Manezinho Araújo — Cem quilos bem arredondados de simpatia — veio de Pernambuquinho Imortal depois de ter se tornado lá um continuador de Minona Carneiro, o grande fazedor de emboladas do nordeste. Manezinho veio numa época mais amena, quando o rádio ainda era uma criança. Francisco Alves ganhava cachê de 30 mangos, e ninguém rasgava as calças do Cauby Peixoto.
Manezinho fez sucesso cantando emboladas e transformou-se num dos maiores cartazes da música popular da época.
Foi mesmo o primeiro artista contratado com exclusividade por determinado patrocinador. Mas depois começou a chegar leva de nordestino. Vinha nordestino de Petrópolis (como o Luiz Vieira), vinha nordestino do Largo da Cancela (como o Jair Alves, que chama a gente de cabra da peste mas que do nordeste só conhece uma folhinha de um armazém de Olinda, que Fernando Lobo deu a ele de festas). Foi aí que Manezinho Araújo viu que a coisa estava com cara de macaco, e disse em casa: — “Eu vou saltar aqui”.
E de fato saltou. Saltou do rádio e nunca mais voltou. Trocou, inclusive, o disco pelo prato, fundando o Restaurante Cabeça Chata, onde passou a faturar melhor com vatapá e frigideira de siri.
Meio sobre o visionário, um dia estava jantando o Álvaro Lins com uns amigos. O hoje embaixador tomou calibrina demais e recebeu um santo protetor. Chamou Manezinho e disse que ia dar um jeito para que lhe fosse concedido um terreno na Lagoa, onde o Manezinho faria um novo e definitivo “Cabeça Chata”. Manezinho estava mais por fora que chefe de repartição e chegou a acreditar mesmo que o Álvaro Lins fosse de fazer alguma coisa pelos outros. Entusiasmou-se com a ideia do novo “Cabeça Chata”, traçou planos, comprometeu-se e, quando viu que tudo era bafo de boca, “se queimou se” e resolveu fazer a coisa na raça, fundando a “Angúbras’, isto é, uma Sociedade Anônima para construção do novo restaurante, com terreno pago e museu de folclore.
Aos poucos a coisa vai indo. Breve Mané inaugura a casa nova, para a devida reação contra os reacionários do tempero, que preferem “petit pois” a farofa de boião. Stanislaw não duvida do sucesso dele não.
Porque Manezinho é assim, quando toma uma resolução, toma com limão.
Fonte: Dicionário Ilustrado — Texto de Stanislaw Ponte Preta — Desenho de Lan — Jornal "Última Hora", de 15/01/1958.
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