"A mais recente foto do popular conjunto. Reparem que o Coringa é o do pandeiro." |
"Em 1936, veio de Fortaleza, um rapaz chamado Evenor, a fim de fazer o curso de Químico Industrial. Logo depois, chegava também André, que nesse tempo tinha o apelido de "Melé". Os dois estudavam e moravam juntos, como fazem tantos outros estudantes. Evenor tocava seu cavaquinho mais ou menos e "Melé" gostava de batucar num pandeiro...
Em 1938, veio se juntar aos dois, Permínio, irmão de Evenor, que cantava regularmente. Assim estava formado um trio de estudantes que alegrava os companheiros nas horas vagas, cantando as músicas populares do momento e as mais lindas melodias do Ceará. Em 1939, com a chegada de José, outro irmão de Evenor, que também tocava e cantava, o conjunto tomou aspecto de coisa séria, passando, então, a participar de festinhas familiares.
Animados por seus colegas, resolveram tentar uma audição em emissora. Assim conseguiram cantar no programa "Alma do Sertão" de Renato Murce, nessa época transmitida pelo Rádio Clube do Brasil. Apesar de muito agradarem, a PRA-3, não estava em condições de poder contratá-los. Sendo assim, resolveram continuar os estudos e... os ensaios, é claro!
Por ocasião da formatura de Evenor, estando os demais em férias, os rapazes resolveram dar um pulo em Fortaleza, a fim de visitar suas famílias. Lá chegando, "Melé" apresentou aos companheiros um ex-violonista do "Bando Liceal". Tratava-se de Esdras, ou melhor, "Pijuca", com alguma prática de conjunto e demonstrando reais qualidades. Imediatamente todos se convenceram que deveriam formar um quinteto. Logo aos primeiros ensaios, receberam uma proposta do sr. João Dummar, diretor do Ceará Rádio Clube, para fazer uma temporada de 30 dias, naquela emissora, isto em janeiro de 1941. Diante do sucesso dessa temporada, combinaram voltar ao Rio, não só para estudar, como também para ver se conseguiam, desta vez, ingressar no "broadcasting" carioca.
Ao microfone da Rádio Cruzeiro do Sul, num programa de Aylton Flores, apresentou-se, então, pela primeira vez no Rio, o quinteto "Bando Cearense" ou "Quatro Ases e Um Melé", conforme os batizou o jornalista cearense Demócrito Rocha, já falecido. Depois de três audições seguidas foram convidados a um teste na Rádio Mayrink Veiga, onde esperavam ser contratados.
Agradaram plenamente, mas... o contrato estava demorando e era preciso trabalhar. Já estavam meio apreensivos, quando surgiu novamente o Sr. João Dummar, que aqui viera a negócios. Encontrando-os fez a apresentação do conjunto ao Sr. Teófilo de Barros Filho, riscou o "Bando Cearense" e aproveitando o nome de "Quatro Ases e Um Melé", transformou-o em "Quatro Ases e Um Coringa", modificação essa que vem a dar no mesmo, pois, no Norte, "melé" e "coringa" tem o mesmo significado.
Depois de vários programas, vieram as primeiras gravações e, consequentemente, os primeiros sucessos. Quem não se lembra de: "Eu vi um leão", "Sá Mariquinha", "Baião", "Onde estão os tamborins", "É com esse que eu vou" e tantas outras músicas do repertório desses vitoriosos rapazes? Depois de atuarem durante três anos na Rádio Tupi, receberam e aceitaram uma vantajosa proposta da Rádio Nacional, onde até hoje permanecem.
O cartaz dos Quatro Ases e Um Coringa já estava assegurado, por isso começou a chover propostas para excursionarem. Percorreram vários Estados do Brasil, atuando sempre nas melhores boates e nos melhores cassinos. No exterior, obtiveram grandes sucessos em Santiago do Chile e em Buenos Aires.
Evenor, 33 anos, casado, uma filha de 4 anos, químico industrial e gosta muito de cinema. Permínio, 29 anos, solteiro, perito contador e oficial da reserva, é francamente do futebol e torcida renitente do Flamengo. José, 28 anos, casado, com um filho de 4 anos, perito contador e oficial da reserva, gosta de leitura e pratica vários esportes. Pijuca, 28 anos, casado, filhos (ainda é cedo), perito contador e gosta de resolver problemas bem intrincados. Coringa, 29 anos, solteiro, não concluiu os estudos, mas, em compensação, dizem que é um excelente "catedrático" em matéria de corridas de cavalos...
Pelo que apuramos, não resta a menor dúvida de que o maior desejo de todos os componentes dos Quatro Ases e Um Coringa é levar nossa música, e torná-la mais conhecida ainda, nos Estados Unidos da América do Norte e por toda a Europa. Bela aspiração a desses cinco jovens, que o Brasil inteiro conhece e tanto admira!"
Fotos: "A rapaziada dos 4 Ases e 1 Coringa está sempre alegre e bem disposta. Aqui três flagrantes dos guapos cearenses, tirados na praia de Copacabana numa tarde de calor."
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Fonte: Revista do Rádio - Dezembro de 1949
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