Irley da Silva Rocha é o seu nome real. Mas não significaria quase nada, se não envolvesse um mito da nossa MPB: é a irmã mais nova de Dolores Duran.
Toda a sua família demonstrava inclinação para o canto. E com Lela, seu apelido desde pequena, não poderia ser diferente, embora não tivesse interesse em seguir carreira como cantora.
Ela e Dolores Duran costumavam ir ao cinema juntas e ensaiar peças de teatro para as crianças do bairro. Com a morte da irmã mais velha, em 24 de outubro de 1959, a cantora Marisa Gata Mansa, que era muito amiga de Dolores, insistia quase que diariamente para que Lela começasse a cantar.
A insistência foi tanta, que ela acabou indo, com Marisa, fazer um teste na gravadora Copacabana. Uma vez aprovada, adotou o nome artístico ‘Denise Duran’ e gravou o LP Canções e Saudades de Dolores, com quatro músicas gravadas por ela e oito por Marisa. .
Em 1962, Djalma Ferreira, proprietário da casa “Drink”, convida Denise para inaugurar a boate “Djalma’s”, que seria aberta em São Paulo. Assim, ela fixa residência na cidade e, neste mesmo ano, casa-se com o cantor Dave Gordon.
Casamento não impedirá a carreira
"Até o dia do falecimento de Dolores Duran, a sua irmã Irley apenas cantava... em casa. Marisa e Ribamar, que a conheciam muito bem, insistiram para que ela tentasse o rádio. E com a morte de Dolores, ela julgou que deveria ocupar o lugar da irmã. Justificou-se:
— Dolores, ao falecer, deixou um nome feito na historia do rádio brasileiro. Suas composições, cantadas e aplaudidas, mostraram que tão cedo ela não seria esquecida. Porém, vim para o rádio, certa de que, ao ver-me, todos lembrariam a minha, irmã.
Coube à Marisa dar o nome artístico à Irley. Ela foi para uma gravadora como Denise Duran, fez um teste e aprovou plenamente. Agora está preparando um LP. E Denise Duran, que tem uma alegria contagiante, salientou:
Nelson Gonçalves ensina segredos de como empolgar o público à Denise (Revista do Rádio, 1960) |
— Queria mesmo ser cantora?
— Nunca simpatizei com a minha voz. Em vida, Dolores insistia para que eu tentasse o rádio. Só a sua morte convenceu-me a abraçar a carreira de cantoras.
— Dolores e você sempre foram unidas?
— Quando criança, nós brigávamos muito. Toda vez que mamãe saia, havia sempre um “caso” entre Dolores e eu. Ela, que era mais velha do que eu oito anos, tinha pena de bater em mim. Eu aproveitava isso para bater nela...
— Diga sinceramente: está gostando de ser cantora?
— Estou. Vamos ver se estão gostando de mim.
Denise Duran insistiu em dizer que tem uma vida atarefada. Trabalha em dois expedientes. Por isso, falta-lhe tempo para inspirações poéticas. Contudo, pretende também ser compositora. E, diante de uma das nossas indagações, respondeu com muita graça:
— Não vou à praia. Tenho medo de morrer afogada. Para mim, nadar é a coisa mais difícil do mundo. Em se falando de natação, nasci para ser prego...
— De que, finalmente, você gosta?
— Gosto de cinema e adoro o teatro. Se eu pudesse também seria atriz.
— O que você acha do casamento?
— É essencial, para a mulher. No meu caso, pode escrever, não deixarei o casamento pela vida artística.
— Seu casamento está por perto?
— Está sim. E já devia ter acontecido.
— No caso, deixará de ser cantora?
— Não. O meu casamento não prejudicará a carreira que agora tento. Vou conciliando o amor com a vida de cantora.
Denise não quis declarar qual o nome do seu noivo. Mas, garantiu, no seu casamento, deixará que os fotógrafos compareçam para fixar flagrantes do dia mais feliz da sua vida."
Algumas gravações
A noite chorou também (Jurandir Chamusca) Denise Duran 1961 Samba; Agradeço a Deus (Hianto de Almeida e Macedo Neto) Denise Duran 1961 Samba; Céu particular (Dolores Duran e Billy Blanco) Denise Duran 1960 Samba-canção; Noite de paz (Dolores Duran) Denise Duran 1960 Samba-canção; Olhe o tempo passando (Dolores Duran e Edson Borges) Denise Duran 1960 Samba-canção; Quem foi (Ribamar e Dolores Duran) Denise Duran 1960 Samba-canção.
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Fontes: Chiadofone; Revista do Rádio n° 565, de 1960; Gravações raras - Denise Duran.
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