Dolly Ennor em Dezembro de 1936 |
Nesse tempo, ela ainda se chamava Dorothy e era uma criança turbulenta a quem os parentes alcunharam de “Trovão”, “Relâmpago” e outros apelidos assim denunciadores de um temperamento irrequieto e barulhento.
Dolly Ennor nasceu em São Paulo, no dia de São Bartolomeu, 25 de agosto, e, talvez por isso, ela tivesse particular simpatia pelas tempestades e dias de borrasca. Hoje, no entanto, olhando os olhos calmos e azuis, ouvindo a linda voz de Dolly Ennor, ninguém é capaz de acreditar nas suas façanhas de menina.
Muito cedo Dolly mudou-se para a Inglaterra, pátria de seus pais, onde, se educou. Ela gostava da Inglaterra e dos seus métodos de ensino, porém sentia falta do sol do Brasil, da despreocupada liberdade que perdera.
Quando voltou, foi para se sentir mais brasileira, embora tudo nela indique a sua verdadeira origem.
Dollly Ennor, antes de cantar ao microfone, atuou em companhias teatrais, mas se entusiasmou verdadeiramente com o "broadcasting", cantando canções italianas e folclóricas brasileiras, demonstrando a extraordinária capacidade para interpretar os mais variados gêneros.
— Estreei-me ao microfone em 1934 na Rádio Educadora Paulista — informa Dolly Ennor, e desde então nunca mais me afastei dos estúdios radiofônicos. Fui feliz, porque tive em São Paulo uma carreira sem acidentes vindo para o Rio contratada pela Rádio Transmissora, estação que deixei ao surgir a Rádio Nacional.
Na PRE-8, Dolly Ennor é uma artista querida e aplaudida até pelos próprios colegas.
Sylvinha Mello, por exemplo, se declara sua fã, além de Roxane, que é sua amiga íntima e inseparável.
Essas três artistas, que seguiram ultimamente para São Paulo, obtêm grande sucesso em conjunto, ou separadas, interpretando cada qual seu gênero preferido. Dolly Ennor possui linda voz de soprano, uma voz que reúne inegáveis qualidades. Cantando, ela não se limita a provar que tem um apurado estudo e voz extensa; demonstrando além disso grande riqueza de expressão e interpretação.
— Creio que tudo que o artista der de si durante a interpretação será pouco — declara ela. — Sou inteiramente a favor do máximo entusiasmo.
Ela admira Ghyta de Jambloux, a voz-cigana da PRE-8, porque essa artista se comove tanto ao microfone ao ponto de quase romper em soluços. Da mesma forma aprecia interpretações alegres embora não seja fã da música popular.
— Gosto da música folclórica brasileira e da variedade dos seus ritmos.
Na sua vida particular, Dolly confessa que é muito filosofia, “não correndo atrás das coisas ruins” ...
Ela modificou inteiramente o seu próprio temperamento, antes buliçoso e irrequieto. Hoje, Dolly é uma criatura que pretende passar o Carnaval em Paquetá. Preza a sua carreira com a seriedade de quem cumpre uma obrigação agradável. E não pretende da vida nada além do que a vida lhe queira dar. Sentimental ela sabe que é, mas não afirma se isso é uma qualidade ou defeito. Não gosta da tristeza, embora prefira uma vida calma.
Dolly Ennor, que é um dos elementos mais prestigiosos do “cast” da Rádio Nacional, encontra-se presentemente em período de férias, voltando aos programas daquela estação depois do Carnaval.
— Wagner é o meu compositor favorito.
Ela é fã da música sinfônica e aprecia particularmente as óperas “La Boheme” e “Madame Butterfly”."
Fonte: CARIOCA, 19/12/1936 (artigo atualizado ortograficamente)
Rita Lee, nossa roqueira máxima dos anos 1980/1990, também tem pai inglês, engenheiro da empresa Light de São Paulo, que se casou com uma italiana do bairro do Bixiga.