quinta-feira, abril 06, 2006

Geraldo Pereira

Geraldo Pereira (Geraldo Teodoro Pereira), compositor e cantor, nasceu em Juiz de Fora MG, em 23/4/1918, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 8/5/1955. Chegou ao Rio de Janeiro em 1930, indo morar com o irmão mais velho no morro de Santo Antônio, na zona central da cidade. Terminou o curso primário e, adolescente ainda, já compunha sambas para a escola Unidos de Mangueira, hoje extinta. Logo fez amizades com os bambas do morro e aprendeu violão com Cartola e Aloísio Dias.


Aos 18 anos, deixou o morro para viver no subúrbio de Engenho de Dentro. Logo mudou-se para a Lapa, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro como motorista de caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Passou a frequentar os bares da cidade, inclusive o Café Nice, ponto de encontro de sambistas e da boêmia carioca. Com parceria de Nelson Teixeira, compôs o samba Se você sair chorando, gravado em 1939 em disco Odeon pelo cantor Roberto Paiva. Inscrita no concurso carnavalesco promovido em 1940 pelo D.l.P., a música classificou-se entre as finalistas.

Ainda em 1940, compôs, de parceria com Wilson Batista, o samba de breque Acertei no milhar, gravado na Odeon por Moreira da Silva. Por essa época vivia com Isabel, inspiradora de muitos de seus sambas, entre eles Acabou a sopa (com Augusto Garcez). Gravado em 1940 na Victor, marcou o início de sua amizade com Ciro Monteiro, que se tornaria um de seus mais fiéis interpretes e o principal divulgador de suas obras. Nos anos seguintes, diversas músicas suas foram gravadas por cantores de destaque: os sambas Falta de sorte e Pode ser? (ambos com Marino Pinto), foram gravados respectivamente por Araci de Almeida e Isaura Garoa, em 1941.

Nos anos de 1942-1943, Odete Amaral, Moreira da Silva e o grupo Quatro Ases e Um Curinga lançaram composições suas. Em 1943 apresentou-se no programa Vesperal das Moças, na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro. Durante essa época, fez amizade com Valdir Machado, que o incentivava a cantar e que se tornou seu parceiro. Fez algumas apresentações esporádicas na Rádio Nacional. Em 1944 participou do filme Berlim na batucada, de Luís de Barros, interpretando o papel do cabo Laurindo. Foi também em 1944 que conseguiu seu primeiro grande sucesso, com a gravação de Falsa baiana, por Ciro Monteiro. Inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar com sua fantasia de baiana no Carnaval, o samba deu-lhe renome nacional.

Bolinha de papel, gravado pelos Anjos do Inferno em 1945, repetiu o êxito do ano anterior. Ainda em 1945, depois de aprovado num teste da Continental, o sambista estreou como cantor, interpretando os dois lados de um 78 rpm: Mais um milagre e Bonde de Piedade (com Ari Monteiro). O disco não alcançou sucesso e ele preferiu lançar suas criações seguintes por meio de outros cantores.

Em 1949, Blecaute gravou Que samba bom, um dos maiores sucessos de venda da década. Em 1950, o próprio compositor gravou Pedro do pedregulho, lançando-se definitivamente como intérprete de suas composições a partir de 1951, quando Ciro Monteiro se encontrava impossibilitado de gravar, por doença nos pulmões. Gravou o samba Escurinha (com Arnaldo Passos) na Sinter. Ainda no mesmo ano, tornou a compor em parceria com Wilson Batista, saindo pela Continental o samba Cego de amor, na voz de Deo.

Em 1952 participou do filme O rei do samba, de Luís de Barros. Interpretado por ele, a Victor lançou, em 1953, Cabritada malsucedida (com Jorge Gebara). O ano de 1954 marcou seu último grande sucesso: Escurinho, gravado na Todamérica por Ciro Monteiro. Participou ainda do espetáculo Clarins em fá, na boato Esplanada, em São Paulo, fazendo muito sucesso com seu samba Pau peroba (com Buci Moreira e Albertina Rocha). Nesse ano, registrou na Columbia suas últimas produções: Maior desacerto (com Silva Júnior e Ari Garcia) e Eu vou partir, título que parecia prever o fim prematuro de sua vida atribulada.

Em maio de 1954, aos 37 anos, encerrava uma carreira de grande sambista, e em muitos pontos inovadora. Após sua morte, diversas composições suas foram regravadas. Nos anos de 1960, João Gilberto regravou Bolinha de papel. Em 1971, Paulinho da Viola regravou Você está sumindo. Em 1980 foi lançado o disco Wilson, Geraldo e Noel, no qual João Nogueira interpreta composições de Geraldo Pereira, Noel Rosa e Wilson Batista, com Escurinha e Você está sumindo.

Em 1981, a gravadora Eldorado lançou o LP Evocação V, inteiramente dedicado ao compositor, interpretad0 por Elton Medeiros, Monarco e Jackson do Pandeiro entre outros. Sua música Se você sair chorando foi regravada nesse disco por um coro de oito cantores. No Carnaval de 1982, o compositor foi homenageado no enredo Geraldo Pereira, eterna glória do samba (de João Ramos Pacheco), da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.

Em 1990, Chico Buarque regravou Sem compromisso (com Nelson Trigueiro). Em 1995 foi lançado o livro Um escurinho direitinho: A vida e a obra de Geraldo Pereira, de autoria de Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença (Relume-Dumará, Rio de Janeiro). Em 1996, Zizi Possi cantou Escurinha em seu show e, em 1997, Gal Costa regravou com grande sucesso o samba Falsa baiana, em seu CD Acústico MTV (BMG/RCA).

Comentários de artistas

Bucy Moreira - (compositor e percussionista da "Velha guarda," que trabalhou com ele) - "Sempre se vestia com terno branco, muito elegante. Uma pessoa muito agradável. Era de uma família muito tradicional da Mangueira, os Araújos.

Aloísio Dias - (compositor e seu professor de violão) - A imagem do homem que conheci é bem diferente da que vemos nas revistas e jornais. Não era gordo e nem tinha aquela cara redonda que aparece nas fotografias. Tinha dedos longos, dedos de violonista, suas mãos eram grandes e muito fortes. Suas pernas eram longas e quando andava rápido, era difícil de acompanhá-lo. E também era muito calmo.

Teresinha Santos - (sua sobrinha) - Ele não era de briga. Mas não gostava de levar desaforo pra casa. Mas tinha um defeito: muitas mulheres, tinha muitos problemas disso. Perdemos até a conta.

Moreira da Silva - (cantor) - Era um cara alegre. Gostava de mulheres, mas era ingênuo. Acreditava nelas. Quando queria coisa não sossegava enquanto não conseguia. Com as damas, (era assim que ele chamava as mulheres) era muito educado. Tinha um sorriso agradável e era humilde. Quando o conheci em 1940, não era alcoólatra, mas gostava de beber. Era vaidoso, e aonde estavam as mulheres, era aí que você; o encontrava.

João Gilberto - (cantor e violonista, responsável pela introdução de Geraldo à geração dos anos 60) - Eu ainda cantava no conjunto "Garotos da Lua", e nem sonhava em cantar sozinho, quando um dia ele me convidou a ir a um bar lá na Lapa. Enquanto estávamos tomando uns drinks, entraram uns caras e me estranharam. O que é que vocês estão olhando, perguntou Geraldo, esse aqui é meu, e botou os caras pra correr. Seu Samba era leve, e cheio de divisões rítmicas, e sempre me chamou a atenção. Ele não tinha consciência disto, mas era o inovador da Música Brasileira nos anos 40.

Cifras e letras
















Obra completa

Abaixo de Deus foi ela (c/Elpídio Viana), samba, 1946; Acabou a sopa (c/Augusto Garcez), samba, 1940; Acertei no milhar (c/Wilson Batista), samba de breque, 1940; Adeus (c/Augusto Garcez), samba, 1942; Ai, mãezinha (c/Ari Monteiro), samba, 1946; Ai, que saudade dela (c/Ari Monteiro), samba, 1942; Ainda sou seu amigo, samba, 1946; Aquele amor (c/Arnaldo Passos), samba, 1951; Até hoje não voltou (c/J. Portela), samba, 1946; Até quarta-feira (c/Jorge de Castro), samba, 1942; Boca rica (c/Arnaldo Passos), samba, 1949; Bolinha de papel, samba, 1945; Bom crioulo (c/Raul Longras), samba, 1947; Bonde de Piedade (c/Ari Monteiro), samba, 1945; Brigaram pra valer (c/J. Batista), samba, 1948; Cabritada malsucedida (c/Jorge Gebara), samba, 1953; Os caprichos meus (c/Arnaldo Passos) samba, 1949; Carta fatal (c/Ari Monteiro), samba, 1944; Cego de amor (c/Wilson Batista), samba, 1950; Chegou a bonitona (c/José Batista), samba, 1948; Chegou o dia (c/Elpídio Viana), samba, 1945; Conversa fiada (c/Ciro de Sousa), samba, 1945; Ela (c/Badu e Arnaldo Passos), samba, 1951; Ela não teve paciência (c/Augusto Garcez), samba, 1941: Escurinha (c/Arnaldo Passos), samba, 1952; Escurinho, samba, 1954; Eu vou partir, samba, 1954; Falsa baiana, samba, 1944; Falta de sorte (c/Marino Pinto), samba, 1940; Fugindo de mim (c/Arnaldo Passos e Valdir Machado), samba, 1951; Golpe errado (c/Cristóvão de Alencar e Davi Nasser), samba, 1945; Humilde teto (c/Elpídio Viana), samba, 1945; Já tenho outra em seu lugar (c/Ari Monteiro), samba, 1943; Jamais acontecerá (c/Djalma Mafra), samba, 1943; Juraci (c/Plinio Costa), samba, 1954; Jurei (c/Cristóvão de Alencar), samba, 1945; Lar desabitado (c/Arnaldo Passos), samba, 1952; Lembranças da Bahia (c/Moreira da Silva), samba-choro, 1942; Lembras-te daquela zinha (c/Augusto Garcez), samba, 1941; Liberta meu coração (c/José Batista), samba, 1947; Maior desacerto (c/Silva Júnior e Ari Garcia), samba, 1953; Mais cedo ou mais tarde, samba, 1945; Mais um milagre, samba, 1945; Mambo da bonitona (c/José Batista), 1954; Mexe, mulher (c/Arnaldo Passos), samba, 1950; Minha companheira, samba, 1949; Ministério de economia (c/Arnaldo Passos), samba, 1951; Não consigo esquecer (c/Arnaldo Passos), samba, 1952; Não quero você (c/Arnaldo Passos), samba, 1951; Olha a cara dela (c/Moreira da Silva), marcha, 1940; Onde está a Florisbela? (c/Ari Monteiro), samba, 1944; O pagamento ainda não saiu (c/Ariel Nogueira), samba, 1946; Pau peroba (Olha o peroba) (c/Buci Moreira e Albertina Rocha), samba, 1953; Pedro do pedregulho, samba, 1950; Perdi meu lar (c/Arnaldo Passes), samba, 1950; Pisei num despacho(c/Elpidio Viana), samba, 1947; Pode ser?(c/Marino Pinto), samba, 1941; Polícia no morro (c/Arnaldo Passos), samba, 1951; Promessa de um caboclo (c/Arnaldo Passos), samba, 1952; Quando ela samba (c/J. Portela), samba, 1942; Que samba bom (c/Arnaldo Passos), samba, 1948; Resignação (c/Arnô Provenzano), samba, 1943; Roubaram o livro de ouro (c/Arnaldo Passos), samba, 1948; Samba pro concurso (c/Moreira da Silva), 1943; Se você sair chorando (c/Nelson Teixeira), samba, 1939; Sem compromisso (c/Nelson Trigueiro), samba, 1944; Sem destino (c/Oldemar Magalhães), samba, 1950; Sinhá Rosinha (c/Célio Ferreira), samba, 1942; Só quis meu nome, samba, 1946; Tenha santa paciência (c/Augusto Garcez), samba, 1942; Tribo do Caramuru (c/Helio Ribeiro e Álvaro Xavier), marcha, 1951; Vai, samba, 1961; Vai que depois eu vou, samba, 1945; Você esta sumindo (c/Jorge de Castro), samba, 1943; Voltei, mas era tarde (com Príncipe Pretinho), samba, 1944; Vou dar o serviço (com José Batista), samba, 1948; A voz do morro (com Moreira da Silva), samba, 1942.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

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