sexta-feira, abril 20, 2012

Abigail Parecis

Abigail Parecis (Abigail Alessio Parecis), cantora, filha adotiva do maestro italiano Filippo Alessio, nasceu em São Paulo, SP, em 1905.  No entanto, há controvérsias quanto ao local de seu nascimento. 


A Noite Illustrada, de novembro de 1931, por exemplo, sugere, numa biografia romântica, que a soprano nasceu em uma aldeia da tribo dos índios Parecis, no Oeste do Paraná.

Outra versão, a do Diário da Noite, de 20/02/1931, relata que o maestro Alessio a encontrou pequenina, trabalhando em um circo mambembe num lugarejo do interior do Estado de São Paulo.

Atuando artisticamente na capital paulista, foi contratada pela gravadora Columbia e, em fevereiro de 1929, participou da primeira gravação da Columbia no Brasil interpretando com acompanhamento de violão as modinhas Flor amorosa, de Catulo da Paixão Cearense e Joaquim Antônio da Silva Callado (1849-1880), que teve seu nome omitido no disco, e Meu amor, de Catulo da Paixão Cearense.

Em 1930, gravou as canções Ave Maria e Diante de um berço, de F. Alessio, e O beijo, de Raul Morais, e a valsa Ilusão que se vai, de Jaime Redondo.

Em 1932, ingressou na Parlophon e gravou com acompanhamento da Orquestra Paulistana, então dirigida pelo maestro Francisco Mignone, as canções La canzone dell'amore, de C. A. Bixio e B. Cherubini, e Aquellos ojos verdes, de Nilo Menéndez e Adolfo Utrera, e a valsa La canción del amor, de Eleuterio Yribarren.

Em sua curta carreira apresentou-se em rádios paulistas e gravou cinco discos pelas gravadoras Parlophon e Columbia sendo seu nome registrado na história da Música Popular Brasileira por ter participado da primeira gravação de discos Columbia no Brasil.

Foi responsável pelo surgimento do ator Grande Otelo. Quando o pai de Otelo morreu esfaqueado e a mãe, uma cozinheira que trabalhava com o copo de cachaça ao lado do fogão, casou outra vez, ele aproveitou a visita de uma Companhia de teatro mambembe a Uberlândia para fugir. A diretora do grupo, Abigail Parecis, o adotou "de papel passado"e o levou para São Paulo.

 De um lugarejo do interior de S. Paulo a Nova York

 

Um telegramma de Nova York nos diz: "A cantora índia brasileira Parecis, filha de Santa Catharina, cantará na quinta-feira, no programma da Associação Americana-Brasileira a ser irradiado, as canções "Ha de Voltar a Mim" e "Princeza de Abril".

Quem é essa "índia brasileira Parecis"?

É uma criaturinha que nada tem de índia. É brasileira sim, mas não é índia. É a cantora Abigail Parecis, cujos dotes artisticos foram cultivados pelo maestro Alessio que em S. Paulo, no tempo de vida do presidente Carlos de Campos, um grande apaixonado da musica, gozava de immenso prestígio.

O maestro Alessio era comensal dos Campos Elyseos e fazia musica com o autor de "Um caso singular", que outro não era senão Carlos de Campos.

Conta-se de Abigail Parecis uma historia que vamos repetir. Não sabemos, porém, se é verdadeira em absoluto, se tem sómente visu de verdade ou se é pura fantasia.

Pelos logarejos do interior vivia a sua vida de nomade um "circo de cavallinhos", sem cavallos, sem cavallões e sem cavallinhos. Um circo como tantos outros que existem no Brasil. E delle faziam parte uma linda moreninha, typo perfeito de brasileira, e um pretinho de 6 annos. Dois verdadeiros temperamentos artisticos. Eram o grande attractivo do circo. Abigail, que era menina, e o pretinho cantavam e encantavam pela sua graça ingenua, pela vivacidade de espirito e pela voz de que eram dotados.

Viu-os o maestro Alessio, quando, após uma peixada por ele preparada para o presidente Carlos de Campos e amigos - o maestro era tambem um eximio cozinheiro - comeu tanto que fixou doente ao ponto de ser obrigado a passar uma temporada no interior, no logarejo onde se achava o circo, afim de se restabelecer. O maestro viu os dois artistazinhos e como toda a gente se enthusiasmou por elles.

Ao regressar a S. Paulo, relatou o seu "achado" ao dr. Carlos de Campos. Relatou-o e dourou-o. O presidente enthusiasmou-se tambem e mandou buscar lá no picadeiro do circo a menina e o pretinho que passaram a ser protegidos do Estado, embora vivessem em casa do maestro italiano.

Quando, mais tarde, aqui no "Municipal" subiu á scena "Um caso singular" do então presidente compositor, Abigail Parecis cantou nos côros e o pretinho tambem se exhibiu, embora a peça não o permittisse, porque na época da sua acção não havia negros no Brasil. Todo mundo gostou da peça, dos artistas, da menina e do pretinho. Carlos de Campos era presidente de São Paulo...

Naquella época Abigail começou a apparecer. Depois deu concertos no seu Estado. O maestro, com habilidade ia erguendo a artista. O pretinho foi aos poucos desapparecendo. Hoje não se fala mais nelle. Talvez surja ahi de repente para interpretar o "Otello", seu grande sonho de criança, o que de resto elle já fazia nos bastidores do theatro com graça infinita. Abigail, ao contrario, ia cada vez mais apparecendo aos olhos do publico.

Eis que agora telegrammas de Nova York fazem referencia á sua arte. Que ella conquiste a grande cidade. Como quer que seja o seu salto foi grande: de um logarejo no interior do Brasil a Nova York. Mas tambem Abigail Parecis foi de circo... 

(Diário de Noite, de 20/02/1931, com a grafia original)

Playlist




Discografia


(1932) La canzone dell'amore • Parlophon • 78
(1930) Ave Maria / Diante de um berço • Columbia • 78
(1930) O beijo / Ilusão que se vai • Columbia • 78
(1930) La cancion del amor / Aquellos ojos verdes • Parlophon • 78
(1929) Flor amorosa / Meu amor • Columbia • 78

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Fontes: Noite Illustrada n° 83, de novembro/1931; Revivendo Músicas; Memória da MPB; Tabloide Digital; Diário de Noite, de 20/02/1931; Dicionário da MPB.

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