terça-feira, dezembro 31, 2013

Prognósticos do Carnaval de 1936

Os "speakers" Afonso Scola, César Ladeira, Cristóvão de Alencar, Aurélio de Andrade, Dilo Guardia e Gastão do Rego Monteiro, avaliam as músicas carnavalescas de 1936 - Fotos: CARIOCA, 01/02/1936.

“O Carnaval está se aproximando rapidamente. O carioca já está começando a se sentir invadido pelo entusiasmo que lhe desperta a presença de Momo — soberano do Riso e da Alegria. As músicas de Carnaval já dominam a cidade. No rádio, nas batalhas de confete e nos bailes.

Era fama na velha Grécia, que o vinho e a música são os dois fatores da alegria humana. A eles dois, devem os foliões render as suas homenagens. Os compositores populares já mostraram as melodias que vão ser cantadas nos três melhores dias do ano. Umas boas, outras más. Todas com esperanças de êxito. Todas com pretensões a sucesso.

CARIOCA, que interpreta o pensamento do nosso povo, quis ter uma impressão acerca das músicas que seriam mais cantadas. Para isto, procurou os “speakers” das nossas estações de rádio. O “speaker” é quem melhor conhece os gostos e preferências do público com quem está sempre em contato através o microfone. Eles podem dizer, com segurança, quais os sucessos de 1936. Várias músicas foram indicadas. Vencerão umas, falharão outras. É muito difícil descobrir a preferência do público, quando se sabe que o sucesso, às vezes, é devido a uma insignificância.

Dilo Guardia, o “speaker” da Rádio Transmissora — a estação mais nova da cidade, declara:

— “A marcha que julgo ser o mais formidável sucesso neste Carnaval é a “Marcha do grande galo”, uma criação de Almirante. Seus autores, Paulo Barbosa e Lamartine Babo foram felizes, pois possui esta música o fator principal para a vitória —  originalidade.

Outras marchas existem que também eletrizam pelas suas melodias, pelas suas letras, mas... os seus estribilhos são menos fáceis de serem cantados pela massa popular carnavalesca da cidade. Refiro-me à “Cadência”, de Nássara, e “A. M. E. I.”, de Nássara e Frazão, ambas lançadas por Francisco Alves.  O “Marido da Eva”, só pelo título é quase que uma cartada certa. Gosto bastante da marcha de Oswaldo Santiago “Você ainda não me deu”, que Gastão Formenti gravou. Também promete.

Sambas? ... Este caso é bastante complicado para se resolver. Não quero que se julgue que pretendo antever sucessos, mas, a julgar pelo que vejo, tenho a impressão que “Palpite infeliz”, de Noel, não deve perder este páreo: “Carnaval de 1936”. Aracy de Almeida lançou-o com grande precisão e depois (dizem os mais entendidos a Vila é o reduto dos sambas que nascem para vencer. Vai daí o meu prognóstico. Orlando Silva também possui criações suas que devem trazer surpresas e não sei como ficará definida tão grande prebenda”.

“Marchinha do Grande Galo”, de Lamartine Babo:

O galo de noite cantou,
Toda gente quis ver
O que aconteceu!
Nervoso, o galinho respondeu:
Có, có, có, có, có, có, có, ró
A galinha morreu...

Có, có, có, có, có, có, có, ró
Có, có, có, có, có, có, có, ró
O galo tem saudade
Da galinha carijó. (Bis)

A minha vizinha também
Certa noite gritou
Toda gente acordou!
Nervoso, o marido respondeu:
Có, có, có, có, có, có, có, ró
Hoje o galo sou eu!

Cesar Ladeira dispensa apresentações. Mais do que ninguém, pode ter autoridade para responder à nossa enquete. Cesar Ladeira é, porém, muito “diplomata” e não quer desgostar ninguém:

— “A experiência já me ensinou a não fazer profecias. Por temperamento, sou realista: amo as coisas positivas. Por isso não gosto de “palpites”. Todas as marchas e sambas que são apresentadas para o Carnaval têm, como objetivo, é claro, vencer, o páreo difícil da preferência pública. Dar “palpites” nesse caso é descontentar os meus particulares amigos — os compositores, prodígios de inspiração carnavalesca. Prefiro gostar de todas. Meu coração é grande: “deixai vir a mim as marchinhas” ... E por falar nisso, que marchinha formidável a do Noel Rosa “Pierrot apaixonado”, hein? Chi! menino, está “abafando”.

Assim falou o mais querido dos “speakers” da cidade.

“Pierrot apaixonado”, marcha de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres:

Um Pierrot apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma Colombina
Acabou chorando, acabou chorando (bis).

A Colombina entrou no botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim....
Dizendo: Pierrot “cacete”
Vá tomar sorvete
Com o Arlequim.

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o Pierrot aconteceu assim
Levando esse grande “shoot”
Foi tomar “vermouth”
Com amendoim.

Aurélio de Andrade tem sobre os outros “speakers” da cidade a vantagem de haver vencido em torneio deste gênero, derrotando inúmeros adversários, quando da inauguração da Rádio Tupy. Eis o que nos disse:

— Fazer prognósticos sobre sucessos é quase impossível, por enquanto. O concurso das “ruas” só se decide em definitivo, na quarta-feira de cinzas. Aí é que se conhece o vencedor. Mas... creio que “O marido da Eva” e “Querido Adão” são concorrentes bastante sérios. Ambas as marchas possuem grandes credenciais para o triunfo, tem características de vitória, em sua composição. Assis Valente, que todos nós conhecemos de um sem número de sucessos anteriores, tem “A infelicidade me persegue”, que é um samba ótimo. Não está ainda, é verdade, bastante conhecido. Em pouco tempo porém, sê-lo-á, e então...

“Querido Adão” — Marcha de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago:

Meu querido Adão
Todo mundo sabe
Que perdeste o juízo
Por causa da serpente tentadora
O nosso mestre te expulsou, do Paraíso.

Mas em compensação
O teu pobre coração
Que era pobre, pobre,
Muito pobre de amor
Cresceu e eternizou, meu Adão
O teu pecado encantador.

Gastão do Rego Monteiro é um dos novos na sua arte. Tem pouco tempo de “speaker”, porém, está agradando e dentro em breve será, por certo, um dos primeiros da cidade. Novo como “speaker”, não o é, porém, no rádio. Ao contrário, conhece-o a fundo e sabe o que agrada ao público.

— “Marchinha do Grande Galo” é a que tem mais chance de vencer. Tem mais “carnaval” que qualquer outra e possui uma alta dose de originalidade. Sei que ela está fazendo sucesso, não só pelos pedidos que me vêm às mãos, como também, pelo que tenho observado nas festas. Há outras que devem também agradar, como: “Pierrot apaixonado”, “Vem meu amor” e “Oh! Oh! Não” que, por sinal, é ótima! Em sambas, destaco “Samba”, de Hervé Cordovil, música que tem no nome, o reflexo exato de seu valor. “As lágrimas rolavam”, que é muito carnavalesco e “Palpite infeliz”, são, também concorrentes muito autorizados.

“As lágrimas rolavam” — Samba de Kid Pepe, Germano Augusto e Guará:

As lágrimas rolavam
Na face da mulher
Que eu mais amava e deixei
A meus pés ajoelhada
Ela me implorava... implorava
Perdoa... perdoa.

E eu rude, embrutecido
Fui me embora convencido
E não tive explicação
Desde daí tenho amargado
Por ela ter chorado
A nossa separação.

Eu agora vou voltar
A teus pés para implorar
Com uma dor no coração
Nesta vida me maldigo
Do que aconteceu comigo
Tenho que pedir perdão...

Pouca gente conhece Armando Reis. Muita gente conhece Cristóvão de Alencar. O primeiro é conhecido pelo “pessoal” do rádio. O segundo é conhecido pelo público. A diferença existente entre ambos é que o Armando é compositor e o Cristóvão é o “speaker” da PRC-8, Duas personalidades distintas, numa só criatura — aquele que aos sábados “canta” ao microfone da Guanabara as músicas de sucesso. Como o Armando Reis, não está este ano inscrito no “Grande Prêmio Carnaval de 1936”, o Cristóvão sente-se à vontade para falar:

— Três marchas há, que são dignas de grande sucesso: “O marido da Eva”, “A. M. E. I.” e “Pierrot apaixonado”.  Cada uma dela apresenta uma característica distinta: “O marido da Eva” é toda alegria e vivacidade, “A. M. E. I.” é a marcha sentimental, tipo “Formosa” e, por isso mesmo, capaz de grande sucesso. O “Pierrot” está entre as duas: tem uma parte sentimental que é o estribilho e logo nos versos sente-se a alegria e o bom-humor do autor.

Quanto a sambas, destaco “Palpite infeliz”. Sou aliás, suspeito para falar porque se trata de um samba dedicado à Vila Isabel, bairro que é “do coração”. Reconheço, porém, que “As lágrimas rolavam”, tem muito ritmo carnavalesco e pode mesmo, “abafar”, no Carnaval de rua, no Carnaval popular. Poucas vezes, tenho visto um samba com caráter tão carnavalesco e tão bom para “ranchos” e “cordões”.

“Marido da Eva” Marcha de Nássara:

Você ganhou mas não leva
Eu sou o marido da Eva.

Certidão de casamento
Não resolve de momento
A questão
Se ainda tenho no pescoço
“Entelado” este caroço
Eu sou mesmo, “Seu” Adão.

Descobri no fim da festa
Que a maçã era indigesta
Fiz asneira,
Se a serpente não me engana
Eu comia, era banana
Sobremesa brasileira.

Afonso Scola é o dono daquela voz simpática, a que já se habituaram os ouvintes da PRD-2. Um dos organizadores dos programas de discos, da Cruzeiro do Sul, conhece perfeitamente quais as preferências do público, com quem está sempre em contato pela numerosa correspondência que diariamente lhe chega às mãos, com pedidos de músicas. A sua resposta foi breve, porém expressiva:

— Creio que “Carnaval é rei” é sério concorrente. Possui o nosso ritmo e tem um acento nitidamente carnavalesco. “Pierrot apaixonado”, também é perigoso — mexe com os nervos do carioca. Há ainda uma marcha que está pouco falada porque ainda não está bastante conhecida. É “Fra Diavolo no Carnaval”, da autoria de Carlos Dix. Creio que ela está no páreo. Sambas? ... Acho que para o Carnaval, a marcha é que se impõe. Em todo o caso, dos sambas apresentados “Palpite infeliz” e “As lágrimas rolavam”, são os mais cotados.”

“O Carnaval é rei” — Marcha — Letra de Ernani Campos; música de Antenógenes Silva:

O Carnaval é rei
O rei da animação
Quando ele vem chegando 
Todos nós vamos perdendo
Do juízo a noção (bis).

O seu amor garota
Firmeza nenhuma tem
É como o nosso Carnaval
De duração tão curta
e deixa a gente mal.

Quando você vier
Buscar o meu coração
Você o encontrará pisado
Junto aos confetes
a rolar no chão.


Fonte: CARIOCA, de 01/02/1936

segunda-feira, dezembro 30, 2013

Aldo Taranto

Aldo Taranto (1918 São Paulo, SP), maestro, compositor e arranjador, iniciou a carreira artística como compositor no começo da década de 1930. Em 1931, seu samba Candinha, com André Filho, foi  gravado por Sílvio Caldas, e as canções Flor agreste, com João Martins, e Naquele altar, foram lançadas na Victor por Gastão Formenti.

Em 1933, compôs com Donga, o samba Quando você morrer, gravado por Carmen Miranda. No ano seguinte, teve nova música gravada por Carmen Miranda, a marcha Agora não, parceria com Valfrido Silva.

Teve também no mesmo ano, o samba Eternamente, e a valsa Esquecer, com Osvaldo Santiago, e a canção Perjúrio, com Valentina Biosca, gravadas na Victor por Gastão Formenti.

No começo da década de 1940, passou a dirigir sua própria orquestra. Em 1941, acompanhou com sua orquestra, na Columbia a dupla Joel e Gaúcho na gravação da valsa Sempre o mesmo Rio..., de João de Barro e Alberto Ribeiro, e da rancheira Cabocla do coração, de Constantino Silva. Em 1947, seu bolero Os cabelos de Maria, parceria com José Mauro e Geraldo Mendonça, foi gravado na Continental por Dircinha Batista.

No início da década de 1950, foi diretor musical dos Discos Rádio. Em 1952, fez os arranjos para o LP Poeta da Vila - Sambas de Noel Rosa gravados por Marília Batista, o primeiro lançado pelo selo Rádio da Rádio Serviços e Propaganda Ltda. Por essa época, compôs jingles comerciais em parceria com o compositor e jornalista Antônio Maria.

Em 1954, seu tango Taça do amargor, com Romeu Fernandes, foi gravado na Sinter por Romeu Fernandes. Nesse ano, acompanhou com sua orquestra na Continental, o cantor Vicente Celestino na gravação das canções Nas asas brancas da saudade, Renúncia em prantos e Entre lágrimas, na toada-canção Dileta, e na valsa Noite cheia de estrelas, de Cândido das Neves; na canção-patriótica Meu Brasil, de Pedro de Sá Pereira e Olegário Mariano; na serenata Os milhões de arlequim, de Drigo, e na valsa Último beijo, de W. Paans e Eustórgio Wanderley.

Em 1955, teve os boleros Um caso de amor e Um dia a menos, e o beguine Exatamente agora gravados Waldir Calmon e Seu Conjunto no LP Ritmos melódicos Nº 1, e o bolero Foi assim no LP  Ritmos melódicos Nº 3 também com Waldir Calmon e Seu Conjunto, ambos da gravadora Rádio. Em 1956, acompanhou com seu conjunto ao cantor Eurístenes Pires na gravação da balada Oh! Mar e no bolero Amor ao luar, ambas de Eurístenes Pires.

Em 1957, o bolero Tudo é amor foi lançado por Waldir Calmon e Seu Conjunto no LP Feito para dançar Nº 6 da gravadora Rádio.  Em 1959, lançou pelo selo Internacional CID o LP Sonhos, amor e violinos interpretando com sua orquestra as composições Por causa de você, de Tom Jobim e Dolores Duran, A volta do boêmio, de Adelino Moreira, Abandono cruel, de Luis Soberano e Anicio Bichara, Vitrine, de Adelino Moreira, Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Prece de amor, de René Bittencourt, Abismo, de Anísio Silva, Sonhando contigo, de Anísio Silva e Fausto Guimarães, Conceição, de Dunga e Jair Amorim, Ouça, de Maysa, Graças a Deus, de Fernando César, e Tudo foi ilusão, de Laerte Santos e Arcilino Tavares, todos grandes sucessos românticos da época.

No mesmo ano, o choro Manhoso foi gravado por Dionysio e Seu Quinteto no LP Sax e ritmo da gravadora Internacional CID, enquanto a canção Natal noite de amor foi incluída no LP Dançando com Papai Noel - Guimarães e Seu Conjunto do selo Internacional CID. No ano seguinte, Tudo é amor foi incluída por Dionysio e Seu Quinteto no LP Sax magia.

Em 1965, seu choro O saci na flauta, com José Mauro, foi gravado por Altamiro Carrilho no LP Choros imortais nº 2. Em 1968, no LP O sucesso continua, de Moreira da Silva, teve gravado o samba O velho não bobeia, parceria com Mário Rossi.

Em 1976, seu samba-canção Natal, noite de amor, com Nem, foi gravado por Ângela Maria.

Teve composições gravadas por Sílvio Caldas, Gastão Formenti, Carmen Miranda, Dircinha Batista, Moreira da Silva e Altamiro Carrilho, entre outros. Foi parceiro de Mário Rossi, Osvaldo Santiago, Ary Barroso, Valfrido Silva e André Filho, destacando-se como compositor e também como arranjador.

Obra

Agora não (c/ Walfrido Silva), Cabelos de Maria, Candinha (c/ André Filho), Devagar, senão eu caio, Esquecer (c/ Osvaldo Santiago), Eternamente (c/ Osvaldo Santiago), Exatamente agora, Flor agreste (c/ João Martins), Jurei me vingar, Labaredas do amor (c/ Ary Barroso), Manhoso, Naquele altar, Natal, noite de amor (c/ Nem), O saci na flauta (c/ José Mauro), O velho não bobeia (c/ Mário Rossi), Os cabelos de Maria (c/ José Mauro e Geraldo Mendonça), Perjúrio (c/ Valentina Biosca), Poltrona surrada (c/ Antonio Maria), Taça do amargor (c/ Romeu Fernandes), Tudo é amor, Um caso de amor.


Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB - Bibliografia Crítica: AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982;    CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor , 1965; VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. São Paulo: Martins, 1965.

Como se fazia samba em 1930

"Se quiséssemos reunir tudo o que já se tem dito e escrito acerca dos sambas e marchas carnavalescas, obteríamos material capaz de encher grossas colunas. Há, porém, algo que o público que ouve o samba no rádio ou no disco desconhece. É a resposta que se pode dar à pergunta: como se faz um samba? ...

O cenário é, em geral, o mesmo: uma mesa de café e alguns “sambistas” — três ou quatro. Mais do que isto, “não dá certo”. A localização do café varia: às vezes é na Avenida Rio Branco, às vezes no Estácio. Geralmente, aliás, daí é que tem saído os melhores sambas. O sambista que se preza não abandona o Estácio.

A hora de reunião é sempre depois de meia-noite. Antes, não haveria tempo do “malandro” sentir a “bossa”. Três, quatro horas da madrugada é ideal. Mais cedo, só quando os sambas são feitos na Avenida...

A inspiração chega sempre.  O motivo para o samba é encontrado nas coisas mais insignificantes: um homem que entra pra vender bilhetes, um sujeito que bate na porta, um garçom que demora a trazer a “média”, uma notícia de sensação nos jornais, às vezes um simples anúncio pregado numa parede e temos a melodia lá encaminhada, pelo tamborilar dos dedos na mesa do café ou numa caixa de fósforos. Às vezes entra em cena o chapéu de palha. Quando acaba a noite, o sambista se retira para casa, leva no ouvido a música e não raro as palavras.

Nas mesas dos cafés, o samba começa a nascer...


Nem todos os sambas, porém, se fazem assim. Muitos surgem após uma briga com a “pequena”: são os sentimentais. Ao invés de serem imaginados num café, o sambista procura um lugar quieto, longe do ruído e dos companheiros. E assim se fazem os mais belos sambas, dos quais “Pra esquecer” é o padrão.

Com o ouvido cheio da melodia da véspera e a memória ainda transbordante do ritmo da música improvisada, vai no dia seguinte o sambista procurar quem lhe escreva a música, pois ele é, na maior parte das vezes, completamente leigo no assumto e desconhece inteiramente o valor de uma nota musical. Sabe apenas murmurar os compassos, que é incapaz de traduzir no papel.

Aldo Taranto ao piano
Aldo Taranto é o nome da criatura que vai resolver as dificuldades em que se encontra o autor da música. Foi ele quem rascunhou “O teu cabelo não nega”, “Linda morena”, “Trem blindado”, “Garota da rua”, “Agora é cinza”, “A tua vida é um segredo” e alguns outros legítimos sucessos da carnavais passados. Diante dele o sambista põe-se a cantar a melodia e Aldo Taranto, com uma surpreendente facilidade e, graças ao seu extraordinário valor como pianista, em breves instantes transporta ao piano o que ouve cantarolar. Do piano, para a pauta musical, a distância é pequena, mormente para ele que não acredita que a música tenha segredos...

Há cinco anos que Aldo Taranto se vem dedicando a isto. Pela sua mão já passaram milhares de másicas. Centenas de sucessos foram por ele escritos e adaptados e, no emtanto, quando o “speaker” anuncia um samba de sucesso ninguém se lembra, sequer, de sua existência...

Já com o samba escrito e pronto para ser interpretado ao piano, o sambista deixa Aldo Taranto e vai procurar o que lhe falta, para que a música possa ser gravada: a orquestração. Não raro, uma orquestração bem feita é o maior fator de êxito de uma música e dela depende sempre mais de cinquenta por cento de seu sucesso.

Rua do Chichorro, 25, sobrado. Sobe-se uma escada e logo uma voz amável nos atende:

— Queiram se sentar.

Estamos diante de Alfredo Vianna. Este nome, aliás, ninguém conhece. Pixinguinha, o orquestrador, entra em ação...

É possível, porém, que o Pixinguinha tenha alguma popularidade. Eis o homem. É ele que faz a orquestração. Como ninguém, possui em alta dose o senso de efeito que podem causar ao público os vários tipos de orquestração. Conhece e sabe perfeitamente quais as modulações que deve colocar e o resultado: “Ride, palhaço”, “Foi ela”, “Formosa”, “Teu cabelo não nega” e muitas outras, sucessos absolutos de orquestra.

O magnífico Pixinguinha
— Este ano tive poucas músicas: umas oitenta mais ou menos. Não é nada, em relação ao ano findo, em que tive quatrocentas.

Estará fraco este carnaval? Não, apenas um pequeno atraso. No ano passado, por esta época, os estúdios de gravação já tinham encerrado os seus trabalhos. Este ano, agora é que está começando a atividade.

Saímos, deixando Pixinguinha, homem que mais músicas tem orquestrado, o ponto final da confecção do samba.

Não falta mais nada para o samba ser lançado. Falta apenas um nome de cartaz que queira cantá-lo. Começa agora para o sambista o mais difícil, mormente se ele é pouco conhecido. Um cantor de nomeada não lança uma marcha ou um samba de um desconhecido. Uma cantora de nome prefere sempre uma composição de gente já popularizada.

Começam as desilusões, os padecimentos: “contras”, estações de rádio que para ele se fecham, diretores “que não estão em casa”, etc. E o pobre sambista vê que o ambiente é contra si e que as suas ilusões, uma após outra, estão desfeitas. E o malandro sofredor volta e na mesa do café compõe uma melodia talvez mais linda que a outra, narrando a amarga história de um samba que foi recusado e ninguém quis cantar..."


Fonte: Artigo, desenho e fotos da revista CARIOCA, de 18/01/1936.

sábado, dezembro 28, 2013

Lupe, a moreninha da praia

—— “Acabaram de ouvir Lupe em “Paris”, marcha de sua autoria”, —— anunciou o “speaker”.  Ficamos atônitos, à porta do estúdio. Como Lupe Velez estava de novo no Brasil? A nossa curiosidade durou pouco, pois a porta não tardou em se abrir para dar passagem a uma morena muito brasileira, de grandes olhos negros e cabelos grudados com “gomina”, formando uma espécie de capacete, onde, fazendo prodígios de equilíbrio e desafiando a lei da gravidade, se encontrava uma minúscula boina verde.

Lupe Ferreira representa o último tipo da garota “made in Rio for 1935”. Se fosse necessário eleger o tipo ideal da carioca de hoje, caberia a Lupe, sem dúvida, o título.

Esta “pequena” inteligente, que passa os dias enfrentando o sol em Copacabana e nas horas vagas, compõe sambas, num torneio como esse, não poderia deixar de sair triunfante. Não é por ventura a carioquinha ideal, uma morena queimada, que saiba conversar e nas horas vagas compor sambas? ...

Para uma criatura como Lupe, a apresentação é franco passadismo. Foi por isso que não procuramos intermediário para a nossa conversa. Lupe é muito amável e em se tratando de uma “carioca”, os deveres que o coleguismo impõe, fizeram com que esta amabilidade aumentasse cinquenta por cento.

—— Muita animação para o Carnaval?

Lupe preferiu responder cantando a sua marcha, que é, efetivamente, um sucesso. Basta dizer que, quando ela acabou estávamos rodeados de todo o “cast” da Tupy que fazia o coro.

—— Como fez a marcha?

—— Comecei a pensar no Carnaval. Sonhei que estava em plena folia, “puxando” um “cordão”. Veio a inspiração nesta hora e aí está o resultado.

Recordamos a Lupe, aqueles tempos em que ela cantava na Mayrink Veiga, canções francesas e ela nos respondeu:

—— Isto foi há quatro meses. Eu agora sou francamente do samba. Não quero saber de outras coisas. Nele há vários gêneros. Na canção francesa temos que nos limitar à imitação de Luciam Boyer. Além disso, creio que o samba me é mais sensível. É natural: sou brasileira.

—— A que tipo de samba pretende se dedicar?

—— Ao samba bem carioca. Aquelas batucadas de morro, onde o malandro chora eternamente as suas mágoas, num ritmo capaz de comover o mais ríspido bretão...

Lupe continua:

—— Tenho outra marcha para o Carnaval: “Uê, Uê, Macacada”. Creio, porém, que “Parei” agradará mais. Pretendo mesmo, me consagrar com ela. Tem uma letra interessante e cheia de “veneno” que o povo tanto gosta. Tenho receio porém dos outros concorrentes: “Querido Adão” é, dos conhecidos, o mais perigoso. Ainda assim creio que terei a emoção de ouvir a minha marchinha, cantada por algum “cordão”, durante os três dias...

—— Pretende continuar compondo?

—— Tenho pela música, verdadeira paixão. À ela dedico todos os momentos de lazer. Pretendo mesmo, continuar compondo. Aliás, “Parei” não é a minha primeira música. Já tenho feito muitas outras, que eu guardei para mim: inúmeras “fantasias” sobre músicas variadas e até uma vez cantei na Mayrink, uma canção de minha autoria. Agora porém, eu sou do samba e para as outras músicas só tenho uma resposta: “parei” ...


Fonte: CARIOCA, de 11/01/1936.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Lalá, Lelé, Lili...

Lili (Lycia Carvalho Costa Reis), cantora, nasceu em Niterói, RJ, mas ainda recém-nascida, seus pais se mudaram para São Paulo, Capital. Desde cedo, muito jovem ainda, ouvia rádio, cantava e tocava piano e violão.

O cantor Paraguaçu a levou ao maestro Gaó, que atuava na rádio Cruzeiro do Sul, que também irradiava para o Rio de Janeiro. Especializou-se em interpretar canções folclóricas brasileiras.

Para saber mais detalhes sobre a vida dessa artista, tão esquecida pelos "dicionários da MPB", acessem o site Museu da Pessoa, quando foi entrevistada recentemente, em 03/12/2013. À seguir uma reportagem da CARIOCA, de dezembro de 1935:

“Lili... —— Duas sílabas, idênticas e pequeninas, que evocam um mundo imenso de coisas e fantasias. Lili, lembra Carnaval. Sugere logo um “cordão” na Avenida, dançando e cantando:

“Lili, Ó meu bem
Teu amor eu tenho...”

Lili sempre foi motivo de inspiração para os sambistas cariocas, que infelizmente não conhecem a Lili paulista, cantora destacada e de mais futuro da Rádio Cosmos. Lili não tem sobrenome. Quer ser simplesmente Lili. É assim que o “speaker” a anuncia e foi assim que a chamamos para conversar um pouco conosco.

—— Tenho quase um ano de rádio, ora na Cosmos, ora na Cruzeiro, começou ela.

—— Como resolveu e conseguiu entrar para o rádio?

—— Todas as moças que gostam de rádio, tem no íntimo, pode estar certo, um grande desejo de cantar para o microfone para ouvir... Eu como as outras também tinha este desejo. Vontade não me faltava e vivia, assistindo nos estúdios, as transmissões. Uma criatura havia, que me despertava grande entusiasmo e a quem eu considerava um semideus — Gaó. Creio que o dia em que conseguisse falar com ele, seria o maior de minha vida. A oportunidade chegou: um dia ele estava no estúdio e eu gaguejando perguntei-lhe se era difícil cantar no rádio. Respondeu-me que dependia da voz. Fiz a experiência e dias depois, cantava num programa, quatro músicas: uma valsa, um samba, um fox e uma canção. Agradei...

—— Qual destes gêneros prefere?

—— A canção regional. Acho-a encantadora. Tem para mim encantos que dificilmente se podem exprimir. Mais do que qualquer outra música, pode a canção provocar a nostalgia numa criatura. Tem a canção toda a beleza e a grandiosidade do nosso país.

—— Qual, dentre as canções, é a sua predileta?

—— Das compostas exclusivamente para mim, “Pipoca, amendoim torrado”, de Príncipe Bugre. Tem dentro de sua melodia, toda a tristeza e a dolência de nossa alma. A minha predileta é, porém, “Leilão”, de Heckel Tavares, que às vezes chega a me provocar lágrimas...

—— Qual o compositor predileto?

—— Gosto de vários: Heckel, Joubert, Waldemar Henrique, Tupinambá. Creio porém que o primeiro ainda é o predileto, pois conheço e interpreto todas as suas composições.

—— Que pensa do fox americano?

—— Gosto. Acho-o lindo. Parece-me, porém, que não é muito de acordo com o nosso temperamento.

—— E por que não canta foxes?

—— Ao público parece sempre ridículo que uma brasileira cante, em inglês, coisas inglesas. Acham que devemos cantar sempre em português.

—— É então, muito exigente, o público paulista? ...

—— Terrível! Mais que o carioca. No Rio vê-se cantoras, meses e meses, com o mesmo repertório. Em São Paulo, se cantamos a mesma música três dias seguidos, começam logo os telefonemas de protesto.

—— Não tinha desejo de ir para o Rio?

—— Gostaria. O ideal, seria passar seis meses no Rio e seis aqui. Infelizmente, porém, é quase impossível realizá-lo, pois não tenho nenhuma proposta...

Ary Barroso apareceu. Vinha buscar Lili para dar começo à "Hora H", onde ela é figura de relevo e, dentro em pouco, víamos, através dos vidros da PRE-7, Lili tomando parte de um "sketch", e apresentando, assim, mais uma modalidade de sua arte, ainda nova para nós."

Jorge Maia, enviado especial de CARIOCA


Fontes: CARIOCA, de 28/12/1935; Museu da Pessoa, de 03/12/2013.

domingo, dezembro 22, 2013

Lamartine e Almirante em 1936

Lamartine Babo, já prestigiado compositor de marchinhas carnavalescas até hoje cantadas, e Almirante, cantor de sambas, companheiro de Noel Rosa e Nássara, futuro apresentador de programas da rádio carioca, que fizeram época nos vindouros anos 40 - CARIOCA, de 04/01/1936.

Os sincronizadores do Carnaval Carioca

O caso de Oswaldo Santiago é único no gênero. Ainda não tinha aparecido, no Brasil, um poeta, jornalista e escritor que se tivesse tornado um compositor vitorioso de músicas populares.  Pois foi o que ele fez. Depois de haver firmado um indiscutível renome literário com “Gritos do meu silêncio” e “Rio-Rei”, dois dos seus livros mais festejados pela crítica, Oswaldo Santiago passou a escrever letras para canções.

O famoso “Hino a João Pessoa”, musicado por Eduardo Souto, valeu-lhe por uma consagração nacional.

E até o presente momento não foi interrompida a escala cromática dos seus versos para músicas, quer originais, quer vertendo para a nossa lingua textos americanos dos números que vem nos filmes de Hollywood.

—— Mas como e quando começou a compor melodias?

Eis o que Oswaldo Santiago nos respondeu, quando lhe fizemos esta pergunta:

—— Em 1930, querendo servir a um colega de imprensa, Orestes Barbosa, que desejava iniciar-se como autor de letras, compus a melodia da canção “Bungalow”. A sua aceitação, o êxito dessa peça ainda hoje lembrada, de vez em quando, fez com que me animasse a tentar a realização de outras, tendo feito, então, a valsa “Teu sorriso é a minha dor”, sobre versos de Bastos Portella. Depois, havendo me afastado durante algum tempo do meio de cantores e de fábricas gravadoras, não procurei lançar algumas composições produzidas nessa época, dando-lhes o destino bom de não se tornarem, mais adiante, detestadas pelo público...

—— Como voltou a aparecer como compositor?

—— No Carnaval de 1935, quando fiz “Joia falsa” ou “Você me pareceu sincera”, como ficou mais conhecida. Um encontro casual com Gastão Formenti, cinco minutos de cantoria ao ouvido desse intérprete fidalgo e depois, no apartamento de Waldemar Henrique, dez minutos a seguir, a música tocada ao piano e cantada por todos com um entusiasmo de pasmar. Até Mara da Costa Pereira pareceu-me carnavalesca, apesar da sua cor “local” amazônica... Daí por diante nem eu, nem o Gastão Formenti, tivemos dúvida de que a “Joia falsa” tivesse o seu lugar separado no agrado coletivo, no que, como se sabe, não estávamos enganados.

—— Quer dizer que “Joia falsa” lhe deu gosto pelo gênero carnavalesco, não é verdade?

—— Sim e não. Ainda continuo gostando mais de fazer uma valsa ou uma canção, coisas em que se revela melhor o meu temperamento. É verdade que, no gênero, “Joia falsa” já representa, segundo a vaidade do autor, um passo à frente... Mas uma marchinha tem três meses de vida, passa breve, não fica na sensibilidade auditiva dos espíritos mais altos. Uma valsa como “Meu amor por toda a vida”, que fiz com Paulo Barbosa, atravessa anos com a mesma beleza do momento em que foi lançada.

—— Bem. Mas a sua primeira frase foi “sim e não”. O que nos disse depois deve ser o “não”. Falta agora o “sim”...

—— O “sim”, no caso, é o seguinte: o meu nome vai aparecer, no Carnaval de 1936, em cerca de doze composições destinadas à folia. “Querido Adão”, com Benedito Lacerda; “Olé, Carmem!”, com Paulo Barbosa; “Não foi assim”, com Antenógenes Silva: “Tu mereces um beijo”, com Heloísa Santiago; “Escola do amor”, com Walfrido Silva; “Nós dois e nosso amor”, com Isabel Cursio; “Cá estou eu, morena!” e “A guitarra e o violão”, com Vicente Paiva; e “É’ você que eu ando procurando”, com Carminha Balthazar.

Sozinho, fiz “Coração na boca”, no estilo de “Joia falsa”, “Você ainda não me deu” e “Oh, seu turista!... ”, as duas primeiras criadas por Gastão Formenti e a terceira pela dupla Joel e Gaúcho. Não tenho a pretensão de esperar que todas agradem. Nem eu, mesmo, gosto de todas elas. Mas no Carnaval um autor deve jogar tudo o que pode, pois ninguém adivinha de qual o público vai tomar conhecimento.


Fonte: CARIOCA, de 11/01/1936.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Agripina para os fãs de 1935 ...

Agripina (Agripina Duarte da Fonseca, conforme o Dicionário da MPB, ou Agrippina de Jorge Maia, segundo a revista "Carioca", de janeiro de 1936), cantora, nasceu em Dois Córregos, SP, em 07/11/1918, e faleceu em São Paulo, SP, em 13/08/1979. Iniciou a carreira artística ainda criança, em 1930, quando apresentou-se no programa "Hora Infantil" da Rádio Record com apenas 11 anos de idade. Passou em seguida para a Rádio Cruzeiro do Sul quando foi descoberta  pelo cantor e compositor Paraguaçu. Quando criança fez sucesso nas rádios paulistas cantando sambas e marchas.

Agripina, a cantora predileta de São Paulo

“Agripina conseguiu em São Paulo o que talvez nenhuma outra cantora de rádio até hoje tenha obtido: ser considerada “hors-concours”. Se se fizesse aqui um torneio entre as artistas de rádio, para saber qual a mais simpática ou qual a voz, ou qual a mais querida, o resultado seria, invariavelmente, o mesmo: Agripina. Esta garota que não tem ainda vinte anos, é, com efeito, a cantora mais popular, mais querida e de melhor voz de São Paulo.

Atestado disto? O pobre empregado dos Correios, que diariamente tem que carregar aquele grande saco cheio de cartas para deixa-lo no estúdio da Record, pode melhor do que eu, ou qualquer outro, afirmar do prestígio da moreninha paulista, cuja tez não deixa nada a desejar comparada à cor destas pequenas que passam dias seguidos na praia de Copacabana em busca de uma coloração que só o Sol lhes pode dar...

No estúdio, Agripina é a “pequena travessa”, cujas mínimas vontades são satisfeitas e os desejos realizados. É uma autêntica rainha dentro do estúdio. Quando passa, temos todos que nos curvar, respeitosamente. Nos dias em que tem programa, o estúdio é quase que invadido por legiões de fãs que desejam conhecer a estrela cuja voz lhes é familiar. São criaturas que surgem de todos os recantos da cidade e que procuram com tal impetuosidade invadir a Record, que não raro se torna necessária uma intervenção policial...

Confesso que Agripina foi para mim uma surpresa. Imaginava-a uma criatura grande, loura, de olhos azuis. Era assim que a minha imaginação, influenciada por historiadores romanos, a tinha criado. Fui apresentado a uma criatura “mignon”, muito morena, de olhos muito pretos e claros, cheia de vivacidade e possuidora de uma simpatia que a minha imaginação não tinha previsto.

-— Tenho três anos de rádio -— começa Agripina. — Sou pois, uma das “veteranas” aqui em São Paulo. Iniciei-me na “Hora Infantil” da Record. Passei em seguida para a Cruzeiro. Creio, porém, que a Record sempre foi a estação da minha preferência, pois não tardei em voltar para cá. E daqui espero não sair tão cedo. Adoro os sambas e as marchas, que são as músicas que canto.

— Foxes?

— Só para dançar e que não sejam muito lentos...

Decididamente, Agripina, garota bem “século XX”, odeia tudo que não se relacione com “records” de velocidade.

— Sobre a sua estreia no cinema?

— De fato, tomei parte, agora, em “Fazendo fita”, do Capellaro. O meu papel é, porém, muito pequeno: canto um samba e aquela canção que já fez sucesso, há alguns anos atrás: “A canção do jornaleiro”.

— Que impressão teve?

— Gostei muito. Se agradar pretendo mesmo continuar. Não abandonarei, porém, em hipótese alguma, o rádio, pelo qual possuo verdadeira adoração.

— Não tem desejo de cantar no Rio?

— Sempre foi o meu ideal. Infelizmente, não pude ainda realizá-lo. Faltou-me uma oportunidade.

— Para que estação carioca gostaria de ir?

— Não conheço bem o ambiente radiofônico do Rio. Creio, porém, que a Tupy, seria a minha eleita, se pudesse escolher. Gosto também das outras e na Mayrink, por exemplo, sentir-me-ia muito feliz. É preciso dizer que o Rio seria apenas um passeio. Não pretendo abandonar definitivamente São Paulo. Seria quase uma ingratidão...

— Que pensa do samba?

— Ao samba só cabe um adjetivo: adorável! Ele é um pedacinho de minha vida. Creio que, aliás, é dos pedaços mais importantes, pois, sem ele, não poderia viver...

— Sobre o rádio paulista?

— Está bastante desenvolvido. Infelizmente, o pessoal é um pouco desunido...

— Ainda se recorda, qual foi a sua maior emoção desde que está no rádio?

Agripina balançou negativamente a cabeça e, retrucou:

— Não. Foram muitas, tantas que não me recordo de nenhuma."


Fonte: CARIOCA, de 04/01/1936.

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Alzirinha, a professora do rádio

"De Alzirinha Camargo, presente de Natal que São Paulo enviou ao “broadcasting” carioca, só se pode dizer que é uma vitoriosa. A sua atuação ao microfone da Rádio Tupi, desde aquela noite em que lançou o “Querido Adão”, tem sido uma série sucessiva de triunfos.

Cantora de grande sensibilidade artística é Alzirinha, intérprete de diversos gêneros. Dela se pode afirmar que conhece o segredo da canção regional e das lendas amazônicas, ao mesmo tempo que anima e movimenta um samba muito carioca.

Não estávamos, positivamente, com sorte, na noite que resolvemos entrevistar Alzirinha. A simpática lourinha, havia acabado de interpretar uma marcha que, a seu ver, tinha sido um fracasso. É muito difícil dizer a uma cantora de rádio que ela cantou mal. Mais difícil, porém, é convencê-la de que o seu insucesso foi apenas imaginário...

— Como entrou para o rádio?

Alzirinha estava alegre e nos respondeu:

— Estudava na Escola Normal de Itapetininga, minha cidade natal e era solista do Orpheon. Pessoas de minha família me aconselharam o rádio. Quando recebi o diploma de professora.

— Não sabíamos que tinha esse título.

— Pois fique sabendo. Fui para São Paulo logo depois. Por intermédio de Sivan, consegui ingressar na Rádio Educadora de São Paulo. Daí passei à Record. Em seguida estive na Cruzeiro, de onde saí para inaugurar a Difusora. Da Difusora fui ao Rio Grande do Sul, inaugurar a Farroupilha e agora estou aqui.

- Qual a primeira música que interpretou ao microfone?

- “Moreninha brasileira”, de Joubert de Carvalho. Lembro-me ainda muito bem. Esta marchinha durante muito tempo, foi a minha predileta. Talvez por gratidão...

- Quais as músicas que lhe agradam?

— São aquelas caracteristicamente brasileiras. São as músicas de Hekel Tavares, Waldemar Henrique e Humberto Porto, um dos valores novos da nossa música, mas possuidor de inegável talento. Creio, porém, que “Banzo”, de Hekel, dentre todas é ainda a que mais se destaca.

— Como encara o “broadcasting” em São Paulo e no Rio?

— Ambos os meios são bons. Existe, porém, no Rio, um campo mais vasto de expansão para o artista. O público aqui é mais caloroso e nos aplaude com mais entusiasmo, enquanto em São Paulo sentimos sempre a frieza dos ouvintes que não se manifestam através de cartas e telefonemas como aqui. Note-se: lá há gente tão boa como aqui. Pena é que o público não esteja nesta situação de igualdade.

— Das músicas que tem lançado para o Carnaval? Quais as suas esperanças?

— Sou suspeita para falar, pois gosto de todas. Baseando-me porém, no aplausos que recebo quando canto, creio que “Querido Adão” é a que mais se destaca. Parece-me que esta marcha tem agrado. Creio porém, que as músicas que vão abafar, ainda não apareceram. Ainda se encontram nas casas dos compositores, bastante escondidas, para que se evite o plágio...”.


Fonte: CARIOCA, de 28/12/1935

Paulistas de Itararé

Como sorriem Elvira e Rosina, as "Irmãs Pagãs" - Fotos de Edmond - Carioca, 1935.

Irmãs Pagãs, — serão pagãs mesmo? — É esse, sem dúvida, um dos mais originais e sugestivos pseudônimos adotados por gente do rádio. Esse duo que os leitores de CARIOCA tantas vezes têm admirado através do microfone da PRA-9, tanto fascina pela voz como encanta pela graça feminina e pela vibração do espírito. Foi o que pudemos constatar, quando as entrevistamos, na Mayrink Veiga.

— Como se chamam?

— Rosina.

— Elvira.

— Onde nasceram?

— No Estado de S. Paulo.

— Batizaram-se em...

As entrevistadas entreolharam-se. O sorriso e as sobrancelhas à Joan Blondell de Rosina cobriram de motejo o entrevistador. Este pensou aflitivamente e, levando de súbito a mão à testa, teve uma exclamação: — Ah são pagãs. As duas irmãs, então, o contemplaram com certa piedade cristã. E as perguntas prosseguiram.

—— Onde estrearam? Aqui no Rio?

— Sim. O público da cidade maravilhosa é muito gentil. Já somos cariocas de coração. No rádio, demos a nossa primeira audição na Cajuti. Cantamos também no Tijuca. Na Mayrink Veiga foi que nos tornamos de fato conhecidas.

—— Até onde vai o amor à arte a que se dedicam?

Desta pergunta em diante as respostas nem sempre andaram em dueto. Ambas sacrificam tudo para o aperfeiçoamento constante do gosto e da expressão. Mas... ambas, adoram o cinema. E, além dele, amam o canto, a natação, a dança, a leitura.

Na tela, Rosina aprecia imensamente Tarzan: “E’ um símbolo de força, inteligência espontânea e lealdade masculina. Acha que o artista revela a sua maior capacidade no beijo. O guarda-roupa feminino de Hollywood é sábio em estética sempre que não prejudica as linhas do corpo e a naturalidade das formas.

Elvira admira Ramon Novarro. Quando Ramon esteve no Rio pôde apertar-lhe a mão. Por isso guarda, até hoje, com o maior carinho, a luva que usava nesse dia.

— Qual o tipo de homem que mais apreciam?

Elvira: — O que se faz desejar.

Rosina: — Com ou sem bigode.

— Que pensam do amor?

— Julgado pela maior parte dos seus efeitos ele mais se parece ao ódio do que à amizade.

— E o ciúme?

— No ciúme há mais amor próprio do que amor.

— E o casamento?

— Ainda não tivemos tempo de tomá-lo na devida consideração.

São assim, as irmãs Pagãs: fascinantes, originais, inteligentes. Amam a Arte, mas acima da Arte a vida, que tudo enriquece, dá feitios novos e cria a simpatia entre o homem e a Natureza. Por isso, em tão pouco tempo, já são ídolos da “radiopolis”, estas paulistanazinhas de Itararé... Não se espantem. São legítimas, genuínas de Itararé.

Vitoriosas e gloriosas.

A batalha não houve, mas as Irmãs Pagãs, essas existem de fato e de verdade...


Fonte: CARIOCA, de 30/11/1935.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Dois apitos: Joubert de Carvalho

Vida do compositor e médico Joubert de Carvalho, e linda sua declaração sobre a "Medicina" e a "Música". Nasceu em Uberaba, MG, em 6/3/1900, nunca bebeu, nunca foi boêmio, bares e botequins jamais o atraíram. 

Homem culto e refinado, foi muito talentoso e um dos pioneiros no Brasil em Medicina Psicossomática. Como músico é autor de mais de setecentas composições. Morreu no dia 20/9/1977, vítima de pneumonia, deixando importante legado para a MPB. À seguir, uma reportagem da CARIOCA de 1935.

"Joubert de Carvalho anda agora um pouco esquivo no meio radiofônico. Consequência da avalanche de músicas carnavalescas? Ou será que o autor de “Volta para o meu amor” e “Ta-hi” anda brigado com a música? Joubert de Carvalho, além de compositor, é também médico. Dedica-se a uma especialidade interessante: pulmão e coração. De coração, já se sabe que ele entende mesmo. A prova:

Ta-hi,
Eu fiz tudo pra você gostar de mim,
O’ meu bem, não faz assim comigo, não,
Você tem, você tem,
Que me dar seu coração.

Joubert de Carvalho desde esse tempo mostrava sua predileção pelos segredos do músculo vital. Daí passar aos pulmões foi um nada. Ele faz parte, assim, dos que tocam “dois apitos”. Os seus dois apitos são igualmente nobres: a Medicina e a Música. Se uma doente rebelde não melhora com uma injeção de “digitalis”, o musicista entra em cena e aplica, ao piano, uma canção. . . E’ a conta.

CARIOCA procurou descobrir o segredo da atividade de Joubert de Carvalho. Entre duas consultas, conseguimos abordá-lo. Uma pergunta, duas, três. E as respostas foram surgindo.
Não, a fonte de produção de Joubert de Carvalho não estancou. Apenas o jovem compositor está se dedicando a um gênero mais esmerado de arte. Em vez de compor coisas de sabor acentuadamente popular, para as multidões, está agora fazendo canções de delicada inspiração, verdadeiros poemas musicados. São dessa fatura “Teu retrato”, “Entre nós dois”, “Fui eu o seu primeiro amor” e outras composições.

— A música lhe tem prejudicado o exercício da Medicina, ou tem a clínica perturbado sua atividade artística? — perguntamos.

Joubert, o médico
— Muito pelo contrário — respondeu Joubert de Carvalho. — O exercício da Medicina exige um complexo científico em que a observação e o tino clínico assentam base no desenvolvimento artístico e psicológico. A arte é a maneira mais eficiente de nos conduzirmos ao caminho da verdade. Por seu intermédio é que pressentimos as leis profundas que determinam a razão das coisas. E’ uma intuição que margeia todos os fenômenos da vida, para o seu desenvolvimento ideal, que atinge ao seu ponto culminante, quando a inteligência sublima as suas atividades nesse sentir.

Continua Joubert:

— A Música, por excelência, faculta-nos melhor compreensão da vida, porque dela se arrebata, para nos fazer senti-la numa forma espiritual elevada pelo sonho, eternizando-a pelas suas consequências. A vida de um Chopin, de um Beethoven, de um Mozart, de um Schubert sentimo-la pelas suas músicas de todos os dias e nos beneficiam para o encantamento da alma. Ela excita e educa a sensibilidade muitas vezes embotada pelas exigências materiais da vida. Sua influência para a sutileza da percepção na acuidade auditiva aperfeiçoa o ouvido do médico para penetrar na intimidade mais profunda dos fenômenos que acometem o coração e os pulmões, órgãos que acusam enfermidades por ruídos particulares. E’ por isso que dela não me afasto. E se de um lado me aproxima da verdade em um diagnóstico, pela audição acurada, de outro me afasta da matéria pelo transporte às regiões infindas e sublimes do sonho, que a melodia cria na magia dos sons.”


Fonte: CARIOCA, novembro de 1935.

terça-feira, dezembro 17, 2013

Dois apitos: Benedito Lacerda

"Dois apitos" era a expressão, nos anos de 1930, de quem tinha duas profissões paralelas. Benedicto Lacerda, desculpem, Benedito Lacerda, instrumentista (exímio flautista), compositor e regente, nascido em Macaé, Rio de Janeiro, em 14/3/1903, foi um dos "monstros sagrados", ao lado do incrível Pixinguinha, da nossa Música Popular. Aqui uma reportagem da revista CARIOCA, de novembro de 1935, sobre o nosso artista:

"Não houve, no último carnaval, e mesmo depois dele, quem no Brasil inteiro não cantasse:

Eva, querida,
Quero ser o teu Adão,
Dar-te-ei o meu amor, a minha vida,
Em troca de teu coração.

O autor desta marchinha, como de muitas outras músicas populares, foi Benedito Lacerda, que agora atua no “broadcasting” como flautista e diretor de um conjunto regional. Benedito Lacerda, que acaba de ser contratado pela Rádio Belgrano, de Buenos Aires, para propagar na metrópole argentina a nossa música carnavalesca, foi, em garoto, jornaleiro, dedicando-se a venda dos jornais vespertinos. Depois, rapazinho, foi caixeiro de armarinho.

E exerceu até bem pouco tempo essa profissão, conservando ainda o calo do metro. Começou a tocar, de ouvido, numa flauta de bambu. Aprendeu mais tarde musica por escala, dedicando-se também ao saxofone. Inimigo das oito horas de trabalho, Benedito Lacerda despediu-se do estabelecimento em que trabalhava, logo que as suas músicas começaram a interessar ao público.

“Criança, toma juízo...”, samba, “Ciganinha”, marcha, “Querido Adão”, música carnavalesca, são algumas de suas produções de êxito. “Eva, querida” é agora verdadeira coqueluche em Buenos Aires.

— Prefiro viver como vivo agora, — diz Benedito Lacerda, — sem preocupações de horários e ralhos de patrões. Um dia, toco. No outro, canto. Irradio, gravo discos e vou ganhando a “nota”. Depois do Carnaval, irei ver como param as coisas no Prata...

Benedito Lacerda fez questão de mostrar a CARIOCA que ainda entende de seu antigo mister de caixeiro de armarinho. Meteu-se atrás de um balcão e em poucos minutos vendeu um “stock” de roupas feitas, por preços verdadeiramente escandalosos, mas com a vantagem de as vender fiado, sem sequer perguntar os nomes dos fregueses."



Fonte: CARIOCA, de 30/11/1935.

Lan e os músicos de 1950



Lançou "Aquarela do Brasil" e chamou o Brasil de "mulato inzoneiro". O Flávio Cavalcanti disse que isso é a mesma coisa que "mestiço intrigante" e o mineiro de Ubá ficou louco da vida. O Flávio até tentou se desculpar, indo na casa dele. O Ary comprou um cão policial e o deixou na frente de sua casa para esperar.... Ao lado Araci de Almeida, comemorando seu aniversário, na ocasião, em São Paulo, e o próprio Governador (que não fora convidado) disse: "Vim pessoalmente apertar a mão da maior cantora popular do Brasil”. Araci sorriu encabulada e respondeu sincera: “Governador, isto são lantejoulas de sua parte”.



Herivelto sofre o complexo do apito. Quando o “Praça Onze” agradou, ele castigou logo em seguida o “Laurindo”, aquele que dizia assim: — Laurindo, pega o apito... etc., etc. Laurindo sumiu e o apito ficou com Herivelto... Maysa (Perdi meu pente) Matarazzo é Bonjardim de nascença. Um dia houve uma festa para os melhores do rádio. Maysa foi convidada, Andrezinho Matarazzo acompanhou-a e, quando deu com o ambiente exclamou para si mesmo: — Eu salto aqui! Para encerrar, mais duas charges dessa época: Pixinguinha e José Vasconcelos...




Fonte: Dicionário Ilustrado — Texto de Stanislaw Ponte Preta — Desenho de Lan — Jornal "Última Hora"

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Dois apitos...

Gastão Formenti
Gastão Formenti e Moreira da Silva? Dois cantores em atividades duplas no ano de 1935. O primeiro, já um consagrado intérprete, artista, pintor de quadros. O segundo, chofer de ambulância e iniciando a futura e duradoura carreira de mestre-cantor do samba-de-breque...

No meio radiofônico há um grande número de figuras que tocam “dois apitos”, como se diz em linguagem popular, ou melhor, que se dedicam a dois gêneros diferentes de atividade.

Uma dessas figuras é o aplaudido cantor Gastão Formenti, muito conhecido através dos discos que tem gravado para diversas empresas e pela sua longa atuação perante o “broadcasting”.

Gastão Formenti é um dos nomes de maior relevo dos nossos círculos radiofônicos, aliando ao seu merecimento de cantor a discrição e a modéstia das atitudes.

O artista Gastão -1935
Gastão fez estudos para pintor na Escola de Belas Artes e tem figurado em várias exposições, concorrendo ao “Salão” oficial em diversas oportunidades. Tem seu estúdio à rua Joaquim Silva, 67. É aí que, ao mesmo tempo, pinta suas telas e ensaia as canções que canta ao microfone.

Também toca “dois apitos” o cantor Moreira da Silva, que foi o criador de “Implorar, só a Deus”, um dos sambas de maior sucesso do ano passado, vitorioso no concurso carnavalesco instituído pela Municipalidade.

Moreira da Silva, ao mesmo tempo que atua no microfone, é também funcionário municipal, trabalhando como motorista da Assistência.

Sua atuação no “broadcasting” tem que ser pautada não por sua própria vontade, mas pela escala dos plantões na Assistência. Volante habilíssimo, seu sucesso, na direção de uma ambulância, é igual ao que alcança no microfone, como intérprete festejado de sambas e marchinhas.

O cantor Moreira da Silva na direção uma ambulância - Foto: "Carioca" - 1935


Fonte: "Carioca", de 23/11/1935.

Lair de Barros: a sedução do microfone

A cantora Lair de Barros num artigo da "Carioca". A entrevista foi publicada em 16/11/1935 e transcrevo na ortografia da época:  

“Lair de Barros é uma figura ainda nova no radio carioca. Surgiu ha pouco menos de um anno no “Programma das Donas de Casa”, da Mayrink. Hoje é uma das mais destacadas figuras da Radio Sociedade. Possue, como poucas, o segredo de interpretar as nossas marchas e sambas, e ao par destas qualidades é uma creatura interessante, muito “Seculo XX”.

— Comecei no Paraná, — diz-nos Lair, sorrindo, — uma noite, estava numa festa e cantei acompanhada por violões. Devido á insistencia de algumas amigas fiz um ensaio numa estação local. Parece que agradei e, vindo para o Rio, comecei a cantar no “Programma das Donas de Casa” da Mayrink. Uma tarde, estava ensaiando quando Cesar Ladeira me convidou para actuar nos programmas irradiados nos domingos á noite. Dos domingos passei aos dias de semana. Estava contentissima na PRA-9 quando surgiu a Tupy e propalou-se a noticia que eu ia trocar de estação. Resultado: estou na Radio Sociedade.

— Qual o genero de musica que prefere?

— Marchas e sambas. O samba é, sem “bairrismo”, a musica mais bonita que existe no mundo. E’ tão lindo que não póde ser definido com palavras. Tem o ritmo triste de quem chora as magoas de um amor perdido... — A minha maior emoção? quando cantei no Guayra, no Paraná. Nunca havia cantado em palco e foi sob forte tensão nervosa que appareci perante o publico. Felizmente agradei... A outra grande emoção, foi a primeira vez que cantei na Mayrink.

— Quaes os seus autores preferidos?

— Volentina Biosca, José Maria de Abreu, J. Barcellos, Damaglio, Armando Silva Araujo, Mario Lago, Rogerio do Nascimento...

— Dos artistas, quaes prefere?

— Carmen Miranda e Francisco Alves, reis absolutos do microphone.

— Que pensa do Radio?

— Microphone é peor do que uma bebida doce de que a gente não póde se furtar. Gosto do meio e espero triumphar, pois não imito a ninguem. Como tenho força de vontade, espero um dia chegar á Gloria, de quem, por ora, estou ainda muito longe. Não fómos sequer apresentadas, uma á outra.”




Fonte: "Carioca", de 16/11/1935.

sábado, dezembro 14, 2013

Martinez Grau

"Carioca", de 1/2/1936
Martinez Grau (Afonso Martinez Grau), compositor e maestro, nasceu em São Paulo, SP, em 24/05/1897, e faleceu, na mesma cidade, em 05/12/1963. Considerado um brilhante regente e harmonizador, foi compositor de óperas, operetas, revistas e trechos populares de grande sucesso.

Em 1928, sua canção Sapoti foi gravada por Francisco Alves na Odeon. Em 1929, fez sucesso com a revista Mineiro com botas, com J. Tomás e J. Aimberê, e letra de Marques Porto e Luiz Peixoto.

No ano seguinte, a atriz e cantora Margarida Max gravou na Brunswick a marcha Bocas que fazia parte da revista Vai haver o diabo. Por essa época, a toada Puxa o tambu! foi gravada por Januário de Oliveira na Arte-Fone, pequeno selo paulista da época.

Em 1931, o samba Sozinho, com Jaime Redondo, foi gravado na Columbia por Arnaldo Pescuma. No mesmo ano, e na mesma gravadora Gastão Formenti registrou a canção Brincando com foguetão, com Luiz Iglesias.

Em 1934, a marcha Segura a mão, parceria com Enéas Machado de Assis, foi gravada na Victor pelo Bando da Lua. Em 1936, a dupla Arnaldo Pescuma e Januário de Oliveira gravou na Victor o samba Quero dar um beijinho em você, com Ari Machado, e a marcha Mulatinha da caserna, com Ariovaldo Pires.

Em 1937, foi parceiro de Mário Lago na marcha Eu vou mandar fazer gravada em dueto por Arnaldo Amaral e Alzirinha Camargo, e de Ernâni Dantas na batucada O malandro entristeceu gravada pelos Anjos do Inferno, ambas as gravações na Columbia.

Em 1943, foi parceiro de Carlos Maul na marcha Mocidade feliz que foi gravada por Francisco Alves na Odeon. Em 1953, o dobrado São Paulo com Ariovaldo Pires, foi gravado na RCA Victor por Wilson Roberto. Em 1958, sua marcha Segura na mão, com Enéas Machado, foi gravada no LP Êêêhh!! Saudade! lançado pela Banda RGE sob regência do maestro Henrique Simonetti.

Seu maior sucesso como compositor foi a marcha Mulatinha da caserna, com Ariovaldo Pires. Com músicas gravadas por Arnaldo Pescuma, Gastão Formenti, Anjos do Inferno, Francisco Alves, Alzirinha Camargo e outros, o compositor atuaria ainda na radiofonia paulista.

Obra

Bocas, Brincando com foguetão (c/ Luiz Iglesias), Eu vou mandar fazer (c/ Mário Lago), Mocidade feliz (c/ Carlos Maul), Mulatinha da caserna (c/ Ariovaldo Pires), O malandro entristeceu (c/ Ernâni Dantas), Puxa o tambu!, Quero dar um beijinho em você (c/ Ari Machado), São Paulo (c/ Ariovaldo Pires), Sapoti, Se a polícia deixasse, Segura a mão (c/ Enéas Machado de Assis)


Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB; "Carioca", de 01/02/1936.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Alô, alô, André Filho


“Bamboleio”, “Alô, Alô”, “Cidade Maravilhosa”, como cartaz de um compositor, já não é mal.... Poderíamos juntar dezenas de outros sucessos, em sambas, marchas, canções, valsas, e teríamos o perfeito retrato de André Filho, compositor dos mais antigos do nosso meio radiofônico que, desde os saudosos tempos de Sinhô, vem, com as suas músicas, animando o Carnaval carioca e enchendo de alegria a “Cidade Maravilhosa”.

André Filho, hoje, não é um nome, apenas do Brasil. A sua fama, já atravessou as fronteiras e as suas músicas tem tido grande aceitação e sucesso em Buenos Aires. Na sua viagem, realizada há dois meses, conquistou expressivo sucesso, como cantor e intérprete de suas músicas. Chegou mesmo a gravar um disco em Buenos Aires, acompanhado pela orquestra Santa Paula Serenaders, um dos bons conjuntos de “jazz” existentes na capital argentina.

A música de André, caracteriza-se, antes de tudo, pela ausência completa de tudo o que seja local: as suas marchas podem ser cantadas por um paulista, tão bem como por um uruguaio. Nelas não se vê referências a Salgueiro, Mangueira, etc. Nota-se também que André tem preocupação em relação às letras, incluindo nelas termos de gíria, uma vivacidade toda especial. E grandes fatores do seu sucesso.

Este ano, André chegou atrasado para o Carnaval. Buenos Aires prendeu-o até outubro e daí a sua falta de tempo para preparar as suas composições. Ainda lançará cinco músicas: “Teu cabelo ainda quero pintar”, marcha; “S. O. S.”, marcha cantada por Sônia de Carvalho; “Quero ver você sambar”, samba, cantado por Aurora Miranda; “Bacharéis do amor”, marcha, também cantada por Aurora Miranda, e, finalmente, “Cadê a minha Colombina?”, que possui toda a simpatia e a esperança do autor.

“Cadê a minha Colombina?” tem música interessante e a letra é bastante carnavalesca:

“Minha Colombina
Vem consolar seu tristonho Pierrot,
Eu já não ouço a canção divinal
Que cantava pelo Carnaval.

1a parte

Perdi a minha Colombina,
A minha Colombina original
Cadê a minha Colombina multicor,
Que era o meu terno Carnaval?" (Bis)

André havia terminado de cantar sua marchinha, quando, à queima-roupa, lançamos a pergunta:

— Como vamos de Carnaval?

— Estou achando muito desanimado. Não há “batalhas”. Os bailes estão fracos... É possivel, porém, que isso seja devido ao estado de espírito em que se encontra o povo. As minhas músicas saíram tarde e creio que dificilmente podem lutar contra Benedito Lacerda, Ary Barroso, Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, sem dúvida os mais fortes concorrentes em 1936.

— De todas as suas músicas, qual a predileta?

— “Cidade Maravilhosa”. Deu-me grande nome e foi das mais queridas no Brasil inteiro. Fiz essa música porque achava que se devia cantar a cidade mais linda do Brasil. Inspirei-me no poema de Olegário Mariano, bem como na frase de Orestes Barbosa, que Cesar Ladeira tornou conhecida em todo o Brasil. Achando a frase ótima, julguei que devia fazer com que ela bailasse no coração dos cariocas. Fiz a letra e logo depois a música. Aliás, geralmente, faço assim: primeiro a letra; é o método infalível para que se consiga obter frases interessantes, em que exista algum nexo.

— Ainda se recorda de sua primeira composição?

André pensou um pouco e respondeu:

— Denominava-se “Suave tortura” e era uma valsa que fiz ainda criança. Quando cresci, “retoquei-a” e consegui mesmo edita-la. Teve grande sucesso, nas orquestras dos cinemas, no tempo em que os filmes não eram sincronizados e em que Mae Murray e Francisca Bertini arrastavam multidões às casas de espetáculo...

Começamos a recordar aqueles velhos tempos do Odeon, com as suas duas salas de espetáculo, quando fomos obrigados a interromper a evocação, em virtude de haver muita gente, no estúdio, que já estava de lenço na mão, dispondo-se a enxugar alguma lágrima teimosa...


Fonte: "Carioca", de 25/01/1936.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Mário de Azevedo

Mário de Azevedo, pianista, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, ES, em 18/1/1905, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, provavelmente em 1985. Iniciou a carreira artística, como era comum até o final da década de 1920, como pianista de casas de músicas como Pinquim, Viúva Guerreiro, Melodia, Carlos Gomes e Arthur Napoleão. Em 1933, fez a música do filme Onde a terra acaba, com direção de Octávio Gabus Mendes.

Estreou em disco em 1943, pela Columbia gravando ao piano quatro valsas de Eduardo Souto: Verão, Inverno, Outono e Primavera. No ano seguinte, gravou pela Continental o tango O despertar da montanha e as valsas A ternura do mar, de Eduardo Souto, Supremo mestre, da Viúva Guerreiro, e Subindo ao céu, de Aristides Borges.

Em 1945, gravou quatro composições de Eduardo Souto, o fado O pranto da fadista, a valsa Solidão, e os tangos Do sorriso das mulheres nasceram as flores, e O despertar de um sonho, além do lundu Os lundus da marquesa, de Francisco Braga, e as valsas Valsa-capricho, de F. Chiaffitelli, Destino, de Sidney Baynes, e Sonhando, de Joyce.

Em 1946, lançou mais três discos interpretando as valsas Sugestão de um olhar, de Eduardo Souto, Dolorosa, de Mário Penaforte, Quanto doi uma saudade, de Mariana da Silveira, Ao cair da tarde, de Pelágio Valentim, Valsa dos que sofrem, de Alfredo Gama, e Flor do mal, de Santos Coelho. Gravou ainda a valsa Quando penso em ti, da Viúva Guerreiro, e a canção Casinha pequenina, apresentada como de domínio público. Além da gravação de discos, continuou se apresentando com boa aceitação em programas pianísticos na Rádio Nacional, Tupi e outras.

Em 1948, gravou a valsas Sonhos azuis e Ciúmes sem razão, ambas de João de Barro e Alberto Ribeiro, a toada-canção Amargura, de Eduardo Souto, e a canção Nossa canção de amor, de Celso Cavalcanti e Fred Mello.

Em 1949, mudou de gravadora e passou a gravar pela Odeon, onde registrou o tango-brasileiro Sugestões de um sorriso, de Eduardo Souto, as valsas Quando dois destinos divergem, de Lauro Maia, Coração que sente, de Ernesto Nazareth, e Você, de Osmard de Andrade, a mazurca Saudade, de Graça Guardia, e o noturno Le Lac de Come, de G. Galos. Em 1950, gravou a canção Mágoas, de Eduardo Souto, o chótis Nas asas de um sonho, de Carlos T. de Carvalho, e as valsas Foi assim, de Eduardo Souto, e Sônia, de Mariana da Silveira.

Em 1954, contratado pela gravadora Sinter lançou com boa aceitação da crítica mais especializada o LP Música de Eduardo Souto na interpretação de Mário de Azevedo, um tributo ao compositor paulista Eduardo Souto no qual interpretou as obras Do sorriso das mulheres nasceram as flores, Divagações, Despertar da montanha, Primavera, E a pobre guitarra morreu, Evocação, e George Walsh.

Em 1955, lançou dois LPs pela Sinter, intitulados Mário de Azevedo ao piano e Valsas, onde interpretou ao piano dez valsas clássicas: Quero dizer-te adeus, de Ary Barroso, Como esquecer-te, de Airão Benjamin, Canducha, de Juraci Silveira, Revendo o passado, de Freire Júnior, Flor do mal, de Santos Coelho, Minha vida em tuas mãos, de Luís Bittencourt, Saudade de Iguape, de João B. Nascimento, Tardes de Lindóia, de Zequinha de Abreu e Pinto Martins, Quando sonho contigo, de Orestes Ciuff, e Dores d'alma, de Antônio Bittencourt.

Em 1956, gravou um tributo ao compositor paulista Marcelo Tupinambá no LP Música de Marcelo Tupinambá no qual tocou ao piano os tanguinhos Maricota, sai da chuva, Ai ai, Tristeza de caboclo e Viola cantadera, de Marcelo Tupinambá e Arlindo Leal, os maxixes Fandango e Balaio, de Marcelo Tupinambá e Castelo Neto, o tanguinho Pierrô, de Marcelo Tupinambá e Sotero de Souza, e o tanguinho Bambuí, de Marcelo Tupinambá.

Em 1958, gravou com seu conjunto um tributo a Ernesto Nazareth no LP A música de Ernesto Nazareth para você dançar - Mário de Azevedo e Seu Conjunto com doze obras do compositor carioca a saber: Matuto, Ameno Resedá, Espalhafatoso, Atrevido, Miosótis, Travesso, Nenê, Brejeiro, Escovado, Duvidoso, Bambino, e Mandinga.

Em 1959, gravou um novo tributo a Eduardo Souto no LP Música de Eduardo Souto na interpretação de Mário de Azevedo no qual interpretou as músicas Primavera, Do sorriso das mulheres nasceram as flores, Nuvens, A esperança, Tristeza, A saudade, Meditando, Despertar da montanha, Um beijo ao luar, E a pobre guitarra morreu, O pranto de um fadista, Sugestões de um sorriso, e Amargura, todas de Eduardo Souto. No mesmo ano, gravou o LP Tempos saudosos - Músicas de Ernesto Nazareth e Alfredo Gama - Mário de Azevedo e seu piano.

Em 1960, gravou o LP Subindo ao céu no qual interpretou as valsas Subindo ao céu, de Aristides Borges, Quando penso em ti, da Viúva Guerreiro, Saudade, de Graça Guardia, Supremo mestre, da Viúva Guerreiro, Folhas ao vento, de Milton Amaral, Flutuando, de Aurélio Cavalcanti, Rosa, de Pixinguinha, Só tu não sentes, de J. F. Fonseca Costa, Cascata de lágrimas, de Moacir Braga, Nas asas de um sonho, de C. T. Carvalho, Ao cair da tarde, de Pelagio Valentim, e Quanto dói uma saudade, de Mariana da Silveira.

Gravou mais de vinte discos em 78 rpm pelas gravadoras Continental, Columbia e Odeon e vários LPs pela gravadora Sinter. Foi um grande intérprete de Ernesto Nazareth e Eduardo Souto.


Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; Carioca, de 07/03/1936.

Os três Barbosa

O cantor, o compositor e o engraçado...


Três, — diz um provérbio, — o diabo os fez... Isto, certo, não se aplica as “trincas” que se apresentam no “broadcasting” brasileiro. Quem não sabe, por aí, da existência das três Miranda, — Carmen, Aurora e Cecília? Das três Batistas, que não são irmãs de sangue, mas o são de arte — Dircinha, Linda e Marília? E dos três Barbosa, — Paulo, Luiz e Barbosa Júnior?

Certo, não há um só radiouvinte que não as conheça. A trinca Miranda deixou agora de ser trinca. Passou a quadra, com a incorporação de mais um elemento, Oscar Miranda, irmão das três cantoras, do “broadcasting”, na Rádio Mayrink Veiga. Os três Barbosa, como os Três Reis Magos, continuam, porém, a ser apenas três, embora cada um deles valha por quatro ou cinco.

Dos três Barbosa, o Júnior, paradoxalmente, é primeiro, na ordem com que vieram ao mundo.

— Barbosa Júnior?

— Hein?

— Como vai passando?

— Eu? Bem —... Bem. Depois que fiquei bom, melhorei um pouquinho...

É essa a sua chave de irradiação. Ficou logo popularíssima a sua entrada de programa, o sinal de sua presença no “broadcasting”. O público já sabe que é para rir e ri mesmo, com suas anedotas, seus “sketches”, suas paródias musicais. Barbosa Júnior tem feito teatro e cinema. No teatro, deu-nos um Carlito estupendo, numa peça de Henrique Pongeti. No cinema, pode-se dizer que foi um achado. No rádio, uma descoberta. Barbosa Júnior é engraçado por natureza. Damos aqui o testemunho de sua mamãe:

— O "Tutu” desde pequeno que é engraçado...

"Tutu" é o apelido familiar do mais velho dos três Barbosa, o Júnior...

O segundo é Paulo. Como o apóstolo, sabe ele que Roma não se fez num dia.

Por isso mesmo, vai pouco a pouco construindo sua reputação de compositor. É o homem que nos deu a célebre “Caninha verde”, do Carnaval passado, e que agora nos vai dar as marchas “Carlota”, “Olé, Carmen”, “Sou da folia”, “Casaquinho de tricô”, e outras, algumas das quais já gravadas por Carmen Miranda, José Lemos, Manoel Monteiro e Barbosa Júnior.

O terceiro Barbosa é Luiz, que, de fato, devia ser o júnior, como mais novo que é. Luiz Barbosa é um dos sambistas máximos do Brasil, é o Maurice Chevalier da nossa música popular, homem que elevou o chapéu de palha à categoria de instrumento musical, situando-o entre o tamborim e a cuíca. Nasceu em Macaé, a terra de Washington Luís, e ganhou há pouco, um concurso no Espírito Santo, para inauguração da Rádio Chanaan.

Dos três Barrymore, John, Ethel e Lionel, diz a imprensa americana que formam a “royal family da Broadway”. E os três Barbosa não serão o mesmo, para o nosso meio radiofônico?


Fonte: Carioca, de 04/01/1936.