Diversos empresários platinos tem tentado atrair o popular cantor com propostas vantajosas. Mas ele é de opinião que não há vantagem maior que espalhar canções de amor nos ouvidos dos cariocas. Elas se grudam, deslumbradas, aos alto-falantes e o artista aumenta seu prestígio dia a dia.
Quando a noite sobe o arranha-céu de "A Noite" e vai cantar entre as estrelas, olha as luzes do Rio e as luzes dos olhos das cariocas através da vidraça grande do estúdio da PRE-8 e sente que não pode abandonar, assim, os velhos amores.
Diz aos empresários argentinos:
— "Depois nós conversamos ..."
Passa-se o tempo e nunca chega o "depois". Nem o artista está preocupado que chegue.
Orlando é um dos novos do rádio que mais abalam o prestígio dos antigos. Num instante venceu. Suas primeiras gravações imediatamente despertaram as atenções gerais. As mulheres disseram logo, suspirando:
— "Meu Deus, que voz! ..."
E os homens invejosos:
— "É ... Esse rapaz promete ..."
Vieram os sucessos. A popularidade. A fama. O prestígio. As pequenas deram para o apontar na rua:
— "Olhe, mamãe, aquele é o Orlando Silva ..."
E o samba ganhava mais um intérprete brilhante:
"Foi você
a primeira mulher
que eu amei ..."
O cantor mergulha sua voz na expressão. Os versos saem transfigurados. Adquirem calor, vida, fulgor. A melodia ganha um poder de beleza capaz de fazer uma noiva séria telefonar para a Sociedade Rádio Nacional e dizer:
— "Pergunte ao Orlando Silva se ele quer me conhecer amanhã, à tarde ..."
Qualquer mocinha e qualquer solteirona distinguem sua sua voz dentre mil. Para elas o "speaker" pode até deixar de anunciar. Sabem a hora exata dos programas em que o cantor aparece, conhecem as suas criações mais recentes e finalmente os números que contam com maior simpatia.
Enquanto isso cresce o prestígio de Orlando Silva.
Há muita jovem sonhadora que à noite "não está em casa" para o namorado mas apenas para ficar enlevada junto ao receptor ouvindo embevecida as palavras de amor que o artista sabe tão bem pronunciar envolvidas na música nostálgica.
E as mulheres geralmente são tão sensíveis que quando escutam uma canção sentimental esquecem até o seu amor ..."
Fonte: "Carioca" — Edição 89, de 3/7/1937 — Caricaturas: Escrita por Theofilo de Barros e desenhada por Augusto Rodrigues
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