argentum Astrum, AA. Era uma organização filosófica anti-religiosa e cheia de rituais, baseada nos ensinamentos do bruxo inglês Aleister Crowley (1875 - 1947).

Em sua época, Crowley foi marginalizado pela moral vitoriana, chegando a ser chamado de "o homem mais perverso do mundo". Autodenominado a "Besta 666", seu trabalho consistia basicamente em revelar segredos de livros mágicos e propor, a partir desses segredos, uma nova ordem social (não é à toa que Crowley entrou na moda durante os revolucionários anos 60/70). Sua obra central chamava-se O Livro da Lei. Dizia basicamente que cada homem é seu próprio deus e, por isso, os fortes se sobrepunham aos fracos.O material que emergia da parceria de Paulo e Raul foi muito influenciado por Crowley. Algumas músicas chegam a copiar os textos do bruxo, como "Sociedade Alternativa" e "Liber Oz" (gravada 14 anos depois, com o nome de "A Lei"). Na verdade, todo o repertório do segundo disco de Raul seria colocado "a serviço daquela sociedade secreta", conforme revelou Paulo Coelho no livro Confissões de um Peregrino (editora Objetiva).

O compacto com a faixa "Gita" (cuja letra foi inspirada no Bhagavad-Gita , a mais popular das escrituras sagradas da Índia antiga) foi lançado em julho de 1974 e vendeu 600 mil cópias, dando a Raul seu primeiro disco de ouro. O LP foi lançado logo em seguida, também com grande sucesso. Conforme ia crescendo a popularidade da dupla, Raul e Paulo passaram a realmente acreditar na viabilidade da Sociedade Alternativa. Chegaram a divulgar a construção da Cidade das Estrelas, em Minas Gerais, que funcionaria como o quartel-general da seita. "Vivíamos no mais profundo negrume da ditadura", lembra Pena Schmidt. "Mas Raul propunha o oposto daquilo, numa saída individual, que era um tipo de discurso poderoso mas tolerado pelos manipuladores de informação da Censura". A partir de "Gita", Raul passou a ser visto pelos fãs como uma espécie de conselheiro, de guru. Mães começaram a trazer seus filhos doentes para que ele os curasse.

Rita Lee acredita que a imagem mística que Raul assumiu nesta época pouco tinha a ver com temor religioso. "Me parece que depois que Paulo Coelho entrou na vida de Raul como parceiro de trabalho e de aventuras no mundo da magia, Raul praticamente neutralizou sei jeito Presley de ser e mudou, feliz, para o papel de Profeta Apocalíptico. O fã radical de Elvis ingeriu uma overdose de misticismo e se transformou num guru". Cláudio Roberto acha que o que falou mais alto foi o business: "Era algo do tipo 'oba, isso dá fama e dinheiro, é nessa que eu vou', era show". Ele confessa que viu com desconfiança a aproximação de Raul e Paulo Coelho. "Raul abraçou toda a megalomania, todo o sonho de poder de Paulo, e isso fez muito mal a ele", acredita. "Esse dedo em riste na capa do Gita foi definitivo numa ferida já aberta, porque mostrava Raul assumindo uma coisa que ele sabia não ser ele, algo falso".

Em maio de 1974, a polícia apreendeu e incinerou a maioria dos 20 mil exemplares do gibi-manifesto A Fundação de Krig-Há (patrocinado pela Philips), considerado material subversivo. Raul e Paulo Coelho foram presos e torturados. Raul exilou-se nos Estados Unidos, apoiado pela família americana de sua esposa. Voltou logo depois, mas dali em diante as coisas já seriam diferentes.

Demônios e outros bichos

Paulo Coelho abandonou a AA depois de ser surpreendido por uma personificação do demônio. Raul continuou por mais alguns meses. O relacionamento entre os dois já havia esfriado, assim como a fase de sucesso de Raul. Tentaram restabelecer a parceria três anos depois, alugando quatro suítes em um hotel em Campos do Jordão. Mas não se falavam, apenas trocavam anotações por baixo da porta. Depois de cinco dias trancado no quarto, Raul foi encontrado desmaiado, vítima de inanição.

Passados 25 anos, ainda pouco se sabe sobre a sociedade de que participaram - Paulo nem sequer pronuncia o nome dela. Raul nunca mais tocou no assunto, mas sabe-se que tanto ele quanto sua esposa na época, Gloria Vaquer, abandonaram os rituais após visões desesperadoras que misturavam demonismo e alucinação psicodélica.

O disco Novo Aeon, lançado em outubro de 1975, marcava nitidamente a transição pessoal do cantor. Nas entrevistas de divulgação do disco, Raul tentava dissociar-se da imagem de pregador, dizendo que a verdade estava em cada um e que tentar doutrinar seu público havia sido um erro. "Não sei se ele estava preparado para gerenciar seu próprio carisma", pondera Marcelo Nova. "Essa idolatria, essa coisa de 'Raul sabe-tudo', era perigoso. Nas entrelinhas das canções, ele tentava dizer que não sabia de nada: 'faça você', procure seu caminha', 'eu sou é raulseixista', mas nem todo mundo entendia". Cláudio Roberto, que estreara como parceiro em vinil justamente no disco Novo Aeon, tenta analisar a dubiedade do sucesso que, acredita, acabou por seduzir o amigo: "o sucesso é apenas o fenômeno de preencher uma lacuna do mercado na hora certa", sentencia. "O real talento de um artista só pode ser medido pela sua capacidade em não se deixar manipular pelo momento do sucesso. E Raul não teve essa capacidade".

Apesar de todos os esforços de Raul, a imagem patrocinada pela indústria do disco falou mais alto e, até hoje, muitos fãs buscam orientação espiritual na obra do cantor. Segundo Cláudio Roberto, quem mais precisava de conselhos era o próprio Raul. "Ele era extremamente ambíguo e indefeso, uma pessoa muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito mais difícil para ele. Raul era uma criança, morreu dizendo que havia entrevistado John Lennon, até mesmo para mim, quando isso era mentira - ele era absolutamente autêntico dentro dessa falta de autenticidade, o que me faz amá-lo muito mais e absolvê-lo por isso".

Em 1977, Cláudio sobrevivia dando aulas de inglês e vendendo mocassins nas feiras hippies da cidade, quando Raul o convidou para, juntos, comporem seu primeiro disco na gravadora WEA. "Nos discos que lançou pela WEA ele buscou a absolvição pelos erros do passado", avalia Cláudio. "O sucesso fez muito mal a ele, ele bebeu o sucesso todo. Eu, que o conhecia desde antes da bebida, convivi com uma pessoa cerimoniosa, que nunca perdia a linha. Virávamos noites compondo em hotéis, eu de cueca, detonando, e ele de terno e gravata, absolutamente formal".

Cláudio e Raul passaram três meses trabalhando no novo repertório. O Dia em que a Terra Parou foi lançado com todas as regalias que um artista poderia querer. Curiosamente, diz Cláudio, foi a partir deste disco que teve início a decadência pessoal e artística de Raul. "Ele descobriu que poderia usufruir de uma maneira 'light' de compor, mesmo sendo verídica. Mas era preciso fazer uma reavaliação muito grande de valores - imagine, uma pessoa tão solapada por tantos vícios, não só químicos como mentais e posturas..."

Na opinião de Cláudio, o sucesso da faixa "Maluco Beleza" ("Enquanto você se esforça pra ser / um sujeito normal / e fazer tudo igual / eu do meu lado, aprendendo a ser louco / maluco total / na loucura real") teria muito a ver com esse preocesso. "Esta faixa foi, provavelmente, o primeiro hit dele que não era um chiste, uma provocação. Ao contrário, é uma música autêntica, melancólica - é a história de um cara assumindo que não tem controle sobre sua loucura, é foda isso. Mas quando você constrói uma vida em cima de determinados vícios de postura, aí, malandro, é muito difícil. Mas Raul teve a chance de mudar isso, e não quis. Talvez por haver passado tanto tempo sendo um mistificador, ele tenha subestimado a força da autenticidade e superestimado a sua capacidade de manipulação. Mas o tempo julga pela verdade, pela causa e efeito do que você faz, não pelo sentimento do fã, que age apenas pela emoção". Depois desse disco, acredita Cláudio, Raul ficou "artisticamente em cima do muro".

"Raul já não era ele mesmo"

Os dois amigos, no entanto, continuaram compondo até a morte do cantor. Chegaram a planejar um novo LP em 1978, mas brigaram depois que Cláudio o acusou de haver registrado uma música da dupla em nome de Oscar Rasmussem - a faixa seria "Por Quem os Sinos Dobram".

Cláudio só voltou a ver Raul no início dos anos 80, mas encontrou outra pessoa. "Ele já havia se entregado, o corpo estava cansado de tanta luta inglória - 'é preciso sobreviver, é com isso que eu vou', sabe? O problema dele era lutar até alcançar, depois a motivação desaparece - 'eu me pergunto e daí, foi tão fácil conseguir' (da letra 'Ouro de Tolo'), isso é o resumo de sua vida", acredita. "Vi um show, em 1980, em que Raul enfrentou uma platéia absolutamente gelada, que estava lá para colocar a última pá de cal sobre seu cadáver insepulto. Até o meio da segunda música, ele tocou completamente ensandecido, numa performance que eu nunca havia visto. A audiência não resistiu e foi ao delírio - foi o que bastou para Raul começar a esquecer a letra, tropeçar e fazer uma merda de show. A impressão era a de que ele não suportava conseguir, conquistar".

Mas já era tarde, Raul Seixas já havia conseguido e conquistado. Isso consumiu sua vida, é verdade, mas seu trabalho atravessa as décadas como a voz oficial de uma raça que nunca se extingue: a dos malucos. Mesmo que fosse uma "criança" curiosa, como define "Cláudio Roberto, e não o filósofo onipotente, como o próprio Raul acreditou ser nos tempos de "Gita". A perenidade de seu trabalho foi posta à prova e será mais uma vez nestes dez anos de sua morte: a WEA planeja relançar seu disco Por Quem os Sinos Dobram em CD, incluindo letras, notas biográficas e o encarte original. Depois de tudo, só nos resta a música de Raul para ouvir. E já esta de bom tamanho.

O Meio

Os anos 80 foram cruéis para Raul. "Naquela época, ele não atendia telefones nem respondia a qualquer tentativa de aproximação", lembra Rita Lee. "Ele se cercou de vampiros que lhe sugaram até a última gota de sangue." Ao mesmo tempo, Raul era considerado persona non grata por produtores de shows, de eventos e por gente de gravadora. "Havia muitas ramificações ao redor dele, gente que tentava armar show com banda que Raul desconhecia, gente que vendia shows no interior em nome dele sem que ele soubesse, gente que tomava adiantamento de apresentações que ele nunca marcou", diz Marcelo. "Lembro que, certa vez, a secretária de Raul me ligou em casa, dizendo que havia um cara na casa dele, ameaçando-o de morte porque ele não queria fazer uma temporada de banquinho e violão no Amazonas e em Belém do Pará."

Caratecas,drogas e tiros

Na verdade, o inferno astral de Raul começou ainda no final dos anos 70, quando lançou um disco sem repercussão chamado Por Quem os Sinos Dobram, escrito ao lado de um novo parceiro, Oscar Rasmussen, com quem dividia o apartamento na época. Raul costumava agregar a seu redor os tipos mais estranhos e sombrios, numa versão tropical da "máfia de Memphis" que acompanhava Elvis Presley. Em 1979, ele teve a inacreditável idéia de contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Tanto ele e Oscar quanto os seguranças varavam as noites em festas regadas a álcool e drogas das mais variadas. Numa transação obscura entre os caratecas e traficantes, o faixa preta Hugo Amorrotu foi assassinado a tiros, dentro do apartamento de Raul, num evento que demonstra o grau de descontrole que sua vida havia tomado. O corpo de Raul sentiu as pancadas do destino: o cantor foi internado, retirou metade do pâncreas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e passou alguns meses hospedado na casa dos pais na Bahia. No ano seguinte, voltou à gravadora CBS (atual Sony Music), onde trabalhara como produtor nos anos 60. O disco que gravava, Abre-te Sésamo, foi, verdadeiramente, o último espasmo do cantor implacável e rebelde dos anos 70. O repertório, inspirado, era sua grande aposta.

Princesa Diana, não!

No entanto, Abre-te Sésamo foi, do início ao fim, um disco marcado por problemas e coincidências infelizes. Primeiramente por conta da Censura, que implicou com a balada "Baby" e o verso "por que esconder o vermelho/ do sangue tingido o lençol?", que virou "a mancha do batom vermelho/ por que esconder no lençol?". Depois, novamente censurado por conta da faixa "Rock das Aranha" (composta como piada e gravada como molecagem). Logo depois da gravação, a diretoria da CBS mudou e o disco foi mal divulgado e pessimamente distribuído. Aparentemente, a gravadora de Roberto Carlos e Amelinha não estava gostando muito da idéia de ter um encrenqueiro do calibre de Raul Seixas em seu cast. Aproveitando a relação desgastada, a gravadora propôs ao cantor que compusesse algo tendo o casamento da princesa Diana e príncipe Charles como tema. Raul respondeu com o pedido de rescisão de contrato.

Sem trabalho, Raul passou a divulgar planos mirabolantes, como filmar em Hollywood, candidatar-se a deputado federal e lançar um livro infantil. Pretendia prensar um disco pirata, chamado The Pirate Record (sic), com gravações raras de sua antiga banda Os Panteras, feitas nos anos 60. O assassinato de John Lennon tornou o cantor, normalmente avesso aos shows, ainda mais recluso. Um show na cidade de Caieiras, em São Paulo, foi desastroso: Raul foi confundido com um impostor e por pouco não foi linchado pelo público. Acabou levado à delegacia, onde foi esbofeteado e encarcerado.

Eventos assim só desgastavam sua imagem e o empurravam ainda mais para o alcoolismo. Seu vício foi progredindo de maneira proporcional à sua falta de atividade profissional. Sua esposa na época, Kika Seixas, passou a utilizar de seus contatos como assessora de imprensa para tentar reerguer a carreira do cantor. Depois de dois anos de tentativas, finalmente uma boa notícia: Raul foi chamado por Augusto César Vanucci para estrelar um especial infantil da TV Globo chamado Plunct Plact Zum, interpretando o personagem Carimbador Maluco. Animado, ele compôs um tema infantil, inspirado pela filha Vivian, de 2 anos. O sucesso da inocente canção rendeu seu segundo disco de ouro. Os fãs buscaram nos versos da canção alusões ao anarquismo, mas a música tratava mesmo de um personagem infantil - tanto que, em dezembro, Raul, vestido de Carimbador Maluco, cantou no estádio do Maracanã, na festa de chegada do Papai Noel, ao lado da Turma do Balão Mágico, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

O cansaço físico e profissional falou mais alto que a boa fase "família" do cantor. Raul voltou a beber, e muito. Kika deixou-o em 1984. "Minha filha já estava crescendo e o pai dela bebendo o tempo todo", lembra. "Nos últimos anos Raul não tomava mais banho, estava sempre deprimido, não comia mais alimentos sólidos, se urinava sempre. Mas nunca perdeu a força de vontade, sempre de bom humor, fazendo planos para o futuro". Wanderléa, que conheceu Raul nos anos 60 e chegou a dividir com ele os vocais da faixa "Eu Quero Mais" (do LP Raul Seixas, de 1983), lembra que Raul passava os dias sozinho, trancado em seu apartamento: "De meias, chinelos, às vezes de luvas, assistindo a horas e horas de vídeos de seus heróis de adolescência, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Elvis Presley". O mesmo cantor que bradava contra a nostalgia em 1975 transformava-se em um personagem saudoso e reacionário. "A partir de determinado momento, aqueles vídeos passaram a ser a única relação dele com o ambiente que amava, que um dia o motivara a cantar", lembra.

Do início ao fim, a década de 80 viu Raul entregando-se a seus excessos, deixando-se devorar pelo monstro que se formava ao redor de seu nome. Desistindo de viver. "Ele perdeu o interesse pela carreira", analisa Marcelo Nova. "O que o desmotivou, eu não sei. Ele era muito popular, e isso implica muita solidão, porque todo mundo te conhece, mas você não conhece ninguém", cogita. "Ele era muito simples e as pessoas abusavam um pouco disso. Mas o que o teria desanimado dessa forma ainda é uma incógnita".

O Fim

Raul dos Santos Seixas morreu aos 49 anos, de parada cardíaca. Já vivia havia nove anos sem dois terços do pâncreas. Diabético, driblava como podia as injeções de insulina ("Odeio injeção, por isso nunca fui junkie", dizia), mas não dispensava chocolate. Alcoólatra, seu café da manhã consistia de um copo de vodca com suco de laranja no bar mais próximo de casa, seguido de doses paulatinas de éter ao longo do dia. Separado de sua quinta esposa, Lena Coutinho, desde 1988 morava sozinho num pequeno flat alugado no Centro de São Paulo. Num destes cavalos-de-pau que o destino dá, um homem que odiava apresentar-se ao vivo e digladiava-se com gravadoras morreu descansando de uma maratona de 50 shows realizados ao lado do fã e último parceiro, Marcelo Nova. Naquela mesma semana, chegaria às lojas A Panela do Diabo, disco da dupla lançado pela multinacional WEA. E mais shows estavam programados até dezembro, quando a turnê seria encerrada com uma festa no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

"Muita gente dizia que esta turnê não daria em nada: 'ah, o porralouca do Marcelo e o cachaceiro do Raul', mas Raul excursionou, fez 50 shows e não faltou em nenhum, mesmo quando estava com crise de diabetes", lembra Marcelo. "Por que, eu não sei. Raul só fazia o que queria e não havia ninguém no mundo para convencê-lo do contrário."

Toca, Raul!

Amigos desde 1984, a relação entre Raul e Marcelo Nova (ex-membro do grupo de rock baiano Camisa de Vênus) cresceu inicialmente movida pela paixão comum pelo blues e o rock dos anos 50. A parceria musical surgiu quatro anos depois, quando Marcelo decidiu visitar o amigo e deu-se conta do estágio terminal de sua vida e sua carreira. "Na verdade, não havia mais carreira. Ele estava parado há quatro anos, longe de seu público. Um dia cheguei em sua casa e ele estava sem um dente, abatido, bêbado, pesando 55 quilos. Alguma coisa precisava ser feita, não dava para assistir aquilo de braços cruzados. Levei Raul ao médico da minha família, que o examinou do cabelo à unha do pé e me disse que a única coisa a receitar era trabalho, já que ele se recusava a parar de beber", lembra.

"O esforço do indivíduo Raul Seixas em estar presente naquela turnê sempre foi subestimado", acredita Marcelo. "Já li muito sobre o 'andar trôpego e cambaleante' de Raul, mas, independentemente disso, ele pegava o microfone e, bem ou mal, com energia ou sem, subia no palco e cantava. Quem sabia dos problemas pessoais e físicos que ele enfrentava, sabe que se tratava de um esforço quase heróico".

Durante as gravações de A Panela do Diabo, o esforço de Raul atingiu seu ponto mais alto de emoção e simbolismo, como bem lembra o produtor Pena Schimidt: "O ritmo das gravações obedecia ao ritmo de Raul. Gravávamos uma estrofe de manhã, parávamos à tarde, retornávamos no dia seguinte e assim foi durante o tempo todo". Este ritmo seria seguido até o momento de gravar o número solo de Raul no LP, uma faixa chamada "Nuit", que ele havia composto em 1981 e, inexplicavelmente, mantinha inédita. Pena lembra que, neste dia, ele se viu diante do velho Raul Seixas hipnótico e poderoso que conhecera no Festival de Saquarema, em 1975. "Ele pediu para que todas as luzes fossem desligadas e exigiu gravar os vocais numa tacada só, sem retoques", lembra. "E assim foi, apesar de Raul Ter perdido a voz nos últimos versos. Quando as luzes se acenderam, todos no estúdio estavam com os olhos rasos d'água, porque entendiam que aquela letra era um bilhete de despedida". Versos como "quão longa é a noite/ a noite eterna do tempo/ se comparada ao curto sonho da vida" não deixam dúvidas - e os motivos que levaram a canção a permanecer reservada por tanto tempo foram finalmente esclarecidos.

On The Road

E mesmo na estrada, nos quase 12 meses de duração da turnê, a dupla manteve-se constantemente nos limites do imaginário rock'n'roll. Marcelo, num misto de sensibilidade histórica, ingenuidade adolescente e filantropia rocker; Raul, agarrando-se no fio de possibilidade que ainda lhe restava para provar, para si próprio, que a velha metamorfose ambulante poderia gingar feito Elvis. "Acredito que a turnê tenha dado motivação para o homem, não para o artista, que este não precisava", conta Marcelo. "Havia uma parte do meu coração querendo devolver um pouco de inspiração que ele havia me dado quando eu queria montar um grupo de rock na Bahia, aos 16 anos. Todos estavam muito motivados: no camarim, a banda era capaz de parar de beber para que Raul não visse que havia uísque, e ir lá conversar com ele, animá-lo, distraí-lo. Muitas vezes tivemos que tirar neguinho do quarto do Raul na porrada, porque os caras entravam lá no hotel com sacos enormes de cocaína, como presente para ele". No final, eram 18 pessoas trabalhando para que Raul Seixas "fosse aplaudido, como foi", depois de anos e anos à margem da cultura pop brasileira.

A morte

O escritor Paulo Coelho fazia sua segunda peregrinação depois da conversão ao cristianismo, o Caminho de Roma, também conhecido como Caminho Feminino. Era manhã de segunda-feira, 21 de agosto de 1989, quando Paulo interrompeu sua caminhada em um pequeno vilarejo perdido na cadeia montanhosa dos Pirineus, na França, e ligou para a esposa, Cristina Oiticica, no Rio de Janeiro. Com apenas três moedas no bolso, precisava falar rápido. "Olha, Paulo, não sei se devo te estragar o dia com notícias ruins", dizia a mulher do outro lado da linha, depois das necessárias saudações e troca de carinhos. "Pode falar, mas fala logo que a ligação vai cair", ele pediu com urgência. Cristina disse: "O Raul morreu". E a ligação caiu.

Paulo já havia escrito dois de seus grandes sucessos, Diário de um Mago e O Alquimista, mas muito de sua fama ainda se devia aos primeiros anos da década de 70, quando, ao lado de Raul Seixas, escreveu 65 canções, entre elas alguns dos maiores clássicos da música pop brasileira, como "Sociedade Alternativa", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Medo da Chuva". "Quando a linha caiu, fiquei sem saber por que meu parceiro havia morrido, sem saber em que circunstâncias - só poderia ligar de volta à noitinha - mas senti uma profunda alegria, uma sensação muito positiva, como se Raul estivesse bastante feliz por haver morrido."

Durante o sono, às 5 horas da manhã daquela segunda-feira, Raul encerrava a luta que travava consigo mesmo havia mais de dez anos. Preso no emaranhado de mitos e lendas que ele próprio havia criado, o cantor passou toda a década de 80 deixando-se consumir pelo cansaço da batalha. Ao morrer, terminava uma história secreta, muito mais melancólica do que a que fora registrada em suas canções. Magia e rock'n'roll e carisma e insegurança e fanatismo e fraquezas alimentaram a trajetória mais estranha que o Brasil já presenciou - e que jamais procurou entender.

O dia em que Terra parou

O descontrole emocional da multidão, que Raul tanto temia em vida, viu-se multiplicado em muito no dia de sua morte. Como forma de homenagear o cantor, a gravadora WEA reservou o salão nobre do Palácio das Convenções do Anhembi para a despedida do público. Às dez horas daquele 21 de agosro, milhares de fãs tomaram os espaços do local gritando em uníssono: "Raul não morreu!" enquanto outros, de violão em punho, lembravam sucessos do cantor. Um fã mais ousado tentou beijar o rosto do músico, perdeu o equilíbrio e acabou quebrando o vidro do caixão.

As celebridades não apareceram, com exceção de Kiko Zambianchi, Marcelo Nova, do Maestro Miguel Cidras e Kid Vinil. Neste dia, Raul era do povo. Quando os bombeiros chegaram para levar o caixão para o aeroporto, a confusão começou. Alguns garotos se penduraram nas alças, outros jogavam bilhetes sobre o ataúde. Todos gritavam "Raul! Raul!". Na tentativa de chegar mais perto do ídolo, fãs quebraram os vidros do aeroporto de Congonhas.

Já na Bahia, além da família, apenas dois fãs aguardavam o avião - e um deles declarou que esperava ver o cantor levantar-se do esquife e pregar mais uma peça no "sistema". Multidão mesmo estava reunida no Cemitério Jardim da Saudade, esperando pela visitação pública ao caixão, que ficou na capela. Três horas depois, a missa de copo presente exigia que a capela fosse fechada, o que deu início a um tumulto e a nova tentativa de invasão.

Um ano depois do enterro, um fã de 21 anos, com o rosto de Raul tatuado no braço, roubou a lápide do cantor para transformá-la em item maior do "santuário" que montava em casa, ao lado de discos, cartazes, recortes e fotos. Uma nova tentativa de furto ocorreria dois anos depois. A direção do cemitério, cansada dos furtos, finalmente decidiu pregar a lápide com concreto. Hoje Raul descança em paz. (R.A.)

Matéria publicada pela revista Trip, nº 71, (agosto 1998)