Costinha - 1930 |
Pianeiro, contemporâneo de Ernesto Nazareth, Júlio Barbosa e Aurélio Cavalcanti, deixou poucas composições.
Segundo Alexandre Gonçalves Pinto, "Tocava com grande perfeição e arte de admirar aos seus congêneres, tal a rapidez nos seus dedos, no instrumento, que ele eletrizava.
Com a sincronização, e o rádio, a música decaiu bastante, sendo obrigado o chorão a retirar-se à vida privada, vivendo só de seu emprego na Central do Brasil".
O artigo abaixo cita "não confundir com outro pianista que tem esse nome". Alexandre Gonçalves Pinto cita o pianista acima como "chorão". As "enciclopédias" dizem pouca coisa. Abaixo uma reportagem sobre o pianista e grande compositor de sambas chamado Costinha. A foto é do mesmo jornal.
Ouvindo os bacharéis do samba
Costinha, ao ser surpreendido pelo "Aí, hein!", de Lamartine Babo, respondeu: "Não atrapalhe!". Costinha, o pianista feniano, apesar da grandeza do seu estro musical e das quatro dezenas de primaveras que já desfrutou, nunca conseguiu ultrapassar a altura de um côvado. Mas esse musicista "mignon", pequenino - não confundir com outro pianista que tem esse nome - é autor de grandes produções de enormes sucessos.
Agora mesmo em pleno movimento preparatório para o carnaval oficial e federado, ao ser "flagrado" pelo magríssimo Lamartine Babo com o "Aí, hein!" indiscreto e pérfido, respondeu incontinente, com uma marcha muito boa e convidativa. "Não atrapalhe!", foi o seu título, e a sua letra aí vai:
Ora me deixa meu bem passar / Saia da frente, quero brincar,
Que este grupo é só do amor / Não convém atrapalhar.
Coro: Gozar o nosso amor! / É bem preciso / Ter algum valor.
Ora me deixe meu bem viver / Eu só desejo meu amor gozar,
Pois este grupo há de vencer / Embora dê o que falar.
E tem razão. O colega estar num doce idílio, esquecido do mundo e de tudo, sem se preocupar que o dia tem 24 horas e que o mês de fevereiro nos anos bissextos tem 29 dias, quando uma vez que "ninguém não viu" grita: "Aí, hein!". A gente nessa coisa de amor deve ser camarada. Camarada e comunista - "Todos por um, um por todos!".
Mas não é só esta a produção que Costinha lança com sucesso assegurado. Já de alguns anos para cá, o querido compositor patrício que foi pianista no Clube dos Fenianos de 1923 a 1927, deu ao carioca farrista uma marcha que foi sucesso mais formidável do carnaval de 1923. Alguém já se esqueceu de "Quem paga é o coronel":
Coro: Oh! vem meu bem, / Machuca, machuca assim.
Fenianos oh! Fenianos / És o sol que nos domina,
Viva o povo carioca / Viva o grupo das Sabinas.
Carnaval, oh! carnaval / No teu reino é que gozamos
E depois é só tristeza / Nessa vida que passamos.
Gritam eles descontentes: / - É demais a tola afronta!
Porque o Clube dos Fenianos / É quem sempre tira na ponta.
E, logo após, no ano seguinte, o vitorioso "marchante" escrevia nova marcha: "Sol dos Fenianos", prosseguindo, sempre vitorioso, sempre popularizado.
Um dia, já no ano de 1927, Costinha sonhou que era milionário. Estava cheio das peles. Sentou ao piano e aproveitando a "bossa" fez uma marchinha chistosa, abundante de otimismo: "Dinheiro em cacho". A realização da cobiçada "árvore das patacas" que dizem estar plantada nos jardins da Casa da Moeda. E Costinha, irônico, canta:
Eu só queria ter um governo
Que desse ao povo dinheiro em cacho
E que surgisse um mundo novo
Com a terra em cima
E o céu embaixo.
Perguntamos ao Costinha qual a produção que no seu parecer seria vitoriosa. O pianista levantou-se e assim, de pé, ficou da altura da nossa mesa, pigarreou e respondeu:
- “Acho um grande erro antecipar ao público qual música vitoriosa do carnaval, uma vez que só no 3o dia desse festejo é que verdadeiramente se pode saber ao certo qual a vitoriosa. Já tem acontecido surgir em pleno carnaval uma nova música em franco sucesso com surpresa para os editores, que vêem as suas edições prejudicadas. Assim sendo, abstenho-me de qualquer referência às músicas já publicadas. Acho que todas estão nas condições de vitória, uma vez que o carioca ainda não manifestou sua opinião a respeito”.
Terminando, Costinha disse-nos que infelizmente o público está privado de ouvir por intermédio dos discos e do rádio autores que já deram provas de sua competência porque, por interesse comercial, só lhes convêm os autores que estão sistematicamente selecionados pelas fábricas de gravação, mormente a Companhia Victor, que tendo recebido cerca de 700 originais de múltiplos autores, como o público poderá julgar, são sempre os mesmos autores apresentados como já vitoriosos.
Como prova dessa orientação, Costinha cita a grande vitória de Caninha no concurso oficial do teatro João Caetano, com o samba "Batucada", porque teve oportunidade de aparecer em público com um original que havia sido dias antes rejeitado pela Companhia Victor.
E nada mais disse o musicista, que queria ver o dinheiro nascer em cachos, e nós com uma tesoura cortar os mais cheios, mais fartos.
Com a sincronização, e o rádio, a música decaiu bastante, sendo obrigado o chorão a retirar-se à vida privada, vivendo só de seu emprego na Central do Brasil".
O artigo abaixo cita "não confundir com outro pianista que tem esse nome". Alexandre Gonçalves Pinto cita o pianista acima como "chorão". As "enciclopédias" dizem pouca coisa. Abaixo uma reportagem sobre o pianista e grande compositor de sambas chamado Costinha. A foto é do mesmo jornal.
Ouvindo os bacharéis do samba
(Diário Carioca, de 7/2/1933)
Costinha, ao ser surpreendido pelo "Aí, hein!", de Lamartine Babo, respondeu: "Não atrapalhe!". Costinha, o pianista feniano, apesar da grandeza do seu estro musical e das quatro dezenas de primaveras que já desfrutou, nunca conseguiu ultrapassar a altura de um côvado. Mas esse musicista "mignon", pequenino - não confundir com outro pianista que tem esse nome - é autor de grandes produções de enormes sucessos.
Agora mesmo em pleno movimento preparatório para o carnaval oficial e federado, ao ser "flagrado" pelo magríssimo Lamartine Babo com o "Aí, hein!" indiscreto e pérfido, respondeu incontinente, com uma marcha muito boa e convidativa. "Não atrapalhe!", foi o seu título, e a sua letra aí vai:
Ora me deixa meu bem passar / Saia da frente, quero brincar,
Que este grupo é só do amor / Não convém atrapalhar.
Coro: Gozar o nosso amor! / É bem preciso / Ter algum valor.
Ora me deixe meu bem viver / Eu só desejo meu amor gozar,
Pois este grupo há de vencer / Embora dê o que falar.
E tem razão. O colega estar num doce idílio, esquecido do mundo e de tudo, sem se preocupar que o dia tem 24 horas e que o mês de fevereiro nos anos bissextos tem 29 dias, quando uma vez que "ninguém não viu" grita: "Aí, hein!". A gente nessa coisa de amor deve ser camarada. Camarada e comunista - "Todos por um, um por todos!".
Mas não é só esta a produção que Costinha lança com sucesso assegurado. Já de alguns anos para cá, o querido compositor patrício que foi pianista no Clube dos Fenianos de 1923 a 1927, deu ao carioca farrista uma marcha que foi sucesso mais formidável do carnaval de 1923. Alguém já se esqueceu de "Quem paga é o coronel":
Coro: Oh! vem meu bem, / Machuca, machuca assim.
Fenianos oh! Fenianos / És o sol que nos domina,
Viva o povo carioca / Viva o grupo das Sabinas.
Carnaval, oh! carnaval / No teu reino é que gozamos
E depois é só tristeza / Nessa vida que passamos.
Gritam eles descontentes: / - É demais a tola afronta!
Porque o Clube dos Fenianos / É quem sempre tira na ponta.
E, logo após, no ano seguinte, o vitorioso "marchante" escrevia nova marcha: "Sol dos Fenianos", prosseguindo, sempre vitorioso, sempre popularizado.
Um dia, já no ano de 1927, Costinha sonhou que era milionário. Estava cheio das peles. Sentou ao piano e aproveitando a "bossa" fez uma marchinha chistosa, abundante de otimismo: "Dinheiro em cacho". A realização da cobiçada "árvore das patacas" que dizem estar plantada nos jardins da Casa da Moeda. E Costinha, irônico, canta:
Eu só queria ter um governo
Que desse ao povo dinheiro em cacho
E que surgisse um mundo novo
Com a terra em cima
E o céu embaixo.
Perguntamos ao Costinha qual a produção que no seu parecer seria vitoriosa. O pianista levantou-se e assim, de pé, ficou da altura da nossa mesa, pigarreou e respondeu:
- “Acho um grande erro antecipar ao público qual música vitoriosa do carnaval, uma vez que só no 3o dia desse festejo é que verdadeiramente se pode saber ao certo qual a vitoriosa. Já tem acontecido surgir em pleno carnaval uma nova música em franco sucesso com surpresa para os editores, que vêem as suas edições prejudicadas. Assim sendo, abstenho-me de qualquer referência às músicas já publicadas. Acho que todas estão nas condições de vitória, uma vez que o carioca ainda não manifestou sua opinião a respeito”.
Terminando, Costinha disse-nos que infelizmente o público está privado de ouvir por intermédio dos discos e do rádio autores que já deram provas de sua competência porque, por interesse comercial, só lhes convêm os autores que estão sistematicamente selecionados pelas fábricas de gravação, mormente a Companhia Victor, que tendo recebido cerca de 700 originais de múltiplos autores, como o público poderá julgar, são sempre os mesmos autores apresentados como já vitoriosos.
Como prova dessa orientação, Costinha cita a grande vitória de Caninha no concurso oficial do teatro João Caetano, com o samba "Batucada", porque teve oportunidade de aparecer em público com um original que havia sido dias antes rejeitado pela Companhia Victor.
E nada mais disse o musicista, que queria ver o dinheiro nascer em cachos, e nós com uma tesoura cortar os mais cheios, mais fartos.
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Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - 2a. Edição - 1998; Diário Carioca, de 07/02/1933; Dicionário da MPB; A Batalha, de 21/02/1930.
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