Zé Carioca (José do Patrocínio Oliveira), instrumentista, nasceu em Jundiaí SP em 11/02/1904 e faleceu em Los Angeles, Estados Unidos, em 22/12/1987. Já tocava cavaquinho, como amador, na época em que trabalhava como classificador de cobras no Instituto Butantã, de São Paulo SP.
Em 1929 foi convidado para tocar num programa regional, na estréia da Rádio Educadora Paulista (depois Gazeta), uma das primeiras emissoras brasileiras. Com o surgimento da Rádio Cruzeiro do Sul, em 1931, passou a atuar na Orquestra Columbia, dirigida por Gaó, trocando o cavaquinho pelo banjo, o que lhe valeu o apelido de Zezinho do Banjo.
No ano seguinte, César Ladeira levou-o para o Rio de Janeiro, para trabalhar na Rádio Mayrjnk Veiga, onde tocou ao lado de Nelson Souto, Pixinguinha, Garoto, Nelson Boi, Gastão Bueno Lobo e Britinho. Logo depois, acompanhou César Ladeira, quando este se tornou diretor artístico do Cassino da Urca.
Ali conheceu Carmen Miranda e, em 1939, foi para os EUA com a orquestra de Romeu Silva, na qual tocava violão, para cumprir temporada de seis meses no pavilhão brasileiro da Feira Mundial, em New York, participando do filme Serenata tropical, de Irving Cummings. No ano seguinte, apresentou-se. no pavilhão brasileiro da Feira de San Francisco.
Em 1941 assinou contrato com a Twentieth Century Fox e participou, ao lado do Bando da Lua e Carmen Miranda dos filmes Uma noite no Rio, de Irving Cummings, e Aconteceu em Havana, de Walter Lang, entre outros. Na Fox também dublou desenhos animados e conheceu Walt Disney, que, inspirado em sua figura, criou o Zé Carioca, personagem-símbolo do malandro brasileiro no desenho animado de longa metragem Você já foi a Bahia?.
Nos últimos anos, tocou no restaurante Marquis Martoni, em Hollywood. vivendo seis meses nos EUA e seis no Brasil, em São Paulo.
Centenário de nascimento
"No dia onze de fevereiro de 2004 será comemorado o centenário de nascimento de José Patrocínio de Oliveira, natural de Jundiaí, SP. Trabalhava no Instituto Butantã como classificador de cobras (mais tarde ele seria classificado como um dos “cobras” da nossa música) ao mesmo tempo que consolidava seu prestígio como instrumentista.
Freqüentador de rodas onde figuravam os nomes de Américo Jacomino (Canhoto), João Sampaio e Armando Neves, passa a ser conhecido por Zezinho, que era do banjo, cavaquinho, bandolim, violão e dos outros instrumentos que viria a dominar, como o violão tenor e a guitarra havaiana.
No período de 17/02 a 04/03/1928 foi confiado ao prestigiado violonista Canhoto a tarefa de organizar uma Orquestra Típica de instrumentos de cordas, constituída pelos melhores músicos de São Paulo, para se apresentar no suntuoso Salão de Automóveis da General Motors, evento este realizado no Cine Odeon que ficava a Rua da Consolação No 42.
Além de Canhoto, Os nomes de Zezinho, Mota, Carlinhos, Armandinho Neves e João Sampaio eram os de maior destaque. Participava também desta Orquestra um menino franzino de apenas doze anos, empunhando orgulhoso o seu banjo. Este menino era Aníbal Augusto Sardinha( Garoto), que tinha agora em Zezinho seu novo ídolo e mestre. Este foi, ainda que involuntariamente, o grande propulsor da vitoriosa carreira de Garoto que, numa entrevista, confessou: “Devo meu progresso ao Zezinho, pois queria tocar sempre melhor do que ele...”.
Entre 1929 e 1931, pela gravadora Columbia, Zezinho participa em cerca de cento e vinte gravações (Infelizmente não é possível obter o número exato em função da inexistência das fichas técnicas) tocando seus instrumentos ao lado de nomes como João Pernambuco (10), Paraguassú (10), Jaime Redondo (8), Januário de Oliveira (19), Batista Jr (9) e sua filha Dircinha Batista (2), Eurístenes Pires (4), Stefana de Macedo (12), Jararaca (19), Lila Dias (4) e Elsie Houston (13) dentre outros.
Acompanhou ao violão (como segundo violão) a João Pernambuco em boa parte dos registros de sua obra como em “Interrogando”, “Reboliço” e “Sonhos de magia”. Com Stefana de Macedo participou como acompanhante do lançamento de diversas composições de Amélia Brandão Nery que seria conhecida mais tarde por Tia Amélia.
Quase ao mesmo tempo entra em cena uma orquestra com uma sonoridade diferente: “A presença do violino de Ernesto Trepiccioni e do acordeon de José Rieli dava um som romântico a esta orquestra, a rigor menos uma orquestra do que um conjunto instrumental...”, diria Ary Vasconcelos em seu História e inventário do choro.
Esta orquestra, complementada por Gaó (Odmar Amaral Gurgel) ao piano; Atílio Grany na flauta; Petit (Hudson Gaia) ao violão; Jonas Aragão no sax alto e Zezinho no bandolim é a Orquestra Colbaz que gravou na Columbia entre 1930 e 1932 cerca de vinte e seis músicas entre choros e valsas. A ampliação desta orquestra dá origem a famosa Orquestra Columbia, ainda sob a direção de Gaó.
1931 é o ano do grande concurso de música promovido pelo jornal “A Gazeta”, concurso este que motivou uma intensa participação da população de São Paulo (capital) que escolhia seus músicos favoritos, divididos por categorias, através de voto direto. Na categoria banjo, Zezinho obteve expressiva votação (117 323 votos), obtendo o primeiro lugar (nesta categoria Garoto ficou em sexto, com 9 746 votos).
Outros vencedores foram Gaó (piano), Alberto Marino na categoria violino (Trepiccione ficou em segundo e Nestor Amaral em quinto), Larosa Sobrinho (violão), Nabor Pires Camargo (clarinete) e Cárdia (bandolim).
César Ladeira, já no Rio de Janeiro e atuando na rádio Mayrink Veiga, atuava como um embaixador da musica paulistana, trazendo para a então capital da república os novos valores lá revelados. Desta forma aqui chegou Zezinho em 1933, passando logo a integrar o famoso regional da Mayrink.
Em 1936 é a vez de César Ladeira buscar uma turma da pesada; Aimoré, Garoto, Nestor Amaral e Laurindo Almeida. Estes três últimos participaram junto a Zezinho de uma grande aventura: Uma viagem a Europa a bordo no navio Cuiabá. Fizeram escala nos estados mais importantes do nordeste brasileiro antes de partir rumo a Lisboa, Porto, Amsterdam, Berlim e Paris onde por três meses divulgaram a nossa música. Em Paris não puderam desembarcar com os instrumentos musicais devido a alguma lei protecionista.
Assistiram então extasiados a uma apresentação do diabólico duo Stephan Grapelli (violino) e Django Reinhart (violão). Algo novo estava acontecendo ali em termos musicais e eles jamais seriam os mesmos após esta experiência, especialmente Garoto, que acabou por incorporar o fraseado de Django!
Voltam a Mayrink e depois de um breve retorno a São Paulo onde atua junto a Armandinho Neves e Antonio Rago no Regional da Record, Zezinho passa a integrar a Orquestra de Romeu Silva (muito bem reportado por Daniella Thompson) partindo então para os Estados Unidos em 1939 onde iriam se apresentar por seis meses na Feira Internacional de Nova Iorque. Zezinho reencontra seu amigo Garoto quando este, já famoso com seu violão tenor ( foi inclusive chamado de “homem dos dedos de ouro”), lá esteve com Carmen Miranda e o Bando da Lua.
A partir de 1940, Zezinho fixa residência em Los Angeles, já contratado pela Fox. Em 1941, Walt Disney com o papel de “embaixador da boa vizinhança” viaja pela América latina a pretexto de buscar inspiração para a criação de novos personagens. No Brasil, os cartunistas Luis Sá e J. Carlos ajudaram Disney a desenvolver a figura e a personalidade do papagaio “Zé Carioca”, “ personagem concebido para ser a síntese dos laços de amizade entre os estados Unidos e o Brasil”, em acordo com Sidney Ferreira Leite em seu excelente artigo publicado no Estadão em 01/12/2001.
Um problema persistiu por muito tempo: quem iria falar pelo papagaio? Por obra do acaso, Disney estava no mesmo estúdio que Zezinho pelos idos de 1943 e ao ouvi-lo falar percebeu na maneira gingada, malemolente, a voz ideal para o seu papagaio! Nasceu assim o Zé Carioca e o Zezinho, que passaria a usar o mesmo nome do papagaio, era o responsável por sua voz em inúmeros filmes como “Alô amigos” e “Você já foi a Bahia?”.
Este fato rendeu uma fortuna considerável ao Zezinho, que sempre se manteve ligado a musica, como integrante do Bando da Lua e com seu próprio grupo. Infelizmente acabou estigmatizado por conta de sua ligação com Disney (política da boa vizinhança) e com Carmen Miranda.
A casa de Zezinho, de acordo com seu amigo João Cancio de Povoa Filho, era um verdadeiro consulado brasileiro, não faltando ajuda a qualquer músico brasileiro que por lá se aventurasse. Que o diga o nosso violinista Fafá Lemos!
Com a morte de Carmen Miranda terminou o Bando da Lua, nesta altura completamente modificado em relação a sua formação original. Aloísio de Oliveira voltou ao Brasil onde desempenharia importante papel no marketing da Bossa nova e Zezinho lá ficou, com o fardo de seu apelido(Zé Carioca).
Nos seus últimos anos de vida passava seis meses em LA e os outros seis em São Paulo.Faleceu em22/12/1987 em Los Angeles."
(por Jorge Carvalho de Mello)
Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira; Zé Carioca (samba & choro).
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