Foi noutro dia. O Paulo Gracindo, que é um dos maiores gozadores deste país de gozadores, já tinha, maquiavelicamente, imaginado tudo. Chamou o Cauby Peixoto — que vocês devem conhecer ao menos de nome — e propôs:
— Cauby, você vai ser o ídolo da juventude brasileira!
Cauby ficou vermelho de encabulado. Vocês podem pensar que é brincadeira nossa, pois um camarada que se deixa rasgar na rua por macacas contratadas não é de encabular. Mas Stanislaw garante que dessa vez ele encabulou.
Sabem como é, bucho também tem seu dia de vedete, e Cauby, ao ouvir a proposta do Gracindo (Pelópitas para os íntimos) ficou que nem o Ribeiro Fortes quando foi receber o prêmio de melhor ator do ano; sem graça, sem graça!!!
Pelópitas (Gracindo para os de cerimônia), no entanto, insistiu. Que estava falando sério, que a juventude andava mesmo transviada e que ele — Cauby — seria um representante legalérrimo. Depois, sabe como é, a Rádio Nacional estava ali mesmo para oficializar o ídolo. Era só organizar um programa, salpicar umas macacas no auditório e berrar que Cauby era ídolo. As macacas apoiariam e o resto era sopa: mctia-se uma coroa de ídolo na cabeça do “Cauba” e estava oficializado o vexame.
Rapaz de espírito fraco, muito influenciável, Cauby nem percebeu que, por trás dos óculos escuros, Paulo Gracindo satirizava. Recusou ainda, sem muita ênfase e, quando Gracindo já ia desistir dele e começava a pensar no Chico Carlos, falou:
— Então está bem. Eu mando fazer a coroa no meu fornecedor de faixas.
O resto foi realmente um barbada. Naquele programa que o Pelópita faz para chatear o César de Alencar, quando o auditório estava no máximo do seu habitual histerismo, Pelópitas pegou o microfone e anunciou:
— E agora... CA-U-BY PEIXOTO!!! (Gritos de macacas). Atenção, minhas senhoras (senhoras eram as macacas) ... É com a mais subida honra que tenho uma missão a cumprir neste momento (expectativa símia)... Neste instante, aqui neste palco, vai acontecer o maior evento artístico dos últimos tempos. Vou colocar sobre a cabeça de Cauby... (mais gritos das macacas) — a coroa de “Ídolo da Juventude Brasileira”...
Meninos! Parecia que aquela joça vinha abaixo. Delírio na platéia, lágrimas nos olhos de Cauby, rasgação de roupa, o diabo. De pinico na cabeça, a amassar o topete, Cauby se sentia o Tarzan — rapaz que, noutra época, também foi rei dos macacos. Os gritos de “rasga, rasga, rasga” partiam de todos os cantos.
Cauby fugiu para os bastidores com Pelópitas atrás a dizer que ficara uma gracinha, que tinha sido um sucesso, que a juventude afinal ganhara o seu guia espiritual. E Cauby já ia sair para rua com aquilo no alto do quengo, quando Gracindo percebeu e pediu para que ele tirasse a coroa. Não valia a pena sair pra rua assim. Tem muita juventude por aí que não compreende certas coisas e talvez quisesse desagravar a geração.
Mas Stanislaw, que manja Gracindo e sabe que ele é um gozador dos mais lídimos, sabe também que elc está torcendo para haver desagravo. Quanto mais rebolado der a coisa, melhor para o seu programa. No fundo, no fundo o que Pelópitas (Gracindo para os desconhecidos) quer é ver a caveira do Cauby, só para poder anunciar no microfone:
— E agora, senhoras e senhores... a prisão de CA-U-BY PEI-XO-TO!! Sob o alto patrocínio das Lojas Mi Despe, vamos irradiar com exclusividade a prisão de Cauby...
Isto talvez não aconteça, pois até agora a Suipa não protestou contra a eleição do ídolo. Agora, que Paulo Gracindo está torcendo para que aconteça, Stanislaw jura pelas caspas de Jânio Quadros.
Fonte: Jornal "Última Hora", de 16/01/1958 — "Reportagem de Bolso", uma coluna de Stanislaw Ponte Preta.
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