“Diante do mar, ali no cenário do posto 3, Lina Pesce pensa em campinas, montanhas e compõe lindas melodias.
— Se estivesse longe do mar, talvez me inspirasse nele. — diz ela.
Lina Pesce, a autora de tantas melodias bonitas que os nossos artistas radiofônicos interpretam de várias maneiras, é uma artista por instinto.
Aos três anos de idade, cantarolando, já inventava ritmos diferentes. Depois que começou a aprender piano, sempre tirava imagens novas do teclado, batendo as teclas com displicência.
— Estudei para ser concertista diz Lina Pesce a CAR!OCA. — Porém a minha própria família procurou dissuadir-me disso. Meu pai, o maestro G. Pesce, conhecendo perfeitamente o ambiente artístico, não o desejava para mim. Há três anos passados, casando-me, desisti por completo de tais ideias.
Porém continuou compondo. É muito difícil a um artista não se expandir de qualquer maneira.
Entre tangos, valsas e sambas
— Há compositores que se especialisam em determinado gênero; pela minha parte sempre procurei compor ritmos diferentes, sempre outros, variando constantemente. A princípio fiz vários tangos: “Miente”, por exemplo, alcançou sucesso na Argentina, tendo sido gravado pela orquestra de Roberto Firpo. “Cuantas veces” e outros. Depois passei a inventar valsas e canções: “Felicidade é o meu amor”, “Nuvens que passam”, gravados por Gastão Formenti e várias outras canções.
Atualmente também componho sambas e choros, tendo para Carmen Miranda: “Contigo sonhei” e “Adeus, mocidade”. Aurora Miranda lançará: ‘Caboclo do meu coração” e “Com toda a razão”, sambas que aparecerão assim que as duas aplaudidas artistas regressarem de Buenos Aires.
Experimentando o microfone
— Há tempos, curiosa de saber como ficaria a minha voz através do microfone, atuei em várias estações de “broadcasting”.
Lina Pesce nasceu em São Paulo. O seu verdadeiro nome é Magdalena Pesce Vitale, uma vez que um feliz matrimônio uniu-a ao conhecido editor Vicente Vitale. Adotando porém o pseudônimo de Lina Pesce, tem triunfado no meio radiofônico — embora quase alheia a ele — apresentando lindas músicas.
— Deixei o microfone também em parte devido à compreensão que sempre tive e procuro manter com as pessoas da minha família.
A expressão em primeiro lugar
Lina Pesce é uma figurinha graciosa, perfeitamente amável e culta. Falando sobre a sua infância, diz:
— Sempre gostei de representar. Garotinha ainda, sempre que ia ao teatro, organizava depois em casa comédias completas com o auxílio de minhas colegas. Acho que o teatro, assim como o cinema, exige, antes de mais nada, criaturas expressivas. Sou, aliás, a favor unicamente da beleza expressiva, animada, embora imperfeita. Devido a isso, admiro sem grandes entusiasmos as estátuas e obras de arte imóveis.
Lina Pesce admira todos os grandes compositores, preferindo Beethoven e a sua 5ª. sinfonia.
— Aliás declaro a minha preferência pela música sinfônica. Reconheço que o meu ideal, atualmente, é conseguir chegar até às composições sinfônicas.
Para isso não lhe falta talento e entusiasmo. Autora de muitas composições primorosas, ainda desconhecidas, Lina procura cada vez mais aumentar o seu repertório. Sente saudades de sua terra: São Paulo, cheio de garoa e encanto. Pela janela aberta do seu elegante apartamento olhando o mar impetuoso de Copacabana, ela diz:
— Creio que o amor é a inspiração máxima da vida. Mas eu acho que a própria vida inspira o amor. Sou feliz porque vivo entre harmonias.”
Fonte: CARIOCA, agosto/1936.
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