terça-feira, janeiro 07, 2014

A história do Bando da Lua

Uma brincadeira que deu certo — A verdadeira história do Bando da Lua - Fotos: CARIOCA Abril/1936

O “Bando da Lua” é uma brincadeira de amigos de infância que deu certo. Um grupo de rapazes do mesmo bairro, com vocação para música, formou uma pequena orquestra. Colheu, na vizinhança, os primeiros aplausos. Um dia, os seus componentes tocaram em um estúdio, o da Rádio Sociedade. E, como fizeram sucesso, continuaram a tocar. Não recebiam nada. Até se ofendiam, quando alguém lhes falava em dinheiro.

— Vocês são bobos. Recebam o cachê. Isso de rejeitar, além de ser tolice, estraga o negócio dos outros ...

Um dia, afinal, eles receberam o primeiro salário. Foi uma sensação extraordinária, para todos eles. Os rapazes da avenida Martins da Motta precisaram, então, batizar o seu conjunto, que tocava, ainda pagão, nas nossas difusoras. Um dia, na praia, um sugeriu, olhando a redoma dourada da lua:

— Achei o título! Será “Bando da Lua” ...

O nome ficou. Um do grupo, Aluízio de Oliveira, revelou-se excelente “crooner”. Misto de Bing Crosby e de Rudy Valee, cantando tão bem em português como em inglês. Aluízio fez curso de dentista. Enquanto isso, os outros estudavam também. Ivo Astolpho deu para estudar língua e fala o inglês, espanhol, italiano e alemão. Hélio Jordão Pereira diplomou-se em contabilidade e triunfou, recentemente em um concurso municipal. Oswaldo Eboli faz jornalismo. E os demais têm, também, além da música, algo com que ocupar o espírito.

Duas vezes, já foram a Buenos Aires, com passagem de primeira, ida e volta, e 3.200 pesos de ordenado. Exibiram-se no Broadway e irradiaram na Belgrano. Sucesso absoluto. E ganharam os clássicos “cuatro porotos” de “Caras y Caretas”, que é a classificação dada por essa revista ao melhor número da semana.

Agora, na Rádio Tupy, com um contrato de um semestre, a 3:750S000 mensais, por um conjunto de dez audições, o Bando da Lua teve o seu melhor negócio no “broadcasting” brasileiro. Por todo este ano, ficará o popular conjunto no Brasil, de onde só sairá em 1937 para uma excursão a Buenos Aires e à costa do Pacífico, até Hollywood.

O “Bando da Lua” tem fãs. E muitos fãs. Nosso leitor Oscar Fernandes da Silva, de São Paulo, registra o sucesso desse conjunto, na capital bandeirante, juntamente com Carmen e Aurora Miranda e Almirante. E Ismeninha Ramos, uma leitora de CARIOCA, escreve:

“O “Bando da Lua”, que conjunto sugestivo! ... Mesmo assim, creio que ainda ninguém lembrou mencioná-lo honrosamente, entusiasticamente, no magnífico concurso radiofônico, instituído pela brilhante revista CARIOCA. Psiu! Fiquem quietos... é porque o Bando da Lua nos deixa mudos, taciturnos, com os ouvidos colados ao receptor, para melhor sorvermos o feitiço contagioso de suas músicas. Intérpretes magníficos de músicas populares e “foxes-blues”, os seus componentes galgam vitoriosamente a escada da glória e subirão, subirão, até chegarem a lua, a branca lua que é a madrinha desse grupo jovial de trovadores modernos” ...

Aí está, rapazes. Dividam irmãmente os elogios, como irmãmente dividem os lucros do conjunto... 


Fonte: CARIOCA, de 04/04/1936 - Fotos e texto atualizado.

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