segunda-feira, maio 27, 2013

A polêmica da marchinha "Cachaça" - Parte 1

Marinósio mostra documentos e disco gravado, ganhando a questão (Revista do Rádio, 10/3/1953).

Pouca gente sabe, mas o autor da marchinha “Cachaça” (“Você Pensa que Cachaça é Água”), viveu boa parte de sua vida em Londrina, Paraná. A música, tocada há décadas em diversos bailes e desfiles de Carnaval, foi composta por Marinósio Trigueiros Filho. Baiano, natural de Salvador, Marinósio aportou em Londrina no início da década de 1940. 

Os herdeiros do compositor, que moram na cidade, ganharam em segunda instância, em fevereiro de 2011, uma ação por danos morais contra o Sistema Globo de Gravações Audiovisuais Ltda (Sigla), do qual a gravadora Som Livre é a mais conhecida.

Marinósio era um típico boêmio, que integrava um conjunto de música tocando em bares e boates da época. Viajava muito e, por conta dessas andanças pelo país, passou pelo Norte do Paraná, então em pleno desenvolvimento e expansão, e resolveu fincar raízes em Londrina. De acordo com uma das filhas de Marinósio, Dulcínie Moratore Trigueiros Rossetto, o pai compôs a música em Salvador, quando estava num botequim. “Ele começou a cantarolar e viu que dava samba. Então anotou a letra num guardanapo mesmo”, conta.

A letra, que versa sobre cachaça e água, pode ser uma referência ao próprio autor. “Meu pai era boêmio, gostava da noite. Na época ele tomava uísque”, diz Dulcínie. Já com a música pronta, Marinósio mudou-se para Londrina. Foi gravá-la, entretanto, somente em 1946. Com a banda, viajava muito, tocando em bares e boates no Brasil e também no exterior, principalmente na Argentina e Uruguai, onde gravou a música.

De volta ao Brasil, Marinósio se espantou quando ouviu, pela televisão, a execução da marchinha. “Um belo dia de 1953, escutou a música, com alguma alteração na letra, no Carnaval do Rio de Janeiro. Na quarta-feira de cinzas ele pegou um avião e foi parar na União Brasileira de Compositores (UBC), que cuida dos direitos autorais”, conta a filha. Na época, o presidente era o sambista Ataulfo Alves de Sousa. “Eles conversaram e houve um acordo. Meu pai comprovou que a autoria era dele”, diz Dulcínie. Segundo ela, Marinósio levou o disco gravado no Uruguai alguns anos antes, que a família conserva até hoje.

Entretanto, mesmo assim a autoria foi dividida entre quatro compositores: Marinósio, que ficou com 40%, e outros três, cada um com 20%: Lúcio de Castro, Heber Lobato e Mirabeau Pinheiro.

“A música fez sucesso e, já que tinham trocado uma linha para melhor, ele concordou em dividir”, diz a filha. Morto em 1990, Marinósio não teve outras composições de sucesso, já que dedicava bastante tempo para tocar com um grupo em bares e boates. Mas em 2007, a família resolveu comprar o CD com a marchinha dele, para guardar no acervo. “Qual não foi a surpresa ao ver que não constava o nome do meu pai”, lembra Dulcínie.

Antes de ir à Justiça, a família tentou negociar com a gravadora, que concordou em pagar os direitos autorais, mas não teria registrado uma errata, dando o crédito da autoria a Marinósio. Foi então que a família resolveu entrar com uma ação, protocolada em 2007, em que pediam danos morais pela omissão do nome de Marinósio na autoria da marchinha, gravada em no CD Bonde das Marchinhas.

O Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná confirmou a sentença da 5ª Vara Cível de Londrina que condenou a Globo Comunicação e Participações S.A. a pagar R$ 20 mil a cada um dos sete herdeiros de Marinósio Trigueiros Filho, autor da marchinha “Cachaça”, e que não teve a autoria incluída no CD Bonde das Marchinhas, lançado em 2007. “Os herdeiros foram atrás para ver a questão dos direitos”, afirma o advogado Carlos Levy, que defende a família.

Levy explicou que há duas formas de se remunerar o autor – ou herdeiros – de uma música gravada em CD. “O primeiro é o pagamento de direitos autorais pela reprodução fonográfica. A outra é o direito do autor de ver o nome dele aparecer, como sendo a autoria reconhecida”, diz.

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Fontes: Gazeta do Povo; Revista do Rádio.

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