terça-feira, janeiro 21, 2014

O sonho de Marília Batista

Marília Batista - Outubro/1936
"Os sambas de Marília Batista são diferentes dos outros. Tem um ritmo especial, que a voz cadenciada e grave da "estrelinha" carioca, sabe fazer sobressair. Eles contam histórias tristes, de morenos bonitos que foram embora e não voltaram. Contam as desilusões das meninas românticas que esperam alguém que não vem mais. E ainda têm tanta coisa que contar ...

Marília tem um gênero de samba seu: são pessoais. Refletem na melodia, o sentimento de seu coração. E um pouco de sua alma quase infantil vai pelo microfone, através das ondas sonoras, alegrando e distraindo os seus inúmeros fãs, quando canta as suas composições, ou dos irmãos.

No programa Casé, procuraram, certa vez, dar a Marília um título de nobreza que se relacionasse com o samba. Acharam que "Rainha", seria impróprio, em virtude da pouca idade da "estrelinha" da PRE-8. Rainha sugere logo uma figura cheia de preconceitos e austeridade coisas que em absoluto, se pode encontrar na personalidade amável e graciosa de Marília.

Chamaram-na "Princesinha do samba", título amável e de acordo com o temperamento dela. "Princesinha", significa muito. Significa que um dia, Marília tomará em suas mãos, o cetro da nossa música popular. Será a Rainha. E, da maneira em que vamos, este dia não se encontra muito distante ...

O samba para Marília é tudo. É o seu ideal. Vive para ele. Pensando nele, há vários anos, vem ela estudando no Instituto Nacional de Música. Lá, tem procurado aprender, ver o que os outros tem feito com suas músicas, afim de um dia, conseguir fazer o mesmo com a nossa.

Ela tem uma quantidade enorme de lindos sonhos, acerca do futuro do samba. Já o vê, aclamado em todo o mundo, cantado e dançado, por todos os seres que povoam o universo e penetrando com a sua cadência morena, nas regiões estranhas do globo, esquentando com seu ritmo ardente os gelos do Polo Sul e os invernos da Sibéria ...

Marília acha que tudo isto é possível e se alguém procura contradizê-la, um sorriso de mofa surge nos seus lábios. Ela acredita no samba. Acha, porém, que necessitamos trabalhar por ele. Temos todos, que cooperar um pouco, para o seu futuro. E tem um juramento consigo própria: trabalhar pela nossa música. Para isto pretende organizar uma orquestra, apresentar músicos de nomeada, artistas famosos que saibam "sentir" os ritmos soberbos do samba.

Ela quer fazer orquestrações ricas, cheias de vivacidade e melodia, capazes de figurar com êxito em qualquer país civilizado ou não. Quer fazer com que o samba atravesse as nossas fronteiras, invadindo o mundo, como o fizeram o tango e o foxtrote, pois ela sabe que levando o samba ao mundo, leva o Brasil ...

Este é o sonho de Marília Batista. Sonho lindo, cheio de cores ricas e enfeites vistosos, acompanhados ao longe, muito ao longe, por uma cadência conhecida e tão do agrado de seu ouvido — um samba ..."


Fonte: Artigo e fotos da CARIOCA, de 3/10/1936.

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