sábado, junho 22, 2013

Augusto Calheiros, a "Patativa do Norte"

“Quem não conhece Augusto Calheiros a "Patativa do Norte"? Como cancioneiro ele conquistou uma posição de relevo junto ao público de todo o Brasil. 

 

Palestrar com Augusto Calheiros é conhecer o velho sertão, com todas as suas belezas e costumes e ter momentos inesquecíveis de boa prosa. Esse é o segredo de sua vitória nos meios radiofônicos e teatrais. Sabe cativar a amizade dos ouvintes, dos espectadores, enfim de todos aqueles que lhe dedicam estima pessoal.


Augusto Calheiros venceu em toda a linha e o seu programa de atividades vem sendo cumprido com destaque, merecendo uma apreciação sincera através desta nossa crônica, que lhes dedicamos prazerosamente, reafirmando o propósito de divulgar a vida artística das mais consagradas figuras do broadcasting nacional que cultivam o gênero sertanejo e o folclore da nossa terra.

— Nasceu Augusto Calheiros em Alagoas a terra dos grandes generais. Criou-se em Pernambuco, onde desde criança nasceu-lhe a vocação para cantar as nossas modinhas e canções. Quando já rapaz foi um grande seresteiro das ruas do "Leão do Norte".

Um belo dia, já integrado no ambiente seresteiro, manifestou desejo de conhecer a "cidade maravilhosa". Formando um grupo que deu o nome de "Turunas da Mauricéia" embarcou para o Rio aonde chegou em 1927 estreando incontinenti no melhor teatro daquela época que era o saudoso Lírico.

Alcançando grande sucesso percorreu o conjunto vários teatros até que encontraram em Domingos Secreto um grande benfeitor e admirador. Augusto Calheiros manifesta-se grato e considera-o um grande e sincero amigo.

O Correio da Manhã foi o criador deste sugestivo nome "Patativa do Norte" e Calheiros considera este jornal como seu padrinho. Andaram os Turunas da Mauricéia pelo interior e várias cidades do sul, levando a música genuinamente brasileira por todos os recantos do Brasil.

Voltando à Capital da República o conjunto se dissolveu. Isto em 1932. Restam hoje dos integrantes apenas Augusto Calheiros e Romualdo de Miranda, sendo que os demais já faleceram nesta querida cidade.

Confessa a "Patativa" que foi aqui que se aperfeiçoou e que quando se dissolveu o conjunto foi para a "Casa do Caboclo", no antigo São José, logo após o incêndio, onde encontrou a festejada dupla Jararaca e Ratinho.

Alcançou sucesso na Rádio Clube Sociedade, atualmente do Ministério da Educação, Mayrink Veiga e presentemente está na Rádio Nacional, onde é contratado atuando nesta emissora a um ano e meio.

Afirma Calheiros que as músicas que cantou mais, e sempre interpretou com alma e coração foram Revendo o passadoChuá-chuá — e Ave Maria.

Canta as demais com prazer e vive procurando novidades que se adaptem ao seu temperamento sentimental de cantor das canções melodiosas.

Tem em Catulo da Paixão Cearense, Hermes Fontes, Cândido das Neves e especialmente Olegário Mariano, valores incontestáveis e dignos de serem interpretados com especial respeito. Voltando ao norte, para rever velhas amizades foi recebido em várias cidades com manifestações de apreço e admiração pelo valor inegável desta "Patativa".

Na Bahia, a terra que sabe distinguir valores na arte e na música, batizaram em plena rua a Augusto Calheiros, como o "cidadão baiano", tal o carinho que dedicam a este amigo da boa música.

Hoje ele se confessa a mais triste de todas as criaturas, que cantam, só confia em Deus para que o proteja no final de sua carreira que desejava fosse breve, caso encontrasse alguém que lhe desse um outro trabalho e então cantaria só para os amigos quando quisessem ouvi-lo.

Está Augusto Calheiros disposto a colaborar para o nosso governo se necessário for às Forças Expedicionárias Brasileiras e ao poeta Medeiros Lima Filho, já se prontificou a cantar em sua festa, oferecida aos mutilados, recreando o espírito dos nossos valorosos soldados da vitória.

Dessa forma, Calheiros vê concretizada a sua missão perante seus admiradores e amigos, que o tem na estima e o consideram com toda a justiça como uma legítima patativa do Norte."

(Escreveu Milton Filgueiras de Lacerda)

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Fonte: A Cena Muda, de 19/06/1945.

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