Sua voz desliza numa implausível freqüência entre a síncope maliciosa de Ciro Monteiro e o romântico veludo de Orlando Silva. Na síntese, está no timbre de nobreza desse que, num dia perdido dos anos 40, foi ungido pelo locutor oficial da Rádio Tupi do Rio, Carlos José, como "O Príncipe do Samba" e que entre os plebeus Roberto e Silva esconde o imperial Napoleão de batismo.
Carioquíssimo, Roberto Silva nasceu no dia 9 de abril de 1920 e já aos 18 anos tentava a sorte no programa Canta Moçada, da Rádio Guanabara. Mas, só dois anos depois, teve sua chance na Mauá, de onde foi levado para a Nacional, o equivalente, hoje, à Rede Globo, pelas mãos dos compositores Evaldo Rui e Haroldo Barbosa.
Foi quando gravou seu primeiro disco, um 78 rpm, com os sambas O Errado Sou Eu (E. Andrade e Djalma Mafra), de um lado; de outro, Ele É Esquisito, de L. Guilherme, Walter Teixeira e R. Lucas. O grande sucesso, porém, viria um pouco mais tarde, quando já integrava o elenco da Tupi, a convite de Paulo Gracindo: Mandei Fazer um Patuá, de Raimundo Olavo e Norberto Martins, dupla que o abasteceria com outros êxitos, como Normélia, no qual Roberto brinca com as modulações no estilo que seria sua marca inconfundível.
Discreto, um tanto sisudo, Roberto Silva sempre se manteve à margem dos modismos, preferindo eternizar seus poucos sucessos e fazer uma releitura precisa dos clássicos, impressas na série antológica Descendo o Morro (dez elepês irrepreensíveis) que se iniciou em 1958 e varou as décadas de 60 e 70.
Ouvi-lo é o mesmo que abrir um baú de relíquias e surpreender-se com o frescor e a riqueza tão variada que dele exalam.
Alberto Helena Junior - ENSAIO - 27/12/1990
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