José Vasconcelos — Zé do Vasco para os mais íntimos — é Fluminense, embora do Vasco. É torcedor dos mais apaixonados e aos domingos, enquanto representa, bota um rádio na coxia para ficar sabendo como que é que vai o tricolor no campo. E se o Fluminense faz um “goal” ele pula no palco como se estivesse na arquibancada, pouco se importando com o texto, seja ele de J. Maia, seja de Shakespeare.
Assim é Zé do Vasco, o sujeito complicado mas espontâneo que esta cidade abriga. Na vida artística foi de um tudo: começou locutor na Rádio Ministério da Educação e é muito difícil a gente conceber o gaiato a locutar em tão severos estúdios. Foi por isso talvez que saiu para outros parangolés.
Imitador dos melhores passou a fazer a voz de qualquer speaker conhecido e foi assim que se projetou no rádio. Na Nacional imitava todos, num programa do Paulo Roberto, inclusive o próprio Paulo Roberto, quando este, vítima de algum distúrbio repentino era obrigado a largar o microfone.
Zé do Vasco meteu-se em teatro e ainda não conseguiu sair. Agora mesmo está no Serrador, com a peça “Precisa-se de um Presidente”, onde carrega um grande elenco nas costas, mesmo não sendo um rapaz de costas largas. Certa vez confessou a este seu biógrafo que seu ideal na vida era largar tudo e entrar para o teatro.
— Mas isso você já fez! — insinuamos.
— É mesmo!!! — Exclamou o Zé com um sorriso a iluminar seu rosto.
Mas logo em seguida o sorriso desapareceu e ele, com voz cavernosa, se lamentou:
— Está vendo? Sou um homem sem ideais! — Nessa noite foi pra casa dormir mais cedo.
Fonte: Dicionário Ilustrado — Texto de Stanislaw Ponte Preta — Desenho de Lan — Jornal "Última Hora", de 28/01/1958.
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