Sentimento e melancolia é frequente na obra musical de Noel Rosa (foto). Ele sofre muito com desilusões amorosas e isso vai se fixando em seus sambas. Aqui retrata uma mulher que cozinheira "cuida das gordura" e depois costureira "cuida das costura", em suma traz consigo um lacrimário de dor. O coração dessa mulher revive uma tristeza e o amor a fez sofrer, como se ela tivesse sido envolvida em um sonho ilusório, que a deixou sozinha e desamparada no mundo.
Disco 78 rpm / Título da música: Mulata fuzarqueira / Noel Rosa, 1910-1937 (Compositor) / Noel Rosa, 1910-1937 (Intérprete) / Bando de Tangarás (Acomp.) / Gravadora: Parlophon / Gravação: 18/08/1931 / Lançamento: 1931 / Nº do Álbum: 13327-b / Nº da Matriz: 131185 / Gênero musical: Samba / Coleções de origem: Robespierre Martins Teixeira, Humberto Franceschi
Mulata fuzarqueira, artigo raro
Que samba de dar rasteira
E passa as noite inteira em claro
Não quer mais saber de preparar as gordura
Nem usar mais das costura
O bom exemplo já te dei Mudei a minha conduta
Mas agora me aprumei
Mulata fuzarqueira da gamboa
Só anda com tipo à toa
Embarca em qualquer canoa
Mulata, vou contar as minhas mágoa
Meu amor não tem R
Mas é amor debaixo d'água
Não gosto de te ver sempre a fazer certos papel
A se passar pros coronel
Nasceste com uma boa sina
Se hoje andas bem no luxo
É passando a beiçolina
Mulata, tu tem que te preparar
Pra receber o azar
Que algum dia há de chegar
Aceita o meu braço e vem entrar nas comida
Pra começar outra vida
Comigo tu podes viver bem
Pois aonde um passa fome
Dois podem passar também
Disco 78 rpm / Título da música: Deusa / Autoria: Freire Junior (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Orquestra Copacabana (Acompanhante) / Gravadora: Odeon / Gravação: 12/06/1931 / Nº do Álbum: 10815 / Nº da Matriz: 4250 / Gênero musical: Modinha / Coleções de origem: IMS, Nirez
Deusa
Visão no céu que me domina
Luz de uma estrela que ilumina
Um coração pobre de amor
Teu trovador
Chorando as mágoas ao luar
Vem aos teus pés para implorar
As tuas graças divinais
Consolação e nada mais
Deusa
Anjo do céu, meu protetor
Nas alegrias e na dor
Sagrado ser a quem venero
Nada mais quero
Se não puder esquecer
Alguém que não mais quero ver
Visão fatal, que foi meu ideal
Deusa
Inspiração celestial
Sincera musa divinal
A quem confio meu segredo
Eu tenho medo
De não poder me dominar
Alguém no mundo ainda amar
Para evitar tal traição
Deixo contigo o coração
Deusa
Eu tenho em ti a minha esperança
Tu és a paz, és a bonança
A minha Santa Padroeira
Dá-me a cegueira
Não quero ver a mais ninguém
Nas trevas só me sinto bem
Na escuridão
Viver sem coração
Mas ó mulher
Pensas talvez que me enganavas
Quando a sorrir tu me beijavas
Dizendo, só me pertencer
A mim somente até morrer
Todas iguais
Tu és mulher, e nada mais
Não amarei no mundo, a mais ninguém
A ti somente eu quero bem
Disco 78 rpm / Título da música: Cor de prata / Lamartine Babo, 1904-1963 (Compositor) / Braguinha (Intérprete) / Orquestra Guanabara (Acomp.) / Imprenta [S.l.]: Parlophon / Nº do Álbum: 13272-a / Nº da Matriz: 131073 / Lançamento: Jan/1931 / Gênero musical: Samba / Coleções: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi
A lua vem saindo
Cor de prata
Cor de prata
Cor de prata
Que saudades da mulata
Minha mulata
Foi-se embora da cidade Vejam só que crueldade
Foi com outro e me deixou
Abandonado
Pela estrada do passado
Vou perdendo a mocidade
Na saudade que ficou
Eu fui pra roça
Construir minha palhoça
Lá no alto da montanha
Perto de Nosso Senhor
E quando a lua
Lá na mata me acompanha
Sinto o cheiro da mulata
Na montanha tudo é flor
Disco 78 rpm / Título da música: Batente / Almirante, 1908-1980 (Compositor) / Almirante, 1908-1980 (Intérprete) / Bando de Tangarás, 1929-1931 (Intérprete) / Gravadora: Parlophon / Nº do Álbum: 13242-b / Nº da Matriz: 4006 / Lançamento: Nov/1930 / Gênero musical: Samba / Coleções: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi
Queria te ver no batente
Sambando com a gente
Do Morro do Salgueiro
Queria te ver sem orgulho
Fazendo barulho
Batendo pandeiro (x2)
Sobe lá no morro
Para ver o que é orgia
Ver a bateria
Ver o tamborim
Ver o cavaquinho
Que só faz é din-din-din
Ver o violão
Como faz bem a marcação
(refrão)
Samba só é samba
Com batuque verdadeiro
Quando tem pandeiro
Marcando a cadência
Quando o centro é feito
Por chocalho e por barrica
Veja como fica
Acompanhado pela cuíca
(refrão)
Fontes: Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.
Disco 78 rpm / Título da música: Abandonado! / Jonjoca (Compositor) / Almirante, 1908-1980 (Intérprete) / Castro Barbosa (Intérprete) / Jonjoca (Intérprete) / Canhoto (Waldiro Tramontano), 1908-1987 (Acomp.) / Grupo (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 33481-b / Nº da Matriz: 65253-2 / Gravação: 13/10/1931 / Lançamento: Nov/1931 / Gênero musical: Samba
Abandonado!
Vou vivendo sem você
Para nunca mais sofrê,
Meu bem
Sua amizade
Nunca me deixou saudade
Você pode até morrê (Abandonado eu vivo)(x2)
Eu por você não vou chorar
Não precisa consolar
Que eu também ia deixar
O amor
Que nos uniu por tanto tempo
E depois
Graças a Deus que acabou
Sem eu sentir que estava
Abandonado!
Vou vivendo sem você
Para nunca mais sofrê,
Meu bem
Sua amizade
Nunca me deixou saudade
Você pode até morrê
(Abandonado eu vivo)(x2)
Eu de você
Já estava cheio
Digo isto sem receio
Porque nunca de mulher
Que nem mesmo
E lastimo em me lembrar
Francamente
Não ter sido isso mais cedo
Durante 20 anos, de 1895 a 1915, o general José Gomes Pinheiro Machado, líder do Partido Republicano Conservador, senador pelo Rio Grande do Sul, foi o homem forte do Legislativo e a eminência parda de muitos governos. Todos pensavam que um dia ele seria presidente da República, mas nunca chegou lá. Foi assassinado em 1915, por um desequilibrado mental.
Gaúcho, Machado não passava sem seu chimarrão. E bastava a cuia de mate esvaziar para os bajuladores correrem atrás de água quente. Era a "turma do pega na chaleira". Como o senador morava no alto do Cosme Velho, a música fala em "subir esta ladeira". E menciona também “Os Democratas”, uma das mais populares sociedades carnavalescas do Rio na época, que exibia em seu estandarte uma águia de prata.
A polca fez tanto sucesso no carnaval de 1909 que deu motivo para a peça de teatro-revista, de Raul Perderneiras e Ataliba Reis, intitulada Pega na chaleira. E mais: foram compostas duas outras músicas sobre o mesmo tema. A primeira, mais picante e maliciosa, de Eustórgio Wanderley, igualmente chamava-se No bico da chaleira; a segunda, Pega na chaleira, de Eduardo das Neves, fazia crítica genérica aos aduladores (“Neste século de progresso / Nesta terra interesseira / Tem feito grande sucesso / O tal “pega na chaleira”).
No bico da chaleira (polca, 1909) - Eustórgio Wanderley e Juca Storoni - Interpretação: Os Geraldos
Disco 76 rpm / Título da música: No bico da chaleira / Eustórgio Vanderley (Compositor) / Juca Storoni (Compositor) / Os Geraldos (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Gravadora: Odeon Record / Nº do Álbum: 108341 / Nº da matriz: xR-903 / Data de Lançamento: 1908 / Gênero musical: Cançoneta / Coleção de Origem: IMS, Nirez
Menina eu quero só por brincadeira
Pegar no bico da sua chaleira
Ela está quente e se você segura
Fica com uma grande queimadura.
É moda agora e eu justifico
(Com que eu implico)
Pegar no bico de uma chaleira
Muita senhora nos engrossando
Leva pegando a vida inteira.
Se você vai apertar-me no bico
Não imagina como eu logo fico
Não, eu seguro assim desta maneira
Lá no biquinho da sua chaleira.
Agora é moda / Com o que eu implico
Pegar no bico / De uma chaleira
Moço da roda / É gente fina
Tem esta sina / A vida inteira.
Ai, se eu consigo pegar de bom jeito
Você vai ver como eu pego direito
Sem ser no bico / Quer pegar na asa?
Talvez consinta, passa lá em casa.
Vamos depressa tomar um chazinho
Enquanto esquenta mais que um tempinho
Ela também está como eu fico
Quando um chazinho toma-se no bico.