terça-feira, julho 09, 2013

Cida Tibiriçá

"Não há duvida de que São Paulo vem fornecendo um grande contingente de astros ao broadcasting nacional. Cida Tibiriçá, que se apresentou, recentemente, ao público do Rio pelo microfone da Cruzeiro do Sul, é, sem dúvida, uma afirmação de valor artístico indiscutível. Ela interpreta admiravelmente a música popular americana e imita Betty Boop dos desenhos animados com uma graça especial. Apesar de curta a sua permanência no Rio, Cida Tibiriçá conquistou um número incontável de fãs. Em São Paulo, ela pertence ao cast da Rádio Cosmos e grava discos na Columbia" (O Malho - 22/10/1936).

Cida Tibiriçá (Maria Apparecida Tibiriçá), cantora, nasceu em São Paulo, SP, em 05/05/1919, e faleceu na mesma cidade, em 29/10/2012. De estilo romântico, estudou no Mackenzie College, em São Paulo, onde começou a cantar em festinhas acadêmicas acompanhada pela orquestra Mackenzie Harmony Boys. Iniciou a carreira artística cantando músicas brasileiras como sambas e marchas, além de músicas folclóricas passando depois a cantar músicas de origem norte americana como fox e rag-time.

Em 1934, ingressou na Rádio Record. No ano seguinte, foi apresentada pelo compositor Silvino Neto que a ouviu cantar e apresentou ao diretor-artístico da Rádio São Paulo, o maestro Breno Rossi, que gostou de sua voz e imediatamente a contratou para o cast daquela emissora. Atuou também em outras rádios paulistas como Cultura, Cosmos e Difusora.

No ano seguinte, venceu um concurso promovido pela revista Som para escolher o melhor cantor e melhor cantora de São Paulo, tendo Januário de Oliveira vencido o concurso masculino. Nessa ocasião, assim reportou o jornal Correio de São Paulo:

"Promovido pela revista Som, encerrou-se agora o concurso para apurar, por meio da votação dos leitores, qual a melhor cantora de São Paulo. Depois de muito disputado durante cinco meses, coube o primeiro lugar a Cida Tibiriçá, cantora da PRA-5, Rádio São Paulo, com grande margem de votos sobre a segunda colocada. Em todo o ramo de atividade humana, existem pessoas com dons para vencer rapidamente, como acontece a Cida Tibiriçá, que possuidora de uma voz doce e personalidade de interpretação, tanto no fox americano como no samba brasileiro, sabe agradar os rádio-ouvintes e sabe granjear admiradores da sua arte, estando assim predestinada a fazer uma brilhante carreira".

Ainda em 1935, participou do filme musical Fazendo fita, que contou com as participações dos artistas paulistas Alzirinha Camargo, Januário de Oliveira, Fernandinho, Mario Gracco, e Alvarenga e Ranchinho, entre outros, interpretando a marcha-carnavalesca Metamorfose (Eu vou na frente), de Hudson Gaia.

Em 1936, foi convidada pela Rádio Cruzeiro do Sul para realizar uma excursão ao Rio de Janeiro, atuando naquela emissora e também no Cassino Copacabana. Nessa excursão, conheceu Edson Sant'Anna com quem se casou e atuou artisticamente até 1940. Participou das filmagens de Samba da vida, da Cinédia cantando músicas carnavalescas, e, nessa época, seu repertório incluía composições inéditas de autoria dos compositores Marcelo Tupinambá, Lírio Panicali e Ari Machado.

Cida Tibiriça - 1936
Ainda em 1936, foi contratada pela Columbia e gravou com acompanhamento da Orquestra Columbia o fox-trot Fazendo uma canção de amor, e a valsa Esperando um amor que não vem, ambas de Ari Machado e Lírio Panicali. Aproveitando sua estadia no Rio de Janeiro lançou seu segundo disco pela Columbia a valsa Você é minha melodia, de Marcelo Tupinambá e Roberto Andrade, e o fox-trot Não voltes para mim, de Lírio Panicalli, com acompanhamento da Orquestra Columbia. Também nesse ano, cantou no Cassino do Copacabana Atlântico.

Em 1937, gravou de Ari Machado, com acompanhamento da Jazz Columbia, a marcha Fita de cinema e o samba Pra ganhar um amor. No mesmo ano, também com acompanhamento da Jazz Columbia gravou o fox-trot Emocional, de Augusto Vasseur e Fernando Faissal, e a valsa Sempre quis cantar uma valsa assim, de Aloísio Silva Araújo.

Nesse ano, encerrado seu contrato com a Rádio Cruzeiro do Suil, assinou com a Rádio Difusora na qual estreou cantando acompanhada pela Jazz Difusora sob a direção do maestro Fernando Montenegro. No mesmo ano, foi contratada pela Rádio Tupi Paulista.

Com seu casamento em 1938, continuou ainda atuando em dueto com o marido nas Rádios paulistas, mas abandonou a carreira artística em 1940, depois de gravar quatro discos com oito músicas pela gravadora Columbia e tendo se tornado a "Rainha do Rádio paulista".

Cantora mais baixinha do rádio nacional


"Cida Tibiriçá é a cantora mais baixinha do rádio nacional. É um catatauzinho. Quando ela vai cantar vira o microfone de cabeça para baixo para que se possa ouvir sua voz. Mas tem uma pose!... Até parece que aquela música de Lamartine Babo "Menina que tem uma pose" foi-lhe dedicada pelo autor!

É a cantora mais fotografada do mundo! Já tirou retrato rindo, séria, cabisbaixa, cantando, dormindo, lendo, chorando, andando, sentada, deitada, subindo escada, descendo do bonde, nadando, mergulhando, dançando, jogando futebol, pescando, caindo da cama, chupando sorvete de pauzinho, declamando de perfil, de busto, de corpo inteiro, de costas, adormecendo um boizinho, etc.

Tirou patente para sair nas capas de todos os primeiros números de qualquer revista ou jornal de rádio do Brasil. E também para vencer qualquer concurso para se saber qual a melhor cantora...

É grande apreciadora da música americana e o seu maior sentimento é não saber cantar em inglês. Às vezes tenta um fox na língua de Bing Crosby, mas depois o telefone não pára: toda gente quer saber de que nacionalidade ela é! Cantando em português vai muito melhor porque ao menos nesse idioma é um pouco mais compreensível. Gravou um disco — "Fita de cinema" — que venceu um concurso, organizado há tempos,  como sendo o disco mais popular do Carnaval deste ano. De fato, essa música foi muito cantada... pelos surdos-mudos.

Quando imita a Betty Bop a turma toda exclama: "Essa imitação do Popeye está formidável!". E é uma grande, uma sincera admiradora e amiguinha de Leny Eversong, que há muito vem lhe ensinando como é que se canta um fox-trot na batata!

Agora canta em dueto. Caruso e Maria Muzio seriam cafés pequenos perto da nova dupla! Que harmonia, que ritmo, que cadência! Nunca ouvimos uma coisa igual! (E esperamos não ouvir mais, cruz credo!).

N. R. — Esta notinha não foi paga. É graciosa!...”     (D'"O Governador")

Transcrito de "O Malho", de 20/01/1938, pág. 6.

Discografia


1936 Fazendo uma canção de amor/Esperando um amor que não vem • Colum. • 78
1936 Você é minha melodia/Não voltes para mim • Columbia
1937 Fita de cinema/Pra ganhar um amor • Columbia
1937 Emocional/Sempre quis cantar uma valsa assim • Columbia

Playlist


(Para ouvir Pra ganhar um amor acesse Estrelas que nunca se apagam - Dalva & Cida, de Marcelo Bonavides).

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Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; Revista "O Malho", de 22/10/1936 e 20/01/1938.

Glorinha Caldas

Glorinha Caldas (Glória Caldas), cantora, compositora e escritora, nasceu em Niterói, RJ, em 1910, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 06/12/1937. Desde criança se interessou pelo canto. Teve aulas de canto no colégio de freiras onde estudou.

De curta carreira artística, fez sua primeira apresentação em 1934 na Rádio Educadora, em programas de calouros. Fez também apresentações em festivais em casas de particulares e também no Teatro.

Em 1935, foi convidada a integrar o elenco da Rádio Ipanema recém inaugurada, passando pouco depois a atuar na Rádio Guanabara. Foi escolhida como cantora revelação. No mesmo ano, apresentou-se na Rádio Tupi do Rio de Janeiro.

Afastou-se do meio artístico por alguns meses, retornando em 1936 quando estreou no microfone da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Foi em seguida contratada pela Rádio Cajuti na qual tomou parte num dos mais famosos programas da radiofonia carioca: "Samba e outras coisas", apresentado por Marília Batista e seus irmãos Henrique e Renato Batista.

Nesse programa, chegou a fazer dupla com Marília que criava músicas e ela letras apresentadas na programação. Num dos programas "Samba e outras coisas" interpretou o samba Hei de ver você chorar, de sua autoria.

Ainda no final de 1936, transferiu-se da Rádio Cajuti para a Rádio Mayrink Veiga. Na mesma época, tomou parte do espetáculo "A noite do Rádio" da qual participaram, entre outros, Odete Amaral, Moreira da Silva e Herivelto Martins.

No carnaval de 1937, apresentou-se no cordão do High Life Clube que costumava contar com o concurso de cantoras e cantoras.

Pouco depois se afastou das atividades artísticas devido a uma grave doença vindo a falecer precocemente antes do final do ano sem ter tido tempo de fazer nenhum registro fonográfico.

Obra


Hei de ver você chorar

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Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB; Revista "O Malho", de 23/12/1937