terça-feira, fevereiro 20, 2018

Roupa Nova - Biografia

Roupa Nova - Grupo carioca especializado em pop-rock comercial e sofisticado; além de seus próprios discos, o grupo também fez o acompanhamento em gravações pop-rock de Gal Costa, Zizi Possi, Milton Nascimento e outros.


Seus integrantes iniciais eram Cleberson Horsth Vieira de Gouveia (Manhumirim MG 1950—), nos teclados e vocal; Nando (Luís Fernando Oliveira da Silva, Rio de Janeiro RJ 1953—), no contrabaixo; Kiko (Eurico Pereira da Silva Filho, Rio de Janeiro 1952—), na guitarra; e Paulinho (Paulo César dos Santos, Rio de Janeiro 1952—), no vocal e percussão, aos quais se uniram, em 1975, Ricardo Georges Feghali (Belo Horizonte MG 1955—), nos teclados, e Serginho (Sérgio Herval Holanda de Lima, Rio de Janeiro 1958—), na bateria.

Formados em 1970 no Rio de Janeiro com o nome Os Famks, gravaram um compacto pela etiqueta Imagem com Hoje ainda é dia de rock (Zé Rodrix), compactos na Polydor e dois LPs na Continental, além de gravar outros LPs nesta mesma gravadora com o nome Os Motokas.

Contratados pela Polygram em 1980, adotaram o nome Roupa Nova por sugestão de Mariozinho Rocha, produtor dos discos do grupo. Milton Nascimento compôs (com Fernando Brant) uma canção com esse nome, gravada pelo conjunto ainda em 1980.

Mudaram-se para a RCA em 1986 e para a Continental em 1997. Seus sucessos incluem Canção de verão (Luís Guedes e Thomas Roth, 1981), Sapato velho (Mu, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós, 1981), Anjo (Dalto, Renato Correia e Cláudio Rabelo, 1983), Whisky a go go (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1985) e Coração pirata (Aldir Blanc e Nando, 1990).

CDs: O melhor de Roupa Nova, 1989, Polygram 830792-2; Novela hits, 1995, BMG 7432133665-2. (Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; foto: site oficial do grupo).

Veja também:

Roupa Nova - Letras, cifras e gravações


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Roupa Nova - Letras, cifras e músicas


Roupa Nova - Algumas músicas




































Irmãs Pagãs - Biografia

Irmãs Pagãs - Revista Carioca - Edição de 25/07/1936.

Irmãs Pagãs - Dupla vocal formada pelas irmãs Rosina Pagã (Rosina Cozzolino), Itararé, SP - 1919 e Elvira Pagã (Elvira Cozzolino) Itararé, SP - 1920 - Rio de Janeiro, RJ - 8/5/2003.


As irmãs Cozzolino ainda na infância transferiram-se com a família para o Rio de Janeiro, onde passaram a estudar no colégio Imaculada Conceição, situado em Botafogo. Organizavam e participavam de muitas festas e, por intermédio de integrantes do Bando da Lua, passaram a conhecer alguns artistas da época.

Em 1935, apresentaram-se com os Anjos do Inferno na inauguração do Cine Ipanema, ocasião em que foram apresentadas por Heitor Beltrão como as Irmãs Pagãs. Foram levadas para a Rádio Mayrink Veiga pelo radialista César Ladeira, fazendo grande sucesso na década de 1930.

Em seu primeiro disco na Odeon, gravaram as marchas Não foi assim, de Antenógenes Silva e Osvaldo Santiago, e O carnaval é rei, também de Antenógenes em parceria com Ernâni Campos. Nesse mesmo ano, mais dois discos, dos quais se destaca a marcha Não beba tanto assim, de Geraldo Décourt, apresentada pela dupla no filme Alô, alô, carnaval, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro.

Em 1936, participaram do filme Cidade mulher, de Humberto Porto, onde apresentaram a música título (de Noel Rosa), cantando com Orlando Silva. Em 1937, gravaram sambas de Assis Valente, dentre os quais Se você me deixar, Oba oba, Tristeza e O samba acabou. Foram contratadas pela Rádio Nacional e, neste período, excursionaram por quatro meses pela Argentina, Peru e Chile.

Em 1938, passaram a gravar na Columbia, destacando-se o grande sucesso carnavalesco Eu não te dou a chupeta, de Silvino Neto e Plínio Bretas. Dentre os êxitos da dupla estão os sambas Nobreza, de Assis Valente, e a marcha Água mole em pedra dura, de Sátiro de Melo e Manuel Moreira, sucesso de 1940.

Com o casamento de Elvira, a dupla chegou ao fim, deixando um total de 13 discos gravados. Rosina seguiu carreira solo, tendo gravado mais 11 discos até 1946, entre eles a versão Chiu... chiu... (N. Molinari e Oswaldo Santiago) e participado de vários filmes como atriz. Ainda nesse ano, seguiu turnê em Cuba, EUA e México, cidade onde se casou e passou a residir.

Elvira Pagã seguiu carreira como estrela do teatro de revista, tendo gravado mais de dez discos entre os anos de 1944 e 1953, tendo destque o samba Na feira do cais dourado (Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro). Alcançou grande notoriedade, sobretudo por sua atuação como vedete, sendo considerada uma das mais belas mulheres de sua época - os anos 40, 50 e até começo dos 60.

A partir dos anos 70, Elvira começou a pintar, passando logo depois a realizar temas esotéricos em seus trabalhos. Em meados dos anos 1990, demonstrando grande instabilidade de comportamento, ao alterar momentos de euforia com rasgos de ira, recusou-se terminantemente a fazer depoimento para o Museu da Inglaterra. Em 1979 Elvira Pagã foi homenageada com um rock da cantora Rita Lee.




Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Rosina Pagã - Biografia

Rosina Pagã (Rosina Cozzolino), cantora, nasceu em Itararé/SP em 1919. Irmã da também cantora Elvira Pagã com quem formou na década de 1930 o duo vocal Irmãs Pagãs. As irmãs Cozzolino ainda na infância transferiram-se com a família para o Rio de Janeiro, onde passaram a estudar no colégio Imaculada Conceição, situado em Botafogo.

Realizava com sua irmã inúmeras festas das quais participavam inúmeros artistas entre os quais os integrantes do Bando da Lua. Em 1935 cantaram com os Anjos do Inferno na inauguração do Cine Ipanema, sendo apresentadas por Heitor Beltrão como as Irmãs Pagãs.

Atuaram na Rádio Mayrink Veiga. Em 1935, participaram do filme Alô, alô, carnaval, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro. Em 1936, no filme Cidade mulher, de Humberto Porto, onde apresentaram a música título (de Noel Rosa), cantando com Orlando Silva.

Em 1937, gravaram sambas de Assis Valente, dentre os quais Se você me deixar, Oba oba, Tristeza e O samba acabou. Foram contratadas pela Rádio Nacional e, neste período, excursionaram por quatro meses pela Argentina, Peru e Chile.

Em 1938, passaram a gravar na Columbia, destacando-se o grande sucesso carnavalesco Eu não te dou a chupeta, de Silvino Neto e Plínio Bretas. Dentre os êxitos da dupla estão os sambas Nobreza, de Assis Valente, e a marcha Água mole em pedra dura, de Sátiro de Melo e Manuel Moreira, sucesso de 1940.

Com o casamento de Elvira, a dupla chegou ao fim, deixando 13 discos gravados. Rosina seguiu carreira solo, tendo gravado mais 11 discos até 1946, entre eles a versão Chiu... chiu... (N. Molinari e O. Santiago) e participado de vários filmes como atriz. Ainda nesse ano, seguiu turnê em Cuba, EUA e México, cidade onde se casou e passou a residir.


Discografia

1941 Volta Horácio/Abana, baiana • Victor • 78
1941 Tabuleiro da ilusão/Oh! Juca • Columbia • 78
1941 Tem queme dar, me dá logo/As aparências enganam • Columbia • 78
1941 Firin-fin, fon-fon/Vai dormir, criança • Odeon • 78
1941 La canga/Pobreza não é defeito • Odeon • 78
1942 Desculpa de ocasião/Caroá • Odeon • 78
1942 Coco dendê/Gasparino • Odeon • 78
1943 Oh quitandeira!/Encontrei um amor • Odeon • 78
1944 Chiu...chiu.../Meu coração me diz • Continental • 78
1946 A volta de Suzana/Maria • Continental • 78


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Elvira Pagã - Biografia


Elvira Pagã (Elvira Cozzolino), cantora, atriz, vedete e compositora, nasceu em Itararé/SP em 6/9/1920 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 8/5/2003. Sua família mudou para o Rio de Janeiro quando ela ainda era criança. Estudou com a irmã, Rosina Pagã, no colégio Imaculada Conceição em Botafogo.


As Irmãs Pagãs

Realizava com sua irmã inúmeras festas das quais participavam inúmeros artistas entre os quais os integrantes do Bando da Lua. Em 1935 cantaram com os Anjos do Inferno na inauguração do Cine Ipanema, sendo apresentadas por Heitor Beltrão como as Irmãs Pagãs.

Atuaram na Rádio Mayrink Veiga. Ao todo Elvira gravou 13 discos com a irmã. Em 1935, atuaram no filme Alô, alô, carnaval, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro. Em 1936, no filme Cidade mulher, de Humberto Porto, onde apresentaram a música título (de Noel Rosa), cantando com Orlando Silva. Ainda com a irmã, excursionou por quatro meses pela Argentina, Peru e Chile. Em 1940, casou-se e encerrou a dupla com a irmã.

A cantora e compositora

Em 1944, gravou seu primeiro disco solo, pela Continental, com acompanhamento do Conjunto Tocantins, interpretando os sambas Arrastando o pé, de Peterpan e Afonso Teixeira e Samburá, de Valfrido Silva e Gadé. No ano seguinte, gravou um disco com quatro músicas, fato raro na época, com as marchas E o mundo se distrai e Meu amor és tu, de Amado Régis, Gadé e Almanir Grego e Cabelo azul e Briga de peru, de Roberto Martins e Herivelto Martins. No mesmo ano, gravou os sambas Na feira do cais dourado, de Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro e Um ranchinho na lua, de Babi de Oliveira com acompanhamento de Claudionor Cruz e seu regional.

Em 1949, transferiu-se para o selo Star e estreou com a Marcha do ré e o samba Sangue e areia, da dupla Sebastião Gomes e Nelson Teixeira com acompanhamento de Sílvio César e sua orquestra. Em 1950, gravou o samba jongo Batuca daqui, batuca de lá, primeira composição de sua autoria, parceria com Antônio Valentim. No mesmo ano, gravou os baiões Vamos pescar, de sua parceria com Antônio Valentim e Sururu de capote, de Ramiro Guará e José Cunha com acompanhamento do Quarteto Copacabana com Abel Ferreira no clarinete.

Em 1951, gravou mais duas composições de sua autoria, o baião Saudade que vive em mim, parceria com Antônio Valentim e o samba Cassetete, não! com acompanhamento do Conjunto Star. No mesmo ano, gravou no selo Carnaval a marcha A rainha da mata, de sua parceria com Antônio Valentim e a batucada Pau rolou, de Sátiro de Melo e Manoel Moreira.

Em 1953, foi para a gravadora Todamérica e lançou os sambas Reticências, de sua autoria e Sou feliz, parceria com M. Zamorano. Gravou ainda pelo selo Marajoara o samba Vela acesa, de sua autoria, Antônio Valentim e Orlando Gazzaneo e a marcha Viva los toros, parceria com Orlando Gazzaneo. Seu último disco foi pelo pequeno selo Ritmos onde registrou a marcha Marreta o bombo e o samba Condenada, de sua autoria.

O mito sexual

Seguiu carreira como vedete em teatros de revista na década de 50, tornand0-se um dos mitos sexuais do Rio de Janeiro. Foi das primeiras brasileiras a explorar o impacto do nudismo, nos anos 50 e 60, disputando com Luz del Fuego o espaço nos noticiários da época.

Com seu corpo perfeito para os padrões da época, Elvira Pagã mexeu com a cidade, promoveu Copacabana internacionalmente e foi a primeira Rainha do Carnaval Carioca. Elvira Olivieri Cozzolino expunha o corpo e idéias bastante avançadas para os anos 50 e veio a ser a primeira mulher a usar biquíni no Brasil.

Era uma figura muito divertida, como se pode ver ainda hoje nas chanchadas de que ela participou, algumas bem conhecidas como Carnaval no fogo, e, principalmente, ousadíssima pra época. Um dia, na praia de Copacabana, ela rasgou o maiô (pelo que consta, feito de um tecido de penugem dourada) e o adaptou ao modelo de duas peças, que só se usava no teatro rebolado, chegando a ficar conhecida fora do Brasil por causa disso.

Excursionando por todo o Brasil e conhecida no exterior como The Original Bikini Girl e The Brazilian Buzz Bomb, Elvira não desistia de afrontar a moral, provocando verdadeiras enchentes nos cabarés e teatros de rebolado. Depois de operar os seios, posou nua e distribuiu a fotografia como cartão de Natal, reafirmando-se como sinônimo de escândalo, atentado ao pudor, imoralidade.

Por seus atributos físicos e audácia provocou incontáveis e devastadoras paixões, confessando numa de suas últimas entrevistas: “Foi uma orgia só”. O perigoso bandido Carne Seca forrou a sua cela com fotos dela, e numa em que a vedete encosta-se numa pele de onça, lia-se a dedicatória: “Para Carne Seca, um consolo de Elvira Pagã”. Desesperado, o marginal tentou fugir da prisão inúmeras vezes.

Nos anos 60 ela se recolheu, como faria Odete Lara na década seguinte. Saiu da vida artística e da vida social. Dizia não precisar de amantes e se intitulava sacerdotisa, ligada a discos voadores e à Atlântida, criando uma seita, Doutrina da Verdade. Elvira faleceu aos 80 anos, em 8 de maio de 2003. Rita Lee fez, com Roberto de Carvalho, uma canção chamada Elvira Pagã:

Elvira Pagã
De: Rita Lee e Roberto de Carvalho
A
Todos os homens desse nosso planeta
D
Pensam que mulher é tal e qual um capeta
F                   E    D#        D
Conta a história que Eva inventou a maçã
A
Moça bonita, só de boca fechada,
D
Menina feia, um travesseiro na cara,
F                G       G#      A
Dona de casa só é bom no café da manhã

Então eu digo:
F#m    D     G          G#      A
Santa, santa, só a minha mãe (e olhe lá)
F#m     D
É canja-canja,
B7                E            (D E)
O resto põe na sopa pra temperar!
A
Dama da noite não dá pra confiar,
D
Cinderela quer um sapatão pra calçar,
F                E          D#    D
Noiva neurótica sonha com o noivo galã (um lixo!)
A
Amiga do peito fala mal pelas costas,
D
Namorada sempre dá a mesma resposta
F                    G         G#    A
Foi-se o tempo em que nua era Elvira Pagã

Então eu digo:
F#m    D     G          G#      A
Santa, santa, só a minha mãe (e olhe lá)
F#m     D
É canja-canja,
B7                E            (D E)
O resto põe na sopa pra temperar!


Fontes: Cine TV Brasil - Elvira Pagã; Dicionário Cravo Albin da MPB.

Dante Santoro - Biografia

Dante Santoro, instrumentista e compositor, nasceu em Porto Alegre/RS em 18/6/1904 faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 12/8/1969. Foi para o Rio de Janeiro em 1919, onde mais tarde ingressou na Rádio Educadora, passando depois para a Vera Cruz e finalmente para a Nacional, como líder e flautista do Regional de Dante Santoro, trabalhando nessa emissora durante 33 anos, 30 dos quais à frente do Regional.

Inicialmente o conjunto era formado por ele (flauta), Carlos Lentine (violão), Valdemar (cavaquinho), Joca (pandeiro), mais tarde substituído por Jorginho (Jorge José da Silva), Norival Guimarães, Rubens Bergman, Valzinho (violões). Posteriormente o regional sofreu modificações, com a saida de Rubens Bergman e o ingresso de César Moreno e César Faria (violões).

Gravou seu primeiro disco como solista em 1934, um 78 rpm, pela Victor, com as valsas de Otávio Dutra Saudades do Jango e Beatriz. Nessa primeira gravação, foi acompanhado por Luperce Miranda, no bandolim, Tute e Manuel Lima, ao violão. Lançou, em julho do ano seguinte, sua primeira gravação como compositor, Betinho, choro por ele mesmo interpretado na flauta.

Seus maiores sucessos foram Lágrimas de rosa (com Kid Pepe), gravado na Victor por Orlando Silva em 1937, a valsa- canção Olhos magos (com Godofredo Santoro), lançada por Orlando Silva, na Odeon, em 1943, e a valsa Vidas mal traçadas (com Cila Gusmão), gravada na Odeon por Francisco Alves, em 1948, que serviu de tema para uma novela de Ghiaroni. Usava também do anagrama pseudônimo Etnad em algumas composições.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Vidas mal traçadas - Francisco Alves

Francisco Alves
Vidas mal traçadas (valsa, 1948) - Dante Santoro e Cila Gusmão

Disco 78 rpm / Título da música: Vidas mal traçadas / Autoria: Santoro, Dante (Compositor) / Gusmão, Sila (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Panicali, Lírio (Acompanhante) / Orquestra Odeon (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1948 / Nº Álbum 12881 / Gênero musical: Valsa


Sim, eu sei porque fugi dos braços teus
E não pude escravizar a minha sorte
Ninguém sabe além de Deus
Que meu destino ingrato
Me negou o direito de te adorar
Tens tudo que eu não pude te ofertar

Tens riqueza e mocidade eu bem sei
Mas não tens no coração
Qualquer recordação,
Dos beijos que te dei
Odeias sem saber
Que por te querer
Os sonhos meus crucifiquei
E nunca te direi
Se o arrependimento, feriu meu coração

Dois anos se passaram
De tristeza e dor
E sem queixumes eu sofri
Sinto saudades de um amor,
Que tive em minhas mãos e perdi.

Tens tudo que eu não pude te ofertar,
Tens riqueza e mocidade eu bem sei,
Mas não tens no coração,
Qualquer recordação,
Dos beijos que te dei....

Lágrimas de rosa - Orlando Silva

Orlando Silva
Lágrimas de rosa (valsa-canção, 1937) - Dante Santoro e Kid Pepe

Disco 78 rpm / Título da música: Lágrimas de rosa / Autoria: Santoro, Dante (Compositor) / Pepe, Kid (Compositor) / Orlando Silva (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 09/07/1937 / Nº Álbum 34213 / Lado B / Lançamento: Outubro/1937 / Gênero musical: Valsa


Sim eu sofro e ninguém sabe
Esta dor que já não cabe
Dentro em meu coração
Na sua inquietação
Por saber que alguém
Já sofreu também
Com resignação.

E as lágrimas que eu choro
Na dor em que me deploro
São lágrimas sem fim
Que brotaram dentro de mim
Ao ver despetalar-se num lacrimário divino
Aquela flor que era o meu destino.


Não... Jamais a minha vida
Se sentirá florida
Sob o perfume de outras falsas flores
Que possam vir
Pois a ilusão das flores
Jamais me fará sorrir
Cada pétala caída
É um pedaço de vida
Que sinto me fugir do coração

E assim
Verei meu triste fim
Sob o perfume da recordação
Daquela flor
Que foi meu santo amor

A Festa da Penha

A Festa da Penha em 1912: Em primeiro plano, de pé, da esquerda para a direita, João Pernambuco, de chapéu branco, segurando o violão, Patrício Teixeira, de terno branco, Pixinguinha, com a flauta, e Caninha, com o cavaquinho. Na foto só faltou o Sinhô...


O grande polo agregador dos sambistas era a Festa da Penha, organizada no Rio de Janeiro pela comunidade portuguesa para comemorar o dia da Natividade de Nossa Senhora, no fim do século XVIII e que acabou apropriada pelos baianos e sambistas cariocas.


Mantinha seu caráter religioso, com missas e pagamentos de promessas católicos, mas aos poucos cerimônias do candomblé foram sendo introduzidas e os sambistas faziam das barracas das “tias” baianas seus pontos de encontro. Ali, comiam bem, ouviam o canto das mulheres que cozinhavam, e os malandros jogavam capoeira, armavam suas rodas de samba em meio a generosas doses de aguardente. O que levantava a temperatura e, muitas vezes, acabava em conflito, com intervenção violenta da polícia, sempre à procura de motivo para reprimir samba e sambistas.

Com o tempo, músicos e grupos profissionais passam a freqüentar a Festa, e concursos musicais com prêmios são organizados. Os fins de semana de outubro são quase tão animados quanto o Carnaval e tornam-se uma prévia dele, pois na Penha os compositores lançavam seus novos trabalhos, numa espécie de vitrine, para o grande festejo de fevereiro.

Tia Ciata era uma das mais famosas freqüentadoras da Festa, onde armou sua barraca até morrer em 1924. O final da década de 20 marcou os últimos anos de prestígio do grande evento musical, um dos principais do início do século.

José Luiz de Moraes, o Caninha, compositor conhecido no começo do século, era um dos que frequëntava a Festa da Penha e lançava aí suas novas criações. Em 1922, disputando com Sinhô (que inscrevera Não É Assim), ganha o concurso com Me Sinto Mal, que ele chamava de “marcha ragtime” e que já na época garantia: “Quando chega o Carnaval/Ninguém lembra da carestia/Vamos todos para a Avenida/Caímos na folia”. Sinhô, o Rei do Samba, que não admitia derrotas, saiu furioso. O júri precisou de proteção policial.

“Naquele tempo não tinha rádio, a gente ia lançar música na Festa da Penha, a gente ficava tranqüilo quando a música era divulgada lá, que aí estava bem, que era o grande centro. Eu fiquei conhecido a partir da Festa da Penha.” (Heitor dos Prazeres).

Um samba que faz referencia ao evento denomina-se Festa da Penha, criado entre 1937 e 1940 e gravado pela primeira vez em 1958. Esse samba de Cartola e Asobert fala da famosa festa realizada no Rio de Janeiro, onde o devoto busca um terno para ir à festa fazer suas orações e pedidos:

“Uma camisa e um terno usado / Alguém me empresta /
Hoje é domingo / E eu preciso ir à festa / Não brincarei /
Quero fazer uma oração / Pedir à santa padroeira proteção
Levarei dinheiro para comprar / Velas de cera /
Quero levar flores / Para a santa padroeira / Só não subirei /
A escadaria ajoelhado / Pra não estragar / O terno que tenho emprestado”.


Fonte: História do Samba - Editora Globo.

A Festa da Penha - Melo Moraes Filho


"Na obscuridade mais densa os tempos coloniais aninha-se a fundação da primitiva ermida de Nossa Senhora da Penha, que, da altura de seus trezentos e sessenta e cinco degraus, talhados no granito, dominava parte da baía do Rio de Janeiro, da cidade e dos subúrbios.



Posteriormente reedificada, mas não fundada, como pretendem alguns cronistas, pelo padre Miguel de Araújo, esse templo tem passado por modificações diversas, sendo todavia respeitados os símbolos religiosos, que nos permitem corrigir a história cotejando a lenda.

Por menos indagador que seja o peregrino ou devoto que transpuser o limiar daquela igreja, há de forçosamente, erguendo o olhar ao altar-mor, impressionar-se à vista de uma grande cobra e de um lagarto esculpidos, que, acima do nicho da excelsa padroeira, destacam-se no muro alvo da capela, com um colorido de bronze e um relevo natural.

E isso nos aconteceu, o que conduziu-nos a pesquisas diretas, interrogando a antigos habitantes do lugar sobre aquela estranha reprodução da arte. O mais velho dentre eles, por antonomásia João Cangulo, homem de oitenta anos presumíveis, ali nascido e criado, referiu-nos o que de seus pais ouviu a respeito, prestando apoio às suas palavras não só um negro de barbas e cabelos brancos com quem estava, porém outras pessoas da redondeza.

E assim recolhemos da tradição oral a lenda da fundação da ermida de Nossa Senhora da Penha, que se resume numa história simples e selvagem, de perfeito acordo com o cenário bárbaro que nos cercava e com os animais bizarros que figurou o artista.

Eis a lenda:Em tempos que lá vão distantes, ousado caçador que batia aquelas matas, em busca de caça, foi surpreendido por uma cobra gigantesca, que, roncando feroz e desenrolando-se no espaço, ameaçava devorá-lo; tomado de espanto, lívido de terror, arrepiam-se-lhe os cabelos, suor viscoso poreja-lhe à fronte, a arma lhe cai, e ele, dobrando o joelho na terra, erguendo as mãos súplices ao céu, exclama num brado saído d’alma:- Valha-me, Nossa Senhora da Penha!

No mesmo instante um lagarto indolente, que aquecia ao sol a cabeça chata, salta de uma pedra, e açoutando com a cauda de ferro o réptil medonho, o afugenta, deixando livre do perigo o infeliz para quem a morte seria inevitável.

Desperto como de um pesadelo, reconhecendo que fora salvo por estupendo milagre, o caçador erigiu na crista do rochedo a ermida votiva de Nossa Senhora da Penha, vindo todos os anos em contrita romaria oferecer à sagrada imagem o tributo de suas dádivas e o eco de seus louvores.

Nas romarias da Penha o elemento predominante foi sempre o português. Desde o período colonial até hoje, a tradição tem sido mantida como uma recordação das festas congêneres da antiga metrópole, notando-se porém que os foliões aqui eram na generalidade filhos do continente.

A essas peregrinações anuais concorria apenas uma certa classe de portugueses incultos, de homens e mulheres destinados a trabalhos rudes, o que não impedia de ser a festa popular da mais útil e opulenta das nossas colônias.

Os brasileiros da localidade ou de pontos mais afastados associavam-se em parte aos folguedos, contribuíam para o culto, formando-se muitas vezes grupos em separado no arraial – já de portugueses entre si, já de nacionais.

O que cumpre acentuar é que a iniciativa, o aparato, o entusiasmo, a verdadeira característica (e por isso tem durado), não nos pertenciam. A romaria da Penha era estrepitosa e alegre. Basta especificar a classe que fornecia os romeiros do primeiro plano para compreender-se que as profanações e os desvios não marcavam as intenções religiosas, que ficavam intactas.

A festa e a peregrinação tinham seus preâmbulos, seus comemorativos, dando margem a estabelecerem-se semelhanças com as nossas ou palpitantes diferenciações. Com os repiques das novenas anunciavam-se os preparativos.

Antes mesmo, viam-se pelo mato lenhadores que, por mando dos festeiros, cortavam longas varas, despiam-lhes as folhas, aparelhavam para o fabrico das tendas e barracas, paus de bandeira e galhardetes, habituais aos festejos.

De nove dias com antecedência, porém, era que tudo se dispunha, se aprontava com a urgência precisa e o capricho reclamado pela pomposa romaria, cuja fama tradicional aumentava-lhe a influência. Como por encanto o pitoresco arraial transformava-se; o garrido templo enfeitava-se com esplendor; era lavado em toda a sua extensão para realizarem-se promessas; e as casas dos romeiros, à esquerda da escadaria de pedra, começavam a receber trastes e objetos dos alugadores múltiplos, que obtinham as chaves por valiosos empenhos.

Na sacristia da formosa igreja o sacristão andava numa roda viva. Corria daqui para acolá, já atendendo aos portadores de promessas, já colocando em seus devidos lugares os milagres de cera, de ouro e de prata, as velas e painéis votivos que a gente da redondeza trazia nas vésperas do dia solene.

No arraial, de sol a sol, trabalhava-se sem tréguas, sem descanso. As barracas de comidas e bebidas como que brotavam da terra, surgiam umas após outras, debaixo das copadas mangueiras do terreiro e ao longo da estrada. Adornadas de bambinelas cobertas de aniagem, enfeitadas de folhas verdes, do teto balançavam escolhidas amostras dos gêneros em que negociavam, estendendo-se ao alto da estrada vistosos dísticos, que serviam de reclame ao povo miúdo.

De vez em quando, um molecote ou um preto velho, guiando um carro-de-bois, crescia na estrada, vindo trazer às barracas vinhos e comestíveis, magníficas frutas, ocupando o lugar de honra as saborosas melancias, abundantíssimas na localidade. Bandeiras troféus, galhardetes, escudos de papelão pintado, porta-girândolas, arandelas e copinhos de cores contornando as árvores, era o que se via com profusão pasmosa, dando ao espetáculo um aspecto magnífico e sem igual nas demais festas.

À missa do domingo que precedia a romaria, homens, mulheres e crianças, cheios de fé, subiam de joelhos a escada estreita aspérrima da Penha, cumprindo sagrados votos feitos à miraculosa Virgem nas horas aflitas da moléstia, do perigo e do infortúnio.

Era belo ver-se a piedade daqueles tempos; comovia até às lágrimas aquela procissão de escravos e senhores, de deformados e infelizes, cada um com sua oferenda, povoando por longos dias os degraus de pedra que conduziam à casa de Deus, indo render graças à Senhora da Penha, porque lhes trouxera a serenidade nos sofrimentos e o remédio a seus males.

Eram tantos os que deixavam uma lembrança palpável de seu extraordinário poder!... Quantos quadros representando curas milagrosas, navios escapos ao naufrágio e centenas de outros prodígios lá estão para atestar que a ciência humana não vale uma sombra de confiança na misericórdia divina!...A igreja conservava-se aberta dias inteiros, ao passo que outros preparativos para a romaria executavam-se na cidade e nas povoações circunvizinhas ou remotas.

Unido ao espírito altamente religioso, o elemento popular estava em cena do modo mais franco e significativo. Em Inhaúma, na Pavuna, em Irajá, em Meriti, em Campo Grande, na Ilha do Governador, etc., os fazendeiros e suas famílias, os pequenos lavradores e os escravos suspiravam pela função.

Os pescadores amarravam à praia as suas canoas e faluas; os lanchões e os barcos a vapor achavam-se designados e os lindos cavalos de sela, ferrados e tratados, aguardavam o momento da viagem à Penha.

Com uma abóbada de esteiras novas os carros-de-bois descansavam nos terreiros o varal e a canga; e os moleques e meninos brincavam ensaiando-se para a jornada. Na cidade, as vilas e cortiços andavam numa dobadoura. As Marias e os Manéis esqueciam-se das tinas de roupa e das carroças, tirando das arcas as arrecadas de ouro, que escovavam, e os uniformes brancos, que estendiam sobre cadeiras ou penduravam nas cordas para arejar.

Desde à véspera o movimento local fazia-se notar. Chegavam à Penha famílias da roça, as casas dos romeiros estavam repletas, os foguetes estouravam de instante a instante, e à noite a igrejinha embandeirada, iluminados a fachada e o gradil do mirante circular, avultava à léguas, refletindo na calva da rocha borboletas de luz, pousadas ou alígeras.

No almejado dia, logo ao amanhecer, em Maria Angu e Fazenda Grande, especialmente, desembarcavam inúmeras pessoas da cidade, turbilhões de roceiros tafulos, gente enfim para assistir à festa, trazer promessas, divertir-se. Da varanda aérea do templo o mais belo panorama desdobrava-se às vistas do espectador maravilhado, pois a variedade das cenas não tinha termo, cada qual mais original e interessante.

No mar as canoas e embarcações ligeiras desfloravam garbosas as ondas tranqüilas; os remos espelhavam ao sol rompendo d’água; os vivas e a foguetaria feriam o éter sonoro de cantigas; e os lenços brancos agitavam-se de uma para outra banda, ao alarido dos romeiros que saltavam em terra.

Nas estradas de rodagem, na rede dos caminhos, carros-de-bois rangiam, conduzindo famílias; lustrosas cavalgadas trotavam largo; caminheiros sem conta marchavam fatigados suarentos e empoeirados.No Pedregulho e nas ruas mais próximas à passagem obrigada aos sítios da Penha, só se viam espectadores atentos ao desfilar dos romeiros, especialmente da portuguesada festiva que seguia da corte em carruagens enfeitadas, em carroções e andorinhas tiradas a duas parelhas, em cavalos magros e de aluguel.

- Viva a Penha!...Viva a Penha!...Eram as vozes que enchiam desde às nove horas as ruas da cidade, ao desconcerto de uma música importuna e continuada, ou à cadência de rabecas, violas e pandeiros acompanhando trovas populares.

Nisso aparecia uma andorinha a galope, guarnecida de apanhados de fazenda de cores, verdejante de folhagens, com os animais enfeitados de rosas de pano na cabeçada, conduzindo foliões de ambos os sexos, vestidos de branco, de chapéu de palha desabado e flamejante de fitas.

Os rapazes ostentavam a tiracolo enorme e pesado chifre chapeado de prata e cheio de vinho; no braço enfeitavam as clássicas roscas da romagem, secundados pelas rechonchudas e afogueadas Marias Rosas, que, adiantando-se, pendidas para fora, arrebatadas pela velocidade e juntando as mãos à boca, gritavam: - Viva a Penha!

E os foliões, de pé, agitando os braços, crescendo de todo o corpo, respondiam no mesmo diapasão: - Viva a Penha!Mais de espaço, um, dois, três, muitos outros carros, aqui e além, partiam na mesma direção, molhando o Sor Zé ou o Sor Antônio a palavra vibrante com um gole da boa pinga, e as suas companheiras igualmente.

Em meio da excursão o entusiasmo atingia a seu auge, e o fadinho ou a caninha verde faziam-se ouvir, quebrando a monotonia da romagem. E a rabeca e a viola, tangidas por mãos afeitas, davam o tom a descantes pátrios, sempre bonitos, apesar de incultos.

"Ó minha canina berde,
Ó meu santo de padrão,
Por amor de uma menina
Fui cair no alçapão.

Cana berde salteada,
Salteada é mais bonita,
Pra cantar a cana berde
Não se quer folhos de chita.

Fui-me ao Porto, fui-me ao Minho,
De caminho para Braga,
Dizei-me, minha menina,
Que quereis qu’eu de lá traga."

Dos cercados as moças davam gostosas risadas, cochichavam, comentavam as toilettes; os meninos e os moleques atiravam olhares cobiçosos para as roscas, enquanto os patuscos, levantando a perna, galhofando, declamando, emborcavam os chifres que voltavam enxutos.

Solitário em seu pangaré, escanchado, apegando-se com freqüência ao Santo Antônio do selim, de quando em quando um romeiro atravessava a cena, com o mesmo vestuário e acessórios. Pacato e despretensioso, as suas aspirações eram unicamente apercebidas pelos "vivas à Penha", que soltava raros, aos solavancos do cavalo tardo e desobediente. A romaria era esplêndida...

Pelas duas horas da tarde, a festa estava em meio; os ranchos acampados nas ondulações vastas, à sombra das mangueiras. Encostados às vendas e às barracas, foliões que apeavam das andorinhas e muitos dos que lá se achavam, preludiavam as suas toadas, suas danças nacionais, pulando logo após no caminho. E a cana-verde, a chama-rita, o fadinho, o vai-de-roda ferviam sapateados, não sendo dispensados os desafios graciosos e brejeiros.

O mulherio saracoteava, batia palmas a compasso, pinoteava com seus pares, alguns dos quais, um tanto chumbados, esfregavam as primas da viola, davam breu nas cordas da rabeca, palheteavam os cavaquinhos, recomeçando trovas e dançados, emendando a roda:

"Chama-rita de meu peito,
Quem quer bem tem outro jeito..."

Os comes e bebes em esteiras desdobrados sob os arvoredos, na relva e nas barracas, as saúdes amistosas trocadas nos círculos de famílias e peregrinos que se divertiam de modo mais calmo, difundiam-se pelo acampamento em regozijo, prolongando-se até mais tarde.

Os carros tirados por juntas de bois avançavam nas estradas trazendo festivos matutos. As crioulas baianas sambavam debaixo das mangueiras aromáticas e embandeiradas dos panos-da-costa que suspendiam aos galhos, e os veículos de toda a espécie sulcavam as trilhas com os impagáveis e entusiásticos protagonistas da jornada da Penha.

Finda a cerimônia religiosa da manhã, principiava a debandada. Os acampamentos levantavam-se progressivamente, e, pela tarde adiante, as andorinhas, os carros enfeitados e os cavaleiros caricatos faziam sua entrada na cidade, entre "vivas" e incrível alvoroço.

Cada romeiro empunhava o seu registo de Nossa Senhora da Penha, ostentando uma verônica pregada no peito de casaco branco. No Arraial da Penha, por ocasião do Te-Deum, a nossa gente cantava ao largo as suas tiranas.

Trovadores dos sertões do Norte achavam-se naquelas paragens, muitos deles mulatos e crioulos escravos. Aqui, era uma quadrinha improvisada à viola e alentada de ciúme:

"Eu tomara me encontrá,
Com Manué Passarinho!...
Que quero cortar-lhe as asas,
Tocar-lhe fogo no ninho..."

Mais longe, uma despedida, um debruçar d’alma no passado, um verso plangente e dolorido:

"Vou-me embora, vou-me embora,
Como se foi a baleia,
Levo penas de dexá
Marocas na terra aeia"

E lá para as bandas de São Cristóvão, montado num burro de carroça, estafado e manco, zabumbando-lhe com os calcanhares na barriga, sumindo-se na treva, o último Abencerrage, arrancando de dentro um – viva à Penha! – mastigava para distrair-se quadrinha simples e expressiva:

"Dizes que viva Lamego,
Viva também Lameguinho,
E viva a terra do Porto
Onde se bebe o bom vinho."

Às cusparadas de fogo da locomotiva, a clássica romaria da Penha tem perdido parte de seu caráter devoto e de sua antiga influência. Entretanto muitíssimos são ainda os romeiros que afrontam mesmo a pé, léguas e léguas de distância, no arriscado das matas, fiéis à tradição.

Como romaria popular é a única que ainda se conserva no Rio de Janeiro. Representa no ideal o tipo de certos costumes coloniais, modificados nas províncias, outrora, quando o nativismo era uma virtude e este país o Brasil."

(A Festa da Penha, por Melo Moraes Filho)


Fonte: MORAES FILHO, Melo - Festas e tradições populares do Brasil.