“Agripina conseguiu em São Paulo o que talvez nenhuma outra cantora de rádio até hoje tenha obtido: ser considerada “hors-concours”. Se se fizesse aqui um torneio entre as artistas de rádio, para saber qual a mais simpática ou qual a voz, ou qual a mais querida, o resultado seria, invariavelmente, o mesmo: Agripina. Esta garota que não tem ainda vinte anos, é, com efeito, a cantora mais popular, mais querida e de melhor voz de São Paulo.
Atestado disto? O pobre empregado dos Correios, que diariamente tem que carregar aquele grande saco cheio de cartas para deixa-lo no estúdio da Record, pode melhor do que eu, ou qualquer outro, afirmar do prestígio da moreninha paulista, cuja tez não deixa nada a desejar comparada à cor destas pequenas que passam dias seguidos na praia de Copacabana em busca de uma coloração que só o Sol lhes pode dar...
No estúdio, Agripina é a “pequena travessa”, cujas mínimas vontades são satisfeitas e os desejos realizados. É uma autêntica rainha dentro do estúdio. Quando passa, temos todos que nos curvar, respeitosamente. Nos dias em que tem programa, o estúdio é quase que invadido por legiões de fãs que desejam conhecer a estrela cuja voz lhes é familiar. São criaturas que surgem de todos os recantos da cidade e que procuram com tal impetuosidade invadir a Record, que não raro se torna necessária uma intervenção policial...
Confesso que Agripina foi para mim uma surpresa. Imaginava-a uma criatura grande, loura, de olhos azuis. Era assim que a minha imaginação, influenciada por historiadores romanos, a tinha criado. Fui apresentado a uma criatura “mignon”, muito morena, de olhos muito pretos e claros, cheia de vivacidade e possuidora de uma simpatia que a minha imaginação não tinha previsto.
-— Tenho três anos de rádio -— começa Agripina. — Sou pois, uma das “veteranas” aqui em São Paulo. Iniciei-me na “Hora Infantil” da Record. Passei em seguida para a Cruzeiro. Creio, porém, que a Record sempre foi a estação da minha preferência, pois não tardei em voltar para cá. E daqui espero não sair tão cedo. Adoro os sambas e as marchas, que são as músicas que canto.
— Foxes?
— Só para dançar e que não sejam muito lentos...
Decididamente, Agripina, garota bem “século XX”, odeia tudo que não se relacione com “records” de velocidade.
— Sobre a sua estreia no cinema?
— De fato, tomei parte, agora, em “Fazendo fita”, do Capellaro. O meu papel é, porém, muito pequeno: canto um samba e aquela canção que já fez sucesso, há alguns anos atrás: “A canção do jornaleiro”.
— Que impressão teve?
— Gostei muito. Se agradar pretendo mesmo continuar. Não abandonarei, porém, em hipótese alguma, o rádio, pelo qual possuo verdadeira adoração.
— Não tem desejo de cantar no Rio?
— Sempre foi o meu ideal. Infelizmente, não pude ainda realizá-lo. Faltou-me uma oportunidade.
— Para que estação carioca gostaria de ir?
— Não conheço bem o ambiente radiofônico do Rio. Creio, porém, que a Tupy, seria a minha eleita, se pudesse escolher. Gosto também das outras e na Mayrink, por exemplo, sentir-me-ia muito feliz. É preciso dizer que o Rio seria apenas um passeio. Não pretendo abandonar definitivamente São Paulo. Seria quase uma ingratidão...
— Que pensa do samba?
— Ao samba só cabe um adjetivo: adorável! Ele é um pedacinho de minha vida. Creio que, aliás, é dos pedaços mais importantes, pois, sem ele, não poderia viver...
— Sobre o rádio paulista?
— Está bastante desenvolvido. Infelizmente, o pessoal é um pouco desunido...
— Ainda se recorda, qual foi a sua maior emoção desde que está no rádio?
Agripina balançou negativamente a cabeça e, retrucou:
— Não. Foram muitas, tantas que não me recordo de nenhuma."
Fonte: CARIOCA, de 04/01/1936.
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