Sempre que um grupo de amigos se encontra e conversa, um deles, sendo carioca, perguntará com certeza: — Vocês conhecem este samba? É do carnaval de 1942. — Sim, porque os verdadeiros carnavalescos cultivam em música os passados carnavais, marcados através de marchas ou sambas.
Pessimistas, infelizmente, sempre existiram e são eles os encarregados de bradar todos os anos: — O carnaval está morrendo. — Mas o carnaval continua, modificando-se através das épocas (ninguém pode viver em 1962 como em 1932 ou 1902) mas existindo porque enquanto houver um carioca, ele se encarregará de espalhar o contágio carnavalesco.
Como deve ter sido bonito aquele carnaval de 1888, num momento em que havia grande respeito pelo povo e seus direitos e a Companhia Carris Urbanos chegava a mudar o trajeto dos bondes só para não prejudicar o grande carnaval de rua. Foi na rua que nasceu o nosso carnaval, indo logo depois para os salões. Nesse ano, a rua do Ouvidor, que era chamada “o pulso do Rio de Janeiro”, tornara-se a rua carnavalesca por excelência.
A nós, talvez, pareça impossível que numa ruazinha estreita coubesse tanto movimento. Mas — sabeis — a cidade era menos povoada e a rua do Ouvidor dava para os gastos com a colaboração da Gonçalves Dias, da praça Tiradentes, do largo de São Francisco.
No começo, o carnaval de rua foi horrível. Latas d’água (onde buscá-las hoje?) eram jogadas de janelas, havia limões de esguicho e não apenas água pura molhava os carnavalescos, mas outras águas nada limpas serviam, àquela época, na qual imperava o entrudo, que durou muitos anos. Mas a rua sempre foi, para o carnavalesco, o lugar melhor para rir, brincar, pular, cantar.
Três séculos durou o entrudo — aquele horrível jogar de águas, de polvilho, de sujeiras — cultivado até pelo primeiro imperador, o trêfego Pedro I e que, segundo historiadores, continuou com dom Pedro II, gostando de “brincar” o entrudo na quinta da Boa Vista.
Muito antes da chegada do carnaval propriamente dito, ou sejam, os quatro dias marcados pela folhinha para os folguedos de Momo, as ruas se agitavam com aquilo que então chamavam “comemorações precursoras”. Até comerciantes — eles que hoje só pensam em ganhar dinheiro — promoviam festejos nos quarteirões onde estavam localizadas suas casas de comércio. Talvez estivessem promovendo o que hoje se chama “publicidade”, mas o fato é que o comércio do Rio foi, no passado, um grande amigo e mesmo colaborador do carnaval carioca. Corriam os livros de ouro arranjando dinheiro para que as ruas ficassem belamente ornamentadas com festões, flores, gambiarras, luzes, balões. Ninguém queria fazer feio, principalmente aqueles moradores em ruas por onde passariam os grandes préstitos. E instituíam prêmios para as melhores fantasias individuais como para a melhor sociedade. Em 1889, os fenianos ganharam tantos e tantos presentes que um jornal, registrando o fato, pedia desculpas de não enumerá-los todos, mas só alguns: coroas, vasos de flores, jarros com palmas, jóias de valor, festões de rosas.
Eram importantíssimas as comissões eleitas para o festejo das ruas. Em 1879, os jornais publicavam um anúncio dizendo assim: “Rua Visconde de Inhaúma — Os moradores desta rua, desejosos pelo progresso desta, pedem aos distintos cavalheiros José Júlio Pereira da Silva, Alfredo Coelho da Rocha, Antônio Augusto de Carvalho e Domingos Braga que se encarreguem dos festejos do carnaval desta rua”. (Mantenho o texto tal como foi publicado). Por esse anúncio se sente que não era qualquer um que podia fazer parte de uma comissão de rua. Esses “distintos cavalheiros”, com certeza, já haviam demonstrado, na prática, suas qualidades de carnavalescos e de organizadores.
Nos quatro dias de carnaval, as casas ficavam, de noite, com as luzes acesas, atendendo ao pedido da comissão de folguedos e de algumas delas saíam formidáveis Zé Pereiras “para lembrar aos moradores do bairro o dever de enfeitar suas casas e iluminá-las”.
Em 1889, em todas as janelas da rua do Lavradio (conta o jornal O País), de ambos os lados, queimaram-se fogos de artifício. Em 1891, desceram dos subúrbios para a cidade trinta mil pessoas. Era ainda o carnaval centralizado em determinados pontos do Rio, ele que depois ia ocupar toda a cidade, alastrar-se, subir e descer de morros.
É grande, longa e bela a história do carnaval de rua no Rio de Janeiro. Aos poucos, o carnaval não apenas se descentralizou como usou todos os meios de transporte, fazendo com que tudo compartilhe da folia. Em 1896, os mascarados invadiram os bondes que até hoje continuam veículos muito amados pelos carnavalescos pobres. A viagem é sempre longa, mais barata que a de outros meios de transporte e nela canta-se, brinca-se, namora-se, enquanto a pobre campainha sofre e condutor e motorneiro reclamam. Durante muitos carnavais, os passageiros do bonde Fábrica, que saía do ponto inicial às 7h15min, realizavam renhidas batalhas de serpentinas e confetes. O bonde ia e voltava na “peleja”. Em 1926, até o bonde do Leme entrava no folguedo. Os moradores dali, famílias elegantes, segundo contam os jornais da época, alugavam quatro bondes que, em certo dia carnavalesco, saíam da bela praia para a cidade e a ela voltavam com os foliões. Nessa batalha do bonde do Leme havia farta distribuição de chocolates para as moças e prêmios para os mascarados mais espirituosos. Enquanto os moradores da Zona Norte invadiam os bondes para as batalhas de confete, os moradores do Leme podiam alugá-los. Até nos carnavalescos se encontra a diferença da sorte.
A batalha do bonde do Caju-Retiro foi até registrada em samba; outro bonde de memória carnavalesca é o da Ponta do Caju. Depois dos bondes — mesmo no tempo em que eram puxados a burros — os carnavalescos da rua tomaram conta dos trens, se bem que tivessem conseguido apenas uma grande batalha, no trem que partia da Penhas às 6h55min. Mas brincar mesmo, só podiam nos carros da segunda classe. Por uma dessas ironias do destino, o cordão, promotor dessa batalha num pobre trem de subúrbio, chamava-se Homens de Dinheiro.
Desde que o carnaval existe e dele é dona absoluta esta cidade hoje Guanabara, os carnavalescos da rua escolheram aqueles que melhor lhes parecia. Depois da rua do Ouvidor, quando em 1907 surgiu a avenida Central, o carnavalesco exultou. Agora sim, ia ter espaço para pular. E mesmo que a avenida não fosse como a de hoje, já era uma área maior e mais bela. Foram os foliões que inauguraram, antes da inauguração oficial, a nossa bela avenida hoje Rio Branco. O prefeito Pereira Passos abria a cidade; surgiam jardins, praças, ruas outrora feias e sujas, tortas e estreitas, alargaram-se, foram limpas, tornaram-se retas e claras. Tudo parecia colaborar para a glória maior do carnaval. Em 1908, quinhentas mil pessoas vieram brincar o carnaval na avenida. Era o delírio.
A avenida Beira-Mar, da qual só fora inaugurada a parte correspondente à antiga praça de Botafogo, marcou o carnaval de 1906. Em 1909, a folia alastrou-se pelas ruas vizinhas da avenida Sete de Setembro, “longa rua do largo do Rocio ao largo do Poço”, Uruguaiana, avenida Passos, até a praça da República. Era um mundo em agitação: “gente que sobe, gente que desce, gente que se emaranha e confunde”. Em 1910, o carnaval localizava-se principalmente na Galeria Cruzeiro. Quem poderá esquecer os foliões da Cervejaria Brahma e do Bar Nacional?
Outras ruas tiveram um seguro destino carnavalesco: Santo Amaro, que durante muitos anos manteve o título de foliona, pois nela estavam localizadas nada menos do que cinco sociedades carnavalescas. Aliás, Santo Amaro foi, até a morte do High Life, uma rua que manteve a folia acesa. Mas, sem dúvida, nenhum ponto da cidade foi mais amado pelo carnavalesco da rua do que a praça Onze. Impossível separar o samba carnavalesco da praça Onze que, segundo alguns, lhe serviu de berço. Nascesse onde nascesse o samba, era na praça Onze que ele vinha alimentar seus súditos. Ainda está na memória de todos nós aquele que conta que vão acabar com a Praça Onze (e acabaram mesmo) e que é também um grande hino de despedida à praça do samba, praça sede, berço e mãe protetora de um novo tipo de carnaval: o do povo dos morros, das favelas, das escolas de samba.
Há também um samba declarando, e com toda razão, que a praça Onze não morreu e a prova é que ela se não mais existe, virou um símbolo. Está marcado pelo carnaval o lugar onde ela estava plantada. Ainda hoje, escolas de samba desfilam… na praça Onze.
O largo do Machado também teve sua época, isso em 1896, se bem que os jornais noticiassem que aquele carnaval era “de família”. Sabe-se bem que todo carnaval é de família, pois que durante o reinado de Momo todos parecem se entender, todos cantam, dançam, pulam, como se estivessem em família. E o que são os carnavalescos senão uma grande família?
O carnaval de rua, depois de ocupar os bondes, de tentar ocupar os trens, tomou conta dos automóveis com os grandes corsos que vinham da avenida Beira-Mar até a praça Mauá, com mulheres sentadas nas capotas de autos, com serpentinas indo e vindo, marcando o que então se chamava flirt, com esguichos de lança-perfume, gritinhos e sorrisinhos. Os pedestres colocavam-se ao longo do trajeto do corso e tomavam parte ativa e decidida nas batalhas de confete, serpentina e namoros.
Depois, os carnavalescos ocuparam o mar. Em 1926, apareciam os banhos de mar à fantasia, sem impedir que continuassem as batalhas de confete nas ruas. Confetes que vêm desde 1892 dando cor aos nossos carnavais. (Que beleza é a história do confete, saindo papelinho de Espanha, passando por Paris, mas vindo alojar-se definitivamente nesta cidade). Havia batalhas de confete em ruas pobres e em ruas ricas, com grandes comissões de festejos onde se encontravam comendadores, coronéis, doutores. Batalhas de confete simples, por amor ao carnaval, e outras servindo para fins beneficentes e elegantes, com prêmios valiosos. A primeira grande batalha de confete organizada pelo jornal O País, na avenida Beira-Mar, foi uma beleza. Carros e mais carros desfilavam com dominós pretos, brancos, vermelhos, guardando incógnitos. Todos se fantasiavam; ninguém queria perder a alegria de brincar livremente o carnaval e, para tal, nada melhor do que uma fantasia de dominó com máscara de seda.
Outras, muitas outras batalhas de confete ficaram célebres: a da rua Haddock Lobo, a do boulevard em Vila Isabel, a célebre batalha de confete da rua Dona Zulmira.
O leitor(a) perguntará: — E hoje, de tudo isso, o que há? — Responderei: — Bom, naturalmente os tempos mudaram, duas guerras enlutaram e tornaram mais difícil a vida de nossa geração, além das constantes guerras frias. O mundo evoluiu, o progresso, a civilização, deu aos homens novas condições de vida e de luta, mas não se enganem: nosso carnaval de rua não morreu. Vejam, por exemplo, num domingo de carnaval, os bondes de Copacabana ou dos subúrbios. As batalhas continuam. Vejam os banhos de mar à fantasia, vejam as batalhas de confete, com suas novas características.
O carioca de hoje em dia, açoitado pela inflação, diverte-se como pode, se bem que muitos carnavalescos gastem, muitas vezes, no carnaval, mais do que podem. E fique claro: o que caracteriza um verdadeiro folião é que desde priscas eras até nossos dias, para se divertir, principalmente nos quatro dias, para pular, dançar, rir, beber e amar (verbos muito peculiares aos folguedos de Momo), ele jamais pensou em miséria, carestia, salário baixo, falta d’água e de conforto. Vende, empenha, toma emprestado, cava, dá golpes, mas brinca.
Hoje, várias ruas de Copacabana, como a Miguel Lemos, a Cinco de Julho, a Joaquim Nabuco e ultimamente a Constante Ramos, promovem carnaval de rua, com palanques para crianças. Na frente de uma casa de apartamentos, rapazes iluminam o trecho da rua, alugam uma orquestra, passam cordas para evitar a invasão de outros estranhos à rua e os bailes furam as noites com muita alegria e sambas cantados aos gritos.
O leitor(a), se for pessimista, continuará perguntando: — Por que não enche mais a avenida? — A resposta é assim: — Porque a cidade cresceu muito, as distâncias são longas, a condução é difícil e cara, os moradores do subúrbio preferem ficar nos seus bairros e neles promover o carnaval. Querem ver com os vossos olhos que a terra fria há de comer? Ide, num domingo de carnaval, a Madureira. Vede como há uma multidão agitada, pulando, cantando. O trem que serve aquele subúrbio também toma parte nos folguedos. Sobe e desce abarrotado de mascarados.
Eu aconselharia (e não sou de aconselhar) que aqueles que não acreditam no carnaval — o que significa não acreditar no povo carioca, pois o carnaval é a sua festa máxima — fossem ao subúrbio. Lá encontrarão um carnaval do passado, um carnaval simples e ingênuo, com mascarados de mãos dadas, com um ir e vir em torno de palanques e coretos armados, um carnaval alegre onde ainda há dominós, pierrôs, mortes.
* * *
O que sempre marcou o carnaval de rua foram as fantasias. O chamado “sujo” sempre existiu. No começo, até famílias se fantasiavam de “sujo” para sair dando trotes em amigos e conhecidos. Esse tipo de carnavalesco tem a idade do próprio carnaval. Não se pense que só se fantasia de “sujo” quem sai coberto de molambos, caras pintadas com papel de seda vermelho, homens vestidos de mulher e vice-versa. Não; a característica do “sujo” não é ser sujo mesmo, porém vestir qualquer coisa para esconder-se no anonimato: a casaca do papai, uma antiga roupa da vovó, também servem aos “sujos” que tiveram ou tem pai com casaca e a vovó viva ou morta porém com bonitas roupas. Esse tipo de carnavalesco existe ainda nos estados, onde grupos de famílias se organizam, tornam-se irreconhecíveis e promovem visitas provocando “assustados”, as festinhas familiares do Norte e do Nordeste, improvisadas mas sempre muito alegres.
Há outra espécie de “sujos” que continuam até hoje; em grande maioria, o que lhes dá a fantasia é a miséria, a falta de dinheiro para comprar qualquer coisa que o torne diferente do pacato cidadão que é, antes ou depois do carnaval. No passado, lá pelos oitocentos, o “sujo” chamava-se Zé Códea. Muito devem os cariocas a Zé Códea e aos “sujos” de todas as épocas. Lá vão eles, tocando pandeiros, algumas vezes um bumbo, cantando e pulando enquanto uma caixinha ou uma tampa de queijo é apresentada aos que assistem a suas passagens. Níqueis colhidos para o auxílio às cervejas.
Mas o que marcava os carnavais dos oitocentos era o diabinho. De tal maneira, que sem diabinho nem parecia haver carnaval. Os jornais ora protestavam; onde estão os diabinhos?, ora comemoravam: — Ontem, vimos mais de dez diabinhos. Vermelhos, com grande rabo reto, máscara animalesca de grandes chifres, na mão um tridente, eles eram o próprio carnaval. A fantasia de diabinho, segundo alguns autores, veio até 1920. Mas a partir de 1900, já a rua apresenta outros tipos além do grupo do Zé Pereira com seu zabumba, do diabão, do dominó, que tanto servia aos bailes como à rua. Já se encontravam os morcegos, os bebês, a pastorinha, os princés (que afinal é apenas um príncipe), o burro doutor, o palhaço, o marinheiro, o clóvis (que é clown), índios e aquela horrível figura da morte — uma caveira que toca uma campainha — até hoje tão do agrado dos carnavalescos.
Naturalmente, o dominó dos bailes e dos corsos não era o mesmo das ruas. Os primeiros exibiam-se em riqueza, os segundos em qualquer fazenda lisa. Como não havia nenhuma espécie de proibições aos carnavalescos, a rua dava muito padre, soldados, marinheiros, oficias do Exército ou da Guarda Nacional. E também os originais: um homem fantasiado de “inglês”; outro de “doutor”, montado num enorme cavalo, desfilou pela avenida, mas, segundo o cronista Efegê, entre as figuras carnavalescas de maior sucesso estava o “velho” que vinha à frente dos cordões, fazendo misérias. E cantando:
Eu sou o velho
Dizem todos…
Mas um velho folião
Não é de nenhum reumático
É de puxa… cordão
Não falemos das brigas entre cordões. Estamos aqui apenas para saudar as realizações do carnaval carioca de rua. Nos bailes, as fantasias cada vez mais luxuosas, nas ruas os “sujos” e as improvisações surgidas em cada ano através dos chamados “brinquedos”: bigodes postiços, barbas idem, o índio que até hoje parece liquidar com os espanadores da praça, tantas penas a fantasia exige, o “Pai João”. No Pai João havia o negro, enquanto o Zé Códea era o branco, naturalmente, o português pobre.
Blocos improvisados ou organizados e cordões foram de início os proporcionadores da grande alegria nas ruas, sem falar nos préstitos das grandes sociedades, onde até hoje o povo mais olha do que toma parte. Mas o carnaval de rua, como o grande carnaval carioca, tomou uma nova forma — melhor e mais bela — quando, segundo Almirante, nasceram em 1915-1916, as escolas de samba.
O que há hoje em dia como carnaval de rua? Tudo, modificado é claro, mas pobre, infelizmente, mas ainda há, mascarados e rara é a noite em que, a partir de dezembro, não se tem que correr à janela para ouvir e ver passar uma escola de samba ou um bloco que está ensaiando para os quatro dias. Ensaiando só? Não. Está já fazendo o seu carnaval. As músicas diferem, se bem que há outras que vêm do passado, ficando como que arraigadas ao corpo dos carnavalescos. Ao corpo e à memória.
* * *
Houve uma democratização no carnaval carioca. No começo, as senhoras “bem” não tomavam parte nas batalhas nem nos folguedos da rua do Ouvidor ou da avenida. Ficavam olhando das janelas enfeitadas ou brincando entrudo umas com as outras. As menos “bem” alugavam cadeiras nas calçadas para olhar. O tempo passou, o micróbio carnavalesco (é um micróbio, sem dúvida) tomou conta da cidade. Quando as senhoras começaram a invadir os bailes iam tão irreconhecíveis que — pensavam — com aquela fantasia estavam zelando e defendendo a dignidade da família. Hoje os bailes não exigem tanto; as “bem” e as “mal” não precisam esconder o rosto. O carnaval é para todos.
A rua é do povo e é o povo — que continua mais sofredor que ontem — sempre carnavalesco, realizando o seu carnaval, com sapatos ou tamancos, de “sujo” ou de camisa listrada, as morenas, de odaliscas, escurinhas, de cabeleiras brancas, a rua do povo continua o seu papel de servir carnavalescamente ao povo.
Um grande carnaval para vocês, leitores.
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Eneida. “A rua é do povo”. Revista Senhor. Rio de Janeiro, fevereiro de 1942
Eneida (Eneida Costa de Morais),
jornalista e escritora, nasceu em Belém, PA, em 23/10/1904, e faleceu
no Rio de Janeiro, RJ, em 27/4/1971. Com apenas 15 anos, foi secretária
da revista literária A Semana, em Belém, e em 1929 lançou o livro de
versos Terra verde.No mesmo ano, foi para o Rio de Janeiro, onde se radicou, tendo trabalhado em vários jornais cariocas (inclusive A Manhã, do barão de Itararé), fixando-se como cronista do Diário de Notícias, da década de 1950 até a morte. Conhecida como a maior foliã do
Carnaval da cidade, criou o famoso Baile do Pierrô, realizado todos os
anos em boates de Copacabana, aos quais compareciam os maiores artistas
plásticos, escritores e cantores, todos fantasiados de pierrô.
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