quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Sá e Guarabira


Carioca de Vila Isabel, Luís Carlos (Pereira de) Sá (1945) emergiu na era da bossa nova, em meados dos 60 e foi gravado por Pery Ribeiro (Escadas do Bonfim, Giramundo) e Nara Leão (Menina de Hiroshima, com Chico de Assis).

Classificou Inaiá entre as finalistas do I FIC e no ano seguinte, 1967, atuaria ao lado do futuro parceiro Gutemberg (Nery) Guarabira (Filho) e Sidney Miller na inauguração do teatro Casa Grande no Rio. Este foi o ano de Gut, baiano da cidade de Barra (1947), que a bordo do Grupo Manifesto (Gracinha e Fernando Leporace, Mariozinho Rocha, Guto Graça Melo) ganhou o II FIC com Margarida, derrotando nada menos de três músicas do estreante Milton Nascimento.

Engrenada apenas em 1972, a dupla começou como trio, com a inclusão do tecladista e compositor Zé Rodrix (ex-Momento 4uatro), que sairia em 1973 e só voltaria em 2001. O trio e depois duo, foi responsável por um novo conceito, o rock rural, adaptação nativa muito mais próxima do folk/rock estradeiro que do "country" americano. Mas o sotaque sempre foi brasileiro, embora a Primeira Canção da Estrada, tenha operado como hino da geração "hippie" nativa, incluído no disco de estréia do trio, Passado Presente e Futuro.

No ano seguinte sairia Terra, o último do trio com O Pó da Estrada. A partir de Nunca (1973) com a 2ª Canção da Estrada seriam apenas S&G, também sócios do estúdio Vice-versa com o maestro tropicalista Rogério Duprat.

A habilidade de produzir melodias colantes, refletida nos jingles publicitários do estúdio como o da Pepsi-Cola ("Só tem amor/ quem tem amor pra dar") que chegou a ser lançado em compacto nas lojas, resultou numa profusão de sucessos. De Pirão de Peixe com Pimenta (1977) saltaram Sobradinho e Espanhola. E ao celebrar 10 Anos Juntos (1983) somavam-se ainda Dona, Caçador de mim, Vem queimando a nave louca e Sete Marias.

Sem formar o que seria uma dupla sertaneja apesar do canto a duas vozes, Sá e Guarabira costuraram com acordes inspirados o enredo interiorano (Cheiro mineiro de flor, Roque Santeiro, Me faça um favor) às guitarras urbanas.

Tárik de Souza – ENSAIO - 8/4/1994.

Fonte: SESC SP

Mano Décio da Viola

Mano Décio da Viola (Décio Antônio Carlos), compositor, Juiz de Fora MG 14/7/1909—id. 18/10/1984. Baiano de Santo Amaro da Purificação, mas registrado em Juiz de Fora, foi para o Rio de Janeiro com um ano, e dos seis aos 14 anos morou no morro da Mangueira, saindo nos Carnavais no rancho Príncipe das Matas, organizado por sua família.

Por 1923, com 14 anos, mudou-se para o subúrbio carioca de Madureira, passando a integrar o bloco local Vai Como Pode, que mais tarde se transformaria no G.R.E.S. da Portela. Pouco depois, fugiu de casa, voltando para a Mangueira, e começou a trabalhar como vendedor de jornais no Largo da Carioca.

Nesse tempo, conheceu Manga (Norberto Marçal), passando a morar em sua casa perto da favela do Buraco Quente, local do morro freqüentado por sambistas, onde surgiu alguns anos depois o G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira.

Em 1930, já morando no subúrbio de Ramos, e fazendo parte do G.R.E.S. Recreio de Ramos, fundado por Manga, compôs seu primeiro samba, Vem, meu amor (com Bide e João de Barro), gravado em 1935 por Almirante.

A partir de 1934 voltou a morar em Madureira, transferindo-se então para a escola de samba Prazer da Serrinha, onde foi diretor de samba e ganhou de um velho sambista, o Magro, o apelido de Mano Décio da Viola. Para essa escola, compôs, em 1945, com Silas de Oliveira, o samba-enredo Conferência de São Francisco, um dos primeiros a tratar de assunto histórico.

Em 1947, com um grupo de dissidentes da Prazer da Serrinha, fundou a 23 de março o G.R.E.S. Império Serrano, escola que sairia durante vários anos cantando sambas seus, conseguindo, com eles, ser campeã quatro vezes.

Em 1949, venceu com Tiradentes (com Penteado e Estanislau Silva), samba-enredo considerado um dos clássicos do gênero. Em 1951, classificou-se em primeiro lugar com Batalha naval do Riachuelo (com Penteado e Molequinho). O Império voltou a ganhar em 1955, com Exaltação a Duque de Caxias (com Silas de Oliveira), e em 1960, com Medalhas e brasões (com Silas de Oliveira), samba-enredo que, por problemas diplomáticos com a embaixada do Paraguai, teve sua letra original alterada, dividindo o primeiro lugar com outras quatro escolas.

Além de sambas-enredo, fez, em 1973, o Hino dos portuários do Brasil (com Ernesto M. da Silva), categoria profissional à qual pertenceu. Tocava violão e bandolim e foi autor de inúmeros sambas, como Lá vem ela com uma trouxa de roupa na cabeça, gravado por Raul Marques em 1942; Apoteose ao samba, gravado por Jamelão em 1950; Olelê, olalá, gravado por Adilson Ribeiro em 1973.

Em 1975, aos 66 anos, gravou na Tapecar seu primeiro LP, que incluiu, entre outras, Dona Santa, rainha do maracatu, Obsessão, Mano Décio ponteia a viola e Hora de chorar. Gravou na Philips, em 1976, o LP O lendário Mano Décio da Viola. Em 1978, pela CBS, lançou seu terceiro e último LP, O imperador.

Já afastado da escola, estava preparando o quarto disco, só com músicas de terreiro, quando morreu. Compôs mais de 500 sambas e, com o parceiro Silas de Oliveira, foi um dos pioneiros na composição de sambas-enredos para os desfiles de Carnaval. A Império Serrano desfilou por 19 anos cantando composições suas.

Obras:

Batalha naval do Riachuelo (c/Penteado e Molequinho), samba-enredo, 1951; Conferência de São Francisco (c/Silas de Oliveira), samba-enredo, 1945; Dona Santa, rainha do maracatu, 1975; Exaltação a duque de Caxias (c/Silas de Oliveira), samba-enredo, 1955; Heróis da liberdade (c/Manuel Ferreira e Silas de Oliveira), samba-enredo, 1969; Medalhas e brasões (c/Silas de Oliveira), samba-enredo, 1960; Tiradentes (c/Penteado e Estanislau Silva), samba-enredo, 1949; Viagem encantada (c/Jorginho Pessanha), 1975.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - PubliFolha.

Silas de Oliveira

Silas de Oliveira
Silas de Oliveira (Silas de Oliveira Assunção), compositor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 4/10/1916 e faleceu em 20/5/1972. Nasceu no subúrbio de Madureira, e o pai, José Mário de Assunção, pastor protestante, proibia-o de participar de rodas de samba, o que passou a fazer escondido da família.

O primeiro samba que compôs foi Meu grande amor (com Mano Décio da Viola), depois seu mais constante parceiro, que o levou, em 1934, para a Escola de Samba Prazer da Serrinha, que depois se transformaria no G.R.E.S. Império Serrano. Tocava tamborim na escola de que, mais tarde, se tornou diretor de bateria. O primeiro samba que fez para a escola foi Sagrado amor (com Manula).

Casou-se, em 1940, com Elane dos Santos, prima de João Gradim e Sebastião de Oliveira (Molequinho), que chegaram à presidência da Serrinha. Nessa época, passou também a copiar as letras dos sambas de todos os compositores da escola, corrigindo os erros e distribuindo as cópias para que as pastoras aprendessem a cantá-las.

Para o Carnaval de 1945, fez o samba-enredo Conferência de São Francisco, em parceria com Mano Décio da Viola, com quem fundou, a 23 de março de 1947, Juntamente com Sebastião de Oliveira e outros sambistas, o G.R.E.S. Império Serrano. Aprendeu a tocar tamborão, versão grande do tamborim, com Antônio dos Santos, o mestre Fuleiro, na época diretor de harmonia da Império Serrano e, a partir de 1950 até sua morte, compôs 12 sambas-enredo para sua escola.

Em 1950, a escola foi a primeira colocada no desfile, com seu samba-enredo Sessenta e um anos de República, inspirado em Getúlio Vargas; em 1953, cantando de sua autoria Ilha Fiscal ou Último baile da corte imperial, a Império Serrano colocou-se em segundo lugar; em 1955, novamente a escola obteve a primeira classificação, com o seu Exaltação a duque de Caxias (com Mano Décio da Viola).

Nos Carnavais de rua desse ano e de 1956, teve grande sucesso o seu samba Rádio-patrulha (com Luisinho, J. Dias e Marcelino Ramos), e, outra vez em 1956, seu samba-enredo O caçador de esmeraldas levou a escola a obter o primeiro lugar, conseguindo a segunda classificação, no ano seguinte, com D. João VI ou Brasil império (com Mano Décio da Viola).

Em 1959 morreu sua filha Nanci, com quem gostava de cantar em dueto. Em 1960, seu samba-enredo Medalhas e brasões (com Mano Décio da Viola), dividiu com outros quatro o primeiro lugar. Em 1964 faria novo samba-enredo para a Império Serrano desfilar na avenida, Aquarela brasileira, que obteve o quarto lugar.

Em 1965, com Joaci Santana e outros sambistas, participou do conjunto vocal Samba Autêntico, e, desse ano até 1969, a Império Serrano desfilou todos os anos com sambas seus: em 1965, com Os cinco bailes da corte ou Os cinco bailes tradicionais da história do Rio (com Dona Ivone Lara e Bacalhau), classificou-se em quarto lugar; em 1966, com Exaltação à Bahia ou Glória e graças da Bahia (com Joaci Santana), mereceu o terceiro lugar; em 1967, com São Paulo, chapadão da glória (com Joaci Santana), colocou-se em segundo lugar; em 1968, com Pernambuco, leão do Norte, obteve a segunda classificação; e, em 1969, desfilou cantando Heróis da liberdade (com Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira), samba-enredo gravado por Elza Soares.

Em 1968, participou da peça Dr. Getúlio, sua vida e glória, de Ferreira Gullar e Dias Gomes, para a qual compôs o samba Legado de Getúlio Vargas (com Walter Rosa), levada no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre RS, sob direção de José Renato.

Morreu depois de apresentar dois dos seus mais famosos sambas enredo numa roda de samba promovida pelo compositor Mauro Duarte, no Clube ASA, em Botafogo. Seu corpo foi velado na Associação das Escolas de Samba: durante o enterro, foi cantado, por sugestão de Natalino José do Nascimento (o Natal da Portela), presidente de honra da Portela, seu samba Heróis da liberdade, que desde então passou a ser cantado em enterros de sambistas.

Obra completa:

Alô, alô, taí Carmen Miranda (c/Jorge Lucas), samba-enredo, 1972; Amor aventureiro (c/Mano Décio da Viola), samba, 1975; Apoteose ao samba (c/Mano Décio da Viola), samba, 1974; Aquarela brasileira, samba-enredo, 1964; Berço do samba (c/Edgar Cardoso Barbosa), samba, 1969; O caçador de esmeraldas, samba, 1956; A carta de Getúlio (c/Marcelino Ramos), samba, 1955; Os cinco bailes da corte ou Os cinco bailes tradicionais da história do Rio (c/Ivone Lara e Bacalhau), samba, 1965; Conferência de São Francisco (c/Mano Décio da Viola), samba-enredo, 1945; Desprezado (c/Dilson Carlos), samba, 1957; D. João VI ou Brasil império (c/Mano Décio da Viola), samba-enredo, 1957; Encontrei, samba, s.d.; Estou gamado, samba, s.d.; Exaltação á Bahia ou Glória e graças da Bahia (c/Joaci Santana), samba-enredo, 1966; Exaltação a duque de Caxias (c/Mano Décio da Viola), samba- enredo, 1955; Fica, samba, s.d.; Heróis da liberdade (c/Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira), samba- enredo, 1969; Ilha Fiscal ou Último baile da corte imperial, samba-enredo, 1953; Império tocou reunir (c/Mano Décio da Viola), samba, 1962; Legado de Getúlio Vargas (c/Walter Rosa), samba, 1968; A lei do morro (c/Antônio dos Santos), 1959; Me leva em teus braços, samba, s.d.; Medalhas e brasões (c/Mano Décio da Viola), samba-enredo, 1960; Meu drama (c/J. Ilarindo), samba, 1967; Meu grande amor (c/Mano Décio da Viola), samba, 1955; Na água do rio, partido-alto, 1970; Pernambuco, leão do Norte, samba-enredo, 1968; Rádio-patrulha (c/Luisinho, J. Dias e Marcelino Ramos), samba, 1956; Sagrado amor (c/Manula), samba, s.d.; São Paulo, chapadão da glória (c/Joaci Santana), samba- enredo, 1967; Segura a conversa (c/Mano Décio da Viola), samba, 1962; Sem perdão (c/Manula), samba, s.d.; Senhora tentação (c/Jorginho Pessanha), samba, 1955; Sessenta e um anos de República, samba-enredo, 1950; Tristeza no Carnaval, samba, 1963.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - PubliFolha