quarta-feira, março 07, 2012

Ameno Resedá ressurge

Agremiação famosa na história do Carnaval carioca, pois que inovando os festejos de Momo deu-lhes muito de graciosidade a par de certo sentido artístico, o Ameno Resedá, em 1932, não pretendia voltar às ruas. Grêmio carnavalesco de gloriosas tradições, cognominado pela imprensa ‘rancho-escola’, já que fora ele o pioneiro desse gênero de desfile alegórico-musical no tríduo da folia, não tinha, então, seu fastígio de outrora. Era, apenas, alimentado pela tradição, simples sociedade dançante.

A última vez que se apresentou ao povo, passeando pela cidade feérico cortejo subordinado ao tema Jupira, em 1925, logrou grande sucesso. Não conseguiu repetir as proezas de anos anteriores, superando seus coirmãos, mas, mesmo assim, na competição de que participou, patrocinada pelo Jornal do Brasil, mereceu expressiva menção honrosa. Um júri de que faziam parte, entre outros, Oswaldo Teixeira, Modestino Kanto e Freire Júnior, concedeu-lhe essa láurea.

Herbert Moses provoca o ressurgir

Sempre exaltado nos jornais, mesmo quando já em declínio, pois seus feitos brilhantes em muitos carnavais obrigavam a venerá-lo, o Ameno Resedá gozava, conseqüentemente, de grande prestígio na imprensa local. Convidava-a para todas suas festividades e a tinha sempre presente, representada pelos cronistas carnavalescos. Resolveu, portanto, num assomo revigorante, acontecido durante a realização de um dos bailes levados a efeito nas proximidades da eclosão momesca, homenagear aquele que presidia os jornalistas tão seus amigos: Herbert Moses.

Estava o infatigável paredro do periodismo citadino iniciando ainda sua longeva e quase perpétua presidência da Associação Brasileira de Imprensa, mas já a marcava com operosidade notória. Assim, reconhecido às gentilezas recebidas dos jornais, o ‘rancho-escola’ deliberou, conclamando sua ‘velha guarda’ (Napoleão, Negasinha, Sady), retornar ao asfalto para uma passeata sem grande fausto, porém capaz de reavivar seu nome que parecia esquecido do grande público. Faltava-lhe, na carência de numerário em que vivia, condição para competir com seus antigos rivais. Iria, apenas, fazer uma simples ressurreição de homenagem.

Um “ranchinho” na ABI

Zelando pela sua tradição, não querendo comprometê-la em um desfile que não teria a imponência de seus áureos tempos, o Ameno Resedá frisava, ao divulgar sua resolução, ser, então, simples “ranchinho”. Nesse caráter, mas sob a égide do famoso grêmio carnavalesco, enviava ofício ao homenageado: “...Tenho a subida honra de comunicar a V. Exa. que, por deliberação unânime da Junta Governativa, o Clube Ameno Resedá fará uma passeata na segunda-feira de Carnaval como uma homenagem...“. Seguia- se, estendido em várias linhas, um arrazoado da distinção comunicada pelo referido expediente.

E, consoante a finalidade da saída que se verificava, após sete anos de ausência das lides momísticas, o “ranchinho” representativo do Ameno Resedá, na chamada segunda-feira gorda, era recebido festivamente na sede da ABI, na rua do Passeio, esquina da rua das Marrecas. Herbert Moses emocionado via, enchendo o salão da entidade por ele presidida, graciosas jovens que, trajando bonitas fantasias, cantavam marchas melodiosas. Espetáculo que o Correio da Manhã, dias após, registrava: “... os cantos admiravelmente bem ensaiados, as figuras vestidas com uma graça perfeita...”.

Moses, sócio benemérito do Ameno Resedá

Sensibilizado com o gesto do popularíssimo ‘rancho-escola’, o presidente da ABI, no decorrer da visita que era feita à entidade jornalística, ofereceu ao grêmio homenageante um vistoso bronze. Não o entregou naquela oportunidade. Fê-lo, passado o Carnaval, na própria sede do Ameno Resedá, na rua Visconde do Rio Branco, quando ali se levou a efeito o baile comemorativo do sucesso alcançado na memorável passeata.

Requintando ainda mais o gesto que tivera em homenagear o presidente da Associação Brasileira de imprensa, a quem devia sua ressurreição, o Ameno Resedá, no discurso então pronunciado por um de seus dirigentes, comunicava a Herbert Moses lhe ter sido conferido por decisão da assembléia geral, dias antes realizada, o título de sócio benemérito. Ligava-se, desse modo, num complemento à homenagem prestada, o nome do incansával dirigente da prestigiosa agremiação de jornalistas a um dos mais famosos ranchos do Carnaval carioca.

Coisa que se fazia com muita justiça, pois Herbert Moses provocara o ressurgir, em 1932, do tradicional ‘rancho-escola’.

(O Jornal, 13/01/63)
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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.

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