quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Lar, doce lar ...

Aracy não acredita em "lar, doce lar"
Astros e estrelas longe do microfone

O lar pode ser um ótimo refúgio para os dias de chuva, na opinião de uma criatura boêmia que nunca para em casa. Mas também será o local preferido pelo honesto chefe de família que procura descanso. É a única situação humana e verdadeira na vida de uma mulher artificial. Assim como um pretexto para variar de atitudes.

Verdadeiramente, o lar é local onde o cidadão fica à vontade: de chinelas cômodas e “robe de chambre” despretensiosa. Os artistas de rádio também ficam assim, muitas vezes, nas situações simples da vida cotidiana.

Aquela moça loura, por exemplo. Dentro da casa de chá elegante, fuma com displicência e discute modas.

É a figurinha bonita de Sylvinha Mello. Sylvinha, criatura fina e graciosa, é um dos ornamentos mais gentis da sociedade carioca. Mas Sylvinha, no lar, é alguém que prende os cabelos numa fita simples e passa todo o seu tempo cosendo e bordando. A vitoriosa artista da Rádio Nacional não gosta unicamente de cantar. O estúdio é um passeio festivo. Mas o lar ...

Elizinha tem seu filho, a maior alegria do lar
Há criaturas que sonham com um lar que nunca tiveram. Porque uma casa verdadeiramente ao gosto de cada um é difícil.

— Esta expressão: “lar, doce lar”, é falsa — diz — Aracy de Almeida. — Quando chego a casa tiro os sapatos e início grandes arrumações. Quando eu me disponho a isso, é um caso muito sério!

Aracy às vezes fica zangada ao ponto de não tolerar ninguém fazendo barulho ao seu redor.

Francisco Alves também tem uma afilhadinha que é a sua ocupação constante, quando está em casa. O aplaudido artista ensina-a a cantar e a dançar.

Chiquinha Jacobina
Chiquinha Jacobina, como trabalha de dia e canta de noite tem pouco tempo para permanecer em casa. Mas, assim mesmo, quando o consegue, estuda canto e se ocupa com uma porção de afazeres domésticos. Conclui o seu enxoval. E sonha com a felicidade.

Elizinha Coelho pertence à classe de criaturas que realizam milagres nos lugares onde moram. O lar de Elizinha é gracioso e elegante. Um apartamento cheio de almofadas, bonecas e Luiz Philippe, o seu encantador filhinho.

— Gasto todo o meu tempo, em casa, cuidando do garoto — declara Elizinha. Às vezes ele resolve passear de automóvel e espalhar os brinquedos por todo o canto. Aí sou obrigada a desempenhar várias funções ao mesmo tempo.

Elizinha se transforma em inspetor de veículos e consegue também voltar ao alegre período da infância. Dentro de casa ela é menos triste, do que o demonstra cantando ao microfone.

Glorinha Caldas
Marília Batista é uma artista original ao microfone da PRE-8. Mas, em casa, ela faz questão de esquecer os seus sucessos radiofônicos.

— Estudo e bordo. Também faço tricô e gosto de me ver às voltas com novelos de lã, pontos complicados e cortes de fazenda.

A sua figurinha minúscula quase desaparece nos amplos estúdios da Rádio Nacional.

Ela é a soberana do seu lar, gostando também de se entreter com a irmãzinha caçula, uma deliciosa garota que também já está aprendendo a cantar sambas.

Glorinha Caldas tem uma predileção esquisita quando está em casa. Gosta de ficar fumando, incessantemente. Glorinha pouco fuma, em público, mas em casa tira uma “revanche”.

— Também leio e escrevo. Mas o cigarro é o meu companheiro melhor e inseparável.


Fonte: CARIOCA, de 17/10/1936 (texto atualizado e fotos)

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