quinta-feira, março 22, 2018

1970: Glória na MPB e no futebol

1859 1866 1880 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910 1911 1912 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 1936 1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985

1970

O Brasil ganha a IX Copa do Mundo, vencendo a Itália por 4 a 1 - 21/6/1970.

120... 150... 200km por hora - Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Apesar de você - Chico Buarque

Assim na terra como no céu - Roberto Menescal e Paulinho Tapajós

Azul da cor do mar - Tim Maia

Bandeira branca - Max Nunes e Laércio Alves

Br-3 - Tibério Gaspar e Antônio Adolfo

Coqueiro verde - Roberto Carlos e Erasmo Carlos

É de lei - Baden Powell e Paulo César Pinheiro

Eu amo você - Cassiano e Sílvio Rochael

Eu te amo meu Brasil - Dom (Eustáquio Gomes de Farias)

Foi um rio que passou em minha vida - Paulinho da Viola

Gente humilde - Garoto, Vinícius e Chico Buarque

Hotel das estrelas - Jards Macalé e Duda Machado

Irmãos Coragem - Nonato Buzar e Paulinho Tapajós

Jesus Cristo - Roberto Carlos e Erasmo Carlos

London, London - Caetano Veloso

Madalena - Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza

Menina - Paulinho Nogueira

Meu laia-raiá - Martinho da Vila

Meu pequeno Cachoeiro - Raul Sampaio

O amor é o meu país - Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza

O Cabeção - Roberto Corrêa e Sylvio Son

O primeiro clarim - Klécius Caldas e Rutinaldo

Paixão de um homem - Waldick Soriano

Pra frente Brasil - Miguel Gustavo

Pra você - Sílvio César

Primavera - Cassiano e Sílvio Rochael

Procurando tu - Antônio Barros e J. Luna

Quero voltar pra Bahia - Paulo Diniz

Se eu pudesse conversar com Deus - Nelson Ned

Teletema - Antônio Adolfo e Tibério Gaspar

Tudo se transformou - Paulinho da Viola

Universo no teu corpo - Taiguara

Vai ser assim - Martinha

Verão vermelho - Nonato Buzar

Vista a roupa meu bem - Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Vou deitar e rolar - Baden Powell e Paulo César Pinheiro

Músicas estrangeiras de sucesso no Brasil

A B C, Deke Richards, Berry Gordy Jr., Freddy Perren e Fonce Mizell

Airport Love Theme, Alfred Newman e Paul Francis Webster

The Boxer, Paul Simon

Bridge Over Troubled Water, Paul Simon

Everybody’s Talkin, Fred Neil

I Want You Back, Deke Richards, Berry Gordy Jr., Freddy Perren e Fonce Mizell

Je t’Aime Moi Non Plus, Serge Gainsbourg

Let It Be, John Lennon e Paul McCartney

Let It Bleed, Mick Jagger e Keith Richard

Marie Jolie, E. Papathanassiou e B. Bergman

Midnight Cowboy, John Berry

My Pledge of Love, Joseph Stafford Jr.

Picking up Pebbles (Adeus Solidão), Curtis

Raindrops Keep Failin’ on My Head, Burt Bacharach e Hal David

Something, George Harrison

Superstar, Leon Russell e Bonnie Bramlett

Ti voglio tanto bene, E. Curtis e D. Furnó

Venus, R. V. Leeuwen

Yellow River, Jeff Christie

Zambullite de Cabeza (Fumacê), C. A. Fernandez

Cronologia

08.05: É lançado o último álbum dos Beatles (o elepê Let it be), que em seguida iniciam carreiras individuais.

21.06: O Brasil ganha na Cidade do México o IX Campeonato Mundial de Futebol, vencendo na final a Itália por 4 a 1.

11.07: Morre em Lisboa o cançonetista Geraldo Magalhães, muito popular no início do século como integrante da dupla Os Geraldos.

12.07: Morre em São Paulo (SP) o cantor/compositor Raul Torres.

18.09: Morre em Londres o guitarrista Jimi Hendrix.

24.09 a 05.10: Realiza-se o V Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo do Rio de Janeiro e vencido pela canção “Pedro Nadie”, de Piero, representante da Argentina. Na fase nacional, venceu “BR-3”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar.

04.10: Morre em Hollywood (Califórnia, EUA) a cantora Janis Joplin.

09.10: É iniciada a construção da Rodovia Transamazônica.

06.11: Morre no México o compositor Agustín Lara

03.12: Morre em São Paulo (SP) o compositor Luiz Carlos Paraná.

Soy loco por ti América - Caetano Veloso

Capinan
Numa reunião no Hotel Danúbio, em São Paulo, o produtor Manoel Barenbein e o arranjador Júlio Medaglia discutiam com Caetano Veloso a ordem de localização das músicas de seu primeiro elepê, praticamente concluído, quando ouviram no rádio a notícia da morte de Ernesto Che Guevara. Imediatamente, Caetano ligou para Capinan e pediu uma letra sobre o assunto. Horas depois estava pronta “Soy Loco por Ti América”, com melodia de Gilberto Gil.

Esta canção-homenagem ao revolucionário Che é um baião, enxertado de ritmos latino-americanos, com letra no mais castiço portunhol, onde palmeiras tropicais se misturam a trincheiras “del hombre muerto”: “Soy loco por ti America / soy loco por ti de amores / estou aqui de passagem / sei que adiante / um dia vou morrer / de susto, de bala ou vício.”

O arranjo rumbado e o piano percussivo remetem a uma ambientação sonora — estilo latin America — dos filmes de Carmen Miranda, um dos símbolos do tropicalismo, disfarçando com perspicácia a referência a Guevara e, por extensão, à revolução cubana. Assim, incluída no disco à última hora, “Soy Loco por Ti América” salientou-se, sobretudo, pelo contraste com as demais faixas, apesar de sua melodia trivial.

Foi, de certa forma, o primeiro sinal de futuras incursões realizadas por Caetano no universo da música hispano-americana, cultivada em discos e shows e acumulando um considerável repertório do gênero (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Soy Loco Por Ti, América (1968) - Gilberto Gil e Capinan - Intérprete: Caetano Veloso

LP Caetano Veloso / Título da música: Soy Loco Por Ti, América / Gilberto Gil (Compositor) / Capinan (Compositor) / Caetano Veloso (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1968 / Nº Álbum: R 765.026 L / Lado B / Faixa 4 / Gênero musical: Rumba / Tropicalismo / MPB.

Tom: G
Introdução: D G D A (4x) Em Gm D

                   G/A                    D
Soy loco por ti, america yo voy traer una mujer playera
                   G/A                       D
Que su nombre sea marti, que su nombre sea marti
                     G/A                D
Soy loco por ti de amores tengo como colores la espuma
                G/A                         D
Blanca de latinoamerica y el cielo como bandeira
       Em  Gm      D
Y el cielo como bandeira
                    G/A                       D
Soy loco por ti, america soy loco por ti de amores
                   G/A                      D
Sorriso de quase nuvem, os rios cancoes, o medo
                    G/A                       D
O corpo cheio de estrelas o corpo cheio de estrelas
                  G/A                  D
Como se chama a amante desse pais sem nome

Esse tango, esse rancho
             G/A                        D
Esse povo dizei-me, arde o fogo de conhece-la
   Em  Gm      D
O fogo de conhece-la
                   G/A                        D
Soy loco por ti america soy loco por ti de amores

Solo: Bm Am Dm Cm Bm Am Cm D

                       G/A
El nombre del hombre muerto ya no se puede
   D
Decirlo, quien sabe
                     G/A                        D
Antes que o dia arrebente, antes que o dia arrebente
                       G/A
El nombre del hombre muerto
                   D                              G/A
Antes que a definitiva noite se espalhe em latinoamerica
                          D         Em        Gm        D
El nombre del hombre es pueblo,el nombre del hombre es pueblo
                  G/A                         D
Soy loco por ti america soy loco por ti de amores
                        G/A                        D
Espero que amanha que cante el nombre del hombre muerto
                    G/A
Nao seja palavras tristes
                      D
Soy loco por ti de amores
                 G/A                           D
Um poema ainda existe com palmeiras, com trincheiras
                             G/A
Cancoes de guerra quem sabe cancoes do mar, ai,
 F#m  Em     D       Em   Gm    D
Hasta te comover, ai hasta te comover
                   G/A                        D
Soy loco por ti america soy loco por ti de amores
                 G/A                            D
Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer
                    G/A                        D
De susto, de bala vicio, de susto, de bala ou vicio
                   G/A                    Bm
Num precipicio de luzes entre saudade, solucos,
           B7
Eu vou morrer de brucos
      Em                    A              D
Nos bracos, nos olhos, nos bracos de uma mulher
      Em      Gm     D
Nos bracos de uma mulher
                 G/A   Bb                    Bm
Mais apaixonado ainda dentro dos bracos da camponesa
       B7       Em                    A
Guerrilheira manequim, ai de mim, nos bracos
             D         Em   Gm           D
De quem me queira nos bracos de quem me queira
                  G/A                        D
Soy loco por ti america soy loco por ti de amores
Letra:

Soy loco por ti, América, yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti, que su nombre sea Marti
Soy loco por ti de amores tenga como colores
la espuma blanca de Latinoamérica
Y el cielo como bandera, y el cielo como bandera
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

Sorriso de quase nuvem, os rios, canções, o medo
O corpo cheio de estrelas, o corpo cheio de estrelas
Como se chama a amante desse país sem nome, esse tango, esse rancho,
Esse povo, dizei-me, arde o fogo de conhecê-la, o fogo de conhecê-la
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

El nombre del hombre muerto ya no se puede decirlo, quién sabe?
Antes que o dia arrebente, antes que o dia arrebente
El nombre del hombre muerto antes que a definitiva noite
se espalhe em Latinoamérica
El nombre del hombre es pueblo, el nombre del hombre es pueblo
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

Espero a manhã que cante, el nombre del hombre muerto
Não sejam palavras tristes, soy loco por ti de amores
Um poema ainda existe com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra
Quem sabe canções do mar, ai, hasta te comover, ai, hasta te comover
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício, de susto, de bala ou vício
Num precipício de luzes entre saudades, soluços, eu vou morrer de bruços
Nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher, nos braços de uma mulher
Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa, guerrilheira
Manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira,
nos braços de quem me queira
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores

Geleia geral - Gilberto Gil

Torquato e Gil
A canção “Geleia Geral” representa uma síntese dos cânones do próprio movimento tropicalista, além de ser modelo de seu contorno poético. Seus versos contêm arremedos de ufanismo patriótico (“Formiplac e céu de anil / (...) / salve o lindo pendão dos seus olhos”) e citações, as mais diversas, explícitas ou implícitas, distribuídas por suas estrofes e o trecho declamado entre elas.

Há também alusões sarcásticas a passagens da literatura brasileira como o Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade (“Pindorama, país do futuro / (...) / com o roteiro do sexto sentido”), a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (“Minha terra é onde o sol é mais limpo”), ou a Memórias sentimentais de João Miramar, também de Oswald, conforme salienta o brasilianista Charles Perrone (em Masters of contemporary brazilian song).

No refrão são abordados, no mesmo estilo destrambelhado, do folclore brasileiro ao rock and roll: “Ê, bumba-yê-yê-boi / ano que vem, mês que foi / É, bumba-yê-yê-yê / é a mesma dança meu boi.”

No aspecto musical, vale mencionar que este refrão é construído sobre a repetição de seis compassos, divididos em ternários e binários, fazendo o arranjo de Rogério Duprat citações de O Guarany, de Carlos Gomes (sob o verso declamado sobre as “relíquias do Brasil”) e da canção “All the Way”, após o verso “um elepê de Sinatra”. Essas considerações mostram a relevância da extensa e discutida letra que Torquato Neto, o teórico do tropicalismo, fez para “Geléia Geral”, composição gravada por Gilberto Gil em Panis et circensis, o disco básico da relativamente escassa discografia do movimento.

A expressão “Geleia Geral”, que também seria título de uma coluna de Torquato no jornal carioca Última Hora, em 71/72, tem sua origem anterior à canção: Décio Pignatari havia escrito para revista de literatura Invenção um artigo sobre os princípios da linguagem concretista, que terminava afirmando que “na geleia geral brasileira alguém tem que fazer o papel de medula e de osso”, referindo-se à postura do grupo concretista.

A ligação de Décio e dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos com Caetano Veloso ensejou o aproveitamento da expressão (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Geleia Geral (1968) - Gilberto Gil e Torquato Neto - Intérprete: Gilberto Gil

LP Tropicália Ou Panis Et Circenses / Título da música: Geleia Geral / Torquato Neto (Compositor) / Gilberto Gil (Compositor) / Gilberto Gil (Intérprete) / Gravadora: Philips / Nº Álbum: R 765.040 L / Ano: 1968 / Lado A / Faixa 6 / Gênero musical: Tropicalismo / MPB.


Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Disparada - Jair Rodrigues

Geraldo Vandré
Em 1966, o compositor Geraldo Vandré participou vitoriosamente de três grandes festivais musicais promovidos pela televisão: em junho, foi 1° lugar na TV Excelsior, com “Porta Estandarte” (parceria de Fernando Lona); em outubro, tirou o 10º lugar na TV Record, com “Disparada” (parceria de Téo de Barros); e ainda em outubro, ficou em 2° lugar na TV Rio (1° Festival Internacional da Canção), com “O Cavaleiro” (parceria de Tuca).

Dessas três composições, a de maior repercussão seria inegavelmente “Disparada”, a mais vigorosa canção de protesto surgida até então, um verdadeiro cântico revolucionário. Musicado por Téo sobre uma versalhada que Vandré havia escrito durante uma viagem, “Disparada” é uma moda-de-viola com sotaque nordestino. “A intenção era compor uma moda-de-viola baseada no folclore da região Centro-Sul, porém nossas raízes se infiltraram no processo e resultou uma catira de chapéu de couro”, esclarece Téo na contracapa de seu primeiro elepê.

Para apresentar “Disparada”, os autores escolheram Jair Rodrigues, então no auge da popularidade, entregando o acompanhamento ao Trio Novo — Téo (viola), Heraldo do Monte (violão) e Airto Moreira (percussão) — reforçado pelo Trio Marayá. O Trio Novo atuou na eliminatória e na gravação de estúdio, mas não pôde participar da final (por já ter compromisso agendado para a data), sendo os seus músicos substituídos por Aires (viola), Gianulo (violão) e Manini (percussão).

Mas nas duas fases o resultado foi excelente, com a canção sendo ruidosamente aclamada pela facção mais politizada da platéia — principalmente em trechos como “Mas o mundo foi rodando / nas patas do meu cavalo / e já que um dia montei / agora sou cavaleiro / laço firme, braço forte / de um reino que não tem rei...” — que rivalizava em número e entusiasmo com os partidários de “A Banda”. Em vista disso, embora “A Banda” tenha ganho pelos votos dos jurados, a direção da Record resolveu considerar as duas concorrentes empatadas na primeira colocação, a fim de evitar um confronto entre os torcedores.

Uma nota pitoresca na apresentação de “Disparada” foi a utilização de uma queixada de burro como instrumento de percussão. A novidade, descoberta por Airto Moreira numa loja em Santo André, emprestou maior rusticidade ao acompanhamento, além de evocar uma visão forte da seca (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Disparada - (moda-de-viola, 1966), Geraldo Vandré e Theo de Barros - Interpretação: Jair Rodrigues.

LP O Sorriso do Jair / Título da música: Disparada / Geraldo Vandré (Compositor) / Theo de Barros (Compositor) / Jair Rodrigues (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1966 / Álbum: P-765.004-P / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Moda-de-viola.

    D             G          D                  G
Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
C           Bm        C     Am D    G
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
B7      Em      C      Am D      G
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
D             G          D          G
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
C               Bm       C    Am  D     G
E a morte, o destino tudo, a morte o destino tudo
B7      Em        C    Am    D   G
Estava fora de lugar, eu vivo pra consertar
G7          C          A7        D
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
B7        Em     D                      G
Não por um motivo meu ou de com quem comigo houvesse
B7              Em         B7        C
Que qualquer querer tivesse porém por necessidade
Am      D   G C      Am     D   G
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
D              G          D              G
Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte
C          Bm    C     Am  D   G
Muito gado, muita gente pela vida segurei
B7       Em       C     Am   D      G
Seguia como num sonho que boiadeiro era um rei
D          G         D             G
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
C                G        Am   D       G
E nos sonhos que fui sonhando as visões se clareando
B7          Em      C         Am  D    G
As visões se clareando, até que um dia acordei
D            G        D               G
Então não pude seguir, valente em lugar tenente
C              G            Am      D      G
E o dono de gado e gente, porque gado a gente marca
B7      Em       C              Am D      G
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
D             G          D           G
Se você não concordar, não posso me desculpar
C         Bm          Am      D      G
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
B7            Em   C    Am       D     G
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
G7          C        A7           D
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
B7             Em         C      Am  D    G
Não por mim nem por ninguém que junto comigo houvesse
B7              C            B7               C
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
B7                C               Am    D   G
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe que eu
D          G         D              G
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
C               Bm      C            G
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
B7            Em       C       Am      D   G
Laço firme, braço forte de um reino que não tem rei

O neguinho e a senhorita - Noite Ilustrada

Noel Rosa de Oliveira
O “Noel” e o “Rosa” do Noel Rosa de Oliveira fazem parte de seu nome verdadeiro, não sendo, como poderia parecer, uma homenagem a Noel Rosa. Também compositor, esse outro Noel pertence ao morro do Salgueiro, onde nasceu em 15 de julho de 1920, quando o xará de Vila Isabel tinha apenas nove anos. Aliás, ali nasceu, viveu e aprendeu, pois foi o Salgueiro que lhe deu notoriedade.

Embora com um sucesso no carnaval de 49 (“Falam de Mim”), ele realmente só se projetaria fazendo para os Acadêmicos do Salgueiro sambas-enredo como “Quilombo dos Palmares” (com Nescarzinho e Valter Moreira, em 60) e “Chica da Silva” (com Nescarzinho, em 63). Esses dois sambas abriram-lhe as portas da mídia, dando-lhe oportunidade de aparecer e gravar suas músicas, entre as quais “O Neguinho e a Senhorita”, a primeira a levá-lo às paradas, cantada por Noite Ilustrada.

Uma composição ingênua, este samba descreve o romance do Neguinho com a filha da madame” (“O Neguinho gostou da filha da madame / que nós tratamos de Sinhá”), um caso de preconceito racial leve, com final feliz, pois, à revelia de madame, “senhorita foi morar lá na colina com o Neguinho que é compositor”, e até acabou se tornando “rainha da escola”.

Noel Rosa de Oliveira, que morreu em 18.3.88, emplacou novo sucesso na trilha do “Neguinho”, a batucada “Vem Chegando a Madrugada” (com Zuzuca), desta vez na voz de Jair Rodrigues (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

O neguinho e a senhorita - (samba, 1965), Noel Rosa de Oliveira e Abelardo Silva - Interpretação: Noite Ilustrada

LP Caminhando / Título da música: O neguinho e a senhorita / Noel Rosa de Oliveira (Compositor) / Abelardo da Silva (Compositor) / Noite Ilustrada (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1965 / Álbum: P-632.754-L / Lado A / Faixa 3 / Gênero musical: Samba.

E 
O Neguinho gostou da filha da Madame 
    C#7              F#m 
Que nós tratamos de sinhá  
    B7                                              
Senhorita também gostou do Neguinho                                                                    
Mas o Neguinho não tem dinheiro pra  
  E 
Gastar  
                 C#7                               
A Madame tem preconceito de cor                  
          F#m  
Não pôde evitar esse amor 
     A         B7           E       
Senhorita foi morar lá na Colina 
         F#m       B7    E           
Com o Neguinho que é compósito 
    A           B7          E       
Senhorita foi morar lá na Colina 
         F#m       B7    E           
Com o Neguinho que é compósito 
O Neguinho gostou da filha da Madame 
          C#7        F#m 
Que nós tratamos de sinhá  
    B7                                              
Senhorita também gostou do Neguinho    
                                    
Mas o Neguinho não tem dinheiro pra  
  E 
Gastar  
                C#7                                 
A Madame tem preconceito de cor                        
          F#m  
Não pôde evitar esse amor 
    A           B7          E       
Senhorita foi morar lá na Colina 
         F#m       B7    E           
Com o Neguinho que é compósito 
    A           B7          E       
Senhorita foi morar lá na Colina 
         F#m       B7    E           
Com o Neguinho que é compósito  
   F#m               B7        E     
Senhorita ficou com nome na história 
       G#              C#m      
E agora é a rainha da escola 
            A           Am              
Gostou do samba e hoje vive muito  
 E 
Bem 
     F#m          B7     E         
Ela devia nascer pobre também 
            A           Am             
Gostou do samba e hoje vive muito  
 E 
Bem 
     F#m          B7     E         
Ela devia nascer pobre também 

Deixa isso pra lá - Jair Rodrigues


O samba “Deixa Isso pra Lá”, que tornou conhecido Jair Rodrigues, tem apenas uma metade cantada, sendo a outra falada. Por isso era “música para ser vista”, pois ao recitar sua primeira parte — “Deixa que digam / que pensem / que falem / deixa isso pra lá / vem pra cá / o que é que tem / eu não estou fazendo nada / você também...” — Jair aproximava-se da platéia gingando e gesticulando com a mão direita espalmada. Esta encenação, um tanto maliciosa, foi a razão do sucesso.

Musicalmente inexpressivo, “Deixa Isso pra Lá” é, pode-se dizer, um rap precursor em ritmo de samba (A Canção no Tempo - Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).

Deixa isso pra lá (samba, 1964) - Alberto Paz e Edson Menezes

LP Vou de Samba Com Você / Título da música: Deixa isso pra lá / Alberto Paz (Compositor) / Edson Menezes (Compositor) / Jair Rodrigues (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1964 / Álbum: P-632.717-L / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Samba.

G7M
Deixa que digam 
        C7/9
Que pensem 
  
Que falem 
 G7M
 deixa isso pralá 
          C7/9
 vem pra cá 
  
O que que tem 
           G7M
 eu não estou fazendo nada 
C7/9
 você tambem 
   G7M
 faz mal bater um papo 
            C7/9
 assim gostoso com alguem ? 
  
C#m7/5-    Cm6
 vai,vai,por mim 
              G/B           Bbº
Balanço de amor,é assim 
                            Am              Ab7M
 mãozinhas com mãozinhas pra lá 
                        G7M         C7/9
 beijinhos com beijinhos pra cá 
 C#m7/5-    Cm6
 vem balançar 
                  G/B           Bbº
Amor é balanceiro meu bem 
                     Am               Ab7M
 só vai no meu balanço que tem 
                 G7M
 carinho pra dar

Tenho ciúme de tudo - Orlando Dias

Orlando Dias
Até o final dos anos cinquenta, havia em nossa música popular cantores ecléticos, que gravavam para todos os gostos, dos mais refinados aos menos exigentes. Foi nessa ocasião que começaram a surgir os primeiros especialistas num tipo de música popularesca, de sentimentalismo exagerado que, tempos depois, passou a ser rotulada de brega-romântico.

Entre eles salientou-se a figura do pernambucano José Adauto Michiles, que com o nome artístico de Orlando Dias tornou-se um dos mais populares cantores bregas de sua geração. Com voz, físico e postura cênica ideais para o gênero — canto emocionado, mímica espalhafatosa, roupas em desalinho —, Orlando apresentava-se em toda parte, vendendo aos milhares discos em que interpretava composições como “Tenho Ciúme de Tudo” — “Sou louco por ti / eu sofro por ti / te amo em segredo (...) Tenho ciúme do sol, do luar, do mar / tenho ciúme de tudo” — e num rompante: “tenho ciúme até da roupa que tu vestes...”.

Um dos quinze ou vinte boleros que Valdir Rocha fez para o seu repertório, “Tenho Ciúme de Tudo” era o carro-chefe de Orlando Dias em 1961 (A Canção no Tempo - Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).

Tenho ciúme de tudo (bolero, 1961) - Valdir Rocha - Intérprete: Orlando Dias

Disco 78 rpm / Título da música: Tenho ciúme de tudo / Valdir Rocha (Compositor) / Orlando Dias (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1961 / Álbum: 14.745 / Lado B / Gênero musical: Bolero.

(intro) F Gm C F Dm Gm C F Bb C

   F                   Dm                         Gm
Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram
    C                                          F
Tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou
                                Dm     
São meus os teus lábios, esses lábios 
                          Gm
   que os meus desejos mataram
     C                                                  F
São minhas tuas mãos, essas mãos que as minhas mãos afagaram
Dm            Gm               C                F
Sou louco por ti, eu sofro por ti, te amo em segredo
                     Gm  
Adoro o teu corpo divino 
                         C              F
   que pelas mãos do destino a mim tu viestes
Dm              Gm                C                   F
Tenho ciúme do sol, do luar e do mar, tenho ciúme de tudo
                  Gm    C         (C)
    Tenho ciúme até da roupa
            F        Bb       F
    Que tu vestes

Índio quer apito - Walter Levita

Inspirado em uma anedota irreverente, meio escatológica, Haroldo Lobo escreveu a marcha “Índio Quer Apito”: “Ê ê ê ê / índio quer apito / se não der / pau vai comer...” Como a anedota era muito conhecida e se referia a um político famoso, “Índio Quer Apito” fez sucesso e acabou entrando para o rol das marchinhas que são repetidas em todos os bailes de carnaval.

Bom conhecedor do gosto popular, Haroldo tinha a capacidade de transformar em músicas de sucesso fatos do cotidiano brasileiro, reinando por quase trinta anos como compositor carnavalesco.

Índio quer apito (marcha/carnaval, 1961) - Haroldo Lobo e Milton de Oliveira - Intérprete: Walter Levita

Disco 78 rpm / Título da música: Índio quer apito / Lobo, Haroldo (Compositor) / Oliveira, Milton de (Compositor) / Levita, Walter (Intérprete) / Gravadora: Continental / Ano: 1960 / Álbum 17.845 / Lado B / Gênero musical: Marcha.


Dm      F              Gm 
Ê ê ê ê ê índio quer apito
      A7            Dm    A7  
Se não der pau vai comer
Dm      F              Gm 
Ê ê ê ê ê índio quer apito
      A7            Dm      
Se não der pau vai comer

                          F
Lá no bananal mulher de branco
         Gm      A7       Dm 
Levou pra índio colar esquisito
                           F
Índio viu presente mais bonito
             Gm    A7
Eu não quer colar
             Dm
Índio quer apito


A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Quem é - Trio Nagô

Trio Nagô
Quem é (fox, 1959) - Oldemar Magalhães e Osmar Navarro - Intérprete: Trio Nagô

Disco 78 rpm / Título da música: Quem é / Magalhães, Oldemar (Compositor) / Navarro, Osmar (Compositor) / Trio Nagô (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 17/09/1959 / Nº Álbum 802136 / Gênero musical: Balada.



C     Am      F
Quem é . . .
G7             C     Am  F
Que lhe cobre de beijos
G7       C    Am   F
Satisfaz seus desejos
G7        C  Am  F       G7
E que muito lhe quer . . . . quem é
C    Am    F
Quem é . . .
G7         C     Am   F
Que esforços não mede
G7       C    Am    F
Quando você lhe pede
G7        C     Fm    C    C7
Uma coisa qualquer
F    Fm
Quem é . . .
C      C7
Que de você tem ciúmes
Fm                     G7
Quem é que lhe ouve os queixumes

A taça do mundo é nossa - Titulares do Ritmo


A Taça do Mundo é nossa (marcha, 1958) - Maugeri Sobrinho, Wagner Maugeri, Lauro Müller e Victor Dagô. - Intérprete: Titulares do Ritmo

Disco 78 rpm / Título da música: A taça do mundo é nossa / Maugeri Sobrinho (Compositor) / Wagner Maugeri (Compositor) / Lauro Müller (Compositor) / Victor Dagô (Compositor) / Titulares do Ritmo (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Copacabana, Indefinida / Nº Álbum 5930 / Gênero musical: Marcha.


    D               Em 
A taça do mundo é nossa 
         A7                 D 
Com brasileiro, não há quem possa 
                    F#7 
Êh eta esquadrão de ouro 
         B7              A7 
É bom no samba, é bom no couro 

  D               Em 
A taça do mundo é nossa  
         A7                 D 
Com brasileiro, não há quem possa 
                    F#7 
Êh eta esquadrão de ouro 
         B7              A7 
É bom no samba, é bom no couro  
 
       Em          A7     D 
O brasileiro lá no estrangeiro 
   Em       A7               D 
Mostrou o futebol como é que é 
  Gm     A7      D 
Ganhou a taça do mundo 
   E7                  A7 
Sambando com a bola no pé (Goool!) 

    D               Em 
A taça do mundo é nossa 
         A7                 D 
Com brasileiro, não há quem possa 
                    F#7 
Êh eta esquadrão de ouro 
         B7              A7 
É bom no samba, é bom no couro 

  D               Em 
A taça do mundo é nossa  
         A7                 D 
Com brasileiro, não há quem possa 
                    F#7 
Êh eta esquadrão de ouro 
         B7              A7 
É bom no samba, é bom no couro  
 
       Em          A7     D 
O brasileiro lá no estrangeiro 
   Em       A7               D 
Mostrou o futebol como é que é 
  Gm     A7      D 
Ganhou a taça do mundo 
   E7                  A7 
Sambando com a bola no pé (Goool!)

Araci Costa - Biografia

Araci Costa (Araci Cortes Costa de Almeida), cantora, nasceu no Rio de Janeiro (3/12/1932-id.29/10/1976). Quando criança trabalhou em circo, e em 1948 inscreveu-se no Concurso A Procura de uma Lady Crooner, promoção da Rádio Clube do Brasil para a orquestra de Napoleão Tavares.

Dois meses depois, venceu o programa de calouros Papel Carbono, de Renato Murce, e obteve contrato com a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, de onde saiu no ano seguinte para integrar o quadro da Rádio Guanabara. Algum tempo depois foi levada por Haroldo Barbosa para a Rádio Tupi carioca.

Seu primeiro disco data de 1950, quando gravou pela Todamérica os baiões Oba lá lá (Xerém e Guará) e Rio Vermelho (Guará e José Batista). Um de seus maiores sucessos foi a marchinha de Peterpan e José Batista Papai me disse, do Carnaval de 1952. No ano seguinte viajou pela Argentina e Uruguai com a orquestra do maestro Carioca e depois, pelos EUA. com a orquestra de Ary Barroso.

Em 1955 foi eleita A Melhor Cantora das Associadas. Em 1960, com o sucesso do samba Favela amarela (Jota Júnior e Oldemar Magalhães), foi eleita Rainha do Carnaval.


Fonte: Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 2000.

O medo de amar é o medo de ser livre - Beto Guedes


O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre (1978) - Beto Guedes e Fernando Brant - Intérprete: Beto Guedes

LP Beto Guedes - Amor De Índio / Título da música: O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre / Beto Guedes (Compositor) / Fernando Brant (Compositor) / Beto Guedes (Intérprete) / Gravadora: EMI/Odeon / Ano: 1978 / Nº Álbum: 31C 064 422837 / Lado B / Faixa 3.


 Am7                 G7+
O medo de amar é o medo de ser
Dm     G7     
livre para o que der e vier
C7+
livre para sempre estar
F7+     E4
onde o justo estiver
  Am7             G7+
O medo de amar é medo de ter
Dm      G7 
de todo momento escolher
C7+  Am 
com acerto e precisão
F7+     E4
a melhor direção
F  Fm             C7+       Dm  Em  F
O sol levantou mais cedo e quis
F/C  Fm/C       C7+     D/C    F/G  Am7
em nossa casa fechada entrar - pra ficar
 Am7             G7+
O medo de amar é não arriscar
F/G     Dm        G7         
esperando que façam por nós
C7+           F7+      E4 
o que é nosso dever - recusar o poder
F  Fm               C7+      Dm  Em  F
O sol levantou mais cedo e cegou
F/C  Fm/C         C7+     D/C F/G   F/C   Fm/C C7+
O medo nos olhos de quem foi ver - tanta luz

Mário de Andrade - Biografia

Mário de Andrade (Mário Raul de Morais Andrade). Poeta, escritor, musicólogo, folclorista, crítico, jornalista. São Paulo SP 9/10/1893—id. 25/2/1945. Filho de Carlos Augusto de Andrade e de Maria Luísa de Morais Andrade fez estudos secundários no Ginásio do Carmo, dos irmãos maristas, em São Paulo.

Em 1911, matriculou-se no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo nos cursos de música, piano e canto, diplomando-se em 1917. Publicou os primeiros ensaios de crítica de arte em jornais e revistas, e seu primeiro livro, Há uma gota de sangue em cada poema (São Paulo, 1917). Foi o início de uma atividade intelectual das mais vigorosas da história literária e artística do país.

Em 1922 tornou-se professor de história da música e de estética musical do conservatório onde se diplomara e publicou Paulicéia desvairada, obra pioneira da poesia modernista do Brasil. A crítica conservadora cobriu o livro e seu autor de insultos e ápodos, ressalvando-se, entretanto, os pronunciamentos de Amadeu Amaral e João Ribeiro, que demonstraram compreensão para o “movimento modernista” que se iniciava e que culminou com a realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal, de São Paulo, em fevereiro de 1922, e da qual terá sido, possivelmente, a figura principal.

Em 1924 assumiu no conservatório a cátedra de história da música e de piano. Somente depois de ter publicado algumas Obras de literatura — poesia, prosa e crítica — voltou-se para a música, com uma série de Obras em que fixou as bases teóricas para a formação de uma consciência musical brasileira. Com o Ensaio sobre a música brasileira (São Paulo, 1928) esboçou os rumos para a sistematização dos estudos musicológicos no Brasil.

No ano seguinte publicou o Compêndio de história da música (São Paulo, 1929), depois reescrito e reintitulado Pequena história da música (São Paulo, 1942), e a seguir Modinhas imperiais (São Paulo, 1930), antologia de peças do século XIX, precedida de um prólogo e de notas bibliográficas em que aborda em profundidade a história da modinha brasileira de salão. Em Música, doce música (São Paulo, 1933) reuniu escritos, conferências e crítica.

Em 1935 foi nomeado pelo prefeito Fábio Prado para a direção do então criado Departamento de Cultura, da prefeitura de São Paulo. Teve nesse encargo a colaboração de Paulo Duarte, que o indicara ao prefeito. Criou os parques infantis, a Discoteca Pública Municipal, e, para incentivar o cultivo da música, empregou recursos oficiais na criação da Orquestra Sinfônica de São Paulo, do Quarteto Haydn (depois Quarteto Municipal), do Coral Paulistano e de um Coral Popular.

Desligou-se do Departamento de Cultura em 1936 e assumiu, no Rio de Janeiro, o Instituto de Artes, da Universidade do Distrito Federal, onde também passou a reger a cátedra de filosofia e história da arte. Desse ano é o ensaio A música e a canção populares no Brasil, editado pelo Serviço de Cooperação Intelectual do Ministério das Relações Exteriores, e depois incluído no volume VI das Obras completas.

Ainda em 1936 efetuou o tombamento dos monumentos históricos paulistas para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ajudara a projetar. Em 1937 fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo e foi um dos organizadores do I Congresso da Língua Nacional Cantada, cujos trabalhos constam dos Anais publicados em 1938 pelo Departamento de Cultura da prefeitura de São Paulo.

Em 1939, com a extinção da Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar no Serviço (hoje Instituto) do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Elaborou, na época, o projeto de uma Enciclopédia Brasileira, nunca materializado.

Em 1940 o Instituto Brasil - Estados Unidos publicou sua conferência A expressão musical dos Estados Unidos, incluída no volume VII das Obras completas. Retornou a São Paulo em 1941, onde passou a ser assessor técnico da seção paulista do IPHAN e reassumiu a cátedra de história da música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Nesse ano a Editora Guaíra, de Curitiba PR, lançou seu livro Música do Brasil, contendo estudos sobre história e folclore, incluídos nos volumes XI e XVIII das Obras completas.

Foi uma das inteligências mais construtivas do Brasil e sua obra atesta uma atividade intelectual e artística que se desdobram em setores dos mais variados aspectos, como a questão da língua nacional e os problemas fonéticos do canto erudito e da declamação lírica em vernáculo. Suas contribuições para o desenvolvimento da música no Brasil seriam depois enaltecidas por Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, entre muitíssimos outros.

Influenciou por todo o país o trabalho de pesquisa do folclore musical, em particular o de Frutuoso Viana e o de Luciano Gallet (reuniu as pesquisas deste último em Estudos de folclore, Rio de Janeiro, 1934, para o qual escreveu um ensaio histórico e critico).

Em fevereiro de 1970 a Biblioteca Municipal Mário de Andrade dedicou-lhe número especial de seu Boletim bibliográfico, contendo, além de estudos, uma “Cronologia geral da obra de Mário de Andrade”. Inúmeros trabalhos e escritos seus publicados em revistas e jornais foram incorporados às suas Obras completas, cuja publicação, iniciada em 1944 pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, compreende 20 volumes, dos quais os volumes XIII (Música de feitiçaria no Brasil, 1963) e XVIII (Danças dramáticas do Brasil, 3 tomos, 1959) foram organizados por Oneyda Alvarenga (sistematização geral, introdução e notas).

Dos demais volumes relacionados com música e folclore brasileiros citem-se: VI — Ensaio sobre a música brasileira (Ensaio sobre a música brasileira; A música e a canção populares no Brasil), 1962; VII — Música, doce música (Música doce música; A expressão musical nos Estados Unidos), organizado por Oneyda Alvarenga, 1963; VII — Pequena história da música, 1942; IX — Namoros com a medicina (Terapêutica musical; Medicina dos excretos), s.d.; XI — Aspectos da música brasileira (Evolução social da música no Brasil; Os compositores e a língua nacional; A pronúncia cantada e o problema nasal brasileiro através dos discos; O samba rural paulista; Cultura musical), 1965; XVI — Padre Jesuíno do Monte Carmelo, 1963; Modinhas imperiais, 1964.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.